UE e EUA endurecem sanções contra Rússia após referendo da Crimeia

A União Europeia e os Estados Unidos decidiram, nesta segunda-feira (17/03), aplicar novas sanções contra cidadãos russos e ucranianos, em reação ao referendo, da véspera, que determinou a independência da Crimeia em relação à Ucrânia.

Após uma reunião entre os 28 ministros de Relações Exteriores da UE em Bruxelas, o chefe da diplomacia alemã, Frank-Walter Steinmeier, disse que os 21 atingidos pelas novas medidas “foram responsáveis, de diferentes maneiras, pelo acirramento da crise na Crimeia”.

Trata-se de oito políticos de primeiro escalão da própria Crimeia, dez russos, sobretudo parlamentares, assim como o comandante da frota russa no Mar Negro e dois militares encarregados das operações no sul e oeste da península. As sanções, que incluem embargo de contas bancárias e proibição de entrada na UE, valem inicialmente por seis meses.

Paralelamente, o governo em Washington bloqueou todas as contas, propriedades, bens e rendimentos nos EUA de quatro políticos ucranianos e sete russos, entre os quais, o vice-primeiro-ministro Dimitri Rogozin. Também estão na lista dos sancionados o presidente ucraniano deposto Viktor Yanukovytch e Serguei Aksyonov, chefe do governo da Crimeia não reconhecido por Kiev.

Invocando o apoio da comunidade internacional, o presidente americano, Barack Obama, assegurou que seu país está pronto a aplicar até mesmo embargos econômicos, caso Moscou continue intervindo na Ucrânia.

“Vamos continuar a deixar claro que mais provocações não vão levar a nada, senão a um maior isolamento da Rússia e a uma diminuição de seu espaço no mundo”, disse Obama. “Se a Rússia continuar a interferir na Ucrânia, estaremos preparados para impor mais sanções.”

Moscou e Bruxelas se apressam

Segundo fontes do governo local, no referendo de domingo 96,8% da população decidiu pela independência da Crimeia em relação à Ucrânia. O Parlamento crimeano homologou a votação por unanimidade e já prepara a adesão à Federação Russa, a qual deve ser votada pela Duma na sexta-feira.

O presidente russo, Vladimir Putin, já assinou um decreto reconhecendo a Crimeia como um Estado soberano. E uma delegação da península no Mar Negro vai negociar em Moscou o cronograma para introdução do rublo russo como moeda.

Em contrapartida, a União Europeia anunciou para a sexta-feira a assinatura de um acordo de cooperação com a Ucrânia. Trata-se da parte política de um acordo de associação que vem sendo negociado há anos. As partes relativas a economia e livre-comércio só deverão ser abordadas depois das eleições presidenciais ucranianas, marcadas para 25 de maio.

A rodada de sanções em Bruxelas foi a segunda desde o início das tensões no Mar Negro: há uma semana, os ministros europeus do Exterior haviam decidido suspender provisoriamente as negociações com o Kremlin sobre a facilitação de vistos para russos na UE e sobre um acordo de parceria.

Os chefes de diplomacia europeus fizeram questão de enfatizar nesta segunda-feira que o bloco considera o referendo ilegítimo e irrelevante. A lista de candidatos a sanções originalmente proposta pela alta representante da União Europeia para política externa, Catherine Ashton, continha cem nomes. “Não podemos ficar sentados sem fazer nada”, declarou, ao abrir a conferência. Portanto, afirmou, cabia enviar a Moscou “o sinal mais forte possível”.

Manifestação patriótica em Moscou, contra interferência do Ocidente no Leste Europeu

“Onde é que isso vai acabar?”

O ministro luxemburguês do Exterior, Jean Asselborn, ressalvou que, embora não se fosse “abençoar algo que nasceu ilegalmente”, nem as mais fortes sanções poderiam mais forçar Moscou a se retirar da península. “Ninguém no mundo quer intervir militarmente, por isso é preciso reconhecer o que aconteceu, em termos de real-política, e dizer ‘basta’.” No momento, Asselborn também ocupa a presidência do Conselho de Segurança das Nações Unidas.

Steinmeier denunciou a “apropriação” da Crimeia pela Rússia como violação do direito internacional, e mostrou-se pessoalmente abalado com a veloz e dramática escalada dessa nova confrontação Leste-Oeste.

“Do ponto de vista política não posso entender, de forma alguma, que, sete décadas depois do fim da Segunda Guerra Mundial, nós vamos começar a corrigir fronteiras na Europa. Onde é que isso vai acabar?”, lamentou o ministro do Exterior alemão.

Júbilo com referendo na capital Simferopol. Ao centro, primeiro-ministro da Crimeia, Serguei Aksyonov

Referendo sob acusação de fraudes

O referendo do domingo na Crimeia, no qual cerca de 1,8 milhão de cidadãos estavam aptos a votar, foi acompanhado por inúmeros jornalistas internacionais. Os mais de 1.200 locais de votação, a maioria escolas, foram fortemente vigiados. A minoria dos muçulmanos tártaros convocara um boicote ao referendo.

Segundo a imprensa ucraniana, a votação teria sido manipulada pela Rússia. Cidadãos russos que não estariam nas listas de votantes foram incluídos de última hora para participar do referendo. A denúncia, no entanto, não pôde ser comprovada.

Já há duas semanas a Crimeia se encontra sob controle de milícias pró-russas e de soldados fortemente armados, aparentemente sob comando de Moscou. O governo de Vladimir Putin afirma defender o direito de autodeterminação da maioria russa na península e querer trazer a região de volta à sua terra natal. A Crimeia foi cedida à Ucrânia em 1954, porém há mais de 200 anos a cidade portuária de Sebastopol abriga a frota naval russa no Mar Negro.

Após o referendo, novos protestos aconteceram em diversas cidades do leste da Ucrânia, de forte tendência pró-russa: em Charkov, cerca de 3 mil manifestantes exigiram a realização de uma votação popular nos moldes da Crimeia. Em Donetsk, edifícios da administração pública foram alvos de ataques.

AV/dw/dpa/afp/rtr

 

Fonte: DW.DE

7 Comentários

  1. Teatro, tudo teatro.
    A UE e os EU tinha fatiado a Ucrânia, mas não contavam com essa reação dos Russos. Não defendo essa corja aí não, mas as potências ocidentais tentaram dar um golpe sujo também.
    Agora tem que ficar fazendo teatrinho aqui e alí para o cliente (Ucrânia) ver.
    E a nossa mídia papagaia só fala (repete as agências internacionais) de duas coisas, a Base Naval de Sevastopol (Para mostrar que o interesse russo é puramente belicoso) e as Terras Férteis da Ucrânia (para alimentarem os bons europeus).
    Balela, os vermes socialistas tem um grande litoral para o mar negro e se as condições da costa, como profundidade, não são das melhores, eles tem tecnologia para contornar isso.
    Já os europeus, como se sabe, subsidiam pesadamente sua agricultura e claramente não estariam interessados em importar alimentos, concordam? Já um radarziho ou um lançadorzinho de certo escudo….

  2. O tiro saiu pela culatra…. EUA e UE testaram mais uma vez o Putin e perderam, agora vem o choro. Não bastasse o que fizeram no Iraque, Libia e a tentativa da Síria foram bagunçar a Ucrânia e irritar o Urso…
    Não há santos neste teatro só gente gananciosa querendo provar quem influencia mais, quem domina mais .. quem pode mais!
    Ultimamente o ocidente só tem feito M… dando apoio a grupos extremistas, mercenários, radicais islâmicos e todo o tipo de escória para desestabilizar governos…. deixassem os Russos quietos e não estariam passando esta vergonha agora tampouco colocando o mundo em risco.

  3. Meus caros, isso tudo só é armação de cenário já desmontado, ou seja, em nada mais dará, é só questão de tempo até a poeira baixar. A minha preocupação hoje é mais latente quanto a nós, América do sul, pois devido aos entraves que os EUA estão enfrentando em toda a parte no mundo, estará obrigado a voltar suas atenções para o “quintal” deles, pois no meio de tamanha crise, terão que sacrificar um novo cordeiro , e que seja um cordeiro sem capacidades de defesa, e primordialmente…esteja fora do guarda chuva dos russos e dos chineses, e aí entramos nós, com riquezas suficientes para suprir a “máquina” americana, sem nenhuma capacidade ou poder de resistência, e totalmente libertinos na política, precisando de uma ” intervenção democrática contra a opressão política”. É triste, mas meus temores só se confirmam com o fato da Venezuela ter voltado ao senado americano como um dos assuntos principais, porém nosso país não terá esse problema ( pelo menos creio assim, segundo minha simplória percepção) devido a nossa política de bordel de subúrbio…ENTRE E COMA BARATO ( me perdoem os editores).
    Sds

Comentários não permitidos.