Argentina não é mais aquela

lluvia de dinero
Vinicius Torres Freire, Folha de São Paulo, 30/07/2014

NOTA DO PLANO BRASIL, por Gérsio Mutti: A Argentina possui cinco Prêmios Nobel (dois da Paz, dois de Medicina e um de Química), o Brasil, zero! Placar: 5 Argentina X 0 Brasil !

A Argentina pode estar em calote hoje. O Brasil é um dos países mais frágeis entre “emergentes” maiores, escreveu o pessoal do FMI num relatório divulgado ontem.

A produção de más notícias domésticas continua em ritmo notável, ainda que não desastroso. Risco de tumulto na vizinhança e degradação da imagem econômica brasileira certamente colaboram para deteriorar a nossa situação. Mas pouco, provavelmente. Pior mesmo é que a confiança de empresários (indústria e comércio de São Paulo) ainda cai, assim como o total de crédito concedido a taxas de mercado, sem direção do governo, como se soube ontem.

A Argentina tinha até hoje para chegar a um acordo com credores que ganharam na Justiça dos EUA o direito de receber na íntegra dívidas repudiadas no calote de 2001, para resumir de modo breve uma história enrolada. Sem acordo ou pagamento (impossível), a Argentina dará oficialmente outro calote.

O “evento de crédito” não deve mexer com a finança mundial, provavelmente nem com a brasileira, embora as sequelas do calote devam deteriorar a situação argentina, segundo até os raros observadores ponderados da economia dos vizinhos.

Desde 2001, a Argentina está fora do mercado de crédito mundial, praticamente não se financia lá fora. Logo, esse calote não vai afetar dívidas novas, que praticamente inexistem. Além do mais, apesar da desconfiança em relação a países emergentes “frágeis” ou “vulneráveis”, a finança mundial não deve associar os problemas desses “emergentes” aos da teratológica situação argentina. Isto é, não deve haver “contágio”.

No entanto, os argentinos esperam desvalorização adicional do peso, o que deve dar em mais inflação e recessão algo maior. A Argentina, como se sabe, compra muito produto industrial do Brasil. Comprava, aliás. Deve comprar ainda menos, com calote e mais crise.

Neste semestre, as vendas brasileiras para a Argentina caíram 25,5% em relação ao primeiro semestre de 2013. As exportações de carros caíram 47%. As de caminhões, 44%. De autopeças, 39%. Quem vende tratores, pneus, sapatos, máquinas e matéria-prima de plásticos também pena.

Não é um desastre extenso, mas atrapalha bem, como parece óbvio, dado o peso da indústria automobilística.

O FMI fez ontem algumas manchetes de noticiários “em tempo real”, mas chove no molhado. Repete diagnóstico vulgarizado desde meados de 2013: países com inflação e deficit externos altos estão mais sujeitos a tensões quando vier o aperto monetário nos EUA, em 2015. O Brasil está nessa lista, com África do Sul, Argentina, Índia, Indonésia, Rússia e Turquia.

No caso de reação tumultuada da finança à mudança dos juros americanos, pode haver menos crédito externo, venda de ativos brasileiros (juros sobem, ações caem, real se desvaloriza), como se viu na reação demente do “mercado” a um indício de aperto americano, de maio de 2013 ao início deste ano.

Tudo isso, Argentina, FMI, tensão financeira, aperta o nosso calo. Mas nosso problema principal é ter dado tiros no próprio pé (consumo, inflação, juros e deficit externo e fiscal altos).

(*) Vinicius Torres Freire está na Folha desde 1991. Foi secretário de Redação, editor de ‘Dinheiro’, ‘Opinião’, ‘Ciência’, ‘Educação’ e correspondente em Paris. Em sua coluna, aborda temas políticos e econômicos. Escreve de terça a sexta e aos domingos

Fonte: Folha 

30 Comentários

  1. por LUCENA
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    AHH ! …. esses prêmios Nobel, suspiram por eles muitos vira-latas … Heheh ..um Nobel da Paz está querendo levar o mundo a uma guerra nuclear e existe aqueles que tem DEZ Nobel e nenhum resolve a carnificina da Palestina más ao contrário … Rsrsrsr
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    Essa lógica em que o Ronaldinho fenômeno procurou resumir os 7 X 1 com a Alemanha que por aliás, foi na lógica futebolística que o sub do sub buscou .. Hahahah …Depois que os EUA liberou geral a maconha por lá, o mundo está virando em fumaça … Hahahah …
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    • Argentina “caloteira”? Em que mundo?

      A Agência Standard & Poor’s apenas rebaixou a avaliação da Argentina para SD [orig. Selective Default, expressão que significa que o devedor continua a dever uma ou mais parcelas de dívida maior, mas o credor crê que a dívida será saldada. Sobre isso, ver Standard & Poor’s Definitions].

      Comentário do Zeca Tinga, Analista de Economia na Vila Vudu: Ao contrário do que a imprensa-empresa tem noticiado na Argentina [e do Grupo GAFE (Globo-Abril-FSP-Estadão) no Brasil, então, nem se fala!] foi a Argentina, não os fundos-abutres, quem recusou o acordo para refinanciar a dívida total dos argentinos.

      Standard & Poor’s só rebaixou a avaliação do crédito argentino para SD (Selective Default) para sinalizar que as negociações de ontem não chegaram a qualquer acordo entre o país e os fundos-abutres. O valor é pequeno: apenas 400 milhões de euros.

      Na verdade, em 2010, 93% dos credores da Argentina aceitaram uma perda de 65% nos bônus emitidos pelo país no curso do primeiro evento de inadimplência em 2001, bônus que foram comprados a preço baixíssimo por investidores especuladores de riscos. Desde então, a Argentina tem honrado regularmente as prestações devidas.

      O que está acontecendo é que 7% dos credores – os chamados, com muita justeza, “fundos-abutres” – recusaram qualquer perda (compraram o risco e, na sequência, não querem pagar por ele) e inventaram outra “negociação” com a Argentina, apoiados pela “justiça” norte-americana, para conseguir o reembolso do que perderam.

      A Argentina recusou a nova “negociação”, preferindo ser declarada ainda inadimplente [na categoria Seletive Default, SD].

      Uma das consequências da decisão da Argentina é que os 93% dos credores que aceitaram a negociação inicial não verão tão cedo a cor do dinheiro deles; nem a verá o fundo Elliott Management, principal fundo envolvido na ação processual. Como se pode obrigar um país a pagar o que ele entende que não deve a você? Guerra?

      Em teoria, a declaração de inadimplente seria como bomba nuclear para qualquer país, que perde instantaneamente todo o poder para atrair investimentos; assim sendo, em todos os casos, todos têm de fugir dessa declaração. Foi o que pensou o fundo Elliott. Mas os tempos mudam.

      Em maio, a Rússia convidou a Argentina para participar da cúpula dos países BRICS. Com o convite, aconteceu uma Cúpula conjunta UNASUR-BRICS, realizada na sequência da Cúpula dos BRICS.

      Há duas semanas, China e Argentina assinaram acordo multibilionário de investimentos, mostrando a quem queira ver que, para a China, a Argentina não implica nem significa risco algum.

      Hoje, a Agência de Avaliação de Risco Global Dagong, chinesa, decidiu rebaixar a avaliação do crédito soberano em moeda estrangeira [orig. foreign currency sovereign credit rating] da Argentina, de CC para D, mas manter a avaliação do crédito soberano de moeda local do país em CCC:

      Uma vez que a inadimplência em moeda estrangeira foi causada por fatores de terceiros, que fundamentalmente não afetam a solvência argentina em moeda local, Dagong mantém a avaliação do crédito soberano em moeda local da Argentina em CCC”.

      Vista do ocidente, a Argentina tornou-se país perigoso e pouco confiável para investimentos. Vista dos BRICS, a Argentina é agora país livre, sem dívida, a 3ª maior potência econômica na América do Sul, uma terra de oportunidades.

      São dois mundos: um sanciona e multa; o outro coopera e investe em conjunto.

      http://redecastorphoto.blogspot.com.br/2014/08/argentina-caloteira-em-que-mundo.html

      • Porque será que o zé catinga não foi convidado para o Fórum Exame 2014, mas o guido manteiga dos PETRALHAS foi ???… 🙂

  2. “Não há nada que ensine mais do que se reorganizar depois do fracasso e seguir em frente” – Charles Bukowski
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    Saudações,
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    konner

  3. “A Argentina pode estar em calote hoje. O Brasil é um dos países mais frágeis entre “emergentes” maiores, escreveu o pessoal do FMI num relatório divulgado ontem.” — Vc vê a fragilidade de um texto demagogo logo no primeiro parágrafo. Falando da argentina ele cita o brasil como “o mais fragil dos emergentes”, dizendo ao leitor, “eles estão mal, mas nós logo, logo, seremos iguais a eles”.

    Vou ser sincero. Eu de cá, n acredito muito mais no FMI, assim como nao acredito na ONU (nem na UNESCO, nem em ninguém mais). Como somos frageis com tantos bilhões guardados lá fora? Façam-me uma garapa! Como somos frágeis com a economia mundia em fragalhos, a Espanha com um contingente de desempregados beirando os 20% e nós q somos os frageis?!
    Pelo amor de Deus.

    Esses “especialistas” em economia parece q n sao formados em economia, mas m Astrologia, isso sim. Pergunte ao FMI quando nós pegamos dinheiro emprestado lá? A gnt ta tão bem q pagamos um porto e vamos pagar uma aeroporto em Cuba (Rsrsrsrs ahh essa nossa presidentA…. fazendo caridade aos cumpanheiros…).

    Sá qual é o caso? Por enquanto, “Tamos bem na fita”. O mundo n quer admitir. E esse texto tbm não, pelo jeito.

    • Cara, você resumiu tudo perfeitamente. Os ditos iluminados da economia moderna parecem mais astrólogos que economistas, pois essa virou sua função hoje: fazer futurologia e ficar prevendo catástrofes econômicas mundo a fora. Nostradamus ficaria com inveja desse povo.

    • Muito sensata sua opinião .
      Além do que , a Cris chora chora chora e se muito me engano vai ser a primeira a pegar uma grana do novo banco do Brics, eles pagam até com trigo e carne se quiserem e petróleo tem nas Malvinas … saca ?

      E pra não esquecer eles tem um Papa também… aumentou o placar.

  4. o FMI é mentiroso e faz um terrorismo econômico

    para mim esses títulos de premio nobel e etc não vale de nada Obama é premio etce etal

    quero saber quem inventou o avião foi um brasileiro então humanidade voces me devem

    ai vem esses decendentes de fugido de guerra me falar em prêmios nobres

    nobres é o meu PERU !!!!

    a folha é fraquinha todos sabem é do grupo gaf ou mais conhecidos como pig

    mas uma ótima noticia para as quadrilhas de especuladores das bolsas de valores sionistas

  5. estes fundos abutres tem um nome bastante adequado, são especuladores pura e simples, movimentam bilhões, sem produzir um lápis.
    Poooorém, a Argentina paga o preço pelos seus (des)governos populistas corruptos de esquerda, quando pegaram os emprestimos, sabiam dos riscos, e das condições, pegaram assim mesmo. E pagaram para meter a mão, nada foi investido disto no setor produtivo argentino, foi tudo parar nos bolsos de peronistas e safados.

    A Argentina hoje esta acabada como nação, vai se tornar uma putinh@ do dragão Chinês na AL, cada povo tem o que merece, quando acredita que politicos em populistas “são representantes maximos do povo” e não servidores publicos temporarios, como devem ser.que nos sirva de lição

    • perfeito suas palavras.não adianta culpar os estados unidos, eles devem assumira sua responsabilidade… na questão dos especuladores esses fundos compram dividas dos credores do estado em falência, logicamente o valor bem mais baixo que a divida, e cobram o valor total da estado. oque ocorreu na argentina.

    • Meu caro pastor, juro que não estou querendo pegar no seu pé, mas fala sério, desde quando você acompanha os governos argentinos para atribuir a esse o esquerdismo que você atribui. Vou reavivar sua memória, ou, se você não conhece história de lá, colocar algo nela. Todos os governos praticamente do ultimos cem anos tem a mesma base ideológica chamada Peronismo. Esses nobéis que foram ganhos pela Argentina, que parecem ter sido ganhos em governos conservadores para você, foram ganhos em períodos governados por orientação peronista, esquerda portanto na tua visão, por associação, já que este é um governo de identidade peronista. Nestes ultimos anos so ente um presidente fugiu dessa ideologia foi o Raul Alfonsim, da união civica radical, um de direita mas ainda assim caracterizado por muita corrupção. O que não dá evidentemente ao que você, repetitivamente reproduz, de forma laconicamente inconsistente, a primazia da corrupção no mundo, quiça no Brasil, ainda que a direta façam força propagandistica para firmar esse legado.

      • Caro pastor alemão, volto para retificar uma informação que produzi , evidentemente exagerada, quanto ao temp de duração do período peronista que vem desde 1946, com o próprio, e seus seguidores, portanto e evidentemente menos de 100 anos, mas reitero as demais informações, a excessão de Carlos Saavedra que conquistou o Nobel da paz em 1936, todos os demais estiveram nos governos de orientação peronista. Minhas escusas pelo exagero. Exagero, inclusive na radicalismo político é doença contagiosa, e faço força para não ser contaminado.

      • E sim Julio Internacional Socialista, o peronismo foi tão bom para a argentina, quanto o lenilismo/ stalinismo foi bom para o leste europeu, um sucesso, basta ver a situação de prosperidade dos hermanos agora 😀 :D:D

      • É, meu caro pastor, assim como o capitalismo já deu duas depressões para os yankes, que foram salvos devido a guerras, que é o que vem sustentando sua economia. Mas reconheço a astucia dos gringos, afinal colocaram o mundo de joelhos ao final da segunda guerra, garantindo seu poder de sustentar seus impagáveis deficits, graças ao seu papel como emissor da moeda lastro no mundo. Se fosse o Brasil, fazendo o que eles fazem, o FMI já teria proposto entregar parte de nosso território para os sionistas, ou talvez, quem sabe, para os palestinos (pra não dizerem que sou preconceituoso) como já circulou em noticiario alguns anos atrás, em relação a cobiçada Amazonia. Abs.

      • Juju falando besteiras e viajando na maionese para poder amparar seus pontos de vista sabidamente equivocados… mais do mesmo… 🙂

  6. “Os políticos e as fraldas devem ser trocados frequentemente e pela mesma razão”, Eça de Queiróz, gênio

  7. Não era essa Argentina que estavam convidando para integrar o super poderoso brics ???… RSRSRSRSRSRS… tão de bricanagem com os chinas, né mesmo ???… 🙂

  8. Então tá! A culpa é do FMI, do Prêmio Nobel, dos fundos “abutres”. A Argentina fez tudo certinho, e nós a imitaremos. Lembram do “efeito orloff?”

  9. É essa bomba que estava sendo cogitado para entrar no BRICS? A Dilma parece que gosta desse saco de m…das.

    • Carlos, a vantagem que temos para escrever m…das nos blogs é por não termos qualquer responsabilidade com a realidade política.
      Como governante, desprezar um país como a Argentina, por que ele está fraco economicamente seria um erro gigantesco. Nós perecemos, mas os países não. Melhor termos amigos na vizinhança do que inimigos eternos. Prefiro viver no Brasil a viver em Israel, por exemplo.

  10. Porque o país que gerou Santos Dumont, Carlos Chagas,Vital Brazil, Landell de Moura, Oswaldo Cruz, entre tantas outras grandes personalidades, de valores ímpares necessitaria de um Prêmio Nobel?
    Nosso valor esta aí para que todos vejam,não precisamos desse ou daquele prêmio para mostrar nosso valor !

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