“Única barreira objetiva entre Rússia e Brasil é a distância” – Aleksêi Likhatchov

Presidente da delegação russa da comissão intergovernamental russo-brasileira e vice-ministro do Desenvolvimento Econômico, Aleksêi Likhatchov

Em visita oficial ao Brasil, o presidente da delegação russa da comissão intergovernamental russo-brasileira e vice-ministro do Desenvolvimento Econômico, Aleksêi Likhatchov, falou exclusivamente à Gazeta Russa sobre a expansão da cooperação econômica entre os dois países e as dificuldades existentes.

Gazeta Russa: Como o senhor avalia as relações russo-brasileiras hoje em dia? 

Aleksêi Likhatchov: Temos, em princípio, uma boa dinâmica de relações. Em médio prazo, as trocas comerciais aumentaram significativamente. De acordo com várias estimativas, o volume de negócio chega a US$ 5,5 bilhões. Também é considerável o nível de investimento feito por empresas russas na economia brasileira. Avaliamos esse valor em US$ 1,2 bilhão só em investimento direto acumulado. E esses não são os números de menor representatividade na estatística russa.

No entanto, se levarmos em consideração o valor das nossas economias, o número de habitantes do Brasil e o vasto território de ambos os países, é claro que estamos falando de um nível insuficiente.

Gazeta Russa: Os presidentes de ambos os países estabeleceram a meta de alcançar um volume de negócios na faixa de 10 bilhões de dólares. Existe algum obstáculo que impeça essa expansão? 

Likhatchov: Acho que existe apenas um entrave objetivo na nossa relação, uma barreira objetiva que impede o desenvolvimento: a distância física entre os nossos países. Todo o resto deve contribuir e promover o comércio. Eu e [o vice-ministro das Relações Exteriores do Brasil] Eduardo dos Santos discutimos detalhadamente questões relacionadas com o desenvolvimento comercial e as relações de investimento, e vemos uma abordagem com três frentes para resolver essa questão.

A primeira coisa que, na minha opinião, precisamos fazer não é fomentar o comércio no geral, mas escolher um conjunto específico de projetos de cooperação. Viemos aqui com uma missão empresarial séria. As empresas que participaram das negociações podem ser chamadas de “campeãs do mundo” em seus ramos de atividade. Estamos falando de companhias como a Rosneft, a Russian Railways e a Uralvagonzavod. Além das empresas indicadas, também a nossa indústria da engenharia mecânica, a Inter RAO e a Rosatom, entram nessa fileira de campeãs da economia russa.

A segunda abordagem está precisamente direcionada para a aproximação do nosso empresariado. E não apenas na troca entre missões empresariais, mas também o desenvolvimento de ferramentas de comércio eletrônico. Este é o amanhã do comércio global. A unificação da plataforma nas áreas comercias e a simplificação de acesso a instrumentos de compras on-line para as nossas empresas em uma base de reciprocidade podem trazer características inteiramente novas ao nosso comércio.

O terceiro e último ponto importante é a promoção sistêmica das trocas comerciais. Nós propusemos, e o lado brasileiro concordou, que é preciso desenvolver o diálogo entre as uniões econômicas. Refiro-me ao Mercosul, na América do Sul, e à União Aduaneira, entre Rússia, Bielorrússia e Cazaquistão no continente eurasiático.

Gazeta Russa: A Rússia é um dos maiores importadores de carne brasileira. Existem perspectivas de aumento das importações?

Likhatchov: No que se refere às importações da Rússia, temos situações um pouco diversas para diferentes grupos de produtos. As aves, como a indústria com a mais elevada rotatividade dos recursos investidos, está se desenvolvendo ativamente na Rússia. E não porque tenhamos alguma queixa em relação às entregas brasileiras, simplesmente a indústria nacional está se colocando no mercado competitivo.

Quanto à carne de gado, acredito que o Brasil tem ainda grande espaço de manobra. Mesmo assim, mais de metade de todas as nossas importações de carne bovina congelada vêm do Brasil, além de que o ritmo de crescimento do fornecimento de carne de vaca, tanto resfriada, como congelada, é extremamente elevado. Mas estamos prontos para consumir ainda mais.

Gazeta Russa: Este ano o Brasil vai sediar uma reunião de cúpula do Brics. Muito se fala sobre a criação de um banco de investimento e fundo monetário do grupo. Como o senhor vê as perspectivas para o surgimento desses órgãos na metade do ano? O que mais podemos esperar dessa cúpula?

Likhatchov: Os ministérios da Fazenda dos nossos países estão fazendo um árduo trabalho para redigir a documentação estatutária. Por enquanto, foi tomada a decisão sobre o capital autorizado do banco do Brics. O capital atribuído será de US$ 50 bilhões, composto por capital integralizado e capital exigível. Agora estão sendo discutidas questões tecnológicas, tais como a localização da sede e dos princípios de distribuição das ações entre os participantes. Espero que grande parte das questões seja resolvida diretamente na cúpula de Fortaleza. Não vamos antecipar os eventos, pois a palavra aqui pertence aos nossos governantes.

A segunda questão é sobre a agenda da cúpula. Sabemos que o principal tema de discussão proposto pelos brasileiros é o crescimento contínuo das economias dos nossos países, o que implica a participação ativa de todos os segmentos da população no desenvolvimento econômico e social, o acesso equitativo aos recursos nacionais para as empresas e os cidadãos. Temos grande interesse ​​nesse tópico e estamos trabalhando nele. No evento de Fortaleza também gostaríamos de avançar com a agenda econômica.

Gazeta Russa: Há planos de expandir a cooperação também no domínio da cultura?

Likhatchov: No ano passado foram realizados dias da cultura russa no Brasil, e este ano deve haver os dias da cultura brasileira na Rússia. Nós temos um imenso interesse tanto pela história animada desse país, como pelas formas de arte que alcançaram fama mundial. No Grande Salão do Conservatório de Moscou, em 2013, foi organizado um festival de bossa nova. Entre outras coisas, um fator indicativo foi o fato de ele ter sido patrocinado pelo conselho empresarial russo-brasileiro. Os russos gostam do Brasil, portanto, acho que as atividades planejadas terão grande adesão.

 

Fonte: Gazeta Russa

12 Comentários

  1. A melhor parceria que o Brasil pode querer é a formação do Bloco dos BRICS: o “MEBRICS” = Mercado Comum dos BRICS. Certamente é isto que o pseudo mundo (EUA e UE) não quer que aconteça. Os países que formam os BRICS, devido seu estado de desenvolvimento e tamanho de território e população são os melhores mercados, incontestável. Porém vai fazer entrar na moringa destes governos blá, blá de meia pataca que a oportunidade é agora, mais madura que nunca. Chega de comércio de colônia e vamos partir para o comércio equilibrado e sustentável.

    • Puxa!!! Conte-nos quais os os manufaturados que a Rússia, China, Índia e Africa do Sul importam do Brasil??

      Se fossemos um país serio, simplesmente fecharíamos a fronteira para as quinquilharias da China.

      • rsrsrsrsrsrsrs… a realidade, caro amigo, destróis corações idealistas que não se pautam com a realidade… e vc é um rapaz muito malvado… destrói a esquerdopatia nonsense… 🙂

  2. “Única barreira objetiva entre Rússia e Brasil é a distância” e os agentes da informação, oooooh! rsrsrsrs

    😀

  3. Seria interessante as os países componentes do BRICS se levassem mais a sério, principalmente nosso pais, que poucos passos dá em direção a esse alvo. Essa aliança ( se for bem firmada e enlaçada) pode alcançar o patamar de voz global, em miúdos, toda decisão importante em relação a qualquer assunto teria que passar no aval do Brics, pois nem o próprio EUA teria força política para retaliar uma aliança tão forte como essa ( claro, me valendo da suposição de que os países membro fossem mais unidos na causa do bloco) . Seria um avanço significativo, se países como China, Rússia Índia e Brasil se levantassem em favor da luta pelos direitos de países menos desenvolvidos terem acesso a uma real globalização com taxas e divisões mais justas ( o que seria bom pro bloco e pro mundo) haveria uma maior dependência de um país em relação ao outro e assim haveria mais respeito e seriedade no que cerne ao desenvolvimento econômico mundial.

  4. “A primeira coisa que, na minha opinião, precisamos fazer não é fomentar o comércio no geral, mas escolher um conjunto específico de projetos de cooperação. Viemos aqui com uma missão empresarial séria … Estamos falando de companhias como a Rosneft, a Russian Railways e a Uralvagonzavod”

    Só pra lembrar a quem não notou:
    Uralvagonzadov = T-90MS

    Sem segundas intenções.

  5. Interessante é que esses países estrangeiros se acham, e se acham, e adoram fazer propaganda enganosa de si mesmos.
    Já o Brasil burrinho até hoje não abrendeu (é abrendeu eerrado nesmo) nadica de nada de esconder seus defeitos, pelo contrário, dá ênfase a esse lado sinistro.
    O turismo em favela é o mais gritante de todos..!!!
    E então acontece algo engraçado…
    Os gringos quando chegam ao Brasil descobrem que aqui tem universidades, asfalto, hospitais, idioma escrito, e ficam estupefados, pois achavam que iam se deparar com florestas e povo raquítico e subdesenvolvido.
    Então:
    Vejam o que acontece com um intelectual russo (que deveria ser carregado de bom senso) ao conhecer fisicamente o Brasil, e não através de toda uma informação defeituosa e deturpada sobre nosso país que é o que ele deveria ter. https://www.youtube.com/watch?v=jZaCz-tF06g

    • Gostei muito do vídeo ViventtBR

      Sobre a forma como somos vistos lá fora, além dos problemas internos descritos por você, há verdadeira má vontade de se falar sobre as verdadeiras características do Brasil.

      Nesse vídeo que indicou, o entrevistado esteve em vários locais do país. No mínimo deve ter tido contato com os diversos sotaques que possuímos aqui e percebeu que temos muitas coisas em comum, apesar das diferencças regionais.

      Mas aí surge uma figura como aquele jornalista dinamaques, que ficou semanas em Fortaleza e, quando voltou para aquele cubo de gelo que ele chama de país, falou cobras e lagartos sobre nós.

      O PIOR É QUE O QUE ELE ESCREVEU ESTÁ REPERCUTINDO A DIAS NA NOSSA IMPRENSA COMO VERDADE!!!

      Apenas hoje eu achei um artigo na internet questionando as intenções do jornalista, que só viu as coisas ruins de uma cidade (ele acabou com Fortaleza), como se aquilo não fosse comum no mundo todo. E pra fechar essa coisa toda ele vai fazer um documentário sobre sua “horrível” experiência no Brasil, mesmo que não tenha conhecido direito nem a única cidade aonde ele esteve durante mais de trinta dias.

      Se não leu o que ele escreveu, segue um link.
      http://terceirotempo.bol.uol.com.br/noticias/jornalista-dinamarques-deixou-brasil-por-medo-e-promete-lancar-documentario

      O artigo criticando o que fez o jornalista
      http://www.brasil247.com/pt/247/artigos/137052/Há-algo-de-podre-na-vinda-do-jornalista-dinamarquês-Mikkel-Jensen-ao-Brasil.htm

      • Caro RobertoCR,
        Já tinha visto a notícia sobre o jornalista dinamarquês, na uol.
        O segundo link o li e acrescentaria o seguinte a fala de seu autor – WASHINGTON ARAÚJO
        .
        .
        .
        O que me pareceu dos comentários do dinamarquês é ele ser apenas mais um jornalista de araque entre muitos outros atualmente.
        Escrever para o mundo o que ele escreveu sobre assassinados encomendados de menores nas ruas do Brasil, cidade de Fortaleza, seria matéria seríssima para muito tempo de jornalismo investigativo, e não resultado de uma simples viagem e conversas de ocasião de turista.
        Mas pior…
        Qual de seus contatos foram referenciados e são confiáveis?
        Quais instituições públicas e privadas que tratam de segurança pública foram contatadas por ele?
        A não ser que rápidas fofocas maldosas e descompromissadas de rua possam ter credibilidade inabalável. E não se precise mais de confirmação para fatos graves.
        Será que ao menos ele entrou em contado com o necrotério de Fortaleza, para indagar sobre corpos de crianças de rua?
        Acredito que nem isso o jornalista de araque fez.

        A meu ver esse cidadão dinamarquês fez acusações graves e levianas… que acarretariam um processo público contra ele. Pois cadê a prova?
        E o ônus da prova é de quem acusa não é mesmo?.

        Moro em São Paulo, aposto que se eu for na região central, que reúne muitos moradores de rua, com vários deles que andam sempre drogados e ou alcoolizados, com a cabeça no mundo da Lua, e sair conversando com eles sobre sua situação de vida, eles vão me falar sobre cobras e lagardos. Mas se indagar das provas, nomes e tal… aí eles vão sair de fininho, para desaparecerem de minha frente, com suas fantasias e monstros existênciais.

        Temos defeitos sociais mesmo no Brasil, e coisas ruins que por todo mundo também ocorrem, mas dai a qualquer um sair falando coisas graves sem provas é demais.

        Sds!

    • Sinto que o país quer mas a trupe que está no poder federal não quer ouvir quem realmente manda, o povo…

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