Quem pagará por Kiev?

A Ucrânia está disposta a pagar pelo gás russo, mas não a 386 dólares por mil metros cúbicos, declara o Banco Nacional da Ucrânia. Ao que parece, as palavras do dirigente desta instituição, Stepan Kubiv, deveriam tranquilizar Moscou.

Ocidente ameaça a Rússia com sanções energéticas

Mas Kiev perdeu o direito ao desconto e o gás custa agora 100 dólares mais caro. Por outro lado, o governo ucraniano tem os cofres vazios e acumulou muitas dívidas. A Rússia não tenciona subsidiar mais a economia ucraniana, advertiu Vladimir Putin em sua mensagem aos líderes europeus, destacando que a crise ucraniana ameaça os fornecimentos de gás aos países da UE.

“Um Lannister paga sempre suas dívidas”, diz o lema do livro popular (e da série de televisão) de George Martin. A julgar pelas últimas declarações vindas da capital ucraniana, este drama fantástico também é popular entre os atuais dirigentes de Kiev. “A Ucrânia sempre pagou a tempo aos credores. Kiev pagará todas as dívidas, não pode ser diferente”, afirma o chefe do Banco Nacional. Mas se os personagens do Game of Thrones pagavam de fato as dívidas, tal situação no caso de Kiev parece fantástica.

A isenção de impostos alfandegários sobre o gás exportado para a Ucrânia já fazem parte da história. Graças às ações inteligentes dos “governantes” ucranianos, a Rússia teve de denunciar os chamados “acordos de Carcóvia” sobre a Frota do Mar Negro – agora o gás destinado à Ucrânia custa 485 dólares por mil metros cúbicos. Kiev não tem vontade de pagar e ameaça cortar o trânsito deste combustível para a Europa. Vladimir Putin encaminhou suas propostas aos líderes de 18 países europeus. O presidente advertiu que a incapacidade de Kiev de pagar pelo gás obriga a Rússia a limitar seus fornecimentos, o que pode ameaçar o transporte de combustível para os países da Europa.

Para a Gazprom é muito importante que os europeus participem da solução do problema da entrada de gás em depósitos ucranianos. Se este gás, com um valor de 5 bilhões de dólares, não for bombeado para os depósitos nos próximos meses, o trânsito para a Europa irá parar inevitavelmente no inverno e os consumidores atribuirão a culpa à Gazprom. Para prevenir a crise, será necessário realizar conversações urgentes entre a Rússia e os parceiros europeus. O Kremlin especificou que se trata de conversações com cada país europeu e não com um representante da Comissão Europeia, que ocupa uma posição estranha. Um patente exemplo de atividade desta instituição europeia foi o bloqueio real do projeto do gasoduto South Stream, embora a Gazprom tivesse acordado o projeto com todos os países participantes da UE. Contudo, é provável que a Comissão Europeia não tivesse avaliado a hipótese de ficar sem gás russo, aponta o vice-presidente do Centro de Modelos de Desenvolvimento Estratégico, Grigori Trofimchuk:

“A meu ver, mesmo nestas condições complexas, a Comissão Europeia irá procurar uma saída para esta situação, estudando em particular o transporte de gás pelo South Stream e todos os outros gasodutos. Em caso contrário, toda esta tensão irá refletir-se diretamente nos consumidores de gás russo na União Europeia. Em qualquer caso, será encontrada uma solução comum entre Bruxelas e Moscou. Porque a economia deve funcionar independentemente da política”.

Vladimir Putin fez lembrar na mensagem aos líderes europeus: só na esfera do gás, Moscou concedeu a Kiev vantagens e descontos sem precedentes no valor total de 17 bilhões de dólares sem cobrar ao mesmo tempo as multas no valor de 18 bilhões de dólares pelas reduções do volume contratual de gás. Ao mesmo tempo, durante os últimos anos a UE, diferentemente da Rússia, não concedia qualquer ajuda real à Ucrânia. A Europa utiliza a economia ucraniana como fonte de matérias-primas e mercado de venda de artigos fabricados. Por outro lado, Bruxelas contribuiu também para o desenvolvimento da crise política na Ucrânia, embora o papel dos EUA fosse maior, considera o analista-chefe do grupo de investimento Nord-Kapital, Roman Tkachuk:

“Os Estados Unidos não dependem do fornecimentos de gás russo e estão pressionando a Europa, obrigando-a a diminuir as compras à Rússia. Isso, naturalmente, não é vantajoso para a Europa. Possivelmente, o cenário radical é vantajoso para os EUA. É difícil adivinhar porque estão interligados muitos fatores. A Rússia é um importante fornecedor de produtos energéticos e é impossível proceder assim como no cenário iraniano, quando foi declarado um embargo em relação aos fornecimentos de petróleo daquele país. O mundo depende demasiado dos fornecimentos de petróleo e de gás da Rússia. Por isso, as partes buscam compromissos”.

Em opinião de peritos, Washington, como principal organizador da crise ucraniana, procura uma variante de redistribuir os fluxos de gás para a Europa, contornando a Rússia. Em particular, prosseguem as discussões em torno da reanimação do projeto Nabucco, já praticamente esquecido, o que, segundo os Estados Unidos, é necessário implementar o mais depressa possível, para isolar Moscou.

Os Estados Unidos reagiram rapidamente à mensagem de Vladimir Putin. O Departamento de Estado qualificou-a como chantagem e exigiu que não sejam utilizados os “mecanismos de formação de preços fora das leis de mercado”. Pergunte-se neste contexto o que iria fazer Washington no caso de fornecer gás e de não receber o pagamento por ele? Será que esperaria anos? Com certeza, seriam imediatamente utilizados os “mecanismos fora da lei de mercado” que a democracia pelo mundo propaga.

A Europa também reagiu. O comissário europeu da energia declarou que está sendo elaborado um “plano de concessão de ajuda à Ucrânia para pagar a dívida à Rússia”, prometendo envidar esforços para que não se formem novas dívidas. A reação pode até ser qualificada como adequada. A perspetiva de sofrer de frio em inverno sem gás russo faz os responsáveis voltarem a si.

 

Fonte: Voz da Rússia

2 Comentários

  1. Façam suas apostas… a queda de braços entre o ocidente e os russos vai começar… a pergunta é: quem precisa mais do outro… o ocidente do gás russo ou os russos do dinheiro do ocidente ???… sem contar com a oferta de GLP americano… e rolam os dados enquanto se escolhe de que lado ficar… na minha modesta opinião, perdem os dois lados e ganham os americanos que, querendo ou não, passam a ter uma base no quintal dos eslavos…

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