EUA mudam radicalmente sua estratégia no Afeganistão

A partir do próximo ano, as forças dos EUA no Afeganistão não irão realizar operações contra os talibãs apenas porque eles são membros do Taliban. Esta concepção de Washington no problema afegão, nova e bastante inesperada para todos, foi recentemente confirmada numa coletiva de imprensa regular para os jornalistas por Josh Earnest, representante oficial da Casa Branca.

Com esta declaração, a Casa Branca legalizou de fato o movimento do Taliban, pelo menos para si, e, desse modo, declara que ela muda radicalmente não só a estratégia, mas também a própria concepção de conseguir a estabilidade no Afeganistão.

De fato, os EUA dão “luz verde” aos talibãs para a sua entrada no poder, mantendo estes a sua visão da organização do Afeganistão, a sua filosofia e a sua compreensão do Islão, da visão do mundo em geral. Aqui é preciso incluir também problemas por si só agudos: desde os direitos das mulheres e do seu lugar na sociedade até ao direito de um simples muçulmano ver um jogo de voleibol sem correr o risco de ser explodido por algum talibã suicida.

Há ainda outros pormenores nesta decisão. Mais precisamente, como irão olhar para isso os vizinhos diretos do Afeganistão, em quem Cabul, depois da eleição do novo presidente, apostou para a solução dos seus problemas internos e regionais.

Segundo Azhdar Kurtov, um dos mais conhecidos peritos de problemas da Ásia Central, a decisão da Casa Branca de realizar operações militares contra os talibãs pode preocupar apenas os vizinhos setentrionais diretos do Afeganistão:

“Segundo informações dos serviços secretos de todas as repúblicas da Ásia Central, nas suas fronteiras com o Afeganistão estão a concentrar-se numerosos destacamentos de guerrilheiros que poderão colocar perante si o objetivo no território da Turcomenistão, Uzbequistão, Tajiquistão, Quirguistão”.

Segundo ele, há numerosos testemunhos de que existem semelhantes planos. Os próprios guerrilheiros manifestaram por mais de uma vez as suas intenções de instaurar a ordem islâmica nos territórios das antigas repúblicas soviéticas da Ásia Central e do Cazaquistão. Por isso, o perito está convencido de que a renúncia dos Estados Unidos a travar a ação dos grupos islâmicos radicais, entre os quais estão sem dúvida os talibãs, não encontrará a mínima compreensão da parte da direção das repúblicas da Ásia Central, para já não falar de qualquer apoio.

O que obrigou a Casa Branca a da esse passo? Por um lado, parece existir uma diretiva secreta de Barack Obama para aumentar o contingente americano que ficará no Afeganistão em 2015 e participará em todas as operações que as forças afegãs irão realizar. Além disso, a acreditar na mídia afegã, Ashraf Ghani levantou todas as limitações à realização de operações militares pelas forças nacionais de segurança com o apoio direto das forças dos EUA, OTAN e ISAF. Será que o novo Presidente do Afeganistão, obediente aos Estados Unidos, deu um passo tão ousado sem receber previamente o acordo do Pentágono?

É bem possível que essa decisão tenha sido ditada pela existência de recursos para a realização de operações militares de que Washington irá dispor no próximo ano. A situação criada em torno de Barack Obama não só exclui, mas pressupõe precisamente semelhante cenário.

Verdade seja dita, é difícil que a nova concepção para impor a ordem no Afeganistão se torne aqui mais convincente. Por isso é bem possível que a nova concepção dos EUA sobre a imposição da ordem seja uma medida obrigatória. E se assim for, os talibãs, ao sentirem a fraqueza dos EUA, poderão não só virar-se para o diálogo com as autoridades oficiais, mas também aumentar as suas exigências para com elas.

 Fonte: Voz da Rússia

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