Rafael Gomez*
Da BBC Brasil em São Paulo
O anúncio de que a Ucrânia havia chegado a um acordo político, na quinta-feira passada, representou uma grande vitória da diplomacia da União Europeia, que se envolveu em longas horas de discussões com o agora afastado presidente Viktor Yanukovych.
Mas o acordo veio com um preço, a potencial alienação da Rússia. Profundamente auspicioso foi o fato de que, na assinatura do acordo, estavam presentes representantes europeus, da oposição e Yanukovych – mas estava ausente o enviado presidencial russo, Vladimir Lukin, designado por Moscou para ajudar nos esforços de mediação.
Desde a assinatura do acordo, que prevê um governo de união nacional e a adoção da Constituição de 2004 (um pedido da oposição, para eliminar os superpoderes do presidente), as coisas mudaram. Yanukovych fugiu de Kiev e agora há um mandado de prisão contra ele. A oposição assumiu interinamente a presidência e eleições foram convocadas para 25 de maio, sem tempo hábil para uma reforma constitucional.
Até o momento, não houve reação pública do presidente Vladimir Putin a esses últimos desdobramentos. Já o primeiro-ministro russo, Dmitry Medvedev, declarou nesta segunda-feira que pairam dúvidas sobre “a legitimidade de um grande número de órgãos do poder” que agora funcionam em Kiev.
“Alguns de nossos parceiros do Ocidente, estrangeiros, pensam diferente. Trata-se de um tipo de aberração de percepção quando as pessoas chamam de legítimo o que é essencialmente o resultado de um motim armado.”
A oposição agora está com a faca e o queijo na mão, e não há muitos sinais de que pretende ceder parte do que angariou à elite pró-Rússia. A declaração do presidente interino, Olexandr Turchynov, de que “nós estamos prontos para um diálogo com a Rússia” veio acompanhada, com grande ênfase, de outras ressaltando que a Ucrânia escolheu a “opção europeia”.
Porém, a menos que as promessas de integrar a Rússia ao processo político se traduzam em medidas práticas e efetivas, a Ucrânia tende a permanecer em um estado de grande tensão, como já mostraram protestos contra a saída de Yanukovych, alguns com confrontos envolvendo manifestantes pró-Rússia e simpatizantes da oposição.
Posição frágil
Enquanto se preparam para as eleições antecipadas de 25 de maio, os opositores a Yanukovych terão que se ver no espelho e entender que a posição agora alcançada no poder é frágil.
Em primeiro lugar, embora a Ucrânia tenha reencontrado o caminho para integração com a União Europeia, isso não significa que a entrada no bloco europeu vá acontecer tão cedo. Muito pelo contrário.
Como ocorreu com todos os países do leste da Europa que buscaram entrar no bloco, a Ucrânia terá de adotar duras reformas políticas e econômicas para colocar a casa em ordem. Não há dúvida de que é um processo complicadíssimo em um país à beira da moratória e rachado ao meio por um confronto que quase descambou para a guerra civil.
As reformas econômicas vão começar com a pílula amarga das medidas de austeridade que a UE e o FMI certamente vão impor como contrapartida para a ajuda. A Rússia, que havia prometido US$ 15 bilhões, não deve mais ser tão benevolente.
A austeridade com certeza vai causar desconforto e prejudicar os novos governantes egressos da oposição. Não é toa que a ex-primeira-ministra Yulia Timoshenko abriu mão de voltar imediatamente ao cargo, preferindo se candidatar a presidente em maio. As medidas mais urgentes provavelmente serão muito impopulares, e ela precisará de uma mandato claro e sólido para implementar medidas adicionais.
Por outro lado, as reformas políticas vão exigir a engenharia de um sistema em que a parte pró-Rússia seja ouvida, participe do processo democrático. Como fazer isso? Essa é a questão mais complicada.
As opções da Rússia
A resposta a essa pergunta vai depender, provavelmente, de como a Rússia vai agir daqui para frente.
Como sempre, surpresas são possíveis, mas há dois caminhos básicos que Moscou pode trilhar agora: ou aceita o rumo dos acontecimentos na Ucrânia ou resiste a eles.
A primeira opção significa Moscou reconhecer sua derrota no processo político ucraniano. A partir disso, a diplomacia russa teria que fazer gestões de bastidores para que representantes pró-Rússia tenham uma participação significativa no governo de unidade nacional previsto no acordo da semana passada.
Paralelamente, autoridades russas, especialmente o presidente Putin, teriam que dar seu aval público aos desdobramentos no país, desta forma agindo para apaziguar os ânimos dos descontentes.
Mas isso não é o que parece estar acontecendo no momento.
A segunda opção é Moscou manter sua posição inicial de que o acordo político para resolver a crise foi “sequestrado” pela oposição. A Rússia poderia escalar sua pressão adotando sanções econômicas (elevar o preço do gás exportado à Ucrânia, por exemplo), ampliar a retórica política de condenação aos desdobramentos no país vizinho ou usar seu soft power, ou seja, mobilizar os seus simpatizantes na Ucrânia.
Assim, o Kremlin provavelmente incentivaria manifestantes pró-Rússia a irem às ruas cada vez mais, até que houvesse alguma concessão por parte dos novos detentores do poder.
As declarações desta quinta-feira de Medvedev indicam que este é o caminho que vem sendo seguido pela Rússia.
Há dois riscos nessa estratégia. A primeira é que a Rússia pode estar superestimando o ânimo dos manifestantes pró-russos em protestar ou mesmo sua capacidade de incentivá-los a ir às ruas.
Até agora, as manifestações dos pró-Yanukovych não se compararam às da oposição antes do acordo político da semana passada. Por outro lado, este pode ser só o início de um novo levante.
O outro risco é que, se a estratégia der certo demais, o país fique ainda mais dividido. Poderia haver protestos violentos no leste e no sul, poderia haver um boicote às eleições de maio. A Ucrânia poderia ter um novo cenário de confronto aberto e a possibilidade de divisão em dois países voltaria a pairar sobre os ucranianos.
Cabe a diplomatas estrangeiros, especialmente os europeus, tentar dissuadir a Rússia de continuar nesse caminho. Mas, dado o histórico de dificuldades nos contatos entre os dois lados, há razão para pessimismo quanto à evolução política na Ucrânia.
*Rafael Gomez é mestre em estudos da Rússia e da Europa Oriental pela Universidade de Birmingham, Reino Unido
Mais um artigo padrão “vazio de informações”.
O articulista cria mais um conto de fadas em que a Europa é o príncipe encantado que vai trazer nova vida a Cinderela ucraniana. Isso se a bruxa russa do mal deixar.
O problema é que o príncipe está de bolsos vazios pois o império ruiu em 2008. A Europa nao tem bala na agulha para segurar/influenciar os principais líderes que organizaram os protestos.
A atual oposição ucraniana, depois do vergonhoso movimento de debandada da base governamental, também não possue força para contrapor os ditos chefes da rebelião.
Ao fim das contas quem vai ter que “morrer” com a grana para financiar o novo regime será Barack “foda-se UE” Obama. A saber se o contribuinte norte-americano ficara feliz com mais um financiamento de grupos radicais para defender o tal mundo livre.
Estes “j”ênios defensores do mundo livre estão conseguindo duas proezas na UcrÂnia: (1) colocar a população cossaca da Ucrânia a favor dos russos (os cossacos tem, historicamente, péssimas relações com os russos), pois estes estão percebendo que podem ser ostilizados pelo novo grupo que controla o país; (2) provocar uma nova fuga de judeus da europa (ou de parte dela), por conta de fúria étnica disfarçada de nacionalismo (chefes religiosos da comunidade judia local estão aconselhando a saída dos judeus da Ucrânia para Israel ou, ao menos, para o leste do país – link no fim do texto), e aparentemente já ocorreram ataques a sinagogas.
E a pérola do artigo: “A Rússia poderia escalar sua pressão adotando sanções econômicas (elevar o preço do gás exportado à Ucrânia, por exemplo)…”. Se a Rússia aumentar o preço do gás apenas estará aplicando o preço regular de mercado internacional, já que o gás vendido à Ucrânia atualmente está cotado bem abaixo dos preços considerados normais. Mas para demonizar a Rússia vale tudo, principalmente depois da chacoalhada diplomática que UE e EUA tomaram no caso da Síria.
A saber qual será o comportamento dos arautos da civilização quando estes pseudo-nacionalistas começarem a dançar a sua própria dança, e não a determinada em Bruxelas ou Washington.
Abs
Links
22/02/2014 – Rabino pede para judeus de Kiev saírem da cidade.
http://www.haaretz.com/jewish-world/jewish-world-news/1.575732
25/02/2014 – Ataque com coquetel molotov a uma sinagoga em Zaporozhye, no sudeste da Ucrânia
http://www.haaretz.com/jewish-world/jewish-world-news/.premium-1.576230
Estou nesta mesma postura caro RobertoCR,
O marketing norte-americano sempre foi assim, demonizar os “inimigos”(nações que queremos derrubar ou tomar algo) e alienar a mente dos neutros e aliados com este mesmo pensamento.
A Rússia nunca foi algoz da Ucrânia, muito pelo contrário, sempre auxiliou este a progredir, investindo não poucos recursos intelectuais e financeiros neste país, querer por a Rússia como um país cruel nesta história, é querer chamar de imbecil os dotados de bom senso. Não sou contra as parcerias com a Europa, e nem a Rússia é, o porém é que a própria Europa está minando as melhores possibilidades de diálogos pacíficos, o que pode ocasionar realmente na divisão da Ucrânia.
Se fosse só a imprensa norte-americana atuando dessa forma até que estaríamos bem.
A nossa chega a fazer pior e ainda possa de vítima.
Aliás, a útima que estão aprontando, via internet, é de arrepiar a alma.
A revista francesa “France Football”, na edição dessa semana, traz uma reportagem sobre a copa no Brasil. A reportagem é crítica, destacando pontos bons e ruins e as dificuldades que o país está enfrentando para viabilizar o evento. Pois não é que muito site de notícias está espalhando uma relação pra lá de mentirosa, apresentando como a reportagem da revista?! Até lá no monte das três oliveiras eles deram uma forcinha pra essa bobagem que nasceu no feicibuqui (novidade!!).
O único que vi tentar apresentar o conteúdo da reportagem foi o site “O Informante”.
Então ARC, não estamos longe dos norte-americanos quando se fala em qualidade da imprensa.
Abs
Abaixo link para o post do O Informante
http://codinomeinformante.blogspot.com.br/2014/02/verdades-e-mentiras-sobre-o-especial-da.html
Outro frustrado por não escrever na trilogia…
A segunda opção é Moscou manter sua posição inicial de que o acordo político para resolver a crise foi “sequestrado” pela oposição. A Rússia poderia escalar sua pressão adotando sanções econômicas (elevar o preço do gás exportado à Ucrânia, por exemplo), ampliar a retórica política de condenação aos desdobramentos no país vizinho ou usar seu soft power, ou seja, mobilizar os seus simpatizantes na Ucrânia. ==== Ñ seria um aumento, já q o preço é o de mercado, o msm cobrado aos europeus, e a Ucrânia deve bilhões aos Russos referente a gás….essa é a historia por trás dos fatos,o resto e lenda urbana.A UE tem direito a influir, e essa influência e aceita e consentida pelos Ucrânianos, é o msm direito tem a Russia, até por razões conhecida por td…Sds.
Porque não podemos ficar reféns de governos totalitários: http://www.youtube.com/watch?v=g0ZRNOduHmc … as palavras desse cubano são irretocáveis e demonstram o qnto a ingerência de um governo alienígena em outro país é péssimo para a democracia do país alijado… temos que tomar cuidado com as más influencias do governo cubano dos castros em nosso país, senão, amanhã, teremos que agir como os ucranianos para restaurarmos nossa liberdade… FORA COM COMUNISTAS GOLPISTAS…
Baboseira da BBC como sempre…
De novo: vai rolar divisão territorial.