Haverá uma adaptação do tratado sobre mísseis de médio alcance?

Haverá uma adaptação do tratado sobre mísseis de médio alcance?

Andrei Iliashenko

Foto: ru.wikipedia.org

Em vésperas do 24º aniversário da assinatura do Tratado de Eliminação dos Mísseis de Médio e Curto Alcance (Tratado INF), de acordo com o qual foram totalmente eliminados mais de 1800 mísseis soviéticos SS-20 que estavam apontados à Europa, e 800 Pershing-2 norte-americanos que se destinavam a um ataque preventivo contra a URSS, a mídia estrangeira ressuscitou o tema de uma possível saída da Rússia desse tratado.

A Rússia não está interessada em denunciar esse documento assinado a 8 de dezembro de 1987 pelos líderes da URSS e dos EUA Mikhail Gorbachev e Ronald Reagan. Contudo, as mudanças na situação mundial político-militar poderão exigir a introdução de alterações ou de uma adaptação desse documento importantíssimo.

Isso é associado à finalização do sistema de mísseis Rubezh, cujos testes decorreram na Rússia no ano passado. Também na mídia russa reapareceram as discussões acerca do Tratado INF. Isso foi declarado numa entrevista à Voz da Rússia pelo vice-diretor do Instituto dos EUA e do Canadá da Academia das Ciências Russa e major-general reformado Pavel Zolotarev que sugere que não se veja os testes do Rubezh como uma violação do Tratado:

“Porque os mísseis de médio alcance, tal como estão definidos no Tratado, são mísseis com um alcance superior a mil quilômetros, mas inferior a 5500. Contudo, se tivermos um míssil estratégico que possua um alcance de 11 mil ou 10 mil quilômetros, mas que possa ser usado para atingir alvos situados a 5 mil quilômetros, ou seja, menos que os 5500, isso não significa de todo que estejamos perante um míssil de médio alcance. Ou seja, a Federação Russa continua a cumprir as condições do Tratado.”

O perito recordou que os mísseis norte-americanos Trident de baseamento submarino também podem, se forem lançados com uma determinada trajetória, ter um alcance inferior ao acordado. Mas isso não é visto como uma violação do Tratado. Por outro lado, o general Zolotarev reconhece que, do ponto de vista puramente formal, a parte russa poderá ter razões de preocupação com os testes pelos EUA de mísseis-alvo (HERA) com um alcance de 1200 km. Contudo, as características desses mísseis não criam motivos para sérias preocupações.

Entretanto, na opinião do perito, o principal é que a Rússia não está interessada numa renúncia ao Tratado INF e no regresso à situação de 1987:

“Quando hoje se diz que esse tratado talvez já não seja desnecessário, devemos recordar onde passa a fronteira da OTAN e que essa aliança não renunciou às suas funções defensivas. Se supusermos teoricamente que agora sejam instalados mísseis de médio alcance de nova geração e com uma precisão ainda mais elevada dentro das novas fronteiras da OTAN, então num piscar de olhos poderemos ser vítimas de um primeiro ataque incapacitante. Neste caso não se deve falar se uma guerra é possível ou impossível. Essa questão não deve preocupar os militares. Nós temos de ver as capacidades dos países ou alianças de países que se encontram na nossa vizinhança. Inclusivamente, e considerando os últimos acontecimentos na Ucrânia, que a partilha das zonas de influência continua. Nós não temos com a OTAN as melhores das relações, temos problemas com a defesa antimíssil, assim como outros problemas.”

Tudo isso, considerando que outros países, sobretudo no Extremo Oriente e na Ásia, dispõem de mísseis de médio e de curto alcance, pode criar a necessidade de se proceder a uma revisão mutuamente vantajosa do Tratado, refere o perito:

“Em princípio, se pode permitir que se possua mísseis com esse alcance em determinadas regiões. Vamos assumir que nós não os temos na Europa, mas temos no Extremo Oriente, lá onde não temos forças convencionais suficientes e onde nos poderíamos apoiar mais nas armas nucleares. Ou então, considerando que o papel dissuasor das armas nucleares se está objetivamente reduzindo, porque a compreensão da dimensão apocalíptica do seu uso reduz o seu papel dissuasor, pode ser colocada a questão do desenvolvimento de mísseis de médio alcance convencionais, ou seja não-nucleares.”

Na opinião de Pavel Zolotarev, uma adaptação do Tratado INF também é uma questão atual do ponto de vista da necessidade de iniciar negociações sobre a continuação da redução dos armamentos nucleares com uma base multilateral e com a participação dos países que dispõem de mísseis de curto e médio alcance.

Fonte: Voz da Rússia

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