Organização decide não diminuir a geração diária de cerca de 30 milhões de barris. Mercado responde com a cotação mais baixo dos últimos quatro anos. “Fracking” dos EUA é alvo de crítica em Viena.
Apesar da queda constante dos preços do combustível fóssil, a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) decidiu nesta quinta-feira (27/11) manter sua produção de 30 milhões de barris por dia. “Não há mudanças”, resumiu o ministro do Petróleo de Kuwait, Ali al-Omair, depois da reunião envolvendo os 12 países-membros em Viena. Depois da decisão, o preço do barril (159 litros) caiu para 75 dólares, o mais baixo dos últimos quatro anos.
O ministro do Petróleo da Arábia Saudita, Ali al-Naimi se limitou a declarar que a decisão “é correta”. A manutenção do status quo já era esperada, já que não houve consenso entre os membros da Opep sobre uma redução da produção. Os poderosos países do Golfo Pérsico se impuseram, em detrimento dos membros mais pobres da organização, como a Venezuela, que prefeririam reduzir a produção para deter a queda dos preços no mercado.
O debate foi deflagrado pelas recentes quedas do preço do barril: desde meados de 2014, o óleo bruto ficou cerca de 30% mais barato no mercado mundial, devido a um crescimento da oferta e paralelo declínio da demanda, causado pela crise financeira.
Já durante as negociações em Viena, e também após o anúncio da decisão, os preços despencaram ainda mais. Em Londres, do barril do tipo Brent, extraído no Mar do Norte, custava na tarde desta quinta-feira apenas 74,36 dólares. Já o tipo americano West Texas Intermediate foi negociado a 70,87 dólares. Em ambos os casos, esses foram os menores valores desde agosto de 2010.
A Rússia também sofreu um baque econômico com a decisão de Viena. O rublo se desvalorizou mais de 2,5% em relação ao dólar, e 2,1% em relação ao euro. O país não é membro da Opep, mas financia cerca da metade de seu orçamento público com a exportação de petróleo e gás natural.
Opep de olho no fracking dos EUA
A forma de lidar com a queda dos preços divide a Opep. Antes das conversas em Viena, o ministro do Exterior da Venezuela, Rafael Ramírez, chamou a atenção para o excedente diário de 2 milhões de barris que há no mercado. Para o ministro iraniano do Petróleo, Bijan Namdar Zanganeh, é necessário tomarem-se medidas para influenciar os preços a curto prazo.
Em contrapartida, o chefe de pasta dos Emirados Árabes, Suhail al-Masruei, aposta numa autoestabilização do mercado. E do ponto de vista de Al-Omair, do Kuwait, mesmo uma redução da produção pela Opep não vai contrabalançar o excesso de oferta no mercado. Quanto ao extremamente influente saudita Al-Nuaimi, antes mesmo do encontro na capital austríaca ele deixara explicita sua rejeição a um corte da produção.
O ministro Ramírez aproveitou a ocasião para criticar do ponto de visa climático o método de fracking, o fraturamento hidráulico para extração de combustíveis líquidos e gasosos do subsolo. “O óleo de xisto é um desastre para as mudanças climáticas”, comentou. “Os Estados Unidos estão produzindo de uma forma muito, muito, ruim.”
Segundo especialistas, a Arábia Saudita observa com certa satisfação os apertos que o barateamento do petróleo vem causando à indústria de frackingdos EUA. Há estimativas de que o país árabe é forte o suficiente para suportar os baixos preços por mais dois a três anos.
PV/rtr/afp
Fonte: DW.DE
O poder da Opep sobre o preço do petrólieo
Com a oferta maior que a demanda, o valor do barril despencou nos últimos meses. Especialistas discutem a influência da Organização dos Países Exportadores de Petróleo sobre os preços da commodity.
Do ponto de vista da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) a queda dos preços do produto é um verdadeiro problema. Quanto mais baixos, menor é o faturamento de seus 12 países-membros – Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Kuwait, Catar, Irã, Nigéria, Líbia, Angola, Argélia, Equador e Venezuela.
Há uma explicação simples para o atual preço do petróleo, inferior a 80 dólares por barril (159 litros): a oferta é maior do que a demanda, pois em muitas partes do mundo a economia teve um desempenho mais fraco do que o esperado, resultando numa necessidade menor do combustível fóssil.
Ao mesmo tempo, países como os Estados Unidos, o maior consumidor de energia do mundo, abriram novas fontes de petróleo e aumentaram a oferta. Antigamente inacessíveis, o óleo e gás de camadas rochosas profundas são agora extraídos através da técnica de extração hidráulica denominada fracking.
De acordo com estimativas da Agência Internacional de Energia (AIE), os Estados Unidos podem, já no próximo ano, produzir mais petróleo do que a Rússia e a Arábia Saudita.
Desde meados do ano, o preço do combustível caiu cerca de 30% – apesar das crises geopolíticas, como o conflito na Ucrânia, as sanções contra a Rússia impostas pelos EUA e a União Europeia, e o fortalecimento da organização terrorista “Estado Islâmico” (EI) na Síria e no Iraque.
Cotas apenas teóricas
Para os países industrializados sem produção própria de petróleo, os preços baixos são uma bênção. Somente na Alemanha, empresas e consumidores privados podem economizar até 35 bilhões de euros no próximo ano, segundo cálculos do banco Unicredit. “Esse montante corresponde a 1% do Produto Interno Bruto”, avalia o economista-chefe do banco na Alemanha, Andreas Rees. “É um forte alívio, que diminui os custos das empresas e aumenta o poder aquisitivo dos consumidores.”
Para os países produtores de petróleo, em contrapartida, preços baixos significam menos receita. Para alguns, inclusive a Rússia, isso significa dificuldades sérias, pois dependem de o preço do petróleo ultrapassar um determinado patamar para conseguir financiar seu orçamento público.
Seria de se esperar que pelo menos os países-membros da Opep acordassem quanto à redução da extração de petróleo, a fim de reduzir a oferta e, consequentemente, elevar o preço. Atualmente, o cartel coloca oficialmente 30 milhões de barris por dia no mercado – montante que há três anos não é alterado.
No entanto, nem todos os membros se atêm às cotas. Segundo dados da AIE, o cartel extrai, por dia, 500 mil barris a mais do que o acordado. “Desde 1982, ano do lançamento oficial das cotas de produção da Opep, os países-membros não se ativeram a elas em 96% dos casos”, garante o cientista político Jeff Colgan, da Universidade de Brown, nos EUA. Ele é o autor do livro Petro-agression: How oil makes war(Petro-agressão: Como o petróleo gera guerra).
Opep impotente?
O pesquisador inclusive duvida que a Opep consiga controlar o preço do petróleo. “A Arábia Saudita provavelmente tem o poder de influenciar um pouco o preço do petróleo, pois graças às suas enormes reservas de produção ela pode aumentar ou diminuir sua oferta, à vontade”, escreveu Colgan num artigo para o jornal americano Washington Post.
“Mas vale ressaltar que ela detém esse poder como país isolado. A Opep, enquanto organização, não tem qualquer influência adicional. A maioria de seus membros – da Venezuela ao Iraque, passando pela Nigéria – bombeiam seu petróleo o mais rápido possível, sem manter reservas de produção”, explicou Colgan.
Às vésperas da reunião da Opep desta quinta-feira, não havia sinais de que a Arábia Saudita pretendesse reduzir suas cotas de produção. Os motivos da inércia dos sauditas são objeto de especulação: eles querem manter o preço do petróleo baixo, para tornar menos rentável o custoso processo de fraturamento hidráulico dos EUA? Ou apoiam, assim, as sanções dos EUA e da UE contra a Rússia, já que a queda dos preços afeta Moscou com especial rigor?
Segundo Jeff Colgan, neste jogo a Opep, enquanto organização, é um player insignificante. “O mundo deveria parar de acreditar que a Opep tem influência sobre os mercados globais de energia. Ela não tem”, sublinha.
O politólogo afirma, ainda, que o forte aumento dos preços do petróleo nos anos anteriores tampouco foi desencadeado pela Opep, mas sim pela crescente demanda dos países asiáticos. Em 2003, um barril de petróleo bruto do tipo Brent ainda custava 29 dólares, dez anos mais tarde, o preço saltara para 109 dólares.
Fonte: DW.DE
Petróleo em baixa deve afetar investimentos da Petrobras
Valor abaixo de 80 dólares/barril coloca em risco plano ambicioso da estatal de investir 220 bilhões de dólares até 2018. Alto endividamento e Operação Lava Jato dificultam captação de recursos no exterior.
O barril do petróleo atingiu seu menor preço em quatro anos em meados de novembro e continua abaixo de 80 dólares. Com a commodity mais barata e a expectativa da manutenção do valor nos próximos meses, a Petrobras e outras petrolíferas aguardam com ansiedade a reunião da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), marcada para esta quinta-feira (27/11), em Viena, na Áustria.
A longo prazo, o baixo valor no mercado internacional pode colocar em risco o plano de investimentos da Petrobras e demais petrolíferas, que realizaram planejamentos ambiciosos apostando num barril mais caro. Em seu Plano de Negócios e Gestão (PNG) 2014-2018, a estatal brasileira previa o barril a 105 dólares em 2014; 100 dólares até 2017; e 95 dólares em 2018. A meta era investir 220,6 bilhões de dólares no período.
Números atuais mostram um cenário diferente, e se a baixa no preço do barril se mantiver, o investimento no desenvolvimento dos campos do pré-sal deve se tornar uma incógnita, avalia Gilberto Braga, professor de finanças do Ibmec/RJ. Quando as descobertas do pré-sal foram anunciadas, os preços internacionais do barril estavam acima de 120 dólares, e valia a pena o investimento pesado nestes campos.
“Mas com o valor a 80 dólares/barril, em função da vazão de produção e dos pesados investimentos exigidos, há dúvidas se alguns poços se manterão economicamente viáveis para a empresa”, diz Braga. “Não se tem muita transparência sobre os reais custos de exploração, mas é fato que alguns poços não serão mais rentáveis, e isso certamente afetará o plano de investimentos da estatal.”
Investimento versus alto endividamento
Numa perspectiva de curto prazo, o preço mais baixo do petróleo e derivados alivia as contas da Petrobras e a balança comercial do país, já que a empresa comprava o produto por um valor no exterior e o vendia mais barato no Brasil, explica Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE).
Segundo o especialista, no nível de preço atual, a defasagem do valor dos combustíveis está próxima de zero. Mas numa perspectiva de médio prazo, as consequências podem ser negativas para a empresa.
“Um preço menor do barril de petróleo vai significar mais um desafio para a Petrobras, uma vez que a empresa já tem um elevado comprometimento de despesas com o investimento para explorar as reservas adquiridas”, opina Pires. “Este desafio se torna ainda mais grave se considerarmos o elevado endividamento da companhia, que já atingiu 241 bilhões de reais.”
Por meio de nota, a Petrobras informou que o Plano de Negócios e Gestão (PNG) da empresa está em revisão e ainda não há previsão de divulgação. Segundo a estatal, para cada processo de planejamento é realizada uma atualização das premissas com as melhores informações disponíveis no momento.
“Na época da divulgação do PNG 2014-2018, as projeções da Petrobras se encontravam no viés mais conservador das previsões”, diz a nota.
Mais dificuldades à vista
Mesmo com o petróleo em queda, a estatal aumentou os combustíveis nas refinarias desde 7 de novembro: a gasolina teve alta de 3%, e o diesel, de 5%. Apesar de estar na contramão do mercado internacional, de acordo com analistas, a medida foi correta para recompor as perdas acumuladas e reforçar o caixa da empresa, a fim de colocar em prática seus investimentos. Durante o ano eleitoral, os preços dos combustíveis ditados pela estatal se mantiveram congelados.
A decisão de aumentar os preços este mês não foi meramente econômica. Por conta da Operação Lava Jato, a empresa adiou, no dia 13 de novembro, a divulgação do balanço do terceiro trimestre e, como resultado, vai ter mais dificuldades para captar recursos no exterior e financiar os investimentos, opina o economista Maurício Canêdo Pinheiro, do Instituto Brasileiro de Economia (IBRE)/Fundação Getúlio Vargas (FGV).
“Todo aumento de receita é muito bem-vindo, já que o custo de captação de recursos ficou maior e, com esses escândalos, não é uma boa ideia captar recursos de terceiros e fazer dívidas. A estatal vai ter que contar com receita própria e com o BNDES”, afirma Pinheiro.
Fonte: DW.DE
Não ponha todos seus ovos numa só cesta. O BRASIL deveria ter dado prioridade total ao proalcool e biodiesel ficando livre de especulações externas ampliando a cadeia produtora e empregos deste setor até que as novas tecnologias mais modernas com uso de H2 em células combustíveis ou elétricos prevalecessem. Agora já passou muito tempo e as novas tecnologias estão cada vez mais acessíveis e pode ser mais estratégico investir nelas deixando os derivados do petróleo para exportação. Pois o pré-sal pode até render muita grana, más também pode dar muito prejuízo se o mercado internacional não corresponder. Então teríamos outras cestas para por os ovos: o proalcool e as novas tecnologias de energia. O que prevaleceu foi o olho grande na PETROBRAS. Eliminou-se as outras opções que dariam oportunidade a muitos, para não ter concorrência e concentrar a renda da energia na mão de poucos. Sem levar em conta o futuro energético, estratégico e a independência do BRASIL. Visaram o facilitamento do enriquecimento ilícito de políticos do poder e o fortalecimento do bloco bolivariano para deter o poder indefinidamente. Aquadrilharam-se com empreiteiros de má índole para isso. Infelizmente…