Crimeia é refém de Putin contra Ucrânia e Ocidente

Impondo sua presença militar na península, Rússia pode obter por meios brutais o que oposicionistas e aliados vinham tentando evitar há meses: certo poder de ingerência sobre o futuro da Ucrânia, opina Ingo Mannteufel.

Os acontecimentos se atropelaram nos últimos dias na República Autônoma da Crimeia, em território ucraniano, e os desdobramentos não vão parar por aí. Desde o início estava claro que os processos na Crimeia eram orquestrados por Moscou. Pois os bem organizados comandos armados – que, sem insígnias militares, ocuparam pontos nevrálgicos da península – agiam sob interesse do Kremlin.

O mesmo se aplica aos assim chamados políticos pró-russos da Crimeia, que assumiram o controle de fato, respaldados pelos comandos. Eles planejam a legitimação do desligamento da Ucrânia, no referendo marcado para 30 de março.

Acrescente-se a isso o cenário ameaçador que Moscou montou com manobras militares, declarações do Parlamento e a coletiva de imprensa do foragido ex-presidente ucraniano, Viktor Yanukovytch. Também isso contribui para a impressão de que se trata de ações orquestradas. O envio oficial de tropas russas é apenas a última prova da intervenção de Moscou naquela península no Mar Negro.

Metas de Putin e opções de Kiev

Com a “Operação Crimeia”, o Kremlin plantou uma armadilha extremamente perigosa para o Ocidente e para a nova liderança política em Kiev. Um rápido exame da estratégia e das opções de Vladimir Putin confirma essa tese: assumindo o controle sobre a Crimeia, o presidente russo persegue duas metas.

Ingo Mannteufel, chefe da redação russa da DW

Em primeiro lugar, Putin garantiu preventivamente as bases da frota russa no Mar Negro, antes que um novo governo em Kiev pudesse rescindir o contrato de estacionamento militar. Em segundo lugar, com a república como refém, a Rússia dispõe agora de um instrumento para pressionar o governo de Arseniy Yatsenyuk em Kiev.

Após a queda do presidente pró-Moscou Yanukovytch, com essa ação inescrupulosa e nefanda Putin pretende usurpar para si o direito de ingerir sobre o futuro político da Ucrânia. Caso o novo governo não ceda, é possível que ocorra na Crimeia o que já se viu na Transnístria ou na Abkházia: a formação de uma região separatista com estrutura de poder pró-russa e isolada da comunidade internacional, garantida por uma forte presença militar da Rússia.

Os novos governantes em Kiev se encontram agora diante de uma séria decisão. Uma ação militar do Exército ucraniano na Crimeia poderia acarretar uma catástrofe de proporções imprevisíveis. Impossível excluir consequências como o alastramento do conflito por todo o sul e leste da Ucrânia, uma desestabilização ainda maior da já frágil situação econômica do país, ou até mesmo uma guerra aberta entre a Rússia e a Ucrânia. Além disso, é bastante questionável se o Ocidente apoiaria uma solução militar.

Dilema do Ocidente

É fato que as primeiras declarações dos Estados Unidos e da União Europeia expressam indignação com as ocorrências na Crimeia. Palavras fortes, porém, surtirão pouco efeito. Há muito Putin não se importa mais com o que se diz ou se pensa no Ocidente a respeito dele. Além disso, o chefe do Kremlin apelará sempre para as supostas reivindicações dos cidadãos russos da Crimeia, em cuja defesa ele estaria agindo.

Isso resulta num incômodo dilema para o Ocidente. Uma possibilidade é ele responder com uma política de sanções palpáveis contra a Rússia, como restrições comerciais, proibição de ingresso nos países, bloqueios de contas bancárias, exclusão do G8.

Isso resultaria numa nova Guerra Fria, com inconvenientes restrições ao abastecimento de energia no Ocidente e subvenções bilionárias para a Ucrânia – como novo “Estado fronteiriço” entre dois blocos políticos em conflito. É difícil imaginar que, hoje em dia, os cidadãos das democracias ocidentais se submeteriam a tal coisa.

A outra opção para o Ocidente é, por enquanto, aceitar, tacitamente e de punhos cerrados, o novo papel de Moscou na Crimeia, submetendo o governo interino em Kiev a uma calma forçada e a negociações indesejadas com a Rússia. Neste caso, Putin teria conquistado por meios brutais aquilo que os oposicionistas a Yanukovytch e também a política ocidental vinham tentando evitar nos últimos meses: o direito a opinar nas negociações sobre o futuro político e econômico da Ucrânia.

 

 Fonte: DW.DE

3 Comentários

  1. Melhor Opção e Conduzir uma Intervenção Fazendo uso extremo da Força Militar Russa Afim de Eliminar os Novos Rebeldes Neo-nazistas que estão Controlando toda Cidade de Kiev que deixaram seus cidadãos a Merce da Sorte, Sem Policia, ou Serviço de Emergência nenhum,

  2. Artigo carregado de tolices…

    !º) Que fantasia é essa de imaginar uma possível radicalização de Moscou quanto a sua dominação da Criméia e posterior ingerência ostensiva na política interna ucraniana, e que teria uma possível retaliação ocidental via uma série de restrições comerciais e políticas contra a Rússia, o que ocasionaria uma volta da Guerra Fria e uma radical volta da separação Moscou X Ocidente…
    Ora! para o retorno desse antigo muro só se há milhares de bestas burras no Kremlin.
    Ou será que o desmoronamento da URSS totalmente quebrada e atrasada já foi esquecido? Se antes já era difícil para URSS se manter em pé. Como seria agora para uma Rússia isolada, e sem seus antigos países satélites, fazer negócios?
    Suposição futurista de alguém que desconhece um mínimo de história recente. Só pode ser isso com o articulista do artigo acima!
    Putin pode até estar meio convencido pelo êxito com a Síria, mas desmemoriado da história de sua própria nação aí já e outra coisa… Para refazer um esquema de jogo historicamente perdedor.

    2º)” Neste caso, Putin teria conquistado por meios brutais aquilo que os oposicionistas a Yanukovytch e também a política ocidental vinham tentando evitar nos últimos meses: o direito a opinar nas negociações sobre o futuro político e econômico da Ucrânia.”
    Nessa possibilidade Putin então posaria como vencedor… Besteira… Essa guerra nem começou e já tem outros vencedores.
    Que no caso, e de qualquer maneira não é e nem será Putin (a não ser para jornalistas idiotas que passam longe das reais engrenagens de poder do mundo). O grande vencedor desse verdadeiro imbróglio putinístico é o ocidente com seu Líder Alfa que dá cobertura para a indústria armamentista e a cúpula financeira internacional. Putin apenas está jogando exatamente as peças que lhe foram colocadas ardilosamente nas mãos.

    3º) “Além disso, o chefe do Kremlin apelará sempre para as supostas reivindicações dos cidadãos russos da Crimeia, em cuja defesa ele estaria agindo.”
    Bobagem, são cidadãos ucranianos apesar de falarem russo. Caso fossem russos… que estão fazendo com títulos de propriedade e famílias inteiras na Criméia, que querendo ou não é Ucrânia também. Essa desculpa seria cretina demais.
    (contudo a política está cheia de cretinices no mundo todo)

    Por fim… Quanto a essa conjectura:
    “Além disso, é bastante questionável se o Ocidente apoiaria uma solução militar.”
    É a única coisa de valor no artigo. Já que para o Ocidente (Lobo Alfa) não vale a pena se meter militarmente nessa verdadeira enrascada ucraniana, já que tudo o que ele precisa, para sua hegemonia de poder ser preservada contra a tal multipolaridade emergente, está saindo a contento.

  3. Acho que os únicos ‘reféns’ de Putim na Crimeia serão os tártaros que detestam Moscou…

    “possível que ocorra na Crimeia o que já se viu na Transnístria ou na Abkházia: a formação de uma região separatista com estrutura de poder pró-russa e isolada da comunidade internacional, garantida por uma forte presença militar da Rússia”

    Engana-se: A Crimeia será ABSORVIDA e INTEGRADA à Federação Russa (penso eu). O território abriga uma base da marinha muito importante para a Rússia e mantê-la como região isolada não seria uma boa opção (ainda mais com uma população de maioria Russa).

    ” Uma possibilidade é ele responder com uma política de sanções palpáveis contra a Rússia, como restrições comerciais, proibição de ingresso nos países, bloqueios de contas bancárias, exclusão do G8.”

    Será?? Eu duvido, tendo em vista o GÁS Russo que aquece o inverno Europeu.

    Por outro lado, acho difícil a Russia absorver os territórios de maioria Russa na Ucrânia (Sul e Leste), pois absorver territórios significaria absorver os haveres e DEVERES dos mesmos. Pergunto: a Rússia perderia parte de seus haveres para com a Ucrânia? Complicado…

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