O Fed conseguirá manter no futuro as promessas de hoje?

O presidente do Fed, Ben Bernanke, diz que os efeitos da política monetária hoje dependem largamente das expectativas do público.

DAVID WESSEL

Já foi o tempo em que era fácil explicar as manobras do Federal Reserve, o banco central americano. Para desacelerar a economia, aumentava as taxas de juros. Para acelerar, as reduzia. Todo o resto era mero detalhe.

Foi então que, em 2008, o Fed cortou as taxas de juros de curto prazo para zero e descobriu que isso não era suficiente para estimular a economia. Por isso, voltou-se para a compra de títulos de dívida de longo prazo, muitos deles.

A ideia era incentivar a economia, empurrando para baixo as taxas de juros de longo prazo, inclusive as de hipotecas, e forçando investidores a deixar a segurança dos títulos de dívida pública e apostar em ativos mais arriscados, como ações e títulos de dívida corporativos, para que as empresas pudessem investir e contratar mais.

Agora, o Fed está enfatizando algo diferente: influenciar empresas, consumidores e mercados com promessas de manter as taxas de juro de curto prazo baixas no futuro. A manobra é conhecida como “guia para o futuro”.

Qualquer coisa relativa à política monetária inspira metáforas. E o presidente do Fed, Ben Bernanke, diz que o velho freio-acelerador já não funciona mais.

“Os efeitos da política monetária hoje dependem largamente … das expectativas do público de como a política vai evoluir”, disse ele num discurso na semana passada. “É como se a atual velocidade do carro dependesse do que o próprio carro espera que o motorista faça no futuro.”

O ponto é o seguinte: “Se espera-se que os elaboradores da política monetária mantenham as taxas de curto prazo baixas, então as taxas atuais de juro de longo prazo tendem a ficar baixas também”, diz. E aqui vai o porquê: os investidores têm a opção de comprar a dívida do Tesouro de um ano e rolá-la para cada ano seguinte ou comprar a dívida do Tesouro de 10 anos. O rendimento da nota de 10 anos vai refletir as expectativas para o curso das taxas de curto prazo ao longo do período.

O Fed sempre tentou — às vezes de maneira explícita, às vezes não — influenciar as taxas de juro de longo prazo. Essa ferramenta se tornou muito mais importante quando as taxas de curto prazo foram reduzidas a zero. E isso está prestes a se tornar ainda mais importante.

Em algum momento, talvez nos próximos meses, o Fed vai reduzir seu programa de compra de títulos de US$ 85 bilhões por mês. Ele realmente não quer que os mercados tomem isso como um sinal de que está se preparando para aumentar as taxas de juro de curto prazo. E realmente não quer provocar um aumento acentuado nas taxas de longo prazo, como ocorreu quando começou a flertar com a redução de compra de títulos no início deste ano.

O uso de guias para o futuro, cada vez mais popular com os bancos centrais ao redor do mundo, é complicado.

Em primeiro lugar, há um grande número de questões em suspenso. O ex-executivo do Fed, Peter Fisher, observa que os mercados estão tentando entender (1) o que vai fazer com que o Fed comece a reduzir a compra de títulos, (2) a rapidez com que ele vai fazer isso, (3) quando vai parar de comprar títulos, (4) quanto tempo depois disso deve elevar as taxas de curto prazo e (5) quão rapidamente, depois disso, as taxas vão subir.

E depois há a questão de saber se o Fed liga seus planos ao calendário ou a indicadores econômicos.

Em segundo lugar, o Fed demonstrou que seus pelotões de economistas com PhDs ainda não entenderam os mercados. Se a política monetária depende de sua influência nas expectativas do mercado, então o Fed precisa entender melhor como os operadores e os investidores se comportam.

Em terceiro, há dois tipos de guias para o futuro e o Fed não deixou claro qual deles que está usando. O economista da Columbia University, Michael Woodford, distingue as duas categorias como Délfica e Odisseica.

O Fed pode dizer — e já está dizendo — o seguinte: aqui está o que esperamos fazer com as taxas se a economia se comportar como esperamos e aqui está a nossa previsão econômica. Se algo acontecer, você vai saber instantaneamente como o nosso plano vai mudar. Woodford batizou essa abordagem de délfica, relativa à cidade do ambíguo oráculo grego. Ela ajuda a dissipar qualquer dúvida sobre a forma como o Fed pretende reagir a mudanças na economia, mas é só isso.

Em contrapartida, o Fed pode adotar a abordagem odisseica, atando suas mãos, como Ulisses ao mastro. Nesta abordagem, o Fed se compromete a manter as taxas perto de zero pelo menos até que um limite seja atingido, como o marco de 6,5% de desemprego adotado no ano passado.

O Fed está (de novo) considerando alterar a maneira com a qual expressa suas promessas públicas. Essencialmente, está decidindo quão odisseico está preparado para ser.

E isso é difícil porque só funciona se for apoiado consensualmente pelos 19 elaboradores da política do Fed — e chegar a um consenso no banco central é algo que não se tem conseguido.

Fonte: Wall Street Journal

 

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