Apesar da pressão europeia, Kiev e Moscou seguem longe de negociar

Enquanto violência escala na Ucrânia, chanceleres russo e ucraniano se dizem a favor do diálogo em reunião em Viena, mas voltam a trocar farpas e impõem pré-condições difíceis de serem contornadas.

Ministros europeus e representantes da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (06/05) se reuniram nesta terça-feira (06/05), em Viena, numa tentativa de levar Moscou e Kiev à mesa de negociações. E apesar de tanto o chanceler russo, Sergei Lavrov, quanto o ucraniano, Andriy Deshchytsia, terem declarado apoio a uma nova rodada de conversas em Genebra, ambos impuseram pré-condições inicialmente impossíveis de serem contornadas.

A reunião começou após Kiev confirmar a morte de mais de 30 pessoas em confrontos com rebeldes pró-Moscou no leste do país, intensificando a onda de violência que tomou conta da região nos últimos meses. Em encontro com o ministro do Exterior alemão, Frank-Walter Steinmeier, Lavrov ressaltou a “necessidade” de dar continuidade aos esforços internacionais para promover o início de um diálogo nacional na Ucrânia, com o objetivo de “resolver todos os problemas existentes”.

Porém, antes de iniciar a conversa com Steinmeier, Lavrov havia rejeitado a possibilidade de uma nova rodada de negociações de paz com a Ucrânia que excluísse a participação de representantes rebeldes pró-Moscou das regiões leste e sudeste ucranianas.

“Infelizmente, nossos parceiros ocidentais não estão prontos para permitir isso”, disse Lavrov. Segundo ele, as nações que apoiam Kiev ainda são contra um diálogo nacional que dê peso igual para todos os participantes da crise.

O chanceler ucraniano, por sua vez, repudiou o pedido do colega russo, afirmando que o governo da Ucrânia tem apenas um representante nas negociações. “Eu, como o governo legítimo da Ucrânia, represento todas as regiões da Ucrânia”, afirmou Deshchytsia.

Eleições

Deshchytsia ainda acrescentou que a principal condição imposta por seu país para retornar à mesa de negociações é que a Rússia pare de interferir nos assuntos internos da Ucrânia antes das eleições presidenciais, marcadas para 25 de maio.

As relações entre o Ocidente e a Rússia passam por sua pior fase desde a Guerra Fria. Os EUA e a União Europeia já emitiram uma série de sanções contra um grupo seleto de indivíduos e empresas na Rússia.

Washington ainda alertou que as sanções serão ampliadas caso a Rússia venha a impedir a realização das eleições presidenciais na Ucrânia. A chanceler alemã, Angela Merkel, também pediu aos membros da UE que permaneçam unidos no caso da ampliação das restrições.

“É importante que todos os Estados-membros da União Europeia mandem a mesma mensagem para a Rússia”, disse.

Durante a reunião em Viena, Deshchytsia pediu que seus colegas ajudem a “eliminar as ameaças externas e provocações” de Moscou para garantir que a votação ocorra. O Kremlin, no entanto, afirmou ser um “absurdo” que as eleições ocorram em meio à atual onda de violência no país.

Na terça-feira, a Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE) pediu um cessar-fogo para que as eleições aconteçam.

Aumento da violência

Tanto a França quanto a Alemanha manifestaram preocupações sobre a atual situação na Ucrânia. O presidente francês, François Hollande, alertou para o risco de uma guerra civil. “Se a eleição não ocorrer, haverá caos”, disse. Steinmeier também não descartou a possibilidade de um confronto militar.

O impasse diplomático ocorre em paralelo à intensificação da violência na Ucrânia. Em menos de uma semana, cerca de 90 pessoas morreram – a maioria rebeldes pró-Moscou.

Por enquanto, o presidente russo, Vladimir Putin, ainda não ordenou uma invasão para cumprir sua promessa de proteger a população ucraniana de origem russa. Porém, cerca de 40 mil soldados da Rússia continuam em prontidão perto da fronteira com a Ucrânia.

Os próximos dias podem ser decisivos para o conflito, já que separatistas na região de Donbass dizem que realizarão um referendo em 11 de maio para se separar da Ucrânia. A votação seria nos mesmos moldes da que definiu a anexação da Crimeia pela Rússia, em março.

RM/afp/dpa/rtr

Fonte: DW.DE