Washington Post: Snowden considera sua missão cumprida

Em entrevista ao “Washington Post”, Snowden considera positivo o debate causado após o vazamento de informações sigilosas que provocaram atritos diplomáticos entre EUA e parceiros.

Meio ano depois de suas primeiras revelações, Edward Snowden qualificou como positiva a decisão de divulgar documentos sigilosos dos serviços secretos dos Estados Unidos, segundo declarou o ex-técnico da Agência Nacional de Segurança dos EUA (NSA, em inglês) em entrevista publicada no jornal Washington Post nesta terça-feira (24/12).

O debate gerado após o vazamento das informações levou Snowden a considerar sua “missão cumprida”. O caso provocou um escândalo diplomático ao revelar que os serviços de inteligência norte-americanos haviam vigiado milhões de comunicações, incluindo as de líderes políticos como a chanceler federal alemã, Angela Merkel, e a presidente Dilma Rousseff.

“Para mim, em termos de satisfação pessoal, a missão já foi cumprida. Já venci”, disse Snowden em Moscou, em entrevista exclusiva ao jornal. Ele afirmou, ainda, que “não queria mudar a sociedade”, mas dar a ela “a oportunidade de determinar se deveria mudar a si mesma”.

Na primeira entrevista concedida pessoalmente desde que chegou asilado à Rússia no mês de junho, Snowden insistiu que seu objetivo “era que os cidadãos pudessem dar sua opinião sobre como ser governados”.

Snowden rejeita rótulo de “traidor”

Na entrevista ao jornal, Snowden rechaçou as acusações feitas por alguns legisladores dos EUA, que o qualificam de “traidor” e o acusam de entregar documentos secretos a países como Rússia e China. Os americanos o acusam de espionagem e roubo de propriedade do governo e exigem sua extradição pelo governo russo.

“Não estou tentando destruir os Estados Unidos, eu trabalho para melhorar a NSA”, argumenta Snowden. “Na verdade, eu continuo trabalhando para a NSA, eles são os únicos que não se dão conta disso.”

Snowden explicou que, em pelo menos duas ocasiões, questionou seus superiores sobre a magnitude dos programas de espionagem e a falta de controle sobre eles, mas foi desacreditado.

“Acho que o custo de um debate público franco sobre os poderes do nosso governo é menor que o suposto perigo de permitir que estes poderes continuem crescendo em segredo”, declarou.

Vida austera na Rússia

Atualmente, Snowden se encontra em lugar desconhecido na Rússia. Ele havia chegado ao país procedente de Hong Kong e recebeu asilo do governo russo depois de passar várias semanas na zona de trânsito do aeroporto de Sheremetyevo.

O ex-técnico da NSA disse que a sua ideia era viajar até a América do Sul, mas a decisão de Washington de invalidar seu passaporte não lhe deixou outra opção que não fosse a de permanecer na Rússia.

Ele contou que leva uma vida “ascética” em Moscou, concentrada em livros e internet, o que, segundo ele, não é um problema, já que nunca teve necessidade de sair com muita frequência.

“Sempre foi difícil me tirar de casa. Não tenho muitas necessidades. Ocasionalmente há coisas para fazer, ver, pessoas para encontrar. Mas se eu puder ficar sentado, pensando, escrevendo e conversando com alguém, para mim isso tem mais significado do que sair para passear”, afirmou.

O presidente norte-americano Barack Obama qualificou na semana passada o vazamento de informações por Snowden como um “dano desnecessário” ao trabalho dos serviços secretos e da diplomacia. No entanto, reconheceu que a coleta de dados e escutas da NSA abalaram a confiança dos americanos e dos parceiros estrangeiros.

Um grupo de especialistas apresentou a Obama 46 propostas de mudanças no trabalho dos serviços secretos, entre elas, uma maior limitação na espionagem de chefes de Estado estrangeiros. O presidente anunciou que haverá reformas no próximo ano.

FC/efe/dpa/rtr

Fonte: DW.DE

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