Mercado de Petróleo e Gás: Falência anunciada

Carlos Serapião Jr.

A atual queda dos preços do petróleo, atribuída em boa parte ao gás de xisto, está inserida em um movimento mais amplo de início do fim do atual ciclo de alta das commodities, o qual incluiria ainda o minério de ferro, as commodities agrícolas e até o ouro?

Em 2007, foi constituído nos Estados Unidos um empreendimento chamado “Energy Future Holdings”, destinado à compra no Texas de termelétricas a carvão. Seus controladores investiram US$ 8 bilhões do próprio bolso e fizeram dívida de outros US$ 37 bilhões na maior operação de compra alavancada da história dos EUA.

O banco de investimento Goldman Sachs e o investidor Warren Buffett (através da holding Berkshire Hathaway), entre outros nomes famosos, investiram no negócio, tendo somente Buffett emprestado US$ 2 bilhões à EFH. Em 29 de abril de 2014, a EFH entrou com pedido de falência na Justiça americana.

A causa da falência foi a queda dos preços do gás natural nos EUA, a partir de 2008, com a revolução do “shale gas” (em português, “gás de xisto”), o que tornou as termelétricas a carvão da EFH economicamente não rentáveis. Buffett recebeu US$ 837 milhões de juros da dívida e depois a revendeu por US$ 259 milhões em 2012, tendo tido prejuízo bruto de cerca de US$ 900 milhões.

Nem Warren Buffett, conhecido por apostar em bons negócios no longo prazo, previu o alcance da revolução, já em andamento em 2007, do gás (e petróleo) de xisto nos EUA, a qual fez o preço do gás para geração elétrica cair para menos da metade naquele país entre 2008 e 2014 e, mais recentemente, tem feito despencar os preços internacionais do petróleo. Segundo a Agência Internacional de Energia, os EUA já ultrapassaram Arábia Saudita e Rússia como primeiro produtor mundial de hidrocarbonetos.

Nova realidade

Há uma série de mudanças em curso no mundo diante dessa nova realidade. Primeiro, a queda dos preços do petróleo ameaça o desenvolvimento e a lucratividade de projetos de exploração de alto custo, como no Ártico e no pré-sal brasileiro.

Segundo, a redução do custo da energia nos EUA, em conjunto com o aumento do salário médio na China e outros países asiáticos com grande oferta de mão-de-obra barata nas duas últimas décadas, está provocando uma realocação da produção industrial com destino aos EUA, sobretudo de plantas intensivas em consumo de energia, como a produção de alumínio. Os países da UE, por sua vez, parecem não estar aproveitando essa tendência, por terem investido talvez demais em fontes limpas de energia cujo custo começa a se mostrar não competitivo.

Ainda em consequência da queda dos preços do petróleo, governos de países altamente dependentes da renda petrolífera, como Venezuela e Argélia, poderão ter problemas à frente na hora de fechar suas contas orçamentárias.

Por fim, há uma mudança geopolítica em curso, com os EUA cada vez menos dependentes do petróleo do Oriente Médio, o que tende a reduzir a importância da região no tabuleiro político internacional.

Quanto à redução da dependência europeia em relação ao gás russo, mesmo que os EUA comecem a exportar gás natural liquefeito (GNL) para a Europa, ainda se trata de uma questão em aberto, devido aos custos dessa operação e ao volume do excedente exportador americano no médio prazo.

Já a questão da reprodução do “boom” do gás de xisto em outros países, apesar de, do ponto de vista geológico, isso ser possível, na prática é uma tarefa com variáveis desafiadoras. Com a tecnologia existente hoje nos EUA, há reservas de gás de xisto em grande volume na China, Argentina, Argélia, Rússia, Canadá, Brasil e outros países.

Fenômeno a ser repetido?

Mas boa parte dos analistas considera a revolução do “shale” nos EUA não só um fenômeno geológico ou tecnológico, mas também institucional, pelas seguintes razões: a) existência de grande número de empresas de petróleo independentes de pequeno e médio porte, responsáveis por cerca da metade da produção total do país; b) abundância de água (o que não ocorre, por exemplo, na China); c) existência de uma indústria financeira capaz de bancar os riscos da exploração do gás de xisto; d) nos EUA, os recursos do subsolo pertencem aos proprietários da terra, diferentemente, por exemplo, do Brasil, onde pertencem à União; e) regime fiscal altamente flexível e atrativo.

Além disso, há nos EUA quase 6 milhões do poços de petróleo já perfurados, enquanto no Brasil não chegam a 30 mil. O subsolo americano, sobretudo nas áreas de maior ocorrência do gás de xisto (Dakota do Norte e Texas), já é ampla e detalhadamente conhecido, o que torna o sucesso exploratório do gás de xisto muito alto e compatível com o rápido declínio da produtividade média dos poços.

Some-se a isso uma extensa rede de gasodutos já implantada nos EUA, em contraste com, por exemplo, a reduzida rede do Brasil. Para se ter uma ideia do atual frenesi exploratório nos EUA, só em outubro último foram lá perfurados cerca de 9.500 poços, enquanto no Brasil, no ano de 2013, esse número foi de 140.

A comparação que fizemos foi com o Brasil, mas poderia ser com a Argentina, que possui ampla reserva de gás de xisto no campo de Vaca Muerta. Os investimentos necessários à viabilização do mesmo serão certamente muito maiores, em termos de capital inicial (Capex), para não falar dos custos operacionais (Opex), do que em Dakota do Norte e no Texas.

Daí a conta a fazer sobre a viabilidade do projeto tem que ser muito diferente da feita nos EUA, isso valendo também para as bacias do Solimões, do Amazonas e do Paraná, onde, no Brasil, estima-se haver significativo volume recuperável de gás de xisto.

Para concluir, citamos um livro do investidor americano Jim Rogers entitulado “Hot Commodities”, no qual ele demonstra o caráter cíclico dos preços das commodities ao longo dos últimos 150 anos.

Os preços são determinados pela lei da oferta e procura, caindo e desestimulando novos investimentos quando há excesso de oferta e subindo e estimulando novos projetos quando a demanda sobe além da oferta. Esse processo tem gerado ciclos de aproximadamente 15 a 20 anos, tendo o mais recente ciclo de alta começado por volta de 1999.

Então, a pergunta que deixamos em aberto é a seguinte: a atual queda dos preços do petróleo, atribuída em boa parte ao gás de xisto, está inserida num movimento mais amplo de início do fim do atual ciclo de alta das commodities, o qual incluiria ainda o minério de ferro, as commodities agrícolas e até o ouro?

Carlos Serapião Jr.: Diplomata e economista, vive em Moscou e trabalha no BRICS Funding. Formou-se no Instituto Rio Branco e tem mestrado em Finanças pela École Nationale des Ponts et Chaussées, de Paris.

Fonte: Gazeta Russa

14 Comentários

  1. Parei de ler quando ele disse o “” amplo de início do fim do atual ciclo de alta das commodities”””…

    Commodities :

    “”” Em geral, são matérias-primas e produtos agrícolas tais como
    minério de ferro,
    petróleo,
    carvão,
    sal,
    açúcar,
    café,
    soja,
    alumínio,
    cobre,
    arroz,
    trigo,
    ouro,
    prata,
    paládio
    platina….

    Mercadorias agrícolas (soft commodities) são bens que são cultivados, enquanto que a mercadorias pesadas (hard commodities) são bens que são extraídos ou minerados.”””

    Manipulação de preço por interesses políticos é uma coisa, queda real é outra, já dissemos várias vezes que não á indústria sem matéria prima e por conseguinte não haverá comércio… falastrão o moço do texto, mas a verdade é outra.

  2. A economia se move em ciclos de alta e baixa, isto é inevitável…Alguns ciclos de alta ou baixa são mais curtos, outros mais longos, localizados em um setor ou mais generalizados, locais ,regionais, nacionais ou globais…

    “Para se ter uma ideia do atual frenesi exploratório nos EUA, SÓ EM OUTUBRO ÚLTIMO foram lá perfurados cerca de 9.500 poços…”

    Como demonstra o trecho acima, no caso da gás e óleo de xisto, parece ser um ciclo que tem as características de uma “corrida do ouro”, todos se atiram em sua exploração por alguns,anos, não se sabe quantos, más normalmente “corridas do ouro” tem ciclos curtos… até que os recursos estejam exauridos ou tenham deixado de ser lucrativos.

    • Sim, essa é uma das frentes a ser observada, mas no fundo mas nem tão fundo que não possa ser visto, esses países supervalorizam o pouco que tem ou que dizer ter e desvalorizam as riquezas dos outros, no mínimo conseguem uma semi desestabilização , baixam o preço das ações das empresas que lhes interessam .
      E ainda junto com meio de comunicações infiltrados “”fazedores de cabeça”” enxertam a idéia de que é melhor privatizar nossas empresas do que deixar um trilionário patrimônio nacional nas mãos de governos latinos que não saber fazer uma boa gestão.

      Quanto a boa gestão até concordo , mas é possível criar meio de fiscalizações , meios de coletas de informações e colocar a Polícia Federal, Ministério Público Federal e a justiça nessa história toda, garantindo por força da justiça uma boa gestão.

      Diria mais …o que foi feito na Petrobrás é um ato terrorista completo, é uma implosão interna que saiu mais caro que uma explosão de um terminal petrolífero, observando por esse prisma a própria Lei Anti-Terrorismo que não sai do papel, poderia engendrar-se por esse lado.

      Estamos não só falando de patrimônio e dinheiro, estamos falando de TERRITÓRIO E SOBERANIA.

      Atenção ao jogo de xadrez que está sendo jogado.

      • “…esses países supervalorizam o pouco que tem ou que dizer ter e desvalorizam as riquezas dos outros, no mínimo conseguem uma semi desestabilização , baixam o preço das ações das empresas que lhes interessam .
        E ainda junto com meio de comunicações infiltrados “”fazedores de cabeça”” enxertam a idéia de que é melhor privatizar nossas empresas do que deixar um trilionário patrimônio nacional nas mãos de governos latinos que não saber fazer uma boa gestão.”
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        stadeu,
        você descreveu muito bem o jogo que está sendo jogado, no qual, uma mídia instrumentalizada por estes jogadores é essencial…

  3. O maior empecilho para o desenvolvimento desta indústria no Brasil é o controle total do estado, que sabemos é historicamente corrupto e inépto quanto à questões técnicas.
    Um bom exemplo é o pré-sal, onde os políticos já negociavam a “partilha” dos lucros antes mesmos da Petrobras e as empresas contratadas desenvolverem as questoes tecnicas.

    • Afora isso, e em menor grau, tem também os comedores de capim, que pensam estarem fazendo um bem para o meio ambiente, quando na verdade só estão a serviço das nações européias interessadas em garantir fontes naturais para sua exploração futura.

  4. novamente o papinho do gás de xisto ,mais furado que tudo
    a realidade é que o gás de xisto destrói os lençóis freáticos e com isso e o alto valor de retirada se demostra ridículo
    mas por detrás dos panos estados unidos força a arabia saudita a abaixar os preços para que eles estados unidos parem de explorar o gás de xisto fingindo que é por causa do custo ,mas na realidade ele envenena toda a agua do território que é feito essa loucura
    e or outro lado com a baixa do valor do petróleo pedito feito pelos estaods unidos a arabia saudita ele anda consegue afetar países como a russia brasil Venezuela ira e europa que investiu em energia mais renovavel e limpa porem cara e por ai vai os países em que com essa medida feita e tramada por estados unidos e arabia vassala

    mas isso é uma medida a curto prazo pois a toda ação haverá uma reação
    Além de que a arabia vassalos, dos estados unidos não conseguirão segurar esse valor por muito tempo
    QUANTOS meses os arabianos conseguiram segurar esse valor ??? 6 meses não ira durar muito tempo
    nada mudara o fato que o gás de xisto não é viável economicamente e ecologicamente , nada mudara o fato que os países começaram a negociar com suas próprias moedas ,nada mudara o fato que os estados unidos esta totalmente endividado a arabia saudita passou um pano para eles mas isso não vai DURAR ! UM INVERNO !!

    • Até poucos dias atrás a Gazeta Russa era 100% confiável.
      Agora não é mais?

      Também achei que o “papinho do gás de xisto ,mais furado que tudo”
      Mas aparentemente alguns países já estão se ficando preocupados, parece que é fato real que o preço do petróleo tem caído com a redução das importações americanas.

      • 100 por cento confiável apenas DEUS
        você tenta colocar palavras na boca dos outros ,nunca falei que ninguém é 100 por cento alguma coisa!!
        mas com certeza mai confiável que a veja ,alias a veja perde ate para o bêbado da esquina
        mas para você tentar ganhar uma tenta a mesma picadilha de sempre ,fraco !seu naipe é o mesmo é fácil de quebrar
        sobre o que vai acontecer e o que esta acontecendo eu escrevi no texto acima ,
        em menos de 6 meses a arabia baba ovo anglosionista não segura os preços ponto
        e esses preços são maquiados para segurar apenas por pouco tempo ,não condiz com a realidade
        o petróleo é finito e isso a gente ouve desde muito tempo atrás e agora que o mundo esta todo industrializado vem os caras e abaixam o preço rsrsrs
        na verdade o gás de xisto já se demostra inviável e esse foi o único jeito dos estados unidos saírem pela porta dos fundos sem serem charcados pelo mundo é mais fácil fingir que não continua com o xisto pois ele não é viável economicamente do que ecologicamente envenenando seus lençóis freáticos
        sobre o consumo pode haver duas explicações primeiro eles estão maquiando a economia do estados unidos isso eles já fizeram e vivem fazendo é a mais provável por isso a diminuição da importação se verdadeiramente esta acontecendo duvido muito
        a segunda mais forte é que eles não estão diminuindo nada de coisa nenhuma no que se refere a consumo de produtos de petróleo pois fazem carros que com um litro apenas anda 4 km ,desse jeito vai diminuir como
        estados unidos é uma mentira ambulante ,e quem acredita nessa mentira é para mim ou ignorante ou apenas um vassalo ,escolhe !!!
        desde já agradeço a atenção
        e aguarde e confira !

  5. Ao contrário do que a grande massa entende, o fracturing ou frac ou ainda fraturamento (Brasil) não é novidade. Essa técnica é há muito aplicada, inclusive no Brasil. E é tão segura quando a própria perfuração e completação do poço.
    O frac nos folheiros dos EUA é tão efetivo, ao contrário do que foi dito em um comentário aí acima, que derrubou o preço do gás ao ponto de os investidores reduzirem drasticamente o investimento porque que margem de lucro havia caído acentuadamente. O gás ficou barato, virou capim.
    Os problemas ambientais ocorreram porque, ao contrário do Brasil ou Canadá, a exploração nos EUA é pulverizada por dezenas de empresas, muitas familiares, que não tem nem conhecimento nem equipamentos apropriados para os trabalhos. Empresas de grande porte como Halliburton, Schlumberger, Weatherford dentre outras, podem executar esta operação de forma bem segura.
    A produção americana aumentou de tal forma que derrubou os preços do gás e reduziu drasticamente a importação, transformando os EUA no maior produtor mundial.
    O gás mais barato derrubou o custo dos produtos industrializados que precisam do gás na cadeia produtora, da energia, da calefação dos lares, e por aí vai.
    O Brasil deve e tem que explorar estas reservas também e investir em gasodutos que leve esse produto até as fontes consumidoras, mas isso só deve acorrer quando se fizer uma lavagem com criolina tanto no congresso quanto na Petrobras e talvez até no Palácio do Planalto. 🙂

    • O preco do petroleo nao caiu por causa do “sucesso”, “alta produtividade” da producao americana do xisto/fracking. Caiu porque o mundo se acha em depressao economica desde 2009, que resultou na diminuicao das atividades economicas em geral e que afetou a industria petrolifera, A oferta e maior que a procura.. Outra causa e a alta do dolar, Quando a moeda de reserva esta alta os precos das mercadorias tendem a cair, e vice verdsa, quando a moeda de reserva esta baixa os precos das mercadorias tendem a subir. E para complicar esses fatos economicos, tem o aspecto politico. Manipulacao dos mercados. E fato que os Saudistas em bloco com China, esta desvalorisando o preco do petroleo/. e nao vai reduzir a sua producao, e para atacar a industria xisto nos EUA..Aguarde o noticiario, e verao o colapso, falencia, bancarrota de muitaas empresas envolvidas no xisto nos EUA, e com elas muitos bancos.

  6. Em pensar que a menos de uma década eramos os revolucionários no setor energético, com o lançamento de fontes renováveis, a exemplo disto o próprio Etanol brasileiro, que era motivo de inveja até dos EUA, mas….aqui é terra de tupiniquim, aqui se planta e rapidamente nasce, e vai tudo para o bolso dos falastrões.

  7. Mais um golpe dos EUA e Sauditas para cima do mundo multipolar. Não adianta pivô para a Asia, o mundo não voltara a década de 50.

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