Transformar soldados em missionários realmente não é a melhor maneira de Fazer Guerra

Vadim Fersovich

Enquanto o presidente do Afeganistão exige endurecer as restrições para as tropas dos EUA no território desse país, as “regras do jogo” existentes levam à morte e ferimentos dos próprios militares estrangeiros.

No início de 2014, na Câmara dos Representantes dos Estados Unidos será realizado um inquérito sobre os eventos de 06 de agosto de 2011 no Afeganistão. Naquele dia os talibãs abateram um helicóptero de transporte militar norte-americano CH-47D Chinook. Morreram todas 38 pessoas que estavam a bordo, incluindo 17 combatentes do SEAL Team Six. Aquele não foi apenas “o pior dia da guerra” dos EUA no Afeganistão, mas também a maior perda de forças de operações especiais dos Estados Unidos nos 25 anos de sua existência. A tragédia não teria acontecido se durante a realização daquela operação especial o comando não teria pedido reforços. Esses reforços foram mandados naquele helicóptero. Mas não teria havido necessidade em forças adicionais se não fossem as atuais regras de engajamento (ROE, na sigla inglesa). Elas não autorizam a abrir fogo contra o inimigo sem confirmar que ele está armado e representa uma ameaça evidente. Neste caso, as ordens foram de apanhar os talibãs que recuavam, e não de destruí-los. Para isso foram necessários reforços. Além disso, após o tiro fatal, o piloto do helicóptero de combate que acompanhava o Chinook não tinha o direito de disparar contra o prédio onde estava o atirador com o morteiro, porque lá dentro poderia haver civis.

É claro que em teoria, estas regras deveriam minimizar as baixas entre civis e atraí-los para o lado dos norte-americanos. Muitos países europeus se recusam a admitir que eles enviam seus soldados para a guerra, chamando-os de forças de paz e proibindo-lhes qualquer iniciativa em combate. Mas, na prática, essas regras só reduzem a eficácia das ações das tropas, a sua moral. Quantas reivindicações houve para com os contingentes alemão, italiano e outros pela sua “passividade”? E o que deviam eles fazer, quando para participar em combates era necessária uma longa aprovação nos quarteis e parlamentos europeus?

Em todos os “pontos quentes” onde estão atuando contingentes da OTAN e dos Estados Unidos sabe-se das ROE. No Mali e na República Centro-Africana, os separatistas, quando se deslocam, retiram as metralhadoras de seus jipes, e os atiradores de helicópteros franceses não têm o direito de abrir fogo sobre eles. Na Somália, durante a operação SEAL, o chefe dos rebeldes reuniu em torno de si mulheres e crianças, e sua captura foi cancelada.

Entretanto, o inimigo está conduzindo uma guerra muito diferente. Entre a população civil, o número de vítimas de ataques terroristas contra alvos militares e civis no Afeganistão, Iêmen, Iraque e outros países é estimado já na casa dos milhares. Mas os políticos não mudam as regras do jogo. Além disso, realizam em todos os lugares experimentos com suas próprias tropas buscando estratégias de “ganhar corações e mentes” da população. No Afeganistão, essa estratégia assume que a população deixará de apoiar o Taliban depois de milhares de soldados da coalizão saírem de seus veículos blindados e irem a pé estabelecer boas relações com a população local. O principal resultado é um brusco aumento na quantidade de lesões gravíssimas e baixas nas forças da coalizão causadas por dispositivos explosivos. Em 2008-2009 subiram para 60%, e até agora constituem pelo menos metade das perdas totais. E foi a ideia reconhecida como fracassada e cancelada? Não. Depois de anos de combates difíceis as tropas forma simplesmente retiradas da área da “guerra de minas”.

Ainda na primavera de 2012 Kimberly Dvorak escreveu no Examiner: “A experiência de anteriores guerras contra militantes no Vietnã e no Iraque mostrou claramente aos norte-americanos que com o envolvimento em combates de forças externas terceiras (EUA e OTAN) a estratégia de “ganhar corações e mentes” faz a vitória impossível. Quando a população local odeia o seu próprio governo, passa a sua insatisfação para os ocupantes também, o que elimina qualquer chance de vencer. Infelizmente para os norte-americanos, é justamente isso que está sucedendo no Afeganistão.”

“Amai a vossos inimigos, bendizei os que vos maldizem, fazei bem aos que vos odeiam, e orai pelos que vos perseguem e caluniam” (Mateus 5:44). Estas palavras dirigidas aos primeiros pregadores cristãos, ainda não são completamente adequadas para dar ordens a soldados de forças expedicionárias. As tentativas de transformar soldados em missionários realmente não é a melhor maneira de fazer guerra, que por enquanto ainda começa tradicionalmente com golpes de Tomahawks.

Titulo original desta matéria: Quando a política mata

 

Fonte: Voz da Rússia

3 Comentários

  1. O título original do artigo realmente é o mais apropriado: “Quando a política mata”.

    Essa bobagem de guerra assimétrica é uma excrecência que só tem como objetivo limitar os danos políticos, a curto e médio prazo, nos países que promovem estas intervenções armadas, seja via OTAN, seja via ONU.

    Como se pode exigir de um piloto de helicóptero – por maior que seja a tecnologia disponível, que identifique que uma casa, vilarejo, veículo, é um elemento hostil? É simpesmente impossível. Quer pegar alguém que se esconde atrás de um escudo humano? Tropas no chão, não há outro jeito.

    Se o objetivo é controlar um ambiente é necessário por “as botas no terreno”. Mas aí, como bem lembra o artigo “O principal resultado é um brusco aumento na quantidade de lesões gravíssimas e baixas nas forças da coalizão…”. E se tem coisa que político detesta é ser associado a morte de eleitores ou de seus parentes.

    É por isso que é imposível acreditar no objetivo “oficial” destes conflitos. Ninguém está atrás de terrorista. O que se quer é apenas criar turbulência suficiente para minar a possibilidade de estabilização social e, consequentemente, o desenvolvimento de uma população para que o controle econômico seja estabelecido de acordo com as regras do interventor.

    Colonialismo modelo século XXI.

  2. O kasacai está certo, caso contrario, ñ terá como se defender perante os telebans…e td os estrangeiros dentro do territorio Afegão tem de ser julgados pelas leis do país, se cometar um crime , vide o Japão.Os tebans vão fustigar os invasores c atakes constantes e q estiver junto vai pro ralo…quem viver vera.Sds.

  3. Não existe solução fácil.. Os yankees tentam uma abordagem mais “humana” e não está dando certo, os soviéticos usaram a abordagem arrasa quarteirão matando 100 para garantir a morte de 1 e não funcionou. Difícil, muito difícil..

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