O fabuloso complexo industrial militar ucraniano

340px-Dnepr_rocket_lift-off_1Do Defesanet

Rússia planeja reduzir importações da Ucrânia em 95% até 2015. Será possível para Moscou reduzir a dependência do Complexo Industrial Militar ucraniano?

Nicholle Murmel

Apesar do discurso seguro e despreocupado do vice-primeiro ministro da defesa russo, Dmitry Rogozin – czar da indústria de defesa e aeroespacial, a dependência tecnológica e industrial em relação á Kiev é uma realidade enraizada. A transição para linhas de produção domésticas pode estar no horizonte próximo, mas Moscou precisa de garantias.

Parece que uma das razões mais importantes da postura permissiva da Rússia em relação aos movimentos separatistas-pró Moscou na Ucrânia é algo pouco debatido na grande mídia. O surpreendentemente bem desenvolvido parque industial-militar ucraniano é crucial demais para que Vladimir Putin abra mão da ingerência sobre o país vizinho, mesmo sob ameaça de sansões. Além disso, boa parte desse complexo produtivo se localiza no sul e no leste do território, o que torna o foco da autoridade russa ainda mais claro.

Alguns leitores podem se lembrar da cena do filme-catástrofe 2012, em que um magnata russo dono de uma aeronave gigante carregada de carros de luxo se gabava da origem do avião: “é russo”. Na verdade, era ucraniano – um AN225 Antonov, o maior avião do mundo. A Antonov, com sede perto de Kiev, também criou e fabrica o AN70, uma aeronave de transporte de médio porte, também uma série de planadores como o AN15, um modelo a jato de produção regional (AN18) e uma gama variada de motores. Aliás, o gabinete da Presidência russa conta com duas unidades do AN148-100Es.

A Ucrânia também é sede da Motor-Sich, empresa que desenvolve e produz motores para aviões e helicópteros, além de turbinas para sistemas de bombeamento de gãs e petróleo, além de outras aplicações na área de geração de energia. Basicamente, todos os helicópteros das Forças Armadas russas usam motores da Motor-Sich. A companhia ainda fabrica os motores para o caça/treinador Yak 160. Segundo o analista militar Vladimir Voronov, a Rússia tem o plano ambicioso de acrescentar mais mil helocópteros de ataque às suas forças, mas a empreitada se tornaria impossível sem o fornecimento garantido pela Motor-Sich.

O vizinho cobiçado por Moscou também conta com uma indústria avançada de desenvolvimento e produção de foguetes e mísseis. A Ucrânia criou, fabricou e ainda hoje presta serviços de manutenção para o principal modelo de mísseis balísticos intercontinentais da Rússia – o temido R-36, ou SS18 Satan pela classificação da OTAN.

A Ucrânia ainda abriga o que já chegou a corresponder a 30% da indústria de construção naval da antiga União Soviética, e que continua a prover serviços na área para diversas nações, incluindo a China, a quem o país vendeu o navio-aeródromo Varyag, que a Marinha do Exército de Libertação Popular reconfigurou no recém-comissionado Liaoning.

Em uma campanha recente das Forças Armadas russas para aumentar a construção de navios, Vladimir Voronov apresentou parecer atestando que os estaleiros do país não conseguen atender à demanda, forçando Moscou a recorrer cada vez mais a Kiev, que, por sua vez, também é expoente na produção de motores para propulsão naval. Em seu relatório, Voronov concluiu que dos 54 meios de superfície a serem adquiridos pela Marinha russa, 31 seriam equipados com motores ucranianos. Logicamente, a viabilidade do fornecimento desses componentes está comprometida pela decisão do governo ucanano de suspender todos os contratos de venda de equipamentos para Rússia, por conta da intervenção na Crimeia e de todas as instabilidades subsequentes.

Por fim, a Ucrânia também é um grande fabricante de blindados e veículos de transporte de pessoal. O pólo industrial da Cracóvia criou e fabricou os modelos de carros de combate T34, T54, T64 e T80, e especialistas afirmam que o mais recente, o MBT T84, é mais eficiente que os russos em uso atualmente. O portfólio de armamentos inclui ainda mísseis ar-ar para aeronaves de caça, mísseis superfície-ar, míssies de cruzeiro, além de uma indústria forte de partes e sistemas que atendem a vários projetos militares russos, incluindo o novíssimo caça de quinta geração, em desenvolvimento, o Sukhoi –T-50 PAK/FA.

Para Moscou, perder a Ucrânia para a União Europeia, ou pior, para a OTAN, significaria a potencial perda de todo esse aparato industrial, e a necessidade de substituí-lo o mais depressa possível. Há ainda a possibilidade de vazamento de segredos militares possivelmente útieis para os concorrentes da indústria bélica russa.

Cientistas e engenheiros ucranianos conhecem vários dos segredos militares russos mais sensíveis, e até mesmo deram origem a alguns deles. Além disso, uma observação rápida em um mapa aponta que a Cracóvia, lar do complexo industrial de blindados e veículos, se encontra no leste do país. O pólo de construção naval está em Mykolaiv, no sul. Já a indústria aeroespacial está em Dnepropetrovsk e a Motor-Schi em Zaporizhia, ambas no sudeste. Esses dados geográficos tornam claro porque são justamente essas regiões da Ucrânia que passam atualmente pelas piores ondas de violência e oposição ao governo em Kiev – oposição instigada pela autoridade russa.

O complexo industrial-bélico da Ucrânia é importante demais para Moscou. Sendo assim, talvez sanções não sejam suficientes para Vladimir Putin retroceder.

Para ler toda a matéria de Nicholle Murmel, “Ucrânia – O Indispensável Complexo Industrial Militar para Moscou” acesse a fonte

Foto: R-36; NATO reporting name: SS-18 Satan

Fonte:  Moscow Times e Asia Times via Defesanet 

6 Comentários

  1. Fielmente a Ucrânia sabotou o programa espacial brasileiro, fielmente .
    O relação Rússia e Ucrânia é unha encravada na carne, os caras estão puxando com força , vai sangrar com dor , claro.

  2. É complicado para a Ucrania.. a parte Leste do pais apoia a Russia

    e salvo engano é justamente a parte leste que detem o que há de melhor la na Ucrania

    Ja disseram uma vez que o Leste se separar da Ucrania, nem a UE vai querer o que sobrar

    mas eu não acredito muito em desintegração… não interessa a ninguem…

  3. A Rússia vai ter que “comprar” muitos pesquisadores, cientistas, engenheiros, físicos, químicos, etc, para salvar seus programas.

  4. Em verdade, o sul e o sudeste da Ucrânia são justamente as regiões em que se fala russo e cuja população se considera russa, com parentesco e laços de amizade com russos.

    Sempre é bom lembrar que ocorreu um golpe de estado na Ucrânia e que as últimas eleições não podem ser consideradas válidas, visto que grande parte da população, justamente a que não reconhece o estado atual, não participou do pleito.

    Se as eleições da Ucrânia forem consideradas válidas, as da Crimeia e das demais Repúblicas também devem ser consideradas.

    Não acredito na possibilidade de resistência dos separatistas sem o apoio explícito de Moscou, devem cair em uma semana.

    Depois disso, a Ucrânia passará a questionar a anexação da Crimeia, pleiteando compensações econômicas e embargos aos russos.

  5. É óbvio que a Rússia quer anexar justamente a parte de fronteira com a Ucrânia, justamente onde estão os parques industriais mais interessantes, e de quebra, fica praticamente dona de todo um mar que certamente tem muito a oferecer, em todos os sentidos.

    A Ucrânia deveria distribuído melhor seus parques industriais, sem dúvida.

    Se perder aquela região, perde justamente a maior parte do seu sustento… e tende a ir à bancarrota! A Rússia não quer os russos, que já poderiam ter migrado com suas riquezas para o seu território, quer o território ucraniano com os equipamentos que lá estão!

    Acho que a Ucrânia tem que lutar para se manter íntegra, sob ameaça de tornar públicos os segredos militares que integram os equipamentos russos… alguns pendrives distribuídos por aí com pessoas chaves para o caso de o pior acontecer! 🙁

    Situação pra lá de complicada!

    Sou fã da Rússia, mas aqui estou com a Ucrânia! 🙂

  6. ,..Ñ parece, q os Rússos venha a sofrer c o distanciamento da Ucrânia e suas industrias, pode sté demorar, + será melhor p os Russos centralizar dentro de suas fronteiras e empresas td as suas defesas…assim q tem q ser, e assim será. Questão de tempo. Quem viver verá. Sds. 😀

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