Estados Unidos precisam de um novo papel no Oriente Médio

Manifestantes egípcios dormem na linha de blindados na Praça Tahrir – Egito.

GERALD F. SEIB

Está ficando claro que a Primavera Árabe foi além de abalar as estruturas de poder do Oriente Médio. Ela deflagrou uma transformação total na região — transformação essa que reduziu a influência americana e acabou compelindo os Estados Unidos a repensar sua estratégia numa área que por meio século foi considerada essencial para os seus interesses.

A guerra civil da Síria está se expandindo para o Líbano e o Iraque, enfraquecendo os governos de ambos e provocando conflitos paralelos entre grupos armados sunitas e xiitas. O governo militar do Egito está se tornando mais autoritário e se colocando fora do alcance da influência americana. A Líbia deixou de ser um bizarro, mas no fundo estável, país governado por um ditador e virou um lugar sem controle de ninguém. O Iêmen, por sua vez, é um playground de extremistas islâmicos. E as monarquias do Golfo Pérsico, embora ainda estáveis, estão assustadas.

Tudo isso representa um virtual colapso das estruturas de poder do mundo árabe. Como observou Aaron David Miller, um assessor de longa data do Departamento de Estado dos EUA para o Oriente Médio e hoje vice-presidente do centro de estudos Wilson Center: “Os três países mais relevantes do Oriente Médio hoje — Turquia, Irã e Israel — não são árabes.”

Os acontecimentos equivalem a um terremoto numa região cuja estabilidade foi por décadas garantida pelo governo secular de ditadores no Egito, Iraque, Líbia, Iêmen, Síria e Tunísia. Alguns eram amigos dos EUA, alguns inimigos e outros vacilavam entre ambas as posições, mas todos proporcionavam a calma necessária para assegurar o fornecimento de petróleo.

Em teoria, tudo isso deveria significar boas notícias para os EUA. A derrubada de Saddam Hussein, no Iraque, e de Moammar Gadhafi, na Líbia, e a ameaça ao regime de Bashar al-Assad, na Síria, representam o enfraquecimento do que por muitos anos vinha sendo uma espécie de eixo do antiamericanismo árabe. Mas nada é tão simples no Oriente Médio e três problemas estão tornando essas mudanças problemáticas para o governo americano:

1. O colapso da estrutura de poder árabe abriu a porta para o aumento da influência iraniana — um legado da guerra do Iraque. Ela livrou o mundo de Saddam Hussein, mas deixou o caminho livre para o vizinho Irã.

2. A queda dos ditadores árabes não abriu caminho, pelo menos até agora, para a ascensão da democracia secular. Ao contrário, abriu caminho para extremistas islâmicos que os ditadores há muito reprimiam.

3. Como está se tornando cada vez mais claro na Síria, Líbano e Iraque, o terremoto liberou as tensões latentes entre os muçulmanos sunitas e xiitas. Saddam Hussein, no Iraque, e o regime da família Assad, na Síria, ajudaram a manter essas tensões sob controle para todo mundo. Isso acabou. A Arábia Saudita está cada vez mais financiando as facções sunitas na região e o Irã dando ajuda às xiitas, criando um tipo nocivo de conflito sectário em grande escala.

Essa mudança de dinâmica deveria suscitar um sério debate nacional sobre os interesses dos EUA no Oriente Médio numa nova era de menor dependência do petróleo do Oriente Médio, risco contínuo de terrorismo extremista islâmico e exaustão de intervenções militares na região. Os atuais debates sobre se seria sábio fechar um acordo nuclear com o Irã e sobre a intervenção na Síria se tornam complicados pela simples falta de consenso nacional em relação a interesses mais amplos dos EUA nos dias de hoje.

No momento, os EUA parecem ter uma capacidade ou um interesse limitado em interferir no curso natural das coisas. Mas a percepção de que os EUA podem conduzir os eventos na região, uma percepção que sempre foi um pouco exagerada, está desaparecendo.

Muito da influência americana resultou da crença de que os EUA poderiam, e iriam, intervir militarmente para realinhar o equilíbrio de poder na região. Após a exaustão gerada por mais de dez anos de combate no Iraque e no Afeganistão e logo depois de uma decisão consciente de não intervir para ajudar os rebeldes na guerra civil da Síria, essa idéia simplesmente não é levada sério.

Mais que isso, não está claro se a sociedade americana se importa tanto assim. Os EUA estão produzindo mais energia dentro de casa, os amigos de Washington em Israel parecem estar seguros e a memória dos ataques terroristas está desaparecendo.

Infelizmente, essa é uma visão míope. Os EUA têm um profundo interesse na saúde de uma economia global que ainda depende do petróleo do Oriente Médio. Os perigos do extremismo islâmico, na verdade, estão em ascensão, não em declínio. E agora existe o perigo real de uma corrida armamentista nuclear regional desestabilizadora nas próximas décadas, iniciada pelo Irã.

Os americanos têm um papel nisso tudo, queiram ou não. “Vamos ser claros”, diz Miller. “Estamos presos numa região que não podemos consertar ou abandonar.”

No passado, iniciar uma discussão nacional sobre tudo isso seria uma responsabilidade da Comissão de Relações Exteriores do Senado americano. Talvez possa ser novamente.

 

Fonte: Wall Street Journal

 

16 Comentários

  1. titulo do texto : os estados unidos precisam de um novo papel no oriente medio
    resposta: só se for papel higiênico , pois ele só fizeram c@g@d@ !!!!

  2. Não se trata de exercerum novo papel mas sim de voltar a exercer o papel de sempre. Já as lambanças da região, eram muito por obra e graça da antiga URSS, que armava funestas ditaduras árabes como o Egito de Nasser e a Siria de Assad pai e filho.

  3. HMS_TIRELESS
    8 de janeiro de 2014 at 12:03

    Não se trata de exercerum novo papel mas sim de voltar a exercer o papel de sempre. Já as lambanças da região, eram muito por obra e graça da antiga URSS, que armava funestas ditaduras árabes como o Egito de Nasser e a Siria de Assad pai e filho. === O Sadat tbm é considerado um ditador, foram + de 30 anos no poder no Egito…e como o povo apanhava, e em tudo, ou ñ?!

  4. Senhores ressentidos ,saudaçoes ! A primavera arabe foi orquestada por estudantes blogueiros e alguns movimentos sociais, mas no entanto os extremistas que do bobo nao possuem nada (afinal sao bestas ferais),aproveitaram os movimentos e se infiltaram (como ja eh de habito,utilizam civis racionais para alcançar seus objetivos),os comuns nao perceberam e quando acordarm ,ja estavam dominados novamente,nao por milicos mas por radicais disfarçados de chapeuzinho vermelho, os EUA tentou um contra golpe mas falhou por causa do excesso discreto, deu no que deu,na tunisia a coisa foi mais tenue .Na libia se iniciou a lambança,o ocidente simplesmente tentou uma jogada de MIGUEH, fingindo ser amigo dos primaveristas,mas a intençao era tirar o beduino do poder e colocar algumas bestas semidomesticadas (falharam) deu merd., quase fizeram a mesma lambança na siria (devem este favor ao putin),por tudo isto eh natural que o amado e invejado UNID STATES OF AMERICA ,fique com um pezinho atras e torcendo para que seus muy amigos sauditas resolvam a pendenga,uma vez que os nobres temem os extremistas ,estes odeiam os NAO RELIGIOSOS ,botando isto na balança,nao esquecendo as novas fontes de energia , os EUA aguardarao os movimentos, enquanto as bestas se matam,eles aguardam uma requisiçao de ajuda e investem na recuperaçao da economia .Se enganam aqueles que pensam que o IMPERIO foge , na realidade o IMPERIO possui problemas mais urgentes para serem solucionados, a china eh o alvo !

    • Mas o contra golpe não foi a queda do ex presidente da Irmandade Muçulmana? O que temos agora não é exatamente um governo apoiado pelos EUA?

      • O contra golpe foi a inclusao de candidatos ligados a Mubarak, a suprema corte aprovou a candidatura,alem eh claro ,do apoio que os sauditas deram ao terceiro candidato que foi para o segundo turno, a depossiçao de Mursi nao foi um contra golpe deliberado por americanos, o golpe teve as concordancia saudita , afinal, os nobres nao vinham com bons olhos a ascensao de extremistas , apesar dsa Reino utilizar os imbecis extremistas ,o reino nao via com bons olhos um estado governado pelos mesmos ,podendo ter implicaçoes internas no reino !

      • é mesmo teropodre ,mas isruel putenfia entra aonde nisso só entrou os yankes e os sauditas ,mas você se esqueceu dos isruel putenfia
        mas entendi la no trollogia ninguém falou isso para você rsrsrsrs

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