Inventor do termo Bric agora também gosta de Mint

Jim O’Neill, diz que continua otimista com os Brics mas agora também está de olho nos Mints.

LUCIANA MAGALHÃES/MATTEW COWLEY

O criador do acrônimo Bric diz que não tem sido sempre otimista, mas que neste exato momento seu entusiasmo com a economia global está indo às alturas.

“Durante os anos 90, eu estava pessimista com relação ao mundo porque eu estava muito preocupado com a conta corrente dos Estados Unidos”, diz Jim O’Neill em entrevista por telefone ao The Wall Street Journal.

Isso mudou nos anos 2000, quando ele cunhou o termo Bric, e esta década também está brilhante, diz ele. “Em alguns aspectos, tudo se resume aos EUA e à China estarem trocando de posição e isso está ocorrendo”, diz O’Neill.

A manufatura nos EUA está começando a se recuperar, enquanto a China está exportando menos e se dedicando a elevar a demanda doméstica. Isso gera um balanço mais saudável na economia global.

“Comparado à maioria das pessoas com quem converso, ainda pareço muito mais otimista, mas é uma falácia que eu sempre tenha sido otimista.”

O ex-economista-chefe do Goldman Sachs — que deixou o banco americano no começo deste ano —está agora olhando para além dos Brics, para um outro grupo de países que também tem chance de brilhar. A análise foi feita para uma série da rádio da BBC, do Reino Unido, sobre quatro economias emergentes que podem passar a integrar a lista das dez maiores economias do mundo até 2050.

Os escolhidos foram o México, a Indonésia, a Nigéria e a Turquia, ou o Mint: eles têm em comum uma demografia favorável e perspectivas econômicas atraentes.

No entanto, segundo O’Neill, eles nunca alcançarão os Brics, que permanecerão muito maiores. Em dois anos a China cria mais riqueza que o produto interno bruto combinado dos países que formam o Mint. As maiores economias do grupo são o México e a Turquia e estima-se que nenhuma delas atinja taxas de crescimento como as da China, então a média fica distorcida.

A Nigéria, o menor país do grupo, é o que tem maior potencial.

Curiosamente, porém, os Mints podem ter mais em comum entre eles que os Brics. Se por um lado o Brasil, a Rússia, a Índia e a China fizeram grandes esforços com planos de ações coordenadas em fóruns globais como o G-20, há sempre enormes diferenças. Na semana passada, nas negociações da Organização Mundial do Comércio, em Bali, a Índia se opôs a um pacto de comércio global apoiado pelos outros três países.

“O México, a Indonésia e a Turquia compartilham padrões de comércio muito multi-dimensionais”, diz. Segundo ele, as pessoas com quem falou nos países do Mint acreditam que há mais afinidade natural entre os Mints que entre os Brics.

O economista estima que os Brics vão crescer em média 6,6% nos dez anos entre 2011 e 2020, mas isso quase que totalmente graças à China. Ele brinca que se tivesse que modificar os Brics, eles se tornariam “C” — o único país que superou suas estimativas.

O’Neill diz que está muito otimista em relação aos esforços do governo chinês para buscar um crescimento de melhor qualidade em vez de quantidade. Como consequência, o ritmo do crescimento da economia chinesa desacelerou um pouco, levantando receios quanto ao impacto disso na economia global. O’Neill diz que um crescimento na China ao ritmo de aproximadamente 7,5% ao ano equivale aos EUA estar crescendo 4% ao ano.

“As pessoas ainda não reconhecem isso completamente”, diz ele.

Foram publicadas inúmeras notícias negativas sobre o Brasil, a Rússia e a Índia nos últimos anos. Mas isso também tem sido exagerado, segundo ele. “Se esses países apresentarem qualquer aceleração vaga, isso provavelmente vai surpreender as pessoas”, diz O’Neill.

No caso do Brasil, o economista disse que ficaria surpreso se o país crescesse entre 2,5% e 4,5% ou 5% no próximo ano. Esse salto em relação a 2012, quando o PIB brasileiro subiu, pelo dado revisado, 1,5%, ainda é bem abaixo da previsão inicial do governo de 4,5%. Os economistas brasileiros estimam um crescimento de 2,1% em 2014, segundo a pesquisa mais recente do Banco Central.

O’Neill diz que o Brasil precisa implementar reformas no setor de fornecimento mais fortes e espera um aumento no investimento privado em 2014 para obter um crescimento mais rápido.

Quanto à China, o economista espera que o PIB cresça entre 7,5% e 8% em 2014.

 

Fonte: Wall Street Journal

 

13 Comentários

  1. “Os escolhidos foram o México, a Indonésia, a Nigéria e a Turquia…”.

    Eu espero que ele esteja realmente certo porque (é sempre bom lembrar como funciona o mundo real), mais da metade do população somada destes países é muçulmana. E isso anda contando muito no sistema internacional ultimamente.

    O países do BRICS podem ter suas diferenças, mas são todos incorporados ao sistema cultural/econômico/político ocidental, mesmo que se saiba que o leste da Rússia não tem características culturais europeias e a China sendo uma estrutura singular com cinco mil anos de idade. Isso facilita muito as coisas.

    No mais, só desejo que estes países cresçam sem serem perturbados como fazem atualmente com os BRICS.

    • Se o MINT se tornar real, creio que ele não tenha a mesma força e impacto que os BRICS hoje possuem. Somente China e Rússia já possuem um grande peso no nome do BRICS, Índia e Brasil idem e África do Sul, apesar de sua importância no Continente Africano, cá entre nós, ela não possui tanto peso assim, há não ser por sua importância estratégica.

      • Concordo com você Leandro Mello.

        Só que muitos não se atem ao fato de que o BRICS são uma formação política que, eventualmente, vem se tornando importante agente econômico. E sob o ponto de vista político a África do Sul dá maior alcance continental ao grupo, além do estratégico. Eu creio que foi uma decisão correta.

        Lembrando também que foi o Brasil que insistiu na inclusão da África do Sul ao BRIC.

        Já a associação sugerida mais abaixo pelo gincarlos argus (16 de dezembro de 2013 at 8:53), me parece que será desnecessária se este grupo realmente conseguir algum protagonismo, pois estará dando ênfase a multipolaridade, que é uma das teses defendidas atualmente para o funcionamento adequado do sistema internacional.

        Ganhamos todos de qualquer forma.

        Abs

      • Também concordo contigo. O BRICS está mais para uma aliança política (quem sabe num futuro próximo, também se torne uma aliança militar) do que para uma mera sigla inventada por O’Neill.

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