EUA-Ucrânia: Assistência não-letal com final fatal

http://severpost.ru/docs/upload/1395743306.jpg

O vice-presidente dos Estados Unidos tem visitado a Ucrânia frequentemente nos últimos tempos. Desta vez, as autoridades de Kiev esperam ouvir de Joe Biden com o que Washington vai ajudar a revolução ucraniana.

Anteriormente, foi relatado que, além de uma vaga “promoção da reforma constitucional”, os norte-americanos estão dispostos a oferecer presentes “não-letais” ao exército ucraniano.

Analistas lembram que na Síria tal decisão da Casa Branca resultou em fornecimentos de armas antitanque a militantes da oposição. E há quem suspeite que na Ucrânia Washington irá escolher o caminho batido, armando radicais para “limpar” o sudeste do país.

O presidente dos Estados Unidos aprovou na semana passada o auxílio adicional ao exército ucraniano. Anteriormente, Washington enviou à Ucrânia rações para os militares. Agora a ajuda, segundo o Pentágono, também será “não-letal” – ou seja, não incluirá armas e sistemas de combate. Os militares ucranianos receberão ajuda na forma de medicamentos, capacetes e coletes à prova de balas, bem como colchões e geradores elétricos.

Mas hoje dificilmente se conseguirá aumentar a prontidão de combate do exército da Ucrânia apenas com rações. O Ministério da Defesa da Ucrânia anunciou que apenas 30% dos militares estão abastecidos com uniformes. O maior problema são coletes à prova de balas e capacetes de kevlar. Mas a França já prometeu fornecer esse material.

Entretanto, ainda está em questão se os equipamentos chegarão aos destinatários. As rações da OTAN estão à venda em mercados. E os soldados enviados ao sudeste para destruir os “separatistas” já há vários dias passam fome.

O estado do exército ucraniano foi avaliado pelo general Wesley Clark e pelo especialista do Pentágono Philip Carber, enviados para o local. Sua conclusão: a Ucrânia precisa de mais aviões, mísseis de defesa aérea e antitanque, aparelhos de visão noturna e combustível de aviação.

Seu relatório foi seguido pela decisão de Obama de ajudar o exército ucraniano. E aqui surge uma analogia com a Síria. Como se soube há poucos dias, a ajuda “não-letal” dos norte-americanos aos militantes da oposição síria incluía artigos inofensivos como sistemas antimísseis. E não há nenhuma garantia de que suprimentos humanitários para a Ucrânia não seguirão o mesmo roteiro, diz o analista militar Alexander Perendzhiev:

“Seria bom que nossos parceiros entendessem: as armas que estão sendo fornecidas à Ucrânia podem cair em quaisquer mãos. Não se trata de elas serem recebidas por estruturas oficiais. Forças radicais podem capturá-las e se apoderar delas. Isso já aconteceu na história dos Estados Unidos: eles armavam a Al-Qaeda, e agora Al-Qaeda ataca-os a eles. Assim que o desejo de prejudicar a Rússia pode atingir por bumerangue se não os Estados Unidos, então os estados que fazem fronteira com a Ucrânia – em particular a Polônia”.

Falando da Polônia: Varsóvia também está pedindo ajuda à OTAN – até mesmo pediu enviar um contingente militar adicional. Relatos de envio de unidades terrestres para a Polônia já apareceram na imprensa, mas o Pentágono desmentiu-os. No entanto, com uma ressalva: provavelmente, uma equipe de 150 pessoas será enviada para Polônia e Estônia para “exercícios conjuntos”.

Resumindo, tudo está seguindo o roteiro testado, acredita o analista militar sérvio Miroslav Lazanski:

“Sob a forma de armas não-letais pode-se fornecer qualquer coisa, e isso será simplesmente impossível de rastrear. Na verdade, o roteiro que vemos agora na Ucrânia foi previamente ensaiado na Iugoslávia e na Síria. Inicialmente, são tomadas diversas decisões do Congresso dos EUA, são efetuados fornecimentos de armas não-letais, e depois delas de armamentos de combate. Estão envolvidas nisto empresas militares privadas norte-americanas como a Blackwater ou a Military Professional Resources Incorporated, que operou também em território da ex-Iugoslávia”.

Segundo o perito sérvio, agências governamentais norte-americanas irão se distanciar de todo o processo, mas vão envolver ex-oficiais das forças armadas dos EUA. E aqueles, por sua vez, já utilizarão todos seus contatos no Pentágono e no Departamento de Estado dos EUA, em diversas instituições militares. Washington como que não usará força – tudo será feito pelas agências. Este padrão já foi há muito ensaiado em outros países.

Os políticos ucranianos, entretanto, estão competindo em eficácia de seus pedidos ao Ocidente. Por enquanto, mais longe de todos foi Yulia Tymoshenko: a líder do partido Pátria exigiu que o Congresso dos EUA “tomasse todas as medidas possíveis para apoiar a Ucrânia, proteger a sua soberania e integridade territorial”. Segundo Tymoshenko, a ajuda deve incluir, no mínimo, “equipamentos antiaéreos e antitanque, e treinamento do pessoal militar”.

Os congressistas valorizaram o zelo da “princesa laranja”. Ela teve mesmo que cancelar sua viagem aos Estados Unidos: como se soube, nenhum dos políticos mais ou menos influentes não encontrou tempo para se encontrar com Tymoshenko. Talvez estejam começando a entender que os Estados Unidos estão mais uma vez se envolvendo num conflito do qual terá que sair a custo de enormes perdas. Embora os congressistas dificilmente são tão prescientes: provavelmente decidiram agir mais sutilmente.

 

Fonte: Voz da Rússia

2 Comentários

Comentários não permitidos.