Ucrânia e Rússia concordam com trégua na Crimeia até 21 de março

Informação foi divulgada pelo ministro interino da Defesa da Ucrânia.
Região de maioria russa na Ucrânia fez referendo sobre anexação à Rússia.

Os governos da Rússia e Ucrânia concordaram com uma trégua na região separatista da Crimeia até o dia 21 de março, informou o ministro interino da Defesa da Ucrânia, Ihor Tenyukh. O território ucraniano realiza neste domingo (21) um referendo sobre uma possível anexação à Rússia – apesar de todos os protestos e das tentativas das potências ocidentais de impedir a votação. “Nenhuma medida será tomada contra nossas unidades militares na Crimeia durante esse tempo”, disse Tenyukh, segundo a agência de notícias Reuters.

A crise – a pior entre Ocidente e Oriente depois do fim da Guerra Fria – aumentou a tensão no leste da Ucrânia, onde ao menos duas pessoas morreram desde sexta-feira (14).

Entenda a crise na Crimeia (Foto: Arte/G1)

A Crimeia se tornou o foco da atenção internacional nas últimas semanas com uma escalada militar russa e ucraniana em seu território. As tensões separatistas da região, de maioria russa, se tornaram mais acirradas com a deposição do presidente ucraniano Viktor Yanukovich, em 22 de fevereiro – o que levou aRússia a aprovar o envio de tropas para “normalizar” a situação.

O premiê interino ucraniano, Arseny Yatseniuk, prometeu levar à Justiça todos que estão propagando o separatismo na Crimeia “acobertados pelas tropas russas”.

Para muitos russos, a Crimeia e a cidade Sebastopol, que no passado foi sitiada pelos invasores nazistas, têm grande importância emocional, por já terem sido parte do país e ainda terem a maioria de sua população de origem russa.

O primeiro-ministro da Crimeia, Sergei Aksyonov, cuja eleição não foi reconhecida pela Ucrânia, afirma que, apesar do clima tenso, há segurança  para a votação. “Acho que temos gente suficiente: mais de 10 mil pessoas nas forças de autodefesa, mais de 5 mil em diferentes unidades do Ministério do Interior e os serviços de segurança da República da Crimeia”, afirmou o premiê, segundo a agência de notícias Reuters.

Contra o referendo, o Parlamento ucraniano aprovou a dissolução da assembleia regional da Crimeia, e um líder nacionalista do Congresso em Kiev disse que a região precisa ser punida para impedir que haja mais movimentos separatistas no leste ucraniano.

E não é só a Ucrânia a insatisfeita com a consulta popular deste domingo. Os Estados Unidos e outros países ocidentais exigem que a Rússia recue suas tropas. Os EUA também suspenderam as transações comerciais com o país e cancelaram um acordo de cooperação militar com Moscou.

A Rússia é ameaçada também de ser expulsa do G8 (grupo dos países mais industrializados do mundo) caso mantenha sua posição no conflito contra a Ucrânia.

Neste sábado, um projeto de resolução do Conselho de Segurança da ONU que condenava o referendo acabou sendo arquivado. O documento recebeu 13 votos favoráveis dos 15 membros do Conselho, mas foi rejeitado devido ao veto da Rússia, que, como membro permanente, pode bloquear qualquer tipo de posição adotada nesta instância da ONU. A China se absteve.

O que pode acontecer?
O governo interino da Ucrânia denunciou uma possível invasão russa na Crimeia e pediu que a população não se levante ante às provocações. Segundo analistas, os russos moradores da Crimeia devem aprovar a anexação no referendo, e isso pode, sim, fazer com que a Rússia incorpore a região ao seu território.

“A maioria do povo da Crimeia, constituída pelos russos e russófonos [que falam russo], pretende pedir a adesão ao estado forte, rico e estável que é a Rússia”, disse em entrevista ao G1 o professor de relações internacionais da Universidade Federal do Rio de Janeiro Alexander Zhebit. Ele acredita que os russos podem defender melhor os direitos da região diante do “cenário da arbitrariedade e da falência do poder estatal no fim do governo de Yanukovich e no início do atual, cuja legitimidade é altamente questionável.”

Segundo ele, a Crimeia significa muito para a Rússia “devido aos vínculos humanos e culturais que ligam a Crimeia e a Rússia desde 1783”. Essa importância foi enfatizada na sexta-feira pelo ministro das Relações Exteriores russo, Serguei Lavrov, ao dizer que a Crimeia significa mais para a Rússia do que as Malvinas para a Grã-Bretanha.

Mas, apesar da empolgação russa para adquirir o território, o professor Zhebit não acha que a anexação só trará louros aos russos. “A curto e a médio prazos a Rússia poderá sentir efeitos políticos, econômicos e financeiros de desgaste, caso aceite a decisão do plebiscito.”

Reações e interesses

O Ocidente já anunciou sanções à Rússia e às lideranças da Crimeia, mas nada foi mencionado sobre o possível uso da força para impedir a anexação da região. Para o professor de história contemporânea da Universidade de São Paulo Angelo Segrillo, não deve haver um envolvimento militar. “Os interesses ocidentais são principalmente geopolíticos, pois há uma clara tentativa de aumentar a influência ocidental no leste da Europa e nas antigas repúblicas soviéticas. Economicamente, há a preocupação com a passagem do gás e petróleo russo para a Europa ocidental que se realiza, em parte considerável, por gasodutos/oleodutos na Ucrânia.”

O mesmo acredita o professor Zhebit. “O Ocidente não deve se envolver e não se envolverá militarmente na Ucrânia, porque não possui nem acordos militares nem interesses econômicos significativos na Ucrânia, nem tantos cidadãos dos países ocidentais no território da Ucrânia, cuja existência possa justificar ou respaldar qualquer ação deste tipo.”

Fonte: G1

14 Comentários

  1. O golpe que os EUA armaram para roubar a Ucrânia da Rússia e para integrá-la à OTAN e à União Europeia parece ter fracassado. A Rússia ficará com a Crimeia, agora com apoio de 93% da população ucraniana – o que torna impossível realizar o projeto dos EUA de espantar os russos para longe de Sebastopol e, portanto, também para longe do Oriente Médio.

    A ameaça dos russos (que não veio a público) de imediatamente invadir e anexar as províncias leste e sul da Ucrânia, empurrou os EUA a aceitar as condições russas mencionadas acima. A única alternativa, naquele caso, seria confronto militar que nem EUA nem os europeus querem arriscar. Apesar da campanha anti-russos na imprensa-empresa nos EUA, a maioria dos norte-americanos e dos europeus estão contra qualquer confrontação desse tipo. Como se vê agora, os EUA jamais tiveram as cartas que precisariam ter para vencer esse jogo.

    Se tudo correr bem e uma nova Constituição ucraniana satisfizer as condições que os russos impuseram e obtiveram, o “ocidente” no futuro poderá ser autorizado a pagar mensalmente, à Gazprom, as contas que a empresa continuará a enviar para o endereço de Kiev.

    Demorará algum tempo para implementar tudo isso. Que truques sujos os neoconservadores de Washington tentarão agora, para impedir esse desfecho pacífico?

    • “O golpe que os EUA armaram para roubar a Ucrânia da Rússia”

      Não sabia que a Ucrânia era propriedade da Rússia, quais serão as próximas retomadas da Ursa imperialista??? Letônia, Estônia e Lituânia?

      Talvez invadam a Finlândia novamente. o certo é a Rússia imperialista voltou e com muita fome de terra.

      Curioso o silencio do Brasil não?? Tão cheio de opinião na questão do Irã, Líbia e Síria, agora tão quietinho!!!!

      • Como disseram ontem no Hang out, com outras palavras:

        A Rússia começa na Ucrânia, mas precisamente em Kiev e não em Moscow. Por isso na cabeça dos russos e russófilos, Ucrânia é uma questão nacional, ou seja, é um problema russo e não do ocidente.

      • “Curioso o silencio do Brasil não?? Tão cheio de opinião na questão do Irã, Líbia e Síria, agora tão quietinho!!!!”

        O Brasil faz bem em ficar calado, pois o Brasil possui negócios com os 4 lados. Com os EUA, com UE, com a Ucrânia e muitos negócios com a Rússia.

      • Assista o 1º hang out do Plano Brasil!

        Todas as suas questões foram respondidas nele.

        Faça uma forcinha e assista….

        KKKKKKKKKKKKK!

        PS: Tá faltando água em SP!

      • Pra que que camelo quer beber água, nascimorto ???… ajude a salvar o mundo… morra de sede e salve o sapo cururu do bigode vermelho… 🙂

  2. Mudando de assunto, sem mudar muito….

    DE CÉREBROS E DE CYCLONES

    (Hoje em Dia) – A desestruturação da Ucrânia – os ucranianos estão devendo 170 bilhões de dólares e os russos estavam dispostos a ajudar quando começou a sabotagem ocidental no país – criará graves problemas, do ponto de vista estratégico, para o Brasil.

    O crescimento da influência norte-americana naquele país ameaça o desenvolvimento do projeto da Alcantara Cyclone Space, que previa o lançamento de satélites por foguetes ucraniano-brasileiros de grande porte, da Base Espacial de Alcântara, a partir do ano que vem.
    Em junho do ano passado, o governo federal autorizou o aumento do capital da empresa em um bilhão de reais, o que somado à contraparte ucraniana, chegaria a um bilhão de dólares. Dezenas de milhões já foram gastos, em obras, no Maranhão.
    Embora projetado para uso comercial, o Cyclone pode ter utilização militar. O episódio da ACS, nos deixa duas lições – a primeira, de que devemos estreitar nossa cooperação espacial e militar com os BRICS – se tivéssemos feito acordo semelhante com a Rússia ou os chineses, no lugar da Ucrânia, não estaríamos nessa situação.

    A segunda é a de que é muito mais efetivo – mesmo que leve mais tempo para dar resultados – importar maciçamente professores, técnicos e cientistas, do que peças como as de nossos foguetes que se encontram agora na Ucrânia.
    Caberia, neste momento, ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, à AEB, ao INPE, ao Ministério da Defesa, com o auxílio da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República, prepararem um plano emergencial para salvar esse programa.

    Os chineses, que tinham acordos para a fabricação de armamento com os ucranianos, retiraram, discreta e rapidamente, nos últimos dias, seu segundo 12322 Bisonte, da classe Zubr – um gigantesco Hovercraft de desembarque, capaz de transportar, em água ou terra, sobre colchão de ar, uma brigada de assalto composta de vários pequenos blindados e de 400 homens – do território ucraniano.

    Considerando-se a instabilidade na Ucrânia, e a perspectiva de um conflito militar com a Rússia, ou de uma guerra civil, é preciso transferir o que der do Cyclone 4 para o Brasil, começando pelos cérebros envolvidos no projeto.
    Não apenas na área aeroespacial, mas na fabricação de tanques, navios, mísseis, fuzis, metralhadoras, existem dezenas de empresas e centenas de especialistas que devem estar pensando, agora, em como sair da Ucrânia, para preservar seu trabalho e a sobrevivência de suas famílias.

    O MCTI, a ABIMDE, e as Empresas Estratégicas de Defesa, por meio de nossas representações em Kiev, Varsóvia, Berlim e Moscou, e do uso de redes sociais em russo e ucraniano, já deveriam estar tentando contatar e recrutar ao menos parte desses técnicos, e trazê-los para o Brasil.

    Alguém duvida que os homens da CIA e do FBI que estão dando “assistência” ao novo “governo” ucraniano já não estão fazendo exatamente isso naquele país?

    http://www.maurosantayana.com/2014/03/de-cerebros-e-de-cyclones.html

  3. Trégua se não foi disparado um tiro se quer até agora… Não é só quando temos combates que temos tréguas?? A imprensa nacional não para de me surpreender!!

    Isso está mais pra prevenção a conflito direto, é uma medida cautelar e não trégua!

    E a China se “Absteve”… tem coisa vindo por aí se o gato decidir pular na presa Ucraniana!

    E mesmo assim não apoio golpes de estado, invasões ou intervenções e financiamento de separatistas… Isso é inegociável!!

    Valeu!!

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