Empresas alemãs querem evitar novas sanções à Rússia

Agence France-Presse/Getty Images

A chanceler da Alemanha, Angela Merkel, está sob pressão do público e das empresas alemãs para adotar uma postura mais branda com a Rússia.

MATTHEW KARNITSCHNIG

Em sua visita à Casa Branca hoje para uma conversa sobre a crise da Ucrânia, Angela Merkel levará uma mensagem clara do lobby empresarial da Alemanha: chega de sanções.

A chanceler alemã já criticou repetidamente a Rússia por suas ações na Ucrânia e advertiu o Kremlin que este enfrentaria sérias consequências se não mudar de rumo. Mas Merkel, sob intensa pressão da indústria alemã, não chegou a apoiar sanções econômicas, optando por impor proibições de viagens e congelamento de bens de indivíduos com vínculos estreitos com o Kremlin.

Esta semana, Berlim liderou a oposição na União Europeia contra seguir os passos a de Washington e aplicar sanções contra 17 empresas russas ligadas ao presidente russo, Vladimir Putin, segundo pessoas a par do assunto. A resistência de Merkel contra medidas mais duras se manteve nos bastidores, mesmo depois que separatistas pró-russos tomaram como reféns vários observadores militares alemães, no leste da Ucrânia. A líder alemã, que falou por telefone com Putin sobre os reféns ontem, tem destacado a necessidade de mais diálogo e pediu uma diminuição das tensões.

A Alemanha não está sozinha na Europa na sua relutância em adotar uma linha mais dura com Moscou. A Itália e a Grécia também vêm resistindo a dar uma resposta mais agressiva, devido ao possível impacto sobre suas economias. Alguns dos aliados militares mais próximos dos Estados Unidos, incluindo Japão, Egito e Israel, também estão alertando o governo do presidente Barack Obama contra adotar medidas que poderiam romper definitivamente os vínculos de Putin com o Ocidente, segundo autoridades da Ásia e do Oriente Médio.

Mas o tamanho da Alemanha e seu peso econômico faz com que sua voz seja especialmente crucial.

Com a opinião pública alemã solidamente oposta a um confronto mais sério com a Rússia, Berlim enfrenta forte pressão interna para manter o status quo na sua postura em relação a Moscou. Sem o apoio alemão, as tentativas dos EUA de pressionar a Rússia com sanções e outras medidas ficará prejudicada.

“Merkel está vindo sabendo que enfrenta um intenso debate com os americanos”, disse John C. Kornblum, ex-embaixador dos EUA na Alemanha, que também já atuou como secretário de Estado adjunto para assuntos europeus.

Umas 6.200 empresas alemãs, desde gigantes industriais como a Volkswagen até pequenos fabricantes de máquinas de propriedade familiar, estão ativas na Rússia, mais do que em todo o restante da União Europeia. Muitas dessas empresas, tanto em público como nos bastidores, já advertiram que quaisquer sanções que afetem o comércio com a Rússia podem custar dezenas de milhares de empregos alemães e dar um duro golpe na economia, dizem autoridades em Berlim.

“Não há dúvida de que os interesses econômicos da Alemanha seriam mais bem servidos evitando-se as sanções”, disse Klaus-Jürgen Gern, economista do Instituto Kiel de Economia Mundial, renomada instituição alemã.

O crescimento econômico alemão pode cair em até dois pontos percentuais se forem aplicadas sanções severas contra a Rússia, segundo uma análise feita pelo Instituto Kiel. Segundo previsões econômicas atuais, isso poderia empurrar a maior economia da Europa para uma recessão.

Um rompimento nas relações comerciais da Alemanha com a Rússia poderia custar até 300.000 empregos alemães, de acordo com autoridades em Berlim.

O comércio bilateral da Alemanha com a Rússia é relativamente modesto, de 76 bilhões de euros (US$ 105,4 bilhões) em 2013. Mas a Alemanha importa da Rússia um terço do seu gás e do seu petróleo. Esse ponto é fundamental, disse Gern, já que a perda de acesso ao petróleo russo atingiria duramente a economia alemã.

A própria Rússia representa uma proporção bastante modesta, embora não irrelevante, da receita total da maioria das grandes empresas alemãs, incluindo a gigante dos químicos e o grupo de engenharia Siemens. O que esses números não refletem é a importância da Rússia como mercado em crescimento.

Num momento em que o mercado europeu está estagnado, a economia alemã, orientada para a exportação, depende mais do que nunca do crescimento dos principais mercados emergentes, incluindo a Rússia.

Herbert Hainer, diretor-presidente da Adidas, sugeriu que o Ocidente deveria ter se esforçado mais para negociar com Putin.

“Precisamos questionar se alguém como Putin não deveria ter sido incluído no processo muito antes, em vez de esperar até que já fosse tarde demais”, disse ele.

A Adidas, que equipou os atletas russos durante a era soviética, opera mais de 1.000 pontos de venda no país, onde gera mais de 1 bilhão de euros em faturamento. A empresa identifica a Rússia como um mercado de crescimento de importância vital, juntamente com a China e os EUA.

Na maioria dos países, seria muito incomum que executivos de empresas se imiscuíssem na geopolítica e em assuntos de segurança nacional. Mas para algumas das maiores empresas da Alemanha, o mercado doméstico vem perdendo importância. A Siemens, por exemplo, gerou no ano passado menos de 15% do seu faturamento total, de 77 bilhões de euros, na Alemanha, em comparação com 28% nas Américas.

Essa dinâmica vem tornando algumas empresas alemãs menos obrigadas a seguir os ditames do governo do país.

(Colaborou Jay Solomon.)

Fonte: The Wall Street Journal

 

3 Comentários

  1. O poder econômico faz o poder político, e a Alemanha já vinha dando sinais de neutralidade na questão das sanções, mas agora se colocará contra, um golpe no pomo de adão do Tio Sam, pois eles são nada mais nada menos que a maior economia da Europa. Os EUA perdendo sua posição de insubstituível para nação dependente. E nem vou entrar em outros parâmetros, pois Itália, Grécia ( e outros países ocultamente não desejam quebrar laços com a Rússia, dentre eles a Inglaterra, França, Japão) estão contra as sanções. Deu ruim pros States rsrs.

  2. Na verdade o empresariado alemao que depende do comercio com Russia sofrera prejuizo economico com as sancoes.Mas vao ter que sofrer calados, porque Alemanha perdeu sua independencia em 1945. Ainda nao surgiu um lider alemao que tem coragem de desafir os nortes americanos. se surgir vai ser fascista, como esta ocorrendo, na Franca.

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