Início da Segunda Guerra é lembrado sob a sombra da crise na Ucrânia

Em Gdansk, presidentes alemão e polonês associam eventos que deram início ao conflito mundial à atual tensão no Leste Europeu. Segundo ambos, é preciso deter avanços russos, para um retorno a uma ordem europeia pacífica.

Os presidentes Joachim Gauck, da Alemanha, e Bronislaw Komorowski, da Polônia, lembraram nesta segunda-feira (01/09) os 75 anos do início da Segunda Guerra Mundial. A cerimônia transcorreu na península de Westerplatte, próximo à cidade polonesa de Gdansk, onde a Alemanha iniciou o conflito que se estendeu de 1939 a 1945.

Ao mesmo tempo em que louvaram a reconciliação teuto-polonesa pós-guerra como sendo exemplar para a Europa, ambos os chefes de Estado lançaram um alerta sobre as pretensões de poder da Rússia.

“A celebração nos reúne aqui, hoje. Mas estamos igualmente juntos em face à ameaça atual”, disse Gauck.

Ele censurou Moscou por ter abandonado a ordem de valores europeia e disse que os russos, através de seu procedimento na Ucrânia, colocam em risco a paz no continente. O presidente alemão classificou o conflito russo-ucraniano como “confrontação bélica para estabelecer novas fronteiras e uma nova ordem”.

“Sim, é um fato: a estabilidade e a paz no nosso continente estão novamente em perigo”, afirmou.

Gauck mostrou-se decepcionado por não ter sido possível integrar a Rússia numa ordem europeia. “Nós acreditávamos e queríamos acreditar que também a Rússia, a terra de Tolstói e Dostoiévski, pudesse se tornar parte de uma Europa comum.” No entanto, completou, Moscou “rescindiu, de fato, essa parceria”.

Para ele, a Europa precisa se opor decididamente à “fome de poder” russa, pois “a história ensina que concessões territoriais costumam só aumentar o apetite dos agressores”. Portanto, disse, Moscou precisa mudar sua política, a fim de reencontrar o caminho da boa vizinhança.

 Presidentes Gauck (e) e Komorowski homenageiam mortos da Segunda Guerra Mundial na Westerplatte.

“Não” a concessões e política de apaziguamento

Bronislaw Komorowski acusou a Rússia de perseguir “sonhos de grandeza própria e de zonas de influência nacional”, colocando em jogo a paz na Europa.

“Precisamos enfrentar isso com coragem e decisão”, reivindicou. “Diante dos nossos olhos o direito internacional está sendo violado”.

Ele lembrou o incomensurável sofrimento da Segunda Guerra, em que um quinto da população polonesa foi extinta: “Não apenas as vítimas do assalto sofreram infortúnio e dor, mas sim todos, também os agressores.”

O chefe de Estado polonês insistiu que não se adote em relação à Rússia uma política de apaziguamento, como a que favoreceu a ascensão de Adolf Hitler na Alemanha da década de 1930. “Aqui na Westerplatte, a história nos fala de maneira especialmente clara”, observou.

Na península ao norte de Gdansk, na manhã de 1º de setembro de 1939, a nau de guerra alemã Schleswig-Holstein disparou contra um posto do Exército polonês, dando início ao conflito que custou pelo menos 60 milhões de vidas.

O início da Segunda Guerra foi relembrado em diversos locais da Polônia. Numa cerimônia anterior na Westerplatte, pela manhã, o primeiro-ministro polonês, Donald Tusk, alertou contra um “perigo de guerra, não só no leste da Ucrânia”.

A Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) precisa desenvolver uma “nova política”, a fim de se opor a esse perigo, reivindicou o recém-indicado presidente do Conselho Europeu.

AV/afp/epd/dpa

Fonte: DW.DE

Alemanha tirou lições da Segunda Guerra Mundial

Em 1º de setembro de 1939, os alemães deram início ao segundo grande conflito do século. Ao fim, estavam vencidos e arrasados. Mas aprenderam três lições importantes, afirma o editor-chefe da DW, Alexander Kudascheff.

Alexander Kudascheff, editor-chefe da DW

Há 75 anos começou a Segunda Guerra Mundial. A Alemanha, o “Terceiro Reich”, atacou a Polônia, arrastando, assim, todo o mundo para um conflito que, ao longo de seis anos, alastrou-se pela Europa, África, Oriente Médio e a região do Pacífico, onde o Japão também desencadeara a guerra. Sessenta nações estiveram envolvidas, 110 milhões de pessoas pegaram em armas.

Ao fim, entre 60 milhões e 70 milhões morreram, 6 milhões de judeus foram exterminados no Holocausto. A Europa estava arrasada. A Alemanha, vencida e dividida, e milhões de pessoas haviam sido expulsas ou deportadas. E pela primeira e, até agora, última, armas nucleares haviam sido empregadas numa guerra, em Hiroshima e Nagasaki.

Não houve nem há, até hoje, a menor dúvida quanto ao culpado pelo conflito – ao contrário dos debates históricos em torno da Primeira Guerra Mundial. A Alemanha quisera e provocara a Segunda Guerra, da qual saiu não apenas vencida, mas destruída.

Depois do Holocausto, o país passou a carregar a marca do crime do milênio. Mais de 9 milhões de alemães estavam mortos, entre os quais mais de 3 milhões de civis. As cidades haviam sucumbido aos bombardeios. A Alemanha perdera uma parte de seu território, no leste, 12 milhões de habitantes haviam sido expulsos. Após essa guerra devastadora, a nação jazia no chão.

Depois disso, a parte oeste da Alemanha dividida se recuperou, primeiro econômica, depois politicamente. Na confrontação entre blocos da Guerra Fria, a República Federal da Alemanha se afirmou como parte do Ocidente, até do ponto de vista militar, ao ingressar na Otan.

Mais tarde, foi membro fundador da Comunidade Econômica Europeia, a célula germinal da atual União Europeia. E daí tirou a primeira lição básica da Segunda Guerra: ela queria ser uma Alemanha europeia, parceira das democracias, procurou aliados na Europa e para além do Oceano Atlântico, nos Estados Unidos. Incursões políticas solitárias eram tabu.

A segunda grande lição do conflito mundial foi o “não” à guerra, o “não” ao inferno na terra. A filiação à Otan, logo após o rearmamento, mais tarde o reforço bélico no contexto da Dupla Resolução da Otan de 1979 – tudo isso foi encarado pelos alemães com ceticismo extremo ou simplesmente rejeitado.

E até hoje, 25 anos após a Reunificação, a grande maioria dos alemães rejeita a guerra, mesmo como último recurso da política. E toda vez que um governo alemão precisa se engajar militarmente ao lado de seus parceiros e aliados – seja no Kosovo, seja no Afeganistão – há debates ferrenhos e quase nunca apoio entre a população.

Por isso é espantoso que, há alguns anos, a Alemanha haja abolido o serviço militar compulsório – embora mais por razões financeiras do que por considerações estratégicas – e agora comece a criar um exército profissional, com o fim declarado de estar apto a atuar como parceiro forte em intervenções militares.

O espantoso aqui é que justamente essas operações militares são mais do que controversas e praticamente só conseguem ser impostas sem o aval da população.

E, desse modo, a segunda grande lição, “Guerra nunca mais!”, se tornou um autoengano alemão. Toda vez que é exigida a cooperação alemã numa missão militar, a política se contorce, sublinha os aspectos humanitários ou invoca logo um genocídio para tentar, talvez, convencer a população – geralmente sem sucesso.

Há 75 anos começou a Segunda Guerra, desencadeada pelos alemães. Hoje, a Alemanha é um gigante econômico, também a caminho de se tornar uma protagonista da política mundial. Um papel que não é bem-visto pelos alemães, que prefeririam ser uma “Suíça verde”.

Mas esses tempos se foram. Da Alemanha, esperam-se liderança política na aliança ocidental e contribuições militares relevantes. E também um comportamento discreto. E isso corresponde a uma terceira lição: comportamento fanfarrão, prepotente até, não é mais o jeito dos alemães.

Fonte: DW.DE

2 Comentários

  1. Completamente diferentes as situações. A Alemanha no periodo vivia o sonho Hitlerista da expansão terrritorial a lá Napoleão. Pensava uma Alemanha que pudesse dispor dos recursos de seus vizinhos como se fosse dela, numa visão que a história está careca de contar, da suprioridade genetica do povo alemão sobre as outras etnias. Na Russia a questão é de principios, ou da falta dele pelo chamado “ocidente” que em sua sinuosa trajetória para enfraquecer a capacidade Russa não se esquiva de apoiar golpes de estado, e forjar democracias usando-a para fabricar aliados para atender seus objetivos e conveniencias. O “ocidente” fustiga a Russia com luva de pelica se fazendo de parceiro, mas seguem seu lider na aposta por um mundo com um unico senhor com capacidade do bem e do mal sobre todos o cidadãos do planeta. É a implantação de um mundo mafioso.

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