“Saab fará do Brasil um produtor de caças”, diz executivo de companhia sueca

PERkUSTVIK_SAAB_292Lennart Sindahl, presidente da divisão de Aeronáutica da Saab, prevê mais negócios no continente e participação de empresas do País

Jamil Chade, Enviado Especial – O Estado de São Paulo

ESTOCOLMO – “Queremos ver a indústria brasileira como parte da cadeia mundial de produção da Saab.” A declaração, que já antevê o papel do País com um produtor de caças de alto desempenho, é do presidente da divisão de Aeronáutica da empresa sueca Saab, Lennart Sindahl – o executivo que comandou com o governo brasileiro a negociação para a venda, avaliada em US$ 4,5 bilhões, de 36 caças Gripen NG para o Brasil. O desfecho do negócio deixou de lado as poderosas Boeing, americana, e Dassault, francesa. No pacote sueco, um elemento decisivo foi o compromisso de ampla transferência da tecnologia das aeronaves de combate para o Brasil.

Em entrevista exclusiva ao Estado na sede da Saab, em Estocolmo, o número 2 na hierarquia da empresa detalha de que forma se dará essa passagem de conhecimento. Segundo Sindahl, parte das peças produzidas no Brasil pode ser exportada até para a Suécia. No futuro, poderão ser feitos negócios com outros governos a partir da base no Brasil.

Sindahl admite que a Saab está ajudando a criar um futuro concorrente ao transferir a tecnologia para empresas brasileiras, como a Embraer. Mas ele se mostra pragmático: “Esses concorrentes em países emergentes surgirão com ou sem o nosso apoio”. O executivo não acredita que o jogo tenha virado a favor do Gripen por causa da denúncia de espionagem feita no Brasil por agências de segurança dos EUA. “A decisão foi sobre o que a Aeronáutica precisava e que cabia no orçamento.”

Um dos pontos centrais de sua proposta para a FAB é a transferência de tecnologia. Como isso vai ocorrer?
Já tivemos várias reuniões para ver como será o contrato. Temos de ouvir a Força Aérea de forma cuidadosa, saber seus pensamentos e necessidades, como pensa que deve ser a cooperação entre a Saab e as empresas brasileiras. Temos algumas ideias, mas cabe ao Brasil nos dizer o que quer. Temos como um dos cenários manter a linha de produção final no Brasil. Vamos dispor de uma instalação em São Bernardo, mas ainda falta detalhar como isso vai acontecer. A empresa local Akaer já faz parte desse esforço; eles desenham parte do avião. Certamente serão um dos parceiros. E outros virão.

Qual será a parte das empresas brasileiras no acordo?
Queremos ver a indústria brasileira como parte da cadeia mundial de produção da Saab. Além disso, poderíamos ver, se isso for de desejo da Aeronáutica, uma linha de produção no Brasil para os aviões que ficarão no Brasil e também para fornecer para outros aviões de outros países.

A montagem final seria no Brasil com peças vindas da Suécia?
Pode ser uma opção. Os aviões prontos poderiam sair de hangares no Brasil e voar diretamente de lá. Algumas peças viriam de fora. Peças produzidas no Brasil entrariam nos jatos brasileiros – mas também em aviões na Suécia ou na Suíça. Não queremos duplicar a produção. Se olharmos para a indústria brasileira, há no país uma cadeia de empresas que podem se aliar à produção do Gripen.

Fala-se que a FAB pensa em uma frota de mais de cem jatos.
Essa é uma pergunta para o comandante (Juniti) Saito. Também escutei a história de mais de cem aeronaves no futuro. Seria ótimo. Se esse for o caso, podemos desenvolver isso com a indústria brasileira. Eu digo: esses concorrentes vão surgir com ou sem a nossa participação. Temos que ver isso como oportunidade. No futuro, podemos cooperar e concorrer ao mesmo tempo. A Índia era um grande importador

O sr. vê o Brasil como um exportador no seu setor?
Certamente. O mesmo sucesso dos aviões comerciais brasileiros pode se repetir no setor militar. Já falamos sobre isso com o governo. Obviamente que, para o mercado sul-americano, trabalhar a partir do Brasil pode ser muito mais interessante que trabalhar a partir da Europa.

Quais os planos para a unidade da Saab em São Bernardo?
Estarei lá no final do mês para discutir essas instalações. O que veremos ali será a produção de partes, montagem.

O Brasil planeja alugar aviões para suprir suas necessidades até o Gripen ficar pronto em 2018. Como isso ocorrerá?
A Saab não é parte. Será algo entre os dois governos.

Como ocorrerá o pagamento dos 36 caças?
Uma opção é usar uma instituição que existe na Suécia para apoiar os exportadores. Nós seríamos financiados por eles e o Brasil pode pagar num período mais à frente. Temos muito trabalho por fazer ainda no avião e, assim, o Brasil pode começar a pagar só quando começar a receber.

O sr. acha que o escândalo da espionagem americana no Brasil foi decisivo na escolha?
Claro que é uma situação complicada, mas é de curto prazo. O Brasil e os EUA tem uma relação de longo prazo.

A Saab foi beneficiada?
Acho que não. A decisão foi sobre o que a Aeronáutica precisava e que cabia no orçamento

Foto: Lennart Sindahl, executivo da empresa que vendeu caças para o Brasil

Fonte: Estadão  

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Gripen na USAF

Por G-Loc

A USAF pretende substituir seus treinadores T-38 Talon com o programa T-X. Um dos concorrentes é a Boeing que se uniu a SAAB para propor uma versão de treinamento do Gripen. A Boeing cita que uma versão de treinamento do Gripen, sem radar, armas e sistemas defensivos, pode ter custos menores que o T-50 coreano.

Se vencer o programa T-X, o Gripen poderia ser escolhido para outras funções na USAF. Os cortes no orçamento podem levar a USAF a escolher uma aeronave de treinamento mais barata para ser usadas nos esquadrãos como caça acompanhante. Os pilotos voariam parte das horas em uma aeronave bem mais barata de operar que os atuais F-22, F-35 e F-15E.

Nos treinos de combate dissimilar, o Gripen de treinamento pode ser uma boa opção. Um caça pequeno e ágil é o adversário ideal e já estaria disponível nos esquadrões. As aeronaves bipostas costumam ser mais pesadas que as versões monopostas, mas sem radar e sistemas defensivos, o Gripen de treinamento poderia ser até mais leve.

O treinador também teria outra função nos treinamentos. Os pilotos de F-22 sempre sentiram a falta de uma aeronave convencional nos treinos de combate aéreo entre si. Um combate entre caças F-22 não é bem o que esperam em uma situação real e uma aeronave convencional faz falta. Os futuros esquadrões de F-35 terão o mesmo problema e concluíram que uma força de combate totalmente convencional não é desejável.

Os esquadrões de agressores são outra força que irá necessitar de uma aeronave convencional para substituir os atuais F-5E, F-16 e F-15 usados como agressores. O F-35 poderá fazer o papel de agressor furtivo, mas uma aeronave convencional será necessária para simular caças de segunda, terceira e quarta geração. O Gripen de treinamento poderia ser essa aeronave.

A Guarda Aérea Nacional americana seria outra força que se beneficiaria com uma versão com capacidade de combate do Gripen para substituir seus A-10 e F-16. O Gripen seria uma opção bem mais barata que os F-35. Futuros cortes no orçamento podem levar a compra de uma aeronave mais barata.

Os conflitos mais comuns que a USAF participa ou irá participar, como nas operações de contra-insurgência no Iraque, Afeganistão, Líbia e Mali, não exigem uma aeronave muito sofisticada como o F-22 e F-35. Até um Gripen NG pode ser considerado superdimensionado para a maioria das situações encontradas. Uma aeronave como o A-29 Super Tucano também seria interessante para a USAF.

A FAB planeja comprar uma frota bem grande de Gripen NG e poderia aproveitar a ideia com uma parte da frota sendo uma versão de treinamento bem mais simples como conversão operacional, LIFT, caça acompanhante e funções secundárias como reboque de alvos e reabastecimento tático com um sistema Buddy. A primeira vista parece um desperdício comprar uma aeronave relativamente cara apenas para treinamento, mas os caças são dimensionados para o combate real, apesar do dia a dia ser apenas treinamento.

Para se ter uma idéia dos custos, recentemente a Polônia comprou oito treinadores M-346 Master por US$ 374 milhões contra US$ 562 milhões do BAe Systems Hawk AJT e US$ 578 milhões do KAI T-50 Golden Eagle. O custo do Gripen de treinamento seria próximo do T-50, ou cerca de US$ 72 milhões por aeronave. Os Gripen NG comprados pela FAB custaram cerca de US$ 125 milhões cada um. A SAAB cita que o Gripen NG será mais barata que os Gripen C/D.

Fonte: Poder Aéreo