O caminho espinhoso do helicóptero russo MIL Mi-28N

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Aleksandr Korolkov – Gazeta Russa

O caminho do Mi-28 tanto em direção ao Exército russo, quanto ao mercado mundial foi longo e espinhoso. O aparelho realizou o seu primeiro voo há exatamente 32 anos, em novembro de 1982, mas acabou não conseguindo conquistar a simpatia dos militares até 1987 e não entrou para a produção em série.

No entanto, o Escritório de Design Mil (Mikhail Mil foi um renomado designer de helicópteros e cientista soviético) continuou a trabalhar no helicóptero e em meados dos anos 90 conseguiu construir uma versão adaptada a todas as condições meteorológicas, o Mi-28A, que ao realizar o seu primeiro voo em 1996, recebeu o índice N e o título de “Caçador Noturno”. A perseverança foi recompensada. No início da década de 2000, o Mi-28 acabou se tornando o homólogo russo do Apache e, desde 2006, começou a ser fornecido para o Exército e foi adotado como principal helicóptero de combate em 2009.

O Mi-28N foi projetado para destruir tanques, força viva e alvos aéreos de baixa velocidade. Para atingir a força viva e veículos blindados leves pode ser usado o canhão de 30 mm NPPU-28 e contra os tanques e abrigos duráveis do inimigo, os mísseis guiados “Ataka-B”. No arsenal do helicóptero também está presente o míssil ar-ar “Igla-B”, projetado para destruir drones, helicópteros e mísseis de cruzeiro.

As cabines blindadas do helicóptero resistem ao impacto de projéteis de 20 mm. Isso foi conseguido graças à utilização de blindagem de alumínio em conjunto com elementos de blindagem cerâmica. O equipamento bloqueador de sinais e a redução em duas vezes da visibilidade na faixa da radiação infravermelha, em comparação com o Mi-24, são os recursos previstos para a proteção contra os sistemas portáteis de defesa aérea.

Se ainda assim o helicóptero sofrer danos incompatíveis com a continuação do voo foram previstas duas variantes que possibilitam a sobrevivência da tripulação. No caso do veículo ser atingido a uma altitude superior a 100 metros, as lâminas e as portas das cabines são ejetadas juntamente com os paraquedas e rampas especiais são infladas. Mas se o aparelho for atingido a uma altitude inferior a 100 m um algoritmo diferente é utilizado –os membros da tripulação prendem-se com cintos em poltronas especiais “Pamir-K”, capazes de reduzir em quatro vezes a energia da sobrecarga e, ao cair, o impacto será amortecido por trens de pouso especiais.

O caminho para o campo de batalha

O novo helicóptero foi bem recebido pelo Exército russo. Em Torjok (cidade em que se localiza um Centro de Treinamento e Reciclagem das Tripulações de voo da Aviação do Exército, que inclui um regimento de treinamento e testes em helicópteros), foram feitos os seguintes comentários sobre a nova aquisição:

“O Mi-28N é um veículo muito compacto. Só com ele é possível fazer uma inversão de marcha de 70 graus, um ‘slide’ ou um mergulho a 60 graus. E tudo isso com alterações milimétricas do botão de comando. O veículo é muito sensível, mas mantém a estabilidade na presença de vento lateral e do que vem de encontro. Não havia nada disso no Mi-24.”

Após o sucesso na terra natal, existiam planos de que o helicóptero consolidasse a sua posição também nos mercados estrangeiros. Em 2008, B. Sliusar, diretor geral da JSC Rostvertol, citou a Índia, a Argélia e a China como possíveis compradores. No mesmo período, a Venezuela também manifestou interesse em relação ao Mi-28N. Os gestores da Rosvertol tinham até anunciado planos de assinar um contrato com o país sul-americano em 2009.

No entanto, o negócio com a Venezuela não deu certo, a China não demonstrou qualquer interesse e, em 2011, na concorrência para o fornecimento de 22 helicópteros de ataque para a Índia, o “Caçador Noturno” perdeu para o seu velho adversário AH-64D.

“Os dois veículos funcionaram muito bem, mas o americano demonstrou superioridade em aspectos fundamentais, como recursos mais avançados e utilização em quaisquer condições meteorológicas”, disseram os militares indianos sobre os resultados da concorrência.

Os especialistas russos foram ainda mais rudes. “A vitória dos helicópteros russos teria sido um milagre”, declarou Mikhail Barabanov, editor da revista “Moscow Defense Brief”, observando que o Mi-28, ainda muito cru na época, não tinha condições de competir “com o veículo americano, construído numa quantidade de aproximadamente 1.000 peças e que estava combatendo no Afeganistão e no Iraque”.

Konstantin Makienko, especialista do Centro de Análise de Estratégias e Tecnologias, declarou que “a participação do Mi-28 no concurso por si só pode ser considerada um sucesso, pois até poucos anos atrás, a Rússia simplesmente não possuía um veículo que pudesse participar de uma concorrência desse tipo”.

Finalmente, em 2012, soube-se que o mais avançado helicóptero russo está sendo comprado justamente pelo Iraque, de onde as tropas americanas foram retiradas há menos de um ano. O curioso é que no remoto ano de 1990, o fornecimento dos helicópteros Mi-28 deveria ter começado no Iraque. Mas o contrato foi rompido por causa da Guerra do Golfo. Em 2012, o pedido de 15 Mi-28N fez parte de um contrato para o fornecimento de equipamento militar da Rússia no valor de US$ 4,3 bilhões.

Em 2014, o helicóptero alcançou mais um sucesso. Em fevereiro, o Mi-28NE foi encomendado pelo Egito (a quantidade por enquanto é desconhecida) e em março as negociações com a Argélia, que se prolongaram desde 2007, resultaram em uma encomenda de 42 veículos de uma só vez.

 

10 Comentários

  1. Um poderoso helicóptero sem duvidas, mas para o Brasil ainda defendo o Mi-35 como helicóptero de ataque padrão. No final das contas o mais importante é a tecnologia e as armas usadas, e sendo assim, o Mi-35 pode usar toda tecnologia do Mi-28 e suas armas. E ainda pode carregar até 8 pessoas (além dos 2 tripulantes), o que torna muito mais útil e pratico no campo de batalha, uma vez que o mesmo helicóptero de ataque pode eventualmente resgatar soldados ou leva-los ao conflito.
    Com o Mi-28 (mesmo podendo carregar 3 homens, além dos tripulantes) e o AH-64 (que só leva seus tripulantes), existe uma desvantagem “se” comparado ao Mi-35 (que é de outra categoria, ok, mas na pratica pode fazer tudo que os outros dois fazem e ainda se usado como transportador de tropas).

    • Carl,

      O fato do helicóptero poder levar a tecnologia de outro não exatamente o torna bom o bastante para a tarefa.

      Em se tratando de aeronaves de asas rotativas, há uma diferença imensa entre uma que foi improvisada para uma função e outra efetivamente projetada para tal… E no caso do Hind, ele não foi propriamente pensado para exercer a função anti-carro.

      A gênese do Hind remonta a uma necessidade de uma aeronave capaz de prover apoio de fogo a um grupo de assalto ao mesmo tempo em que leva e desembarca o dito cujo. Deveria fazer parte de uma estratégia que previa o uso de forças aerotransportadas no intuito de flanquear uma posição, ou deslocando forças de reconhecimento ou ‘pathfinder’, para explorar previamente ou desempenhar funções específicas nos eixos de avanço. Enfim, ele foi pensado para lidar com uma ameaça pontual, como uma seção de carros adversária que fosse encontrada pelo caminho, e não para ser o componente de uma força de ataque anti-carro, destinada a encarar uma unidade de carros de combate.

      A capacidade de transporte de tropas certamente cobra seu preço, tornando-o menos performante que o Mi-28. Mesmo que as armas sejam as mesmas, a performance da aeronave é fundamental para que se possa explorar melhor o envelope de utilização das armas.

      No meu entender, o lugar do Hind é junto as unidades de infantaria mecanizada, nos papéis que foram descritos acima ( flanqueamento e reconhecimento ), e fornecendo a estas unidades o suporte de fogo necessário.

      Agora… No caso da América Latina, realmente não há qualquer problema específico em utilizar o Hind como um anticarro puro, posto que virtualmente ainda não existem verdadeiros sistemas integrados de defesa AA na região ( creio que além de Brasil, apenas Peru, Chile e Venezuela despontam verdadeiras iniciativas nesse sentido ), e tão pouco sistemas de proteção pontuais em grande quantidade e que ultrapassem a faixa dos 10km de altura… As aviações de combate também são bastante limitadas, com as principais unidades basicamente locadas a defesa aérea ( novamente, apenas Peru, Venezuela, Chile teriam aviações com componentes maiores e/ou melhor equipados para funções de ataque ). Mas mesmo assim, antecipando que outros países possam logo ter esses sistemas e meios, entendo como necessária a aquisição de algum helicóptero mais capaz…

    • Bem lembrado Carl_Carl! Na maioria das matérias referentes ao Mi-28 ,poucos lembram-se desse interessante aspecto. Inclusive no vídeo de publicidade mostra uma simulação ao qual um Mi-28 é abatido e o outro pousa para resgatar os tripulantes…Pode ser usado inclusive em missões C-SAR.

  2. Os mísseis Ataka e o canhão de 20 mm são o mesmo armamento incluído no Mi-35, porém o Mi-28 é mais leve e sua potente turbina proporciona um excesso de torque que faz com que o aparelho tenha um taxa de subida rápida, grande velocidade e capacidade de manobras… Também concordo que o mesmo não supera o Apache, principalmente no quesito do FLIR, da mira no capacete e dos instrumentos de navegação porém é um oponente digno de respeito e caso fosse do interesse do Exército Brasileiro em adquiri-lo teria todo meu apoio, até porque a burocracia na Rússia para o fornecimento desse equipamento para nós seria praticamente nula, enquanto que se quiséssemos comprar por exemplo 12 AH-64 dos EUA teríamos que esperar o congresso americano aprovar e talvez caso não fosse vetada a venda receberíamos uma facada tão grande que consumiria toda a verba do Exército pelo resto do ano… Sendo que o Mi-28 apesar de não ser o melhor do mundo cumpre a missão com sobras, como já disse antes o equipamento de guerra não precisa necessariamente ser o melhor, ele só precisa ser bom o bastante para o que se deseja dele.

    • A algum tempo atrás houve um boato que o EB compraria 18 deles…A vantagem que pode ser desenvolvida uma eletrônica similar a do Apache futuramente.

  3. Esse aparelho é inferior ao AH-64D Apache como bem atestaram os indianos no Himalaia, quando faltou fôlego ao pesado aparelho russo. E os egípcios não adquiriram o aparelho, e nem teria porque pois já são usuário do Apache.

  4. HMS_TIRELESS nem tanto o Longbow é superior em eletrônica de bordo, bem como pelo fato de seus motores serem mais econômicos o Longbow tem um alcance melhor, assim como opera em um teto mais alto que o Havoc, fator este primordial na concorrência da Índia, já que o helicóptero teria de operar em altas atitudes na Caxemira.

    Porém o Havoc ganha no quesito manobrabilidade e velocidade final.

    Cabe lembrar também que os russo não tem só o Havoc, mas tem também o Hokum e que em função do esquema com dois rotores coaxiais, o Hokum Ka-52-B pode voar para frente ate 370 km, assim como pode voar para trás com uma velocidade de cerca de 130 km, da mesma forma o Hokum pode voar lateralmente a uma velocidade média de 100 km / h, qualidades estas que o tornam talvez o helicóptero mais manobrável do mundo .

    Também cabe salientar que o Hokum, esta dotado de uma moderna eletrônica de bordo o que lhe permite voar em qualquer tempo, de dia ou de noite, inclusive com navegação pelo sistema Glonass ou GPS, também pode se afirmar que o Hokum esta muito bem armado pois os mísseis Vikhr, com guiamento laser e ogiva em tandem são capazes de perfurar 900 milímetros de blindagem, inclusive as modernas blindagens reativas e tem um alcance de 8 km.

    Outra inovação do Hokum e a preocupação com a sobrevivência dos pilotos, pois além de ser protegido contra incêndios, o Hokum por não ter motor traseiro pode continuar a voar mesmo que a sua cauda destruída, sendo que em caso de avaria grave que impossibilite o Hokum de continuar voando o piloto e o co-piloto podem ejetar, já que no Hokum esta instalado o assento K-37, que garante uma ejeção segura acima de 100 metros, porém caso o Hokum esteja acima de 100 metros o mesmo assento em conjunto com o trem de pouso são capazes de amortecer a queda garantindo a sobrevivência dos seus ocupantes.

    Em comparação com o Longbow o Hokum só perde em um quesito, o de permanência em combate já que o Longbow pode permanecer em voo durante 3 horas e o Hokum por cerca de 1:30 minutos, face as turbinas mais econômicas que equipam o Longbow.

    Desta forma em termos de helicópteros de combate os russos estão tão bem servidos assim como os americanos e europeus, não havendo esta supremacia que você transpareceu no seu post.

    • Rprosa, pessoalmente eu coloco o Hukum como um aparelho que é uma classe em si mesmo. Tecnicamente falando ele é muito superior a qualquer helicóptero de ataque existente. Na verdade, em termos de desempenho ele se aproxima muito de aviões de asa fixa como o Super Tucano. Como eu já disse uma vez aqui, seria melhor os russos elegerem como helicóptero de ataque o Hokum e desenvolver uma versão mais simples e leve do Mi-28 para as tarefas de reconhecimento e escolta armada.

  5. Concordo com sua opinião HMS_TIRELESS, mas levo em consideração a orientação russa de garantir encomendas militares aos diversos OKB, como forma de mante-los atuantes e impedir a perda de now how.

    Apesar da Rússia se demonstrar como uma economia capitalista, acredito que muitas da engrenagens, principalmente com relação a indústria bélica ainda estão no tempo do comunismo e vai demorar muito tempo ainda para que vejamos um verdadeiro mercado de livre concorrência na Rússia sem a pesada interferência estatal.

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