Muitos, como Hillary Clinton, compararam a crise na Ucrânia e a incorporação da Crimeia ao Estado russo à crise de 1938, quando Hitler avançou sobre a Checoslováquia. Esqueceram-se de que a Grande Política então se fazia por pactos e alianças e, sobretudo, de que não havia a arma nuclear. Um geopolítico crítico, da velha escola, lembraria que, hoje, a Grande Política se rege pela certeza, garantida, da destruição mútua (MAD), que torna a guerra de fato uma loucura. O que não o impede de observar que o Poder Marítimo, confiante na lucidez dos dirigentes, procura ganhar vantagem sobre o Poder Terrestre, e que a Otan é seu representante ativo. Enquanto estudiosos da geopolítica, devemos refletir sobre a política externa da ilha-continente: preocupada, desde 1898, como Pacífico e obrigada, a partir de 1939, a preocupar-se com a Europa. Em 1919, porém, já buscara impor aos vencedores de 1918 a Sociedade das Nações – da qual não participou. Antes de Pearl Harbour, na conferência do Atlântico, Roosevelt espantara Churchill ao propor que, finda a guerra, de que os EUA ainda não participavam, os povos anglo-saxões deveriam policiar o mundo para libertar os povos do jugo colonial e acabar com todas as guerras. Em 1944, descartando a Inglaterra, propõe que, na ONU, EUA e URSS mantivessem a paz internacional. Stalin aceita com a condição de que os membros permanentes do Conselho de Segurança tenham direito de veto. Em São Francisco, Truman consule novato na Grande Política e na Grande Estratégia, firma- se o grande pacto, cuja validade dependerá do acordo com Stalin, geopolítico à antiga. Como direito de veto, a Grande Política voltou a ser a dos pactos e acordos: Plano Marshall, Otan, Pacto de Bagdá, Pacto de Varsóvia, Otase.
Com o veto, no entanto, a ONU nasce morta enquanto instituição capaz de manter a paz. Continua representando, para os “pequenos” – e para George Bush (pai) durante algum tempo –, o ideal de uma ordem mundial pacífica e justa na distribuição do poder. Não na Europa. Isso se pôde ver na crise da Iugoslávia, quando o equilíbrio do poder ser estabeleceu com a intervenção da Otan e o menosprezo da ONU. Há quem, na Rússia, considere que BorisYeltsin foi uma gente consciente do Poder Marítimo. Representado pelos EUA, o Poder Marítimo buscaria negar à Rússia o livre acesso aos mares que em tese pretendeu isolar o antigo império e impedir a consolidação do Poder Terrestre – que não estaria preocupado com o domínio do “Coração da Terra” (Mackinder), mas com a construção do grande império euro-asiático e sua independência total do Poder Marítimo, cuja Esquadra murmurava a velha canção imperial guerreira de maneira diferente: Rule, America! America rules the waves. E houve quem comparasse Putin a Hitler em suas manobras nos Sudetos, em 1938. Houve também quem, lembrando a História, lembrasse a condenação de Churchill à ação de Chamberlain em Munique e citasse sua frase famosa: “Escolhemos a desonra e a guerra” – preconizando uma solução militar para crise na Ucrânia. Houve ainda quem consideras se Putin um louco. Um ex-comandante da Otan foi mais calmo: a Ucrânia não pertence à Otan e qualquer ação russa não exigirá a intervenção do Ocidente. A Rússia, acrescentou, usa o “poder inteligente”, a combinação do “poder duro” (armas) com o “poder suave” (diplomacia e pressão).
Os geopolíticos russos estão preocupados com a restauração do império. O impasse na Ucrânia reside em que a ONU não tem condições “estatutárias” de deter a ação russa. Os EUA e a Europa, cientes disso, buscam contrapor seu “poder inteligente” (sanções diplomáticas pessoais e econômico-financeiras) aos russos. Descarte- se qualquer referência a “poder duro”: 600 homens enviados aos países-membros da Otan na área são apenas uma satisfação que se dá aos mais inquietos. Para nossa tranqüilidade, MAD governa as ações e impõe a paz. Esquecendo Mackindere Mahan por breves instantes, diríamos que há um ano varealidade geopolítica, ainda que nas névoas da especulação. O Bric nasceu como “nada” – foi a reação à “boutade” de um economista norte-americano preocupado com o crescimento econômico global. Aceito, poucos prestaram atenção ao fato de que, pouco depois de constituído, acrescentou-se ao grupo a África do Sul e temos o Brics. Mais do que por sua população e seu território – e sua influência na África Negra–, a África do Sul é importante por sua posição geográfica. E, no grupo, o Brasil, que tem território, população e posição, não tem como transformar seu “poder suave” (se o tiver) em “inteligente”. Mas o Brics existe como realidade econômico – financeira em potencial e Rússia, Índia e China têm o que dizer caso julgarem necessário afirmar-se com o pacto capaz de se contrapor ao Poder Marítimo em expansão. Em julho, os chefes de Estado do Brics reunir- se – ao em Fortaleza para oficialmente, por enquanto, discutirem problemas relacionados à criação de um banco de desenvolvimento e a um fundo paralelo ao Fundo Monetário Internacional (FMI). Observando a votação da Assembléia – Geral da ONU em que a anexação da Crimeia foi condenada, um detalhe deveria ter-nos chamado a atenção: os membros do Brics (Rússia à parte) abstiveram-se de condenar seu parceiro. O fato foi registrado por alguns sem preocupação geopolítica e ele passou despercebido – da mesma maneira que não se fala mais sobre a declaração do ministro da Defesa russo a respeito das negociações para a construção de base sem Cuba, Nicarágua e Venezuela. Será interessante ver como o Brasil, ponto de ligação entre a América Cisandina – para muitos, “bolivariana” – e os demais países do Brics, definirá posição diante da crise que, queiramos ou não, consagra o triunfo dos pactos e a falência da ONU. Professor da USP e da PUC- SP, é membro do Gabinete e Oficina de Livre Pensamento Estratégico.
(*) Oliveiros S. Ferreira, é Professor da USP e da PUC-SP e Membro do Gabinete e Oficina de Livre Pensamento Estratégico. Site: www.oliveiros.com.br
Posso estar enganado, mais neste texto do professor Oliveiros esta a fonte da tese defendida por Maluquinho, que Africa do Sul juntou o BRICS por razoes geopolitica.Frequentei classes do Professor Oliveiros, quando era catedratico no Departamento de Sociologia da USP, 1971/72 e 1973. Pertence a direita, mas sempre o respeitei como intelectual.
Os Brics são uma reali// e logo terão o seu Bco.de Fomento,inaginem se eles decidem criar um contraponto à ONU, como propos a Turquia,com poderes é armas!?!Na AS, temos a UnaSul, ainda incipiente e desdentada, + q sabemos ñ vai ficar assim…Como será o amnhã, responda quem puder…diz a música…Quem viver verá.Sds.
O Brics é uma realidade, não como um bloco muito duradouro creio eu, mas como uma aliança necessária para contenção de um inimigo comercial em comum…EUA. Todos os projetos em conjunto (pois sozinhos não seriam capazes) parecem se direcionar para esse caminho onde os países membros desse bloco buscam criar meios logísticos, comerciais entre outras coisas para aumentar a capacidade de concorrência com os EUA, prova disso foi a assinatura da criação do Canal da Nicarágua entre China e Rússia, e a criação de um dos maiores portos da América central (tbm na Nicarágua) pelo nosso país, e isso, nos leva a crer que o Brics planeja criar um centro logístico do próprio bloco sem passar nos custos e crivos dos EUA (no Panamá), e isso, está bem claro, é guerra comercial, pois representa a possível diminuição da influencia dos produtos dos EUA na América.
Caro ARC
“O Brics é uma realidade, não como um bloco muito duradouro creio eu, mas como uma aliança necessária para contenção de um inimigo comercial em comum”
Que aliança? Índia e China? A China engolindo a nossa indústria e nós explorados, criando vacas, plantando soja e extraindo hematita?
E a Rússia fornecendo gás?
Por enquanto os únicos que vão se dar bem são os chineses que desenvolvem tecnologias competitivas, para nós, se continuarmos assim só muda a cara do patrão, continuaremos vassalos.
Sem desenvolvimento interno e tecnológico seremos colônia para sempre.
Não duvido disso caro Deagol, mas se analisarmos bem, nosso país parece ( não que eu concorde ou ache certo) investir em tecnologia agropecuária, e isso está muito visível, pois já dominamos certos tipos de plantio a ponto de quase não haver falhas no cultivo e colheita (soja é um exemplo) além do comercio de carnes, ou seja, estamos nos tornando o celeiro do mundo, já somos os maiores produtores de carne bovina, de soja, açúcar, de aves, e quando não somos os maiores, estamos entre os três primeiros, ameaçando até mesmo os EUA com um melhor preço. Mas claro, é terrível não despertarmos para a necessidade da reestruturação de nossa infra estrutura (educação, saúde e segurança, e digo em todos os níveis e subníveis) fiquei ciente de qu até mesmo o primeiro ministro da China disse que” é necessário o Brasil se reestruturar e levar a sério sua educação e melhorar sua legislação de modo geral”.
Sds Deagol. E como uma vez aprendi, repito…
“É necessário catequizar os padres, pois os índios, são consequência da pregação deles.”
Concordo com você ARC.
Mas a agricultura moderna, principalmente a produção de grãos, é altamente mecanizada e trás poucos empregos, além de baixo valor agregado, assim como a extração mineral.
Milhares de hectares de soja tem de ser plantados para se obter o valor de um Boeing 777,e esse Boeing gera centenas de empregos bem pagos, enquanto a soja é plantada e colhida com máquinas que substituem inúmeros de trabalhadores rurais.
Na minha opinião, precisamos desenvolver tecnologias e inovações para que, mesmo que nossas fábricas mudem-se para a china, ainda recebamos os dividendos pelas patentes criadas aqui.
E em segundo lugar, já somos a 7° economia do mundo, mas ,misteriosamente, vivemos como se fossemos a centésima. Acho que é preciso que nosso país reestruture a forma como nosso dinheiro utilizado
Seja, melhorando a distribuição de renda, combatendo a corrupção, reduzindo os privilégios dos políticos e reduzindo a incompetência e o desperdício.
Nossos políticos, de qualquer partido, não sabem ou querem administrar nossos recursos da forma correta.
Infelizmente nosso país é uma vergonha! Talvez esteja mudando como alguns dizem, mas se está é de forma extremamente lenta.
Sds.
Salve ARC;
Interessante esta sua percepção, é exatamente isso.
Participei/participo há algum tempo de alguns desenvolvimentos (equipamentos) para a área da agricultura e isso é exatamente o que se pensa sobre a agricultura brasileira (estou falando de tecnologia) o empresariado daqui e de fora.
O Brasil é um player “quase” imbatível neste setor e vai crescer muito mais.
Concordo em muitos pontos também com o Deagol no tópico abaixo. Porém, a agricultura não é somente o plantio e há cidades inteiras que evoluíram e continuam em expansão (de PIB e IDH) em função disto, não estou falando de plantio mas de fábricas de equipamentos, software, genéticas, dentre outras.
Compartilho de que somente isto (o campo) é insuficiente para ditar o nosso crescimento como nação, mas é inegável que somos referência e não podemos retroceder deste posto.
e… Deagol estou de pleno acordo quanto ao combate a “corrupção (não importando o partido), reduzindo os privilégios dos políticos e reduzindo a incompetência e o desperdício”.
Abraço;
Vandrade
Caro ARC
” mas como uma aliança necessária para contenção de um inimigo comercial em comum””
Qual é nosso inimigo comercial?
Quem impede a nossas exportações de soja ou carne?
Quem impede a nossa exportação de commodities?
Quem são aqueles que impedem a exportação de carros fabricados pela GM, Toyota, Ford fabricados aqui, por nossos trabalhadores?
Quem impede a exportação dos nossos EMBs?
“contenção de um inimigo comercial em comum”
Quem é o nosso inimigo em comum?
Não estou te afrontando ou desafiando colega ARC!!!!
Só quero saber sua opinião de verdade.
Com todo o respeito! Quero conversa e não briga.
Sds.
Na verdade, sempre questionei sobre quem realmente é nosso inimigo comercial caro Deagol, achei algumas respostas interessantes. Primeiro, é de conhecimento de alguns que o nosso país possui brigas sérias com os EUA na zona rural , pois não estamos mais industrializando lá, ou seja, estamos tendo o domínio de toda a produção rural (seja de grãos ou de outros produtos afins) o que deixa de dar para eles uma quantia significativa (bilhões sobre bilhões) do lucro sobre a produção, fato este comprovado pela briga da laranja , onde nosso país chegou a recorrer na OMC contra os EUA. Mas apesar de saber que somos inimigos implícitos dos EUA nessa área ( pois a Europa esta pouco a pouco se voltando para nós, e isso significa a perda dos clientes dos EUA para nós) não os demonizo, pois sei que não são os únicos. A China é outro bom exemplo de inimigo comercial, pois invade nosso país com seus produtos de baixíssimo custo, esmagando nossa industria nacional, e quase todos os esforços para impedir isso, estão sendo frustrados, o que nos levará a uma falência tecnológica em determinados setores. Por isso ainda tenho minhas dúvidas quanto ao propósito real do Brics, pois os únicos países desse bloco que se relacionam conosco sem nos afetar, é a Rússia e a Índia.
Mas independente de eu acreditar que China, EUA e outros países são nossos inimigos comerciais, acredito que nós somos os nossos próprios inimigos, temos reservas monstruosas de minérios raros, temos temperatura e solo altamente favoráveis ao plantio de qualquer semente, temos a maior floresta do mundo, com recursos biológicos ainda desconhecidos, temos um oceano ao nosso redor dotado de riquezas fósseis e alimentares hiper cobiçadas, temos centros universitários e tecnológicos respeitados no mundo inteiro (exemplos: ITA, que nada mais é que uma escola para a NASA ; UFRJ, que é um centro de tecnologia que já amedronta o Vale do silício, etc)…meu Deus…temos tudo o que precisamos para ser a maior potência do mundo, só nos falta apoio entre nós mesmos. NÓS SOMOS OS NOSSOS MAIORES INIMIGOS, essa é minha opinião caro Deagol. Sds
Perfeito Deagol, só estamos trocando de coleira, desenvolvimento se vem com conhecimento tecnico estrategico, e não com parcerias caracu.
É, parece que os chineses são nossos maiores parceiros comerciais, mas se surgirem novos fornecedores a china nos dispensa rapidinho e F… a economia brasileira. Chineses são tão amigos quantos os EUA.
Se já exploram os trabalhadores deles, imagine o que fariam com os nossos.
Recentemente, na faculdade, fizemos uma pesquisa sobre trabalhadores chineses, que trabalham para as multinacionais, e descobrimos casos de crianças presas e espancadas por protestar contra a excessiva carga de trabalho.
E casos de pessoas trabalhando em linhas de produção durante mais de 12 ou até 16 horas por dia, por salários ridiculamente baixos.
Quase uma escravidão!
Imagino o que fariam com a gente.
“desenvolvimento se vem com conhecimento tecnico estrategico”
E nada nos impede de alcançarmos isso. Apenas nós mesmos.
por LUCENA
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GEOPOLÍTICA É ASSIM !
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Caças nipônicos e chinêses evitam confrontação
Os caças das Forças Aéreas da China e do Japão evitaram uma confrontação aberta na zona do mar da China Oriental. Os aviões chineses se aproximaram de um grupo de caças japoneses à distância de 50 metros, depois à de apenas 30 metros para expulsá-los da zona de identificação da DAA que o Japão teima em reconhecer.
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(*) fonte: [ portuguese.ruvr.ru/news/2014_05_26/Ca-as-niponicos-e-chin-ses-evitam-confronta-o-6854/ ]
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(…)“Acho que, nesse caso concreto, os japoneses teriam sido movidos por curiosidade. Eles se aproximaram da zona de exercícios, tendo violado os corredores aéreos demarcados. Os chineses tinham fundamentos para tomar medidas coercivas. Não gostaria de traçar paralelos, mas posso citar um exemplo. Quando o Japão efetua manobras com os EUA, costuma adotar medidas de segurança análogas. Não me recordo de algumas “notas de protesto” contra a aviação russa que mostrasse “um vivo interesse” em relação às manobras conjuntas. Os japoneses parecem ter “ultrapassado as marcas” e os chineses, com um pleno fundamento, expulsaram-nos da zona das manobras”.(…)
por LUCENA
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GEOPOLÍTICA É ASSIM !
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Eurásia: integração do século XXI
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No próximo ano, um projeto interestatal único com o maior grau de integração nos últimos 25 anos será lançado no espaço eurasiático. Trata-se da União Econômica Eurasiática (EAES, sigla russa) da Rússia, Cazaquistão e Bielorrússia, aberta para novos participantes.
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(*) fonte: [portuguese.ruvr.ru/news/2014_05_26/eurasia-integracao-do-seculo-xxi-9914/ ]
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(…)”Eles veem ameaças à existência de seu bloco. Ainda desde os tempos do político Halford Mackinder, um dos relatores do processo de Versailles durante a Primeira Guerra Mundial, eles consideram que a Rússia representa o centro da “ilha mundial” da qual, na opinião do político, fazem parte a Eurásia e a África. Ao mesmo tempo, quem controla essa ilha, controla todo o mundo. Mackinder considerava que se os países situados em redor da Rússia conjugarem seus esforços, chegará o fim do domínio anglo-saxônico”.(…)
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