Gás de xisto, solução ou problema?

Shale Expresso003

Fernando Siqueira

Cerca de 240 lotes de reservas de gás convencional e não convencional foram leiloados, nos últimos dias 28 e 29 de novembro, este último chamado impropriamente de gás de xisto (na verdade, chama-se folhelho), atualmente muito explorado nos Estados Unidos, que buscam alternativas internas e no mundo para preservar as suas reservas de petróleo. O que o Brasil pretende com isso? Desenvolver mais tecnologia nessa área? Impactar mais ainda o caixa da Petrobras, que vem sendo usado para cumprir política monetária e fiscal do governo? É necessário entrar nessa corrida com as reservas de gás convencional que se possui? A Petrobras acabou ficando com a maior parte dos lotes. Apenas 70 foram arrematados, porque, afinal, quem iria arcar com os custos da transmissão, entre outros?

No entanto, o mais importante ponto do processo são as consequências dessa exploração. Apenas para esclarecimento, o xisto é um tipo de rocha, cujas características de permeabilidade são piores do que o granito, o que exige um processo especial de produção, o chamado faturamento hidráulico – jatos d’água, areia e produtos químicos em alta pressão.

As instituições ambientalistas, oficiais e não oficiais, devem ser protagonistas nesse cenário em que a exploração é mais danosa ao meio ambiente do que a das reservas fósseis. Ficou claro para todos que o processo de exploração do gás de xisto é de alto risco para a preservação ambiental por vários motivos:

1. A produção exige o faturamento da rocha por injeção de água com um coquetel de aditivos químicos altamente agressivos ao meio ambiente.

2. A pressão de faturamento supera 10.000 psi (libras por polegada quadrada), daí não se ter controle do faturamento, o que põe em risco a segurança ambiental, visto que, tanto o gás produzido quanto a água já então contaminados podem vazar para o terreno, lençóis subterrâneos de água ou rios próximos.

3. As principais reservas do Brasil estão sob os grandes aquíferos, como o Guarani, o maior do mundo; Alter do Chão, na Amazônia; e outros sítios.

4. A viabilidade ambiental do projeto será definida pelo próprio produtor, o que eleva ainda mais o risco de poluição ambiental, porque há um conflito claro de interesses.

Como o processo de perfuração é vertical e horizontal, através de explosões que liberam gás desse tipo de rocha, a contaminação das águas será um fato e corre-se o risco de se abrir a torneira de casa e termos água com metano. A população indígena da região e os peixes também sofrerão com esse processo, em função dos produtos químicos e óleo liberados. Pelos risco que apresenta, esse processo está proibido em vários países, particularmente na Europa.

O que está acontecendo hoje em dia é que a Agência Nacional do Petróleo (ANP) adota a política do fato consumado: realiza o leilão e discute depois. O Ibama foi surpreendido com esse leilão. Nos Estados Unidos, há 40% dos casos de contaminação do lençol freático.

Só restou o Ministério Público que, depois de tentar um acordo com a ANP para suspender o leilão e promover ampla discussão com a sociedade sobre sua conveniência, decidiu entrar com uma Ação Civil Pública. Dada a gravidade do problema, esperamos que a Justiça brasileira faça a sua parte.

Fonte: O Globo via CCOMSEX

7 Comentários

  1. Olha a coisa é a seguinte, é uma nova fonte de energia e a humanidade precisa de energia, só que “nois” precisa mais de água que energia e é ai que “a porca torce o rabo” pois se contaminar o lençol freático não adianta chorar depois. O xisto não vai sair correndo então é melhor espera e estudar mais o problema pois água é água e é imprescindível. Mas num mundo ditado por corporações que compram opinião em meios de comunicação para atender seus interesses, é melhor rezar para para não haver contaminação da água.

    • “Mas num mundo ditado por corporações que compram opinião em meios de comunicação para atender seus interesses, é melhor rezar para para não haver contaminação da água.”

      Para mim este é o maior problema relacionado ao xisto.
      O artigo, de forma geral, não traz novidade alguma sobre este ponto de vista. Muito pelo contrário. É mais um daqueles exercício de “pau na Petrobrás”.

      Mas, em todo o caso, creio que o xisto não vencerá a disputa como fonte alternativa de produção de energia. Os países mais interessados nesta fonte atualmente são os que possuem sua matriz energética muito associada a combustíveis fósseis. Ao fim das contas, a função do xisto seria apenas de empurrar mais para a frente o fim das reservas de petróleo e gás destes países.

      É geopolítica. Preferem correr o risco de contaminar as reservas aquíferas do que compartilhar novas formas de produção de energia, o que acarretaria também no compartilhamento de poder na geopolítica mundial.

    • “(…) As principais reservas do Brasil estão sob os grandes aquíferos, como o Guarani, o maior do mundo; Alter do Chão, na Amazônia; e outros sítios.(…)”
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      Água é a fonte mineral muito superior que qualquer outra coisa,será o motivo de cobiça e de guerra no futuro bem próximo.
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      Brasil,coração do mundo e pátria do evengelho

      • SOCIALISTA EVANGÉLICO… só o Brasil produz essas pérolas… deve ser pela ignorância total que se tem em relação ao que pode significar isso… assim como PADRES COMUNISTAS… incongruências do meu Brasil varonil… qnto ao texto, lamento pela falta de informação adequada do autor… aparentemente não é especialista no assunto e todos já sabem que está surgindo novas técnicas de extração menos agressivas ao meio ambiente… sou a favor de deixar essas reservas de gás como reservas estratégicas futuras… devido a grande quantidade de petróleo recentemente descobertas, penso que não há necessidade, por enquanto, de se explorar o gás de xisto… esperemos que se popularize as novas técnicas de extração e se tornem mais viáveis… mas o partidão não se aguenta ao ver dinheiro… tem que cobrir o ROMBO da Petrobras a qualquer custo…

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