Por que a União Europeia não pode rejeitar o gás russo

Em Bruxelas, a Comissão Europeia está novamente discutindo a questão do abastecimento com  gás russo. Estão em pauta a confiabilidade, a base contratual e as formas de limitar a dependência. Enquanto isso, os EUA incitam a Europa a rejeitar o combustível russo. Em troca, o Canadá anuncia a intenção de exportar gás liquefeito (GNL), e a Ucrânia fala em reverter gás da Eslováquia.

Além das declarações de cunho político, não existe qualquer premissa de ordem econômica por trás dessas conversações. Mais que isso, ao contrário dos outros fornecedores, a Rússia continua sendo o único país capaz de aumentar o fornecimento de gás natural para a Europa.

Segundo o diretor-geral do Instituto da Energia Nacional, Serguêi Pravosudov, esse cenário fantasioso no qual o gás russo seria rejeitado poderá se concretizar somente se, em algum lugar do mundo, conseguirem descobrir como produzir energia barata através de fusão termonuclear, em escala industrial.

Cabe, então, analisar as perspectivas futuras do mercado de gás europeu com base nos volumes de combustível direcionados para a Europa ou que poderão surgir lá em um futuro próximo. Atualmente, o gás segue para a UE a partir de cinco grandes fornecedores. A Rússia ocupa o primeiro lugar, seguida pela Noruega, Argélia, Holanda e Qatar. “No ano passado, apenas dois fornecedores aumentaram o suprimento: Rússia e Holanda”, diz Pravosudov.

Além disso, a exportação de gás russo atingiu o volume recorde de 161,5 bilhões de metros cúbicos de gás, em comparação com 2012 (138,8 bilhões de metros cúbicos). O preço do produto foi reduzido, em média, em 5,5% e chegou a 380 dólares por 1000 metros cúbicos. A Holanda, por sua vez, declarou que futuramente irá reduzir o fornecimento em 20%, já que seus antigos depósitos estão se esgotando.

A Noruega também não promete um crescimento significativo e, a partir de 2020, reduzirá os gastos com prospecção de novas jazidas para aumentar a produção. Na Argélia, o consumo interno de gás está crescendo e, assim como o Qatar, está aumentando o fornecimento de GNL para a China, Coreia, Japão, onde o gás é muito mais caro. Desse modo, não sobra quase nada para a Europa.

Outra questão importante é a construção de terminais de recebimento de gás natural liquefeito na UE. As conversas sobre o recebimento de GNL já se prolongam há dez anos na Europa. Tanques especiais foram construídos, por exemplo, na Espanha, onde estão sendo preenchidos em até 30% de sua capacidade e os seus proprietários estão incorrendo em prejuízos.

Nesse contexto, Pravosudov acredita que a questão mais importante é se a América do Norte conseguirá lançar no mercado da UE o volume de gás natural liquefeito necessário, conforme prometido, e para isso aumentar a sua produção interna. A resposta é não, de acordo com a análise  do capital investido pelos EUA em exploração e perfuração de novos poços. Em 2013, a quantidade de perfurações foi a menor dos últimos 15 anos. Em comparação com 2008, diminuiu três vezes.

A queda abrupta da quantidade de perfurações, e paralelamente da produção de GNL, é explicada pelo crescente interesse dos americanos voltado à produção de gás de xisto e agora também ao petróleo de xisto, cujo custo nos EUA é de 70 dólares por barril. Apesar de ser muito difícil extraí-lo de rochas em grandes profundidades, os EUA conseguiram progressos nesse tipo de produção. Entretanto, a demanda interna por GLN, por parte dos motoristas e da indústria de energia, está crescendo no país.

Os especialistas afirmam que, nos próximos anos, os EUA não só não começarão a exportar GNL em grande escala, devido à diminuição da produção e do crescimento dos preços no mercado interno, como serão obrigados a aumentar a quantidade disponível desse produto, recorrendo ao vizinho Canadá – para quem os EUA serão prioridade.

Houve um tempo quando na UE elaboravam ‘roteiros’ e gráficos com prazos para redução potencial da quantidade de gás russo até 2050. O cálculo incluía a premissa de que até 2020, na Austrália, no Mediterrâneo Oriental e na Nova Guiné surgirá uma nova geração de usinas de gás natural liquefeito e parte da produção irá para a UE, concorrendo com o combustível russo”, explica o presidente do Instituto de Energia e Finanças, Vladímir Feiguin. “Por um lado, isso não é um processo rápido, por outro, as estimativas no plano econômico não foram concluídas. De modo geral, permanece como um problema estratégico.

 

Fonte: Gazeta Russa

2 Comentários

  1. Os desdobramentos frente a um possível corte no fornecimento de gás pela Rússia está gerando alguns exercícios bem interessantes. Arrisco afirmar que, se as alternativas sugeridas se mostrarem pouco viáveis, vão incluir a possibilidade aquisição de gás Boliviano através de terminais no Brasil ou Argentina.

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