O perigoso jogo dos candidatos à Comissão Europeia

Pela primeira vez há candidatos à chefia da Comissão Europeia: uma aposta arriscada e que pode levar a um impasse político, opina o correspondente-chefe da DW em Bruxelas, Christian Trippe.

À primeira vista, maio promete ser um bom mês para a democracia na Europa. Cidadãos europeus estão convocados a eleger, entre esta quinta (22/05) e domingo, um novo Parlamento. Pela primeira vez, os partidos europeus apontaram um candidato para a poderosa presidência da Comissão Europeia. O candidato da maior bancada deverá liderar a administração europeia, com apoio do Parlamento.

Christian Trippe é correspondente-chefe em Bruxelas

Apenas os candidatos dos dois maiores blocos políticos podem alimentar uma real esperança: o social-democrata alemão Martin Schulz, atual presidente do Parlamento Europeu, e o luxemburguês Jean-Claude Juncker, que foi primeiro-ministro de seu país por quase 20 anos e ex-presidente do Eurogrupo.

Ambos são políticos sensatos, europeus apaixonados e dominam as três línguas oficiais da União Europeia. Debates televisivos em alemão, francês e inglês serviram de fórum para essas duas “feras da política”. Pesquisas de opinião mostram, até aqui, uma disputa acirrada entre os dois – em outras palavras, um cenário eleitoral totalmente normal. E é exatamente essa a impressão que estrategistas de campanha, assim como os próprios Juncker e Schulz, querem criar. Mas é aí que tem início um grande – e talvez perigoso – mal-entendido.

Primeiramente, a UE não é um sistema parlamentarista. A Constituição europeia – o Tratado de Lisboa – é sucinta, porém dúbia: os chefes de Estado e de governo apontam o presidente da Comissão Europeia “sob a luz dos resultados” das eleições da UE. Em nenhum momento o Tratado de Lisboa menciona candidatos de ponta dos partidos à presidência da Comissão Europeia.

O Parlamento Europeu também tem pouca influência política sobre as decisões tomadas pelos homens – e algumas poucas mulheres – que controlam o destino da UE nos seus regulares encontros de cúpula. No Parlamento Europeu, as regras do jogo são bem diferentes das regras dos legislativos nacionais: ora é a filiação partidária, ora a nacionalidade do eurodeputado que determina uma posição. Não é à toa que o Parlamento Europeu seja visto nas capitais dos países-membros como imprevisível, e que sua pressão por uma integração europeia cada vez maior seja encarada como o símbolo da “Bruxelização”.

Em resumo: Angela Merkel, François Hollande, David Cameron e seus colegas estão pouco inclinados a aceitar um candidato imposto pelo Parlamento Europeu ao cargo mais importante da União Europeia.

A intenção, porém, é boa: os candidatos de ponta devem dar um rosto à abstrata e distante política de Bruxelas, além de valorizar a eleição europeia ao associá-la ao poder da Comissão. Tudo isso para finalmente levar os eleitores de volta às urnas. Desde as primeiras eleições diretas, em 1979, a participação eleitoral vem caindo de forma sistemática. No último pleito, cinco anos atrás, apenas 43% dos eleitores votaram.

Para os estrategistas em Bruxelas e Estrasburgo, ter candidatos ao cargo máximo da União Europeia poderia reverter essa tendência. Isso seria, como muitos deles ainda acreditam, uma cura eficaz contra o notório deficit de democracia no bloco.

Mas e se o cálculo foi mal feito e o remédio não fizer efeito? No momento, quem faz uma pergunta dessas em Bruxelas recebe nada mais que um dar de ombros. Mas todo mundo sabe que o plano é uma aposta arriscada. Schulz, Junker e os outros candidatos se lançaram numa campanha que podem acabar num impasse.

É perfeitamente possível que os chefes de Estado e governo da UE digam, no fim de maio, “Primeiro de Abril” e escolham para presidente da Comissão Europeia um nome que nem estava concorrendo nas eleições. Isso poderia levar a uma paralisação das instituições europeias, enquanto cada vez mais cidadãos dariam às costas à UE. Para a democracia europeia, seria uma catástrofe.

Fonte: DW.DE

7 Comentários

  1. Há muito questionamento, por parte dos próprios cidadão da Europa, sobre a interferência da UE, de Bruxelas….Sobre as decisões soberanas das autoridades eleitas de cada país membro da UE. Aponta-se um esvaziamento do poder decisório das autoridades eleitas nestes países, em prol do poder da autoridade central dos burocratas de Bruxelas, provocando com isto, um deficit de democracia no continente europeu…

  2. Escrito por um europeu decepcionado 🙂

    Amor entre as nações

    por Viktor Dedaj, Paris, França

    A resposta de Washington, ou a falta dela, confirmou a autenticidade de um clipe do YouTube, que surgiu 6 de fevereiro, de uma conversa telefônica que vazou entre o secretário de Estado dos EUA Victoria Nuland e o embaixador dos EUA para a Ucrânia, Geoffrey Pyatt .

    Na chamada,postada por uma fonte russa anônima, Nuland e Pyatt discutiram a instalação de um novo governo pró-EUA que iria incorporar a oposição fascista, que vinha liderando os protestos de rua contra o presidente ucraniano, Viktor Yanukovich.

    Mesmo que a campanha de Washington para mudança de regime tenha sido coordenada com a União Europeia, em conversa por telefone com Pyatt, Nuland ataca UE por ser pouco agressiva, dizendo em um ponto: “Foda-se a União Europeia.”

    A mesma fonte, nos forneceu o texto de uma conversa posterior entre a UE e os EUA…

    UE: Mas você disse que me amava!

    EUA: (suspiro) Lá vai você de novo.

    UE: Eu deixei tudo para trás para você. A democracia, a regulamentação do mercado, as empresas estatais, bem-estar social, uma política externa independente.

    EUA: (acendendo um cigarro): pffff … Ninguém te obrigou.

    UE: Eu poderia ter sido uma estrela internacional, sabe?

    EUA: Sim, sim, blá, blá …

    UE: O mundo inteiro tinha esperança em mim! Agora é aquela vagabunda, a América Latina, que está mostrando com suas políticas progressistas ruim.

    EUA: Oh que um … Ela era uma hotty. Devo admitir que era divertido na época. Mas acabou (por enquanto). Agora, você é minha cadela.

    UE: (sniffing): Sério? Você não está brincando?

    EUA: Você é, você é minha putinha. Venha aqui.

    UE: Você vai me bater?

    EUA: O quê? Claro que não! O que há de errado com você?

    UE: América Latina … Ela diz que você é arrogante e violento. Ela diz que você não tem amigos, apenas interesses.

    EUA: Ela é louca. Esqueça ela. Vamos lá, vem cá minha putinha.

    UE: Oh Sam … Sam …

    • por LUCENA
      .
      .
      E o fundo musical desse amor canino seria …. 😀
      .
      .
      (…)
      .
      Nós somos dois sem vergonhas em matéria de amar
      Eu te amo e tu me amas mas brigamos sem parar
      Nós somos dois sem vergonhas não podemos ocultar
      Você porque vai e volta e eu por lhe deixar ficar
      .
      Todo dia a gente briga por ciúme ou por intriga
      Sempre temos que brigar
      Você diz que vai embora e eu com raiva nessa hora
      Não lhe peço pra ficar
      É problema de quem gosta quando você vira costas
      A tristeza me acompanha
      E mesmo um caso sem jeito você vai,volta, e eu aceito
      Isso é uma pouca vergonha
      .
      (…)

      .
      .
      [ letras.mus.br/lindomar-castilho/944705/ ]

  3. “Angela Merkel, François Hollande, David Cameron e seus colegas estão pouco inclinados a aceitar um candidato imposto pelo Parlamento Europeu ao cargo mais importante da União Europeia.”

    Pra que serve este cargo então?

    Se os três principais líderes políticos do continente não se incomodam em dar as costas ao Parlamento Europeu quando lhes convém, pra que serve a União Europeia?

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