Estado Islâmico: Ameaça para a paz mundial

Nas atuais circunstâncias, não tenho dúvidas de que a verdadeira ameaça internacional é a existência em si e a tendência de expansão dos grupos do Estado Islâmico (EI), inicialmente denominado de Estado Islâmico do Iraque e do Levante.

O Estado Islâmico é uma fusão de diferentes correntes, que, até então, não representavam perigo em grande escala. A base do EI foi formada por radicais sunitas do “triângulo da morte” iraquiano. A eles se juntaram os oficiais do Baath, que criaram uma série de organizações clandestinas após a ocupação americana no Iraque. Isso fortaleceu a capacidade de combate do Estado Islâmico, embora as relações futuras com os ex-membros do Partido Baath, cuja visão de mundo não coincide em tudo com a ideologia do EI, ainda sejam incertas.

Os grupos do EI, compostos pelos mais fanáticos terroristas, lançaram-se sobre a Síria, ocupando ali uma posição de liderança entre a oposição ao governo de Bashar al-Assad. Instalados, eles começaram a recrutar novos seguidores. Depois de ganhar força física, o EI partiu para uma ofensiva no Iraque, onde tomou controle de um terço do país em uma questão de dias.

Mas cabe lembrar que essa corrente e desfile vitorioso do EI foi, em grande parte, resultado da política dos EUA, responsável pela intervenção no Iraque e pela dinâmica posterior definida pelas autoridades da ocupação norte-americana. A interferência dos EUA mergulhou o Iraque no caos, e começaram confrontos sangrentos entre os dois principais ramos do Islã: os sunitas e os xiitas.

A luta do regime de Saddam Hussein, que representava sobretudo a minoria sunita, contra os xiitas já acontecia mesmo antes da ocupação norte-americana do Iraque. Porém, os confrontos entre eles, mesmo tendo por vezes consequências graves, não tinham como base as diferenças religiosas. O agravamento dos atuais confrontos sangrentos entre sunitas e xiitas no Iraque foi resultado do apoio dos Estados Unidos aos xiitas, com a expulsão dos sunitas das estruturas do poder.

Não dá também para justificar o fato de a política dos EUA – com pouca visão de futuro –ter contribuído para o armamento desses terroristas radicais, que posteriormente virariam as suas armas contra os próprios americanos. Em uma análise superficial, parecia não haver nada de errado nas autoridades de ocupação norte-americanas gastarem rios de dinheiro no armamento dos grupos de autodefesa das tribos sunitas para tentarem, com a ajuda deles, expulsar o Al-Qaeda do triângulo sunita. No entanto, eles simplesmente os enganaram, prometendo aos membros dessas organizações uma série de postos no exército regular iraquiano.

Se não fosse o bastante, o desequilíbrio da situação no Iraque contribuiu para que, após a queda de Saddam Hussein, se concretizasse a expulsão e interdição ao poder de membros do partido Baath. Novamente, o recém-formado Exército iraquiano e forças de segurança do país se viram completamente impotentes e, com isso, os rebeldes se apoderaram das armas que iam sendo deixadas para trás pelo exército: veículos blindados, tanques, artilharia e outros meios militares, também entregues anteriormente pelos EUA e seus aliados.

Ainda mais negativo foi o apoio total de Washington às forças em confronto armado para derrubar o atual regime da Síria. As histórias de que os Estados Unidos e seus aliados armaram não o EI, mas outro grupo mais moderado – o Exército Sírio Livre –, não têm qualquer fundamento. No contexto de apoio incondicional às forças da oposição na Síria, os Estados Unidos não podiam, e não quiseram, criar um amortecedor entre o EI e os demais.

Assim é a lógica do posicionamento norte-americano: resolver suas tarefas contraditórias com outros países sem pensar no dia de amanhã. Os Estados Unidos começaram a fazer ataques aéreos às forças do EI no Iraque. Essa ofensiva foi seguida por outras nos territórios sírios, sem o consentimento do governo de Damasco. Isso não apenas contraria o direito internacional, como suscita dúvidas sobre a validade da manobra militar. Afinal, sem passar pelo Conselho de Segurança da ONU, pode ser o início da destruição do regime de Damasco.

De uma forma geral, a situação é bastante grave e exige certamente uma coesão de países, em primeiro lugar dos membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU, na luta contra o EI. E nenhuma divergência, incluindo a tão falada “questão ucraniana”, deverá interferir na luta contra o terrorismo internacional.

—————————————————————-

Quatro motivos de preocupação

1.  Ao se afirmar como uma força vitoriosa, o EI se transformou em ímã que atrai para si toda uma série de organizações islâmicas extremistas. Este grupo está se transformando no centro global de radicais islâmicos irreconciliáveis.

2.  O número de militantes está crescendo rapidamente, inclusive graças à adesão de jihadistas islâmicos do Oriente Médio, Norte da África, Europa, América e Austrália. Por verem no EI um “time vencedor”, muitos militantes do Exército Livre da Síria e da Frente al-Nusra, com ligações ao al-Qaeda, se juntaram a ele. De acordo com a CIA, depois que o EI tomou Mosul, a segunda maior cidade do Iraque, e outras áreas nos arredores, o número de combatentes do Estado Islâmico aumentou em três vezes, passando para 30.000 – e isso tudo em apenas três meses.

3.  O EI, depois de ter conseguido o controle da exploração e produção do petróleo da região de Mosul, se tornou financeiramente autossustentável. O petróleo é vendido aos turcos, jordanianos, sírios, e outros comerciantes obscuros a quem as exigências de Washington não têm relevância.

4.  A plataforma ideológica do EI – a criação de um califado em todos os territórios de população muçulmana – tem muitos seguidores. No entanto, uma série de países árabes se juntou e declarou a sua disponibilidade para combater o grupo.

Evguêni Primakov: Foi primeiro-ministro da Rússia entre 1998 e 1999.

Fonte: Gazeta Russa

5 Comentários

  1. “”””Estado Islâmico: Ameaça para a paz mundial””””

    Não acredito nisso na forma tradicional de combate em campo de batalha, temos observado o EI ter avançado às portas de cidades e fronteiras estratégicas no oriente médio, se você observar são um bando de maltrapilhos armados com fuzis , alguns canhões , granadas , camionetes , não me parece uma forma militar em condições de enfrentar uma coalisão de mais de 40 países …. mas …

    … desapareceram a alguns meses atrás roupas e objetos descartados no tratamento do Ebola em algum país da África … pense nisso…
    e há outras formas de guerra não convencional que podem ser utilizadas dentro de grandes centros urbanos na Europa e América do Norte …

    Eu diria que o nível de atenção deveria ser altíssimo das potências em conjunto, inclusive China e Rússia, agir como se não “”fosse comigo””” é idiotice pura.

    Abs.

    • Defender a todo custo o direito de manter o privelegio exorbitante, segundo o General De Gaulle, de imprimir papel moeda para pagar dividas, para comprar as terras agricolas, fonte de minerios, industrias, governo, forca armadas de outro paises, bloquearr o crescimento de nacoes mais dinamicas, com populacoes mais dedicadas ao trabalho do que cheirar cocaina, fumar maconha e ouvir musica, isto e ameaca a paz mundial. O centro da ameaca a paz mundial se localiza em Washington, City deLondres. e Wall Street em Nova York..

  2. Os States são primarios na avaliação que fazem para atrair seus amigos.
    Primeiro os bombardeiam. depois os enfraquecem, depois colocam seus adversários no poder, depois estendem sua mão para esses para manter uma espada de Damocles no peito de seus governos fantoches e garantir sua dependencia. Querem orquestrar Deus e o Diabo e acham que conseguem ficar bem com todos por isso viram piada aos olhos dos povos no mundo e levam os governos que os apoiam ao descredito em seus países.

Comentários não permitidos.