Crônica dos eventos recentes na Bacia do Don

Illaviask

Por: César Antônio Ferreira – “Ilya Ehrenburg”.

Os eventos recentes na Bacia do Don repetem os antigos: as forças enviadas pelo governo ucraniano, em geral os “batalhões de voluntários” da Guarda Nacional, deixam-se cercar e são fustigados por fogo de artilharia, notadamente foguetes. Uma destas formações é o Batalhão “Crimeia”, agrupamento de combatentes tártaros da Crimeia, recrutados na localidade de Genichesk, alistados para combater especialmente os populares da Bacia do Don (Donbass). Imobilizados na proximidade da localidade de Ilovaiskaya, foram alvo de barragens de artilharia e tiveram como resultado “centena de mortos, dezenas de cativos”. Os combatentes tártaros não fazem segredo em comentam o seu destino livremente nas redes sociais.

Os desastres das armas ucranianas se sucedem. A última foi a perda de um caça de alto-desempenho SU-27 da Força Aérea da Ucrânia. Esta perda chama a atenção pelo fato de ser um caça de superioridade aérea e não uma aeronave de ataque, o que pode ser revelador do estado atual da Força Aérea da Ucrânia no que tange à disponibilidade das aeronaves de ataque em rampa. Antes desta vitória a milícia havia anunciado o abate de outros quatro Su-25, e de outro An-26, todavia, a Força Aérea da Ucrânia admitiu apenas a perda de apenas um Su-25.

Um sinal de desespero evidente foi a ordem para que sejam erguidas estruturas defensivas em concreto armado na cidade Zaporozhie. Este desespero, diga-se, não é sem motivo. As perdas excessivas representadas no laudo butim, agora em posse do inimigo e pronto para ser utilizado contra as forças ucranianas, são significativas do estado de espírito dos combatentes do governo. A lista de equipamentos capturados até a data de 28.08.2014, divulgada pelas forças federalistas é a que segue: 79 – T-64; 94 IFVs; 57 – APCs; 3 – ARVs; 9 – IFVs; 24 – MRLS BM-21 “Grad”; 3 – MRLS “Uragan”; 2 – SPH 2C4 “Tulip”; 6 – SPH 2C9 “Nona”; 27 – SPH 2C1 “Gvozdika”; 14 – obuses D-30A; 36 – morteiros 82mm; 19 – ZU-23-2; 157 automóveis. Já o governo de Kiev admite um número menor: 14 – T-64; 25 – IFVs; 18 – APCs; 1 – ARV; 1 – MRLS “Uragan”; 2 – SPH “Gvozdika”; 4 – obuses D-30A; 4 – morteiros 82mm; 1 – ZU-23-2; 33 automóveis. Somam-se as perdas matérias, às simbólicas, como a morte do comandante do Destacamento de Guardas da 28ª Brigada Mecanizada, Capitão Andrey Bezruchak.

Mariupol

Mariopol

O cerco a Mariopol se fecha. Deu-se a partir de um grande arco feito ao norte, enquanto o comando ucraniano raciocinou que os inimigos federalistas fariam uma corrida rápida pelo litoral. O resultado é a formação de outro cerco. Os federalistas estão entusiasmados com a oportunidade de capturarem junto com o butim, oficiais da OTAN que segundo informações de inteligência estariam na cidade e estes seriam no número de seis. As forças federalistas reportam o rechaço de três tentativas das forças ucranianas para rompimento do anel. As forças milicianas reportam breves combates no entorno da cidade de Yalta, distrito de Pershotravnevoye.

O uso de embarcações leves para infiltrar efetivos à retaguarda federalistas também resultaram em fracasso, com uma embarcação leve da Marinha da Ucrânia colocada fora de ação por disparos de peças de 122mm D30A. O choque inicial se deu no mar de Azov nas proximidades de Shirokino. Duas embarcações rápidas fizeram fogo e foram afundadas pelo fogo de resposta. Em seguida, outra embarcação em apoio, esta armada com lança – granadas, também foi alvo da artilharia, e se afastou levantando denso fumo. A tentativa de ataque naval frustrada foi de responsabilidade da Guarda Costeira da Marinha da Ucrânia.

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Donetsk

A cidade de acesso a Donetsk, Illovaisk, tornou-se o cemitério das ações militares do governo de Kiev. A mais recente rendição das forças ucranianas nas proximidades daquele local, no caso em Chervonoselskoe, se refere ao Batalhão “Donbass”, que teve capturados 108 combatentes. Segundo informações da Agência Life News, esta formação detinha mais de 300 combatentes. O detalhe dantesco foi a declaração de um dos combatentes capturados aos repórteres. O soldado de nome Constantin declarou que a sua genitora fora morta devido aos bombardeios da artilharia governamental à cidade de Lugansk. Ou seja, morta pelo mesmo governo pelo qual combatia. Outro dado interessante sobre este batalhão, “Donbass”, versa sobre o seu comandante, o político Semyon Semyonchenko, que dele se encontra ausente devido a ferimento recebido em combate na cidade de Illovaisk.

As tropas federalistas não obstante terem iniciado uma contraofensiva, e passado a operar com efetivos maiores, mantém ainda o modo operativo de pequenas formações altamente móveis e fluidas, que fustigam o inimigo no campo, emboscando-o seguidamente, sem piedade. Tal se deu em 28 de agosto último, quando uma coluna com membros do Exército Nacional da Ucrânia, com efetivos agregados da Guarda Nacional da Ucrânia, foram apanhados pela milícia em uma emboscada na estrada Debaltsevo – Uglegorsk. As baixas admitidas oficialmente foram de 19 feridos e quatro mortos.

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Lugansk

As ações de fustigamento ao aeroporto Lutugino, resultou no abandono deste em meio aos combates pelas forças ucranianas. Foram feitos cativos 13 soldados paraquedistas do 80º Destacamento aeromóvel de Lvov (Lviv). Os relatos das ações efetivadas contra a base aérea informam: mais de uma centena de baixas nas forças que o guarneciam, entre mortos, feridos e cativos. Dois carros de combate T-64 capturados, dois blindados BMP, seis lança-foguetes “Grad”, vinte e quatro veículos leves off Road e dois depósitos de munição. Dois helicópteros foram destruídos no solo, durante o combate. O recuo sob fogo, com as perdas substancias foi relatada pelo Porta-Voz e Presidente do Centro (Nacional) de Informação Analítica, Andrey Lysenko, como uma “retirada ordenada”. Admitiu também a perda da posição na aldeia de Georgievka.

As tropas milicianas não agem apenas sob a luz do dia. Estas realizaram um assalto contra Tsvetniye Peski sob a cobertura da noite, e em uma ação coordenada Volnukhino. A artilharia ocupou-se de efetuar barragem de fogo na linha de Rodakovo, que após as ações foi capturada de passagem, em sequência, entrou em cobate nas imediações do assentamento rural de Beloye, onde uma formação do Exército Ucraniano estava imóvel, em pouco tempo estabeleceu-se o cerco. Outras ações ofensivas da milícia se dão na aldeia de Styl, bem como nas de Ilíria e Malonikolaevka. A localidade de Novosvetlovka foi ocupada e ocorrem combates pesados em Krasny Luch.

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Kharkov

A cidade de Kharkov não faz parte da frente de combate, e se encontra sobre firme administração de Kiev, embora tenha sido palco de ações espetaculares de sabotagem e guerrilha. Uma delas, pitoresca, que narro a seguir:

Primeiro os guerrilheiros fizeram que duas belas jovens eslavas simulassem problemas automotivos na beira da estrada, justo quando passava um veículo militar leve (jeep), com dois ocupantes. Armadas os renderam, para espanto dos militares. Despidos, foram deixados nus na relva, sob vigilância. Em seguida, com as vestes dos militares, montaram um falso “Check Point”. Quando um “BMP-4” reluzindo de novo se aproximou, os militares foram surpreendidos. Rendidos, foram fazer companhia nus, com os demais. Em posse do blindado, os guerrilheiros se infiltraram em uma coluna de suprimentos, que se deslocava em direção ao front. Destroçaram o comboio sem piedade, e logo após queimaram o blindado na beira da estrada. Os militares rendidos anteriormente tornaram-se alvos de piadas, afinal, nada mais perigoso do que jovens eslavas necessitadas…

Os relatos informam que a vítima da cilada era um comboio da 92ª Brigada Mecanizada, e que o ataque se deu no través da vila de Klugino-Bashkirovla, no sentido Chuguev. Houve captura de suprimentos, e se reporta a morte de dois militares do comboio na ação.

A cidade observou, entretanto, outro evento dramático: elementos armados do batalhão “Aydar” invadiram o Palácio da Procuradoria Distrital de Kharkov, tomando como refém o Procurador Militar. O assalto se deu através de um grupo pequeno, que chegaram em dois veículos, um deles caracterizado como militar, off Road estilo “jeep”. O local foi cercado por policiais e houve troca de tiros. O evento narrado pelo ativista civil local Andrey Verruga, até a presente data, estava em ocorrência, ou seja, sem término. Independente disto, o ato é revelador da falta de disciplina e dos sentimentos dos “voluntários” dos batalhões da Guarda Nacional.

14 Comentários

  1. Com certeza a tropa miliciana recebe apoio massivo de tropas regulares w forças especiais russas. Não entra na minha cabeça que os ” milicianos” da noite para dia tenham adquirido expertise na operação de blindados e (tanques e obuses) e lançamentos de foguetes com tamanha precisão.
    Entendo perfeitamente as ações da Rússia e se fosse eu já teria feito pior.

    • Que tem apoio, tem, mas não esqueça que parte do exército nessas áreas em conflito passou para o lado separatista deste o início, com equipamento e tudo.
      Como diria minha avó, “tá um angú de caroço”.

    • E é necessário lembrar que já durante o mês de Março se noticiava a adesão aos federalistas de ex-combatentes russos e ucranianos dos conflitos na Chechênia e Ossétia do Sul.

      Algumas reportagens chegaram a comparar o aspecto físico entre os jovens que compunham o exército ucraniano e os homens já maduros que estavam combatendo com os federalistas. É gente com experiência em combate e no manuseio do equipamento.

      E, como diz o Melkor mais abaixo, ainda deve-se contar com os desertores do exército ucraniano.

      Some a isso a já notória indisposição de parte dos integrantes do exército em realmente travar combate por se sentirem abandonados pelo governo de Kiev, e não fica difícil descobrir porque os federalistas, em número quase dez vezes menor, estão conseguindo sucessivos êxitos nesta campanha.

      Segue vídeo com declaração de um dos combatentes do batalhão Dnipro-1 do exército ucraniano, aonde ele afirma que estão combatendo apenas com fuzis, sem coletes, e contra foguetes e canhões (aos 13:00 minutos). Vídeo legendado em inglês.
      https://www.youtube.com/watch?v=hgrSb8G57cI&feature=player_embedded

    • Olha as quotas….KKKK
      É o mesmo que pessoal no Norte do Brasil entrar em guerra contra o SUL, só porque um filha da P. deu golpe e tomou o governo. O “PoroMarionete” vai cair… é questão de tempo. A Ucrânia tá na merda, quem vai pagar a indenização pelas mortes para as viúvas, familiares? Os Yankes ou UE vai fazer empréstimo e a coisa vai ficar pior. A parte industrial da Ucrânica esta com os milicianos. Sobra o quê?
      O inverno vem chegando… sem gás, sem comida, saudade do falecido, tristeza no coração,… o descontentamento vem ai, a máscara vai cair.
      A mídia vai sustentar o povo?

  2. Os neonazistas pareciam tão maus e bravos no começo… o que aconteceu?

    Fico imaginando duas loiras parando o veículo e dizendo que precisavam fazer uma “transferência de carga” para sua bateria. Santa inocência.

  3. Eu iria explicar para apenas para o Novo Brazuk, mas resolvi explicar para todos.

    O que acontece é o seguinte. A Ucrânia como um Estado independente nunca foi muito bem compreendido pelos russos. Sempre estiveram ali, famílias que recuam quatro a seis gerações como moradores, sem falar nos Cossacos, que são originários da Bacia do Don.

    Além disso, é preciso entender que muitos ex-militares compraram terras e casas no leste, pois a Ucrânia era um pais mais barato que a Rússia. Em nenhum lugar do mundo militar ganha muito…

    Havia na área, portanto, muita gente com experiência militar, inclusive de combate real.

    Na área havia também plantas industriais de munição, armas e depósitos de veículos e blindados soviéticos. É claro que a recuperação destas sucatas leva tempo, mas lá se vão 4 meses de conflito.

    Houve também o ingresso de muitos jovens voluntários. Estes foram primeiramente incorporados junto com os veteranos, e aqueles que sobrevivessem seriam pela força dos eventos ótimos guerreiros. Depois, no Oblast de Lugansk, constituíram um campo de treino. Agora, o voluntário recebe um treino apressado de 30 dias, depois é incorporado as forças internas de segurança, daí é destacado para forças combativas. Se demonstrar ser inteligente e safo, é destinado as tropas de reconhecimento e ações de sabotagem descaracterizado além das linhas. Já os mais velhos, e as mulheres, em geral fazem apenas parte das forças de segurança interna, e são equipados com velhos fuzis de ferrolho, ou semi-automático.

    Existem muitos voluntários estrangeiros. Os sérvios são numerosos, mais de 1.000. Gregos por volta de 300, e a quem aponte mais de 100 franceses. Russos por certo estão presentes desde o início. O fato é que o bombardeio indiscriminado em áreas civis fez engrossar as fileiras da resistência.

    Eu vejo os filmes de combates no Youtube. Não entendo russo, mas não é preciso. As imagens bastam… Neles percebo que os federalistas são mais “guerreiros” do que soldados profissionais. Vou dar um exemplo: eles progridem em colunas separadas por dois lados de uma avenida, como nos manuais (antigos), mas, muito próximos um dos outros. Esta proximidade se dá justamente pelo fato de que o batalhão em questão (Motorolla) ser de veteranos, que tiveram jovens agregados. Ainda assim, este batalhão deu uma surra no batalhão da Guarda Nacional “Donbass” em Illovaisk. O “Donbass” recebeu treinamento de instrutores do USARMY em Odessa… Ao que parece uma instrução muito deficiente, pelo que pude ver deles nos filmes de combate. Os filmes do “Donbass” no Youtube sempre mostra uma formação cautelosa, medrosa, dependente de apoio de fogo… Ao contrário das ações do “Motorolla”, ousadas, quase inconsequentes.

    Para mim o motivo é simples,: um dos lados combate pela sua terra e modo de vida, o outro é um exército conquistador.

    • Quando respondi ao NovoBrazuk acima ainda não havia lido seu comentário, sobre o qual faço algumas observações:

      – “O “Donbass” recebeu treinamento de instrutores do USARMY em Odessa… Os filmes do “Donbass” no Youtube sempre mostra uma formação cautelosa, medrosa, dependente de apoio de fogo…”
      Esta estratégia de “apoio de fogo” só serve para exércitos grandes, bem equipados e treinados. Se este pessoal realmente recebeu “assessoria” de militares do EUA, fica claro para mim que estes não aprenderam nada no Vietnã sobre combate irregular contra guerrilha.

      – “Para mim o motivo é simples: um dos lados combate pela sua terra e modo de vida, o outro é um exército conquistador.”
      Não creio que o termo conquistador seja o mais adequado para este caso, visto que a reação do governo de Kiev é constantemente minada pelo comportamento dos jovens recrutas em campo. Não há compromisso do soldado com a causa, apenas uma obrigatoriedade protocolar institucionalizada, e que não cria vínculos com a instituição. É o problema que existe em todo exército que depende de alistamento obrigatório, como é o caso também no EB. E mesmo aquela alegoria chamada Guarda Nacional, lotada de facistas, não quer saber de ocupação (isso dá muito trabalho) mas de submissão a uma vontade xenófoba. O que estes querem é surrupiar o leste da Ucrânia das mãos dos russos étnicos, de preferência expulsando-os do país.

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