A França está atolada na mais grave crise política e econômica

A França, segunda potência da zona do euro e quinta no mundo, está atolada na mais grave crise política, econômica e de identidade das últimas décadas. Os dados econômicos negativos se amontoam, a imagem de seus líderes políticos desce a mínimos históricos, discute-se a opção de o presidente não concluir o seu mandato de cinco anos, o debate ideológico na esquerda ameaça a estabilidade do Governo e a direita enfrenta, sem líder, uma avalanche de investigações de corrupção. Só a ultradireitista Frente Nacional colhe novamente um alarmante apoio popular.

“A crise está fora de controle”, diz a este jornal o cientista político e pesquisador Bruno Cautrès. A ‘rentrée’ tem sido catastrófica para a cúpula socialista no poder. Na metade de seu mandato de cinco anos, apenas 13% dos franceses confia em Hollande, um recorde absoluto entre os presidentes franceses. E só 30% (14 pontos percentuais abaixo de julho) confiam em seu primeiro-ministro, Manuel Valls, segundo a pesquisa do instituto TNS Sofres para o Le Figaro, publicada na quinta-feira.

Os dados são especialmente alarmantes porque a pesquisa foi feita depois de Hollande e Valls expulsarem do Governo, em um gesto de autoridade em 26 de agosto, os ministros Arnaud Montebourg e Benoît Hamon, da ala mais esquerdista da equipe. Mas antes da divulgação do corrosivo livro de Valérie Trierweiler, a ex-parceira de Hollande que revelou intimidades incômodas do presidente. E também antes da demissão do secretário de Estado de Comércio Thévenoud Thomas da nova equipe de Governo, na quinta-feira, que admitiu ter passado vários anos sem pagar impostos. “Há dias tenho a sensação de que uma série de fatos está nos atolando na lama. Todos sentimos certa repugnância”, admitiu Valls na sexta-feira diante do acúmulo de más notícias.

“Nenhuma pesquisa será capaz de interromper o meu mandato”, defendeu-se Hollande na sexta-feira. Ele acrescentou que permanecerá no cargo “até o fim”, que, na previsão do Le Monde, será “cruel” de qualquer modo. O oxigênio que ele e Valls pretendiam ganhar ao renovar um Governo que durou apenas cinco meses – “o último cartucho de Hollande” como definiram vários colunistas – acirrou o debate ideológico no Partido Socialista Francês.

A substituição de Montebourg à frente da Economia pelo ex-banqueiro e ex-assessor de Hollande Emmanuel Macron tem sido vista como “uma provocação” e “outra guinada neoliberal” pela ala mais ortodoxa do PS, que acaba de criar a corrente dissidente “Viva a Esquerda”. Para essa ala, como para muitos eleitores socialistas, Hollande traiu-os ao não cumprir seu programa eleitoral.

A guerra interna entre os socialistas, qualificada como “suicídio” na própria sede do PS, baseia-se fundamentalmente na velha discussão entre os defensores do reforço das políticas econômicas da oferta – a de Valls, com ajudas às empresas – e os que optam por jogar a favor da demanda com a melhora da renda familiar. Para estes, as reformas do Executivo preveem uns 5 bilhões de euros (15 bilhões de reais) em quatro anos e, para as empresas, 41 bilhões.

Os críticos afirmam que Hollande e Valls aceitaram a austeridade imposta por Berlim e Bruxelas, uma tese rejeitada pelo primeiro-ministro com o argumento de que não contempla cortes salariais e sim apoios às famílias ou 60 mil novos funcionários, especialmente na Educação.

O próximo embate entre os socialistas é no dia 16. Valls apresentará à Assembleia Nacional uma moção de confiança para o seu novo Executivo. Dezenas de deputados rebeldes advertem que, “por coerência”, não podem votar a favor. Os socialistas contam com 290 votos, apenas um acima da maioria absoluta.

Enquanto isso, o desemprego já está acima de 10%, a economia está estagnada, o Governo reconhece que não poderá cumprir o seu compromisso com Bruxelas para equilibrar o déficit, a dívida é de quase 100% e o gasto público beira os 57% do PIB anual. “Vivemos acima das nossas possibilidades há 40 anos”, tem repetido Valls nos últimos dias. “Precisamos reformar, reformar, reformar sem parar”, insiste. “E depressa”.

O economista Jacques Attali, autor de vários relatórios sobre as reformas a serem feitas, concorda. O Executivo, diz ele, tem apenas um mês para reagir. Ou seja, para elaborar os orçamentos de 2015, os primeiros a incluir cortes profundos.

A União por um Movimento Popular (UMP), de centro-direita, tem sua casa em condições piores. Está arruinada, atolada em casos judiciais de corrupção e malversação, e com líderes em desacordo. O principal partido de oposição na França (199 de 577 deputados) é dirigido por um triunvirato de ex-primeiros-ministros adversários entre si – Alain Juppé, François Fillon e Jean-Pierre Raffarin – que substituiu em julho o até então presidente do partido, Jean François Cope, investigado por suspeita de corrupção na campanha de 2012, com Nicolas Sarkozy como candidato.

Juppé já anunciou sua candidatura à liderança do partido e às eleições presidenciais de 2017, entretanto, todos olham de soslaio para Sarkozy, que espera seguir o mesmo caminho em breve. Mas Sarkozy tem telhado de vidro. É investigado por corrupção em cinco casos. Por um deles, a suposta tentativa de comprar um juiz, foi preso e indiciado em julho, acusado de corrupção ativa, tráfico de influência e revelação de segredos.

A UMP não quer eleições antecipadas. Precisa de tempo para limpar seu quintal. O Governo também, para que as reformas deem algum resultado. Se falharem, a pior ameaça ao atual sistema francês está à vista. Foi o que Valls advertiu no início do verão, quando a situação não era tão dramática: “Nosso país pode se desfazer e se entregar para Marine Le Pen”.

Fonte: El País

8 Comentários

  1. Isso aê, vai na onda do Obama e faz merda, se afasta dos países emergentes quebrando confiança capaz de gerar lucro, e assim seja feliz no mar de sofismas que é a UE…da próxima vez presta mais atenção aos movimentos da Alemanha e aprende alguma coisa.

  2. Diz Jim willie, na sua ultima entrevista, http://www.goldenjackass.com, que o governo alemao esta se preparando para deixar dois ou tres bancos alemaes falir; bancos estes que tais quais todos os grandes bancoa dos Estados Unidos e da Europa Ocidental, estao falidos e so ainda nao declarara-se em bancarrota, por causa da manipulacao dos mercados de derivativos e da impressao de dolares e euros pelo FED e Bancos Centrais da Europa Ocidental, que usam dinheiro digital para comprar dessews bancos cheques sem fundo, e titulos e papeis toxicos, sem nenhum valor, e assim mantendo-os funcionando. Se como e esperado, a Justica dos EUA impor uma multa no Bundembank, tal qual eles fizeram com o Paribas da Franca, o governo alemao iria cortar o credito fornecidos a esses bancos e assim afunda-los. As consequencias iria afetar os bancos franceses, e seguida os bancos britanicos e norte americanos, todos a beira do abismo por causa da manipulacao no mercado de derivativo.Uma solucao de acordo com a escola de Von Mises para a crise finasnceira mundial.

    • Eu nunca concordei em empregar dinheiro público para salvar bancos falidos… agora, depósitos em conta corrente que não estejam em aplicações e poupanças DEVEM OBRIGATORIAMENTE serem salvas pelo estado que não cumpriu com sua obrigação na fiscalização do sistema bancário, permitindo que se usasse esses depósitos nas cirandas financeiras mundo afora sem a devida precaução ou asseguramento…

      • Nao seo como esta as leis bancarias no Brasil. Mas em Europa Ocidental e Estados Unidos mudaram a lei e o pessoal que colocam dinheiro em conta bancaria tendem a nao ler as minucias que aparece nas entrelinhas. Agora quando uma pessoa coloca dinheiro em banco, essa pessoa esta emprestando o dinheiro ao banco.Enquanto o dinheiro estiver no banco, este pode fazer dele o que bem entender. Esse emprestimos e sem seguros. Quando um banco ir a falencia, a primeira obrigacao a ser pagas pelo auditores sao os emprestimos segurados. Os depositos em conta corrente, como emprestimos nao segurados sera o ultimo da fila. Mas nao se preocupa, os auditores passarao aos depositantes um pedaco de papel, tipo nota promissoria, dizendo que o banco se compromete saldar essa divida, quando as coisas melhorar. Agora voce esta querendo aquilo que os ingleses dizem “to have the cake and to eat it” O modelo ideal do capitalismo apregoado pelo neoliberalismo e diminuir no maximo a interferencia do estado na economia. Voltar ao seculo XIX. O estado nao deve fiscalizat nada. Se um banco for a falencia, azar dos depositantes. Como ocorreu em 1929, os depositantes que corram as portas dos bancos em eminencia de falencia, e se perderem seu depositos, que facam como muitos fizeram na Alemanha na decada de 1920 e nos EUA em 1929. Que se joguem dos predios, ou dos pontilhoes.Isto e puro capitalismo!

      • Exato meu caro… quem usa dinheiro de modo usurário, aplicando em cirandas financeiras que ele mesmo não compreende bem tem mais é que se lascar… agora, dinheiro depositado por segurança no sistema bancário não pode ser tratado do mesmo jeito que os usados para agiotagem… mas isso é muito difícil de explicar para quem só vê o lado especulativo do capitalismo… devia ler mais as teses de Von Mises… e um pouquinho de Roberto Campos, Mario Henrique Simonsen e Adam Smith… 🙂

      • Os bancos Centrais hoje sao independente do estado, do governo. Nos EUA, o FED e uma entidade privada. O mesmpo se passa com o Banco Centreal Britanico e o Banco Central da Uniao Europeia. Eles introduziram essa lei, que transforma o dinheiro depositado em banco em conta corrente em emprestimo sem seguro. Nao e resposabilidade do governo desses paises garantir o dinheiro de qualquer cliente, bilionario, mafioso, ou gente simples. classe medias que e obrigado colocar dinheiro em banco, para pagar despesas com atraves da internet, por exemplo. Banco faliu, depositante nao segurado sifo..Para evitar revoltas populares, os governos nesses casos nacionaliza os bancos, mas dado que hjoje muito desses bancos especulam nos mercados de derivativo, um verdadeiro cassino, se o banco falior, governo pode nao estar em condicao de imprimir dinheiro para salvar os depositantes. Neste caso repito, existe muito pontilhoes, viadutos e predios altos para se jogarem,

    • SEM DÚVIDA… como dizia a Dama de Ferro: “O socialismo dura até acabar o dinheiro dos outros.”… e vamos pelo mesmo caminho… o Brasil é pródigo em seguir receitas sabidamente equivocadas que levaram outros ao precipício… gostamos de ser masoquistas… 🙂

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