Panorama do conflito do leste ucraniano, dia 15.08.2014

13.08

César Antônio Ferreira (“Ilya Ehrenburg”)

Nesta semana corrente o Governo de Kiev está intensificando os esforços de batalha na frente de Donetsk, comprometendo para isso as suas reservas disponíveis. O objetivo é manter a pressão pela maior área possível, que é bastante ampla, sendo que o eixo principal escolhido deu-se ao sul da área que envolve Donetsk. Os recursos limitados da milícia federalista, empregados para liquidar o chamado “Caldeirão Sul”, que ameaçava as comunicações com a Federação Russa, resultaram na falta de efetivo para selar as brechas na direção de Donetsk, entretanto, mesmo com atraso, houve a contenção do avanço das tropas governamentais em Miusinsk e Faschevku. A milícia obteve revés nos ataques realizados em Ilovaysk, com perda de recursos bélicos, mas que desarticulou um assalto eminente. Justamente nesta área, entretanto, se observa concentração de forças governamentais, o que indica ser possível um novo assalto.

A milícia federalista mantém com firmeza Shahtersk, Thorez, Miusinsk e mantém as comunicações entre Donetsk e Lugansk. Utilizando formações móveis, os federalistas emboscam e cercam as formações mecanizadas governamentais com constância, todavia, a manutenção do cerco depende da rapidez com que os pequenos destacamentos de artilharia das forças federalistas se postam para fustigar o inimigo. A falta de efetivo da guerrilha federalista se faz sentir, oferecendo brechas, que de pronto são aproveitadas pelas forças sob cerco, já que este sempre é tênue. Este padrão só não acontece, quando as forças governamentais apresentam falta total de mobilidade devido à falha logística, tal como aconteceu no episódio do “Caldeirão Sul”. Um exemplo deste tipo de confronto de tentativa de cerco, com rompimento do contato por parte do inimigo, deu-se recentemente na comunicação de Novosvetlovki para o aeroporto de Lugansk, onde o enfrentamento havido certamente aniquilaria as forças governamentais caso houvesse por parte do efetivo federalista os recursos e efetivos adequados.

Para as forças governamentais é imprescindível manter as comunicações abertas, para evitar colapso logístico, enquanto procura tomar cidades e com isso tentar isolar todo e qualquer apoio destinado à guerrilha federalista. Ainda assim, as tentativas de cortar o eixo a Donetsk e Gorlovka através Debalcevo, se viram frustradas, tal como o esforço anterior, empreendido por Shahtersk. Independente da contenção dos esforços das tropas governamentais por parte das milícias federalistas, as formações do Governo de Kiev empreendem no eixo Yasinovataya (direção Gorlovka – Donetsk), mas com pouca intensidade, o que leva crer ser um ataque diversivo.

A área de Debalcevo apresenta uma notável atividade das milícias federativas, que colocaram abaixo uma ponte, de suprema importância para as comunicações das forças governamentais. As atividades de artilharia de lançadores móveis de foguetes sugerem que a milícia esteja a empreender um novo esforço para capturar Gorlovki, e convergir a progressão para Yenakievo, onde um ataque governamental foi repelido, impondo a estes baixas e grandes perdas materiais.

7 Comentários

  1. Além da análise pontual do conflito, muito bem feita por sinal, senti falta de uma análise qualitativa: o conflito está pendendo para algum dos lados? Qual a capacidade da milícia em sustentar o conflito?

  2. Caro Administrador,
    A milícia não tem efetivo para sustentar e reverter o resultado a seu favor. O conflito pende para o lado governamental. Todavia, percebe-se, que as forças governamentais carecem de experiência de combate, demoram para se agrupar, e quando se faz necessário infletir (mudar o eixo do ataque, dobrarem outra direção), param e fazem uma pausa. Isto permite que a milícia, muito mais móvel, consiga sustentar posições, transferindo pequenas formações para lugares onde a pressão é maior.

    Sinceramente, devo dizer, era para o Governo de Kiev ter terminado o conflito, tamanho o número de efetivos dispostos no Leste da Ucrânia, mais de 120.000 homens em armas! A milícia conta com décima parte disto, quando muito… O histórico dos combates demonstra, que se por acaso a Rússia vier a intervir, poderá cercar e destruir as armas ucranianas, e seguir para Kiev como que trafega numa autoestrada.

    E por falar em Rússia: Putin não permitiu que 50.000 Cossacos atravessassem a fronteira em direção à Bacia do Don… Se ele fosse o demônio pintado pela Europa Unida/EUA/OTAN, certamente teria permitido. Os Cossacos são originários da Bacia do Don, e estão furiosos em ver os ucranianos do oeste atacar e destruir as propriedades dos Cossacos que permaneceram naquele lado da fronteira.

    É isso.

    • “seguir para Kiev como que trafega numa autoestrada.”

      E depois começar um conflito de porta em porta como vimos na Chechênia?
      Nem todo o militar russo é Spetsnaz ou VDV, a maioria são adolescentes mal treiandos e mal equipados e Putin sabe disso.

  3. Donetsk, 15 de agosto

    BATALHÃO DO EXÉRCITO DA UCRÂNIA DESTRUÍDO

    Milícianos da auto-proclamada República de Donetsk (DNR) reivindicaram uma grande vitória nesta sexta-feira, dizendo que eles haviam destruído o batalhão Goryn, recrutado na região de Rivne, Ucrânia ocidental.

    Combatentes DNR disseram que o inimigo tinha sofrido pesadas baixas em pessoal e equipamentos. Parte dos militares do Batalhão Goryn foi preso, eles disseram, acrescentando que não há números precisos disponíveis no momento.

    Um miliciano DNR envolvido no confronto, disse que o batalhão foi destruído em ataque com vários lançadores de mísseis Grad’, perto da fronteira com a Rússia.

    *Não há confirmação de outras fontes.

Comentários não permitidos.