A diplomacia do século 21 e a nova realidade

A estabilidade do desenvolvimento interno, especialmente a socioeconômica, é justamente um recurso fundamental de política externa.

Em julho, foi realizada em Moscou uma reunião de embaixadores na qual o presidente da Rússia falou sobre a maior imprevisibilidade da evolução da situação internacional e da compactação dos eventos no tempo.

Ninguém está esperando a ocorrência de “grandes guerras”, ou seja, de confrontos armados entre as principais nações do mundo. O mais provável é que, pelo contrário, todos estejam convencidos de que os países já guerrearam suficientemente entre si. Além disso, a grande maioria dos conflitos é de natureza interna, sendo produto de uma disfunção do desenvolvimento nacional. Aparentemente, eles estão acontecendo na periferia da Europa e do resto do mundo.

Mas se fizermos uma abordagem conectando-se concretamente às realidades de hoje, o resultado será o quadro complicado de uma abrangente transformação do mundo, incluindo as relações internacionais.

A nova realidade

Praticamente todos os líderes e cientistas políticos reconhecem que uma nova realidade se constituiu no planeta.

Com o fim da Guerra Fria, a situação mudou radicalmente, embora a compreensão desse fato e do conteúdo das próprias mudanças tenha demorado a chegar. Por um lado, de acordo com o que nos revela a atual crise global, as questões referentes ao desenvolvimento interno dos países passaram para o primeiro plano. A estabilidade do desenvolvimento interno, especialmente a socioeconômica, é justamente um recurso fundamental de política externa.

Por outro lado, o mundo se emancipou e um grande número de países adquiriu a liberdade de criação histórica. Ele se tornou mais livre, no sentido pleno dessa palavra. E não é só a “desideologização” das relações internacionais que garante essa liberdade. A multiplicidade dos centros de crescimento econômico e de influência política que representam toda a diversidade cultural e civilizacional do mundo, especialmente se considerarmos as potências regionais emergentes, se transforma nessa garantia. A multipolaridade estende-se além dos estreitos limites do triângulo geopolítico Rússia – EUA – China.

O fator força

Todas as principais nações do mundo já guerrearam o suficiente ao longo de sua história.

Isso não significa que o fator da força militar deixou de desempenhar o seu papel nas relações internacionais. A experiência ao longo das duas últimas décadas revela que o número de conflitos de diversos tipos não diminuiu, absolutamente, e o mais provável é que tenha acontecido o contrário. Neste caso é preciso distinguir dois tipos de situações.

O primeiro tipo é a experiência da administração de George W. Bush, que deflagrou a guerra no Iraque, contrariando a vontade claramente expressa da comunidade internacional e os interesses nacionais da própria América do Norte. Neste caso, trata-se do uso de força militar como um elemento de autodestruição dos países, não só em termos de sua posição internacional, mas também em relação ao seu desenvolvimento interno.

A outra situação ocorre quando o emprego da força militar leva um caráter forçado pelas circunstâncias, ou seja, a força é utilizada em defesa de interesses nacionais específicos, claros e compreensíveis para o resto do mundo. A crise no Cáucaso e a atual crise na Ucrânia são exemplos desse tipo de abordagem.

Uma nova contenção

Em todo caso, tanto a crise no Cáucaso quanto a atual crise na Ucrânia provam que a capacidade de reagir através do uso da força, não necessariamente o uso da força propriamente dito, pode ter um significado crucial no caso de uma agressão velada ou uma agressão através de Estados fraudulentos, nos quais ocorreu uma conveniente “mudança de regime”. De modo geral, as tentativas de devolver a política europeia/euroatlântica ao passado, através de um curso já aberto para refrear a Rússia, apesar de perderem o sentido em um mundo multipolar, poderão se transformar numa fonte de séria desestabilização em toda a região, sem falar nos respectivos países.

A “desglobalização”

A tendência de “desglobalização” revela-se, inclusive, na regionalização das políticas globais na esfera do comércio e da integração econômica.

É interessante que, neste caso, podem ocorrer tentativas de trazer de volta as antigas considerações geopolíticas, ou seja, integrar-se contra alguém e não a favor de algo, com o objetivo de isolar os países vistos como concorrentes geopolíticos.

A geopolítica

A Integração Euroasiática e a “Integração das Integrações” na Europa, projetos desenvolvidos nos termos das normas da OMC, com a introdução dos padrões da União Europeia (UE), bem como os projetos trilaterais entre a UE, Rússia e os países de “nossa vizinhança comum”, incluindo a Ucrânia, se harmonizam com a tendência geral global. A crise atual na Ucrânia, ao contrário, mostra quais são as consequências de uma política diferente.

O país que é sujeito de semelhante jogo geopolítico se desestabiliza e se desmancha, transformando-se em um território geopolítico “tutelado”, que segue o modelo da Guerra Fria. Mas o problema fundamental e mais precisamente a falha destes cálculos é que tal controle requer enormes recursos financeiros e o respectivo “compromisso total” por parte dos países patrocinadores. Os imperativos ideológicos da Guerra Fria garantiam a disponibilidade de ambos. Agora isso é problemático, pois não há nem recursos, nem vontade política correspondente.

Cada vez mais, a situação em torno da Ucrânia é assimilada como um complô contra a Europa, em grande parte porque o que está acontecendo contradiz o sentido econômico e faz lembrar a experiência trágica da Europa do século 20. Um conflito artificial do tempo da bipolaridade no qual as principais capitais europeias se apresentam não como participantes diretas, mas como mediadoras entre Washington e Moscou.

Diplomacia pragmática

Agora, em meio a circunstâncias diferentes e ocupando novas e mais favoráveis posições de confiança em suas próprias forças, a Rússia pode e deve conduzir uma política plena, em ampla frente, na Europa e no mundo, em toda a gama de questões relevantes.

De modo geral, trata-se de uma diplomacia pragmática, multivetorial e multilateral, que levaria em conta os verdadeiros interesses do país e a necessidade de participação nas diversas alianças de interesse com uma geometria aberta.

 

Iakovenko A.V. : é  embaixador extraordinário e plenipotenciário da Federação Russa no Reino Unido.

 Este texto foi abreviado. A tradução não é oficial. A versão completa do artigo pode ser lida na revista “A Rússia na Política Global”

Fonte: Gazeta Russa

6 Comentários

  1. por LUCENA
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    Neta nova Era de aquário, os EUA e a Europa estão perdendo a sua hegemonia mundial, os fatos que ocorre hoje, demostram muito bem isso.
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    Os BRICS em crescimento político no cenário internacional, a decresça na ONU a decadência moral dos EUA e as ações de estado parasita como Israel que a cada dia, se isola deixando-o fragilizado politicamente no cenário internacional, onde um refúgio seguro para os judeus, virou um acoitamento de bandidos fascista ( sionista ).
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    O Brasil com a sua diplomacia á atabaque vai aos poucos ganhando mais espaço na região e sendo respeitado , mesmo com as vaias e os assobios dos vira-latas e dos anões em moral.

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    • por LUCENA
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      Índia junta-se a Rússia Contra o regime Obama

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      Em mais um movimento indiano contra o regime de Obama, este relatório diz, o Banco da Rússia e o Banco da Reserva da India , esta semana,concordaram em criar um grupo de trabalho para elaborar ferramentas para usar as suas moedas nacionais nos pagamentos bilaterais ignorando o dólar dos EUA em mais um golpe para o Ocidente.

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      (*) fonte: noticia-final.blogspot
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      ( … ) Diretor Domenico Lombardi , especialista em economia global do Centro de think tank canadense para ( Inovação da Governança Internacional CIGI ) um programa de economia global, ao comentar a criação pelo BRICS de seu Novo Banco de Desenvolvimento ( NDB ) para combater as políticas destrutivas do Ocidente levou o Banco Mundial ( WB ) e o Fundo Monetário Internacional ( FMI ) afirmar ainda:
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      … Uma das principais fontes de frustrações para as economias BRICS e, claro, para a China, em primeiro lugar, tem” empurrado os países BRICS a se unir para tentar anular o poder político [ocidental], para tentar alavancar o seu crescente poder econômico e proporcionar um poder político ao seu crescente poder econômico “.
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      Novas instituições financeiras dos BRICS, que tem sido mais advertidas , também poderiam minar o domínio global dos EUA-UE como eles tiveram domínio incontestado sobre as instituições de governança financeira global de tomada de decisão por 70 anos, e a última coisa que eles querem ver é uma competição.
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      Então, muito sério ter o EUA-UE tornar-se na tentativa de manter a sua hegemonia econômica mundial, os especialistas MNE neste relatório dizem, não será preciso ir mais longe do que a Líbia, onde, em 2011, Ghaddaf planejava parar de vender petróleo líbio em dólares americanos – exigindo pagamento em vez de “dinares lastreados em ouro “(uma moeda única Africana que foi feita em ouro).( … )

    • por LUCENA
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      Oligarcas Russos dão bye bye ao Visa e Mastercard e mudam-se para cartão de crédito chinês
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      A Rússia continua a assinar acordos de-dolarização e acordos comerciais com os seus aliados do BRICS, enquanto a avançar com ações de retaliação contra os EUA e na Europa, parece que os amigos “sancionados” de Putin está a tomar o assunto em suas próprias mãos
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      (*)fonte:noticia-final.blogspot
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      ( … ) Bilionário oligarca Gennady Timchenko, um dos primeiros a ser atingido pela proibição de viagens e congelamento de bens por os EUA, decidiu rasgar seu Visa e Mastercard, transferindo todos os seus cartões de crédito para UnionPay da China , observando que; “em alguns aspectos, é mais seguro do que Visa – pelo menos os americanos não podem alcançá-lo. ” ( … )

  2. o texto é muito bom .
    parabéns ao plano brasil!

    se os estados unidos soubessem que depois de nascer a russia no lugar da união sovietica

    iria acontecer isso tudo

    hoje os estados unidos gostariam que nunca a união soviética tivesse acabado

    pois tenta fazer novamente uma guerra fria

    tenta falar que os comunistas eram maus rsrs e aos outros países negociem em nossa moeda e comprem manufaturados de nos e vendam primários

    e assim com esse papo de comunismo os yankes fizeram os países virarem colônia apenas negocie comigo

    e assim os stados unidos ficaram milionários e de quebra mocorongou vários com seus enlatados que já queriam ate trocar as bandeiras

    hoje com a russia negociando emsuas moedas e o mundo seguindo amedida os estados unidos terá que trabalhar para sustentar sua empresa de guerra

    pois a guerra é um produto que eles vendem e ganham muito dinheiro com as mortes e guerras em todos os continentes

    essa CIA americana tem as mãos sujas de sangue de criança idosos e etc etal

    • Esses últimos dias passei mais tempo lendo vocês do que postanto… as vezes é bom só ler os posts.

      Valeu Pé de Cão!

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