‘Legião estrangeira’ pega em armas no conflito na Ucrânia

Combatente espanhol luta ao lado dos rebeldes / Crédito: Reuters

Rafa Munoz Perez, um espanhol servindo com os rebeldes em Donetsk

Franceses, espanhóis, suecos ou sérvios, os estrangeiros que lutam por ambos os lados no conflito sangrento que acontece no leste da Ucrânia vêm de toda a Europa e trazem uma lista enorme e confusa de motivações para isso.

Os ‘não-mercenários’ entre eles são motivados por causas que remetem às guerras na antiga Iugoslávia ou ainda a Civil Espanhola, nos anos 30.

A Rússia é ‘o elefante na sala’, superando qualquer outra nacionalidade estrangeira presente no leste da Ucrânia – embora seja cada vez mais difícil separar os russos que lutam como voluntários dos soldados oficiais, supostamente enviados em missões secretas.

Os rebeldes ucranianos pró-Rússia gostam de exaltar seus combatentes voluntários de fora, apresentando-os como os mais novos “Brigadistas Internacionais” lutando contra o “fascismo”. Enquanto isso, começa a acontecer um debate em Kiev sobre a possibilidade de se criar uma “legião estrangeira” da Ucrânia.

Apresentamos aqui alguns dos combatentes estrangeiros por país de origem, em um fenômeno que, de alguma forma, lembra o dos jovens muçulmanos da Grã-Bretanha e de outras partes da Europa que viajam para o Oriente Médio para lutar em suas guerras e defender suas crenças.

Rússia

Não é nenhum segredo que cidadãos russos ocuparam as principais posições de liderança entre os rebeldes na Ucrânia. E o mais famoso deles é Igor ‘Strelkov’ Girkin, que supostamente detinha a patente de coronel no Serviço de Segurança Russo até o ano passado.

Também há fortes evidências indicando que os outros combatentes “normais” da Rússia invadiram o leste da Ucrânia para se juntar aos rebeldes. Mas a definição deles como “voluntários” lutando por uma causa comum em Luhansk e Donetsk ou “soldados mercenários” ainda é algo que não está claro.

Um dos líderes dos rebeldes, Alexander Zakharchenko, declarou publicamente que cerca de 3 mil ou 4 mil “voluntários” russos lutaram com os rebeldes desde o começo do conflito, em abril.

“Há também vários soldados russos que preferem passar o período de férias conosco, irmãos que estão lutando pela liberdade deles em vez de estarem relaxando na praia”, disse ele na última quinta-feira.

Soldado checheno Ruslan Arsayev

Checheno Ruslan Arsayev luta ao lado do governo ucraniano porque não quer ‘se curvar’ para Putin

As evidências têm mostrado que soldados russos estão envolvidos no conflito – dez paraquedistas militares foram capturados em território ucraniano e há evidências indiretas na Rússia de mortes ou desaparecimentos de militares do país.

Acredita-se que os chechenos – da República da Chechênia e os da diáspora anti-Rússia que vivem no exílio – estejam envolvidos em ambos os lados do conflito, mas há uma predominância entre eles dos que lutam pelos rebeldes.

Um homem armado que se apresentou como checheno e chamado Ruslan Arsayev disse ao site de notícias Mashable, em uma entrevista, que estava lutando pela Ucrânia porque não vai “se curvar para Putin”.

França

Há franceses lutando pelos dois lados, segundo informações divulgadas pela rádio pública francesa no início do mês. Cerca de 20 cidadãos do país estão em território ucraniano para tomar parte no conflito.

Quatro deles, incluindo dois ex-soldados, foram a Donetsk para lutar com os rebeldes. Eles até chegaram a ser filmados por um jornal russo posando com armas nas mãos.

De acordo com o jornal francês Le Monde, os quatro seriam fundadores de um movimento ultranacionalista chamado “União Continental”. Na visão deles, a Rússia representa “o último suspiro” contra a globalização liberal – a qual eles consideram “responsável pelo declínio dos valores nacionais e pela perda de soberania da França”.

O principal papel desses franceses seria, aparentemente, providenciar treinamento de combate para soldados recrutados de países da Europa Ocidental.

Do outro lado, Gaston Besson tem lutado pelo governo ucraniano como um membro do Batalhão voluntário de Azov, uma unidade conhecida por suas associações de extrema direita.

Ainda assim, com 47 anos, ele se descreve como um “revolucionário de esquerda”, de acordo com a mídia francesa. Besson teria sido um paraquedista militar no passado, tendo lutado em vários conflitos anteriores, da Croácia à Colômbia.

Ele também é conhecido por sua habilidade em recrutar outros estrangeiros. “Todos os dias eu recebo dezenas de pedidos de pessoas que querem se juntar a nós, principalmente de lugares como Finlândia, Noruega e Suécia”, disse, em junho, para o Eurasianet.

Espanha

Para dois espanhóis de esquerda que se juntaram aos rebeldes pró-Rússia, o conflito no leste da Ucrânia é a chance de retribuir o que eles consideram como um “favor histórico”.

Angel Davilla-Rivas disse à agência de notícias Reuters que ele foi ao território ucraniano junto com seu companheiro Rafa Muñoz Pérez para lutar com os rebeldes em um reconhecimento pelo apoio da União Soviética ao lado republicano na Guerra Civil Espanhola.

Rafa Muñoz, de 27 anos, é de Madri e é membro da ala jovem do movimento político Esquerda Unida desde 2010, de acordo com o jornal espanhol El País. O amigo dele tem 22 anos e é de Múrcia (leste da Espanha) – ele faz parte da ala jovem do Partido Comunista Espanhol.

“Eu sou filho único e meus pais e minha família sofrem por eu estar me arriscando assim. Mas… eu não consigo dormir tranquilo sabendo o que está acontecendo aqui”, disse Davilla-Rivas, que tem tatuagens dos líderes soviéticos Lenin e Stalin no corpo.

Os dois estão do lado dos rebeldes, mas também há relatos de espanhóis apoiando o governo ucraniano, de acordo com um artigo no jornal ucraniano Kyiv Post.

Sérvia

Acredita-se que dezenas de sérvios estejam lutando com os rebeldes na Ucrânia, muitos deles levados pelo senso étnico e nacionalista de solidariedade com a região de cristãos ortodoxos russos – e também pela posição contrária à Otan, que tem o governo ucraniano como aliado.

Ainda assim, o especialista em segurança de Belgrado, Zoran Dragisic, disse a uma televisão alemã que os combatentes sérvios estariam lutando primeiramente como mercenários e podem ser encontrados dos dois lados do conflito.

“Os jovens são ‘doutrinados’ para a guerra, alguns são praticamente crianças”, disse Dragisic.

Enquanto isso, o governo sérvio tenta afastar seus cidadãos do conflito com uma lei que pune a participação deles em guerras estrangeiras.

Suécia

Sueco luta com o governo ucraniano / Crédito: Mikael Skillt

Ao lado do governo ucraniano, sueco diz que está lutando pela ‘sobrevivência dos brancos’

Em uma entrevista à correspondente da BBC Dina Newman, um franco-atirador sueco com visões de extrema-direita, Mikael Skillt, disse que estava lutando pelo governo ucraniano porque ele acredita na “sobrevivência dos brancos”. Como o francês Gaston Besson, ele é um membro do batalhão de Azov.

“Seria idiota se eu dissesse que eu não quero ver a sobrevivência dos brancos”, disse ele. “Depois da Segunda Guerra, os vencedores dela escreveram sua história. Eles decidiram que é sempre algo ruim dizer ‘sou branco e tenho orgulho disso’.”

Polônia

Já houve relatos recentes de que poloneses estariam participando do conflito na Ucrânia, mas o governo em Varsóvia rapidamente negou que seus cidadãos estariam lutando como ‘mercenários’ junto com o governo ucraniano. As autoridades polonesas ainda deram o aviso de que qualquer polonês que fosse à Ucrânia para lutar poderia ser preso na volta, de acordo com a agência alemã Deutsche Welle.

Mas, por enquanto, segundo a mídia alternativa ucraniana Euromaidan Press, já há registro de um cidadão polonês nascido na Ucrânia morto em uma emboscada dos rebeldes no início de agosto, enquanto servia o batalhão de Dnipro como voluntário – Leonid Smolinski era o nome dele.

Pelo menos um polonês também já foi visto do lado dos rebeldes. Em um discurso em Donetsk, transmitido pelo site polonês radical xportal, Bartosz Becker se descreveu como um representante dos “poloneses livres que são contra as bases terroristas da Otan na Polônia”.

Alemanha

A alemã Margarita Zeidler é uma antiga enfermeira que se mudou para a Ucrânia em 2002 por razões religiosas depois de ter se convertido para a Igreja Russa Ortodoxa, de acordo com uma entrevista dela para um jornal russo.

Decepcionada pelos acontecimentos em Kiev durante a revolução de Maidan durante o inverno, ela se mudou primeiro para a Crimeia, depois para a região de Donetsk – depois que um de seus amigos foi morto lá em maio, ela conta. Ela se tornou uma “fonte de informação oficial” dos rebeldes em Sloviansk quando as forças do governo cercaram a região.

Atualmente, ela se diz jornalista e conta que mantém sempre uma metralhadora “ao seu alcance” por segurança. Falando russo em um vídeo do Youtube de 11 de agosto, Margarita diz que não poderia ficar sentada assistindo a “fascistas ucranianos matarem civis”.

Estados Unidos

Apesar de os rebeldes afirmarem o contrário, há pouca evidência do envolvimento de voluntários americanos no conflito da Ucrânia. A exceção foi o americano-ucraniano chamado Mark Gregory Paslawsky, que já tinha cidadania ucraniana.

Paslawsky foi morto lutando do lado do governo ucraniano na cidade de Ilovaisk. Em uma entrevista para a Vice News, ele tinha dito que queria ajudar a acabar com a corrupção na Ucrânia e afirmou: “a elite política precisa ser destruída aqui”.

Embora não haja evidência concreta, a mídia russa sugere que haja cidadãos americanos lutando com os rebeldes.

Itália

Francesco F, de 53 anos, juntou-se ao batalhão de Azov para “combater o bom combate contra a Rússia”, segundo um artigo publicado pelo jornal italiano Panorama, em junho.

Ele já fazia negócios na Ucrânia dois anos antes de o conflito violento começar e disse que “encontrou sua casa com os nacionalistas ucranianos” nas barricadas de Maidan. Ainda segundo o jornal, Francesco também tem um passado na extrema direita na Itália.

Outros países

Há registros de cidadãos de outras nacionalidades que também estão envolvidos no conflito, mas em números menores. Geógia, Bielorrússia, Estônia, Letônia, Lituânia, Finlândia, Noruega, Canadá, Croácia, Eslovênia e República Tcheca teriam voluntários envolvidos no lado do governo ucraniano.

O líder rebelde Alexander Zakharchenko disse, no último dia 17 de agosto, que os voluntários estrangeiros do lado deles incluíam também turcos e romenos.

Fonte: BBC Brasil

20 Comentários

  1. o que entendemos nesse texto é que os nazistas lutam ao lado de Kiev
    e os nacionalistas , europeus , e esquerdas lutam pelos guerreiros do leste
    a maioria dos que lutam por Kiev se não são nazistas são mercenários pagos pelos oligarcas
    já do lado dos revolucionários do leste ucraniano ,os voluntários lutam por vontade ,politica e por uma causa , a principal deles é tirar a europa refém das mãos dos anglos sionistas yankes
    o que os estados unidos fizeram nesse golpe que deram no governo legitimo de Kiev e colocaram essa junta nazista
    primeiro colocaram a europa de joelhos e fez ela perder a economia ,segundo ganharam dinheiro pois eles vendem no lugar dos russos , fizeram o mercantilismo na europa colônia e estados unids metrópole em pleno 2014 ,
    segundo criaram mais outra jirad , mas agora com out5ras causas
    a CIA americana troca os pes pelas mãos
    o mais ridículo é ver pessoas apoiando os estados unidos que tentam jogar o mundo em outra guerra mundial apenas para controle populacional e para que o falido e combalido capitalismo sobreviva ,com menos pessoas no mundo talvez ele sobrevivam mas algum tempo !

    • Rússia representa “o último suspiro” contra a globalização liberal – a qual eles consideram “responsável pelo declínio dos valores nacionais e pela perda de soberania da França”.

      NOVA ORDEN MUNDIAL

      Procure saber mais sobre

      Nobre da ver a Russia Lutando O BOM COMBATE .

      Infelismente a NOVA ORDEN MUNDIAL. vai acontecer

      • eu já vejo a nova ordem mundial sendo modificada a cada rodada , essa ordem mundial a maioria esta c@g@ndo e andando para ela !!

        e agora começa o distanciamento dos paises a esses mandates de meias patacas

      • aquela máxima capitalista , que não podem apenas existir ricos no mundo , tem que ter pobres para sustenta-los

        e com países é a mesma coisa tem que ter países pobre

        esses da velha ordem , pois de nova não tem nada !!!

        fazem o que ? resposta atacam e matam nações que estão a se desenvolver e se prosperar

        um exemplo síria , libia , foram atacadas para se tornarem pobres e não concorrentes

        essa é a essência do capitalismo !!

        sobre esquerda ou direita você não precisa ler kar max ou ver o filme to tche

        você apenas nasce na periferia de megalópole e vera que o capitalismo não se sustenta sem ter que destruir o próximo para fazer nascer e sustentar mais um milionario
        tem que matar outros milhões em algum lugar do planeta

      • O mesmo serve para o seu irmão siamês, O COMUNISMO… não se sustenta sem miséria e morte… mas ainda assim prefiro o capitalismo… é mais fácil galgar os degraus sociais no capitalismo no que no socialismo estratificante… vide cuba… pergunte se fidel quer largar o osso e deixar algum “cumpanheiro” que veio lá de baixo assumir seu lugar de “todo poderoso”… vc já sabe a resposta… PAREDON…

  2. Ue entendo mais nada. Quando passei essa informacao dias atras, citando Jim Willie, o pessoal disse que o informante de Willie era cego e bebado, outro ate recomendou que lesse o Humerto Eco, outro disse que eu escrevo estoria. E agora Jose?

    • “Dois dias atras escrevi que Jim Willie deu uma entrevista dizendo ter informacao de que soldados alemaes, britanicos, franceses, holandeses altamente treinados, estariam lutando, como mercenarios para os chamados rebeldes do leste da Ucranias. Deveria ter dito tropas de elite, tipo SAS da Inglaterra,, Alemanha, Franca, Holanda e outros paises da Europa Ocidental estao lutando para os rebeldes do lestge da Ucrania,” agora chamado Nova Russia”

      foi o que vc escreveu, como vc viu nessa materia, temos 4 franceses, 02 espanhóis e 01 alemão!!!!

      KA KA KA KA

      • Em tempo estou aguardando a, como vc disse, “Mas Alemanha vai sair da OTAN, vai sair da Uniao Europeia e vai anunciar que vai juntar o BRICS,”

        ABRAÇO!!!!!!!!

  3. Exatamente Pé de Cão, não consigo entender como tem gente que ainda defende as atitudes dos yankees, basta ver o que aconteceu e está acontecendo no Iraque, quando vejo os vídeos da carnificina que acontece lá, sinto mais nojo ainda de yankees. Estão manipulando os parentes dos Russos e jogando a Europa numa armadilha, e ainda há quem pensa que esses yankees são os mocinhos…

    • Como se, em caso de serem atacados pelos russos, seriam tratados com flores e bombons !!!… rsrsrsrrsrssrs… isso que vcs disseram não passa de antiamericanismo barato e vulgar… todos tem direito de escolher por quem quer ser mandado, mas ao menos não se tornem medíocres ao apontar que um senhor é melhor que o outro qndo de fato seria melhor não ter senhores… mas o ursinho carinhoso é politicamente correto, não é mesmo ???… 🙂 … que diga os antigos países invadidos pelos russos e libertados pela pressão ocidental depois que o muro de Berlim caiu… perguntem se querem se alinhar aos russos… a Polônia que o diga… mas até no caso dela há alguns tergiversadores que criticam a russofobia polaca… também, nunca tiveram seus entes queridos mortos e estuprados pelos russos… como iriam ser contra o “ursinho carinhoso”… 🙂

    • a politica americana é assassina , os diretos humanos da onu deveria se pronunciar sobre as atitudes desse governo yanke que tem milhões de mortes em todos os continentes em suas mãos fora os outros que eles provocaram financiando mercenários de tudo quanto é tipo para matar pessoas comuns pelo globo

  4. Um americano só?? Cadê os generais mortos em ação, os agentes da Cia e os mercenarios da Blackwater ????

    Até eu estou surpreso, deve ter mais brasileiros lá que ianques!!!!

  5. A verdade sempre é a 1ª vítima em uma guerra, demora + eis q ela surge no pedaço..eis a verdade surgindo, suja, amarrotada, + ainda necessária até p entendermos os motivos > por trás do acontecimentos. E dizer q tinha deuses, demônioss e anjos envolvidos n trama de sangue e poder…Sds. 😉

  6. Nem tão lá nem tão cá, segundo as informações do próprio governo de Kiev haviam cerca de 2000 homens de grupos privados e mercenários apoiando as forças de Kiev, é impossível que todos sejam russos.
    A conta tá mal feita ou só conta os ditos “Voluntários” ou ainda, a debandada dos estrangeiros explica a humilhante derrota do Exército Ucraniano frente aos “Caipiras” apoiados pela Gru e PQds Russos (igualmente voluntários).

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