Presidente ucraniano sob pressão depois de congelar acordo com a UE

Viktor Yanukovitch
O presidente da Ucrânia, Viktor Yanukovitch

O presidente Yanukovitch enfrenta pressão de manifestantes nos maiores protestos desde a Revolução Laranja, há nove anos. Rússia ameaça com restrições comerciais caso Ucrânia assine associação com a UE.

Viktor Yanukovitch raramente faz uso de uma retórica muito floreada. Os discursos do presidente ucraniano costumam ser secos – mas neste caso foi diferente. Numa coletiva de imprensa em Viena, ele mencionou a recente decisão do seu governo de suspender um acordo de associação com a União Europeia (UE), dizendo que “talvez, neste ponto da caminhada e antes de chegar ao topo da montanha, o clima não tem sido favorável”.

Mas Yanukovitch conseguiu passar a mensagem de que a Ucrânia deverá continuar tentando se aproximar da UE, mas que esse movimento precisa de uma pausa. O acordo de associação estava programado para ser assinado nesta quinta-feira (28/11), dia do início de uma cúpula de dois dias da iniciativa europeia para a Associação Oriental em Vilnius, capital da Lituânia. A parceria do bloco dos 28 quer aproximar países do Leste Europeu e do Cáucaso da UE.

Com a descrição deste clima “não tão favorável”, Yanukovitch provavelmente quis passar duas mensagens. Primeiramente, seu governo justificou a decisão de congelar o acordo de associação com a UE com a pressão que vem sofrendo da Rússia – já que Moscou ameaça a Ucrânia com restrições comerciais caso a ex-república soviética assine o acordo e estabeleça uma zona de livre comércio. “Yanukovitch está certamente sob enorme pressão”, disse o ex-embaixador alemão para a Ucrânia, Dietmar Stüdemann, à Deutsche Welle. Ele acredita que Moscou deve pressionar ainda mais daqui em diante.

Yanukovitch também deu a entender que a ex-primeira ministra e líder da oposição ucraniana, Julia Timoshenko, permanecerá sob custódia. A libertação dela é uma das principais condições estabelecidas por Bruxelas para a assinatura do acordo. No entanto, nem Yanukovitch, nem as instituições controladas por uma maioria no Parlamento ucraniano demonstraram interesse em resolver o caso de Timoshenko.

Há meses, políticos europeus bombardeiam o presidente ucraniano com apelos para a assinatura do acordo. Aparentemente, a pausa nas relações com Bruxelas deve aliviar as pressões e evitar que Yanukovitch passe vergonha em Vilnius, segundo os cálculos do governo em Kiev. Porém, de acordo com observadores, talvez esta lógica precise ser revista.

Manifestantes pedem mudanças

Há cerca de uma semana, milhares de pessoas protestam na Ucrânia a favor de uma maior aproximação com a UE. O epicentro das manifestações é Kiev, onde um mar de bandeiras azuis com estrelas, simbolizando a Europa, domina a paisagem.

Os protestos são chamados pela população de “Euromaidan”, uma referência à chamada “Revolução Laranja” na Praça da Independência (Maidan Nezalezhnosti) na capital ucraniana, em 2004. Há exatamente nove anos, protestos em massa reivindicavam uma recontagem dos votos das eleições presidenciais, que muitos ucranianos acreditam terem sido manipuladas pelo governo de Yanukovitch.

Desta vez, porém, o clima parece ser outro. “Na época, havia grandes esperanças de mudança”, disse à DW Florian Kellermann, um jornalista independente alemão que escreve sobre a Ucrânia há mais de dez anos. Agora, a esperança é “significativamente menor”. Ele diz que, “as pessoas podem até protestar a favor de um acordo com a UE e contra as ações das autoridades políticas, mas não têm nada de concreto contra o governo.” Kellermann acha que os atuais protestos são apenas simbólicos e que não terão qualquer efeito.

Divisão entre Leste Europeu e Ocidente permanece

O jornalista também alerta para o fato de que a Ucrânia não está necessariamente tomada pela febre europeia. Ele explica que a oposição ucraniana quer dar a impressão de que todo o país está a favor da integração com a UE, mas “pesquisas mostram que não é bem assim.”

Segundo uma pesquisa do Instituto Internacional de Sociologia de Kiev (de sigla original KMIS) realizada em novembro, o país está dividido. O resultado mostra que 39% dos ucranianos votariam a favor da adesão da Ucrânia à União Europeia num referendo – mesmo que a questão ainda não esteja sendo discutida.

Por outro lado, 37% dos ucranianos disseram ser a favor da integração com a Rússia e com outras ex-repúblicas soviéticas numa união aduaneira. Tal oferta de Moscou já está nas mãos do presidente ucraniano. Principalmente no leste e no sul da Ucrânia, muitos acham um acordo com a Rússia mais interessante do que um com a UE.

Um pesquisa conduzida pela DW também em novembro obteve um resultado parecido: 37% se mostraram a favor da Ucrânia juntar-se à UE nos próximos cinco anos. Em geral, mais do que metade dos entrevistados deseja que a Ucrânia seja, um membro com plenos direitos no futuro.

Exemplo da Moldávia pode aumentar pressão sobre Ucrânia

A pressão sobre o presidente Yanukovitch parece estar crescendo por todos os lados. Manifestantes conseguiram recentemente o apoio de Timoshenko. Na segunda-feira (25/11), a líder da oposição começou uma greve de fome, exortando o presidente a mudar de ideia sobre o acordo de associação.

A UE também não desistiu. Mesmo lamentando a decisão do governo ucraniano, Bruxelas sinalizou que ainda quer assinar o acordo rapidamente. “A União Europeia vai fazer de tudo para levar o acordo de associação até o final”, disse o ex-embaixador alemão Dietmar Stüdemann.

Enquanto isso, em Vilnius, é provável que o presidente ucraniano – mesmo se sentindo desconfortável por causa da decisão de congelar as negociações – seja um dos convidados mais cortejados.

À luz da decisão da Ucrânia, é de se esperar que a Moldávia se torne o novo modelo de país pós-soviético do Leste Europeu. Se Bruxelas, como tudo indica, decidir suspender o requisito de vistos para a população moldava dentro de pouco tempo, o presidente ucraniano vai continuar pressionado. Quando o assunto é Europa, a liberdade de poder viajar livremente pela UE é um dos maiores desejos de muitos ucranianos.

Fonte: DW.DE

 

16 Comentários

  1. “Ironicamente, a Rússia encara exatamente o mesmo problema na Ucrânia, que o Império Anglo-sionista: a Ucrânia, nas atuais fronteiras, é criação absolutamente artificial. Praticamente, não há quem discorde de que a Ucrânia Ocidental e a Ucrânia Oriental têm objetivos quase exclusivamente opostos. Em todos os planos – da língua, da economia, da política, história, cultura – as partes oeste e leste da Ucrânia são absolutamente diferentes uma da outra. O centro, e a capital Kiev, é uma mistura de leste e oeste; e o sul é entidade cultural única, diferente e ainda mais diversa, que o resto do país.

    Politicamente, a Ucrânia é um desastre em câmera lenta, onde políticos corruptos combatem uns contra os outros pela chance de pôr as mãos no dinheiro e no apoio dos oligarcas locais e de seus patrões ocidentais. Socialmente, a Ucrânia é uma bomba-relógio que explodirá, mais cedo ou mais tarde; e, embora a Rússia possa continuar a “resgatar” a economia ucraniana com empréstimos sobre empréstimos, a coisa não pode durar para sempre.

    Por fim, a Ucrânia ocidental é uma placa de Petri onde se reproduzem todas as bactérias da histeria russofóbica, muitas vezes mediante propaganda claramente neonazista, que jamais aceitará qualquer acordo com os odiados Moskals (russos, ou “moscovitas” pelo léxico nacionalista).

    O que há de mais assustador, é que a atual configuração da Ucrânia está fadada ao desastre, não importa quem prevaleça – o governo de Yanukovich ou a oposição.

    Basta ver o que os “liberais” e os “democratas” conseguiram no governo dos oligarcas de Ieltsin: a economia russa foi ao colapso, o país quase rachou em várias pequenas partes, “chefões” mafiosos controlavam toda a economia subterrânea, e oligarcas judeus literalmente pilharam a riqueza da Rússia e a realocaram no exterior, enquanto a imprensa-empresa estava ocupadíssima convencendo o povo russo de uma quantidade imensa de mentiras e delírios. Hoje, exatamente o mesmo tipo de gente está comandando o espetáculo na Ucrânia.”

    Fonte:
    http://vineyardsaker.blogspot.com.br/2013/11/ukraines-civilizational-choice-pyrrhic.html

    • “Há cerca de uma semana, milhares de pessoas protestam na Ucrânia a favor de uma maior aproximação com a UE. O epicentro das manifestações é Kiev, onde um mar de bandeiras azuis com estrelas, simbolizando a Europa, domina a paisagem…”
      ————————————————

      Isto é pura enganação, propaganda midiática pró Bruxelas…
      ———-
      “Apenas 1.500 pessoas manifestaram o seu apoio à «opção europeia» em Kiev, em 22-23 de novembro (em uma cidade de quase 4 milhões de habitantes). De acordo com as contagens mais exageradas, havia 20-25000 manifestantes, no máximo, em 24 de novembro. E não a alegada “multidão” de 100 mil que a oposição está falando. Então, vamos deixar as histórias sobre , aos homens de mídia…”

      • Corrigindo o parágrafo final:

        “Então, vamos deixar as histórias sobre {a escolha das pessoas pela Europa }, aos homens de mídia…”

  2. Eu pensava que a detenção da Julia Timoshenko tinha-se resolvido. Foi um caso meio cabuloso, com grande pressão da Rússia.
    Mas tem coisas que parecem mantra. Países como Polônia e Ucrânia quando não estão sendo encoxados por EUA, são emparedados pela Rússia. Como constituir estabilidade política interna se ninguém permite?

  3. Os EUA estão dando continuação ao seu Plano Anaconda cujo objetivo se resume a cercar a Russia, estão tentando achar uma meio de fazer com a Ucrania oque fizeram
    com Lituania Letonia Estonia Ex republicas da URSS com valor territorial geografico presioso.

    • “estão tentando achar uma meio de fazer com a Ucrania oque fizeram
      com Lituania Letonia Estonia”

      Não sei, mas me parece que Lituânia, Letônia Estônia se aproximam dos EUA e da UE por livre e espontânea vontade, para ter certeza de que nunca mais serão dominadas pela Rússia.

  4. Briga de influência (e de mercado)

    De um lado, o livre trânsito por um território de possibilidades de consumo (parte da população ucraniana (classe média) está ávida por isso).
    De outro, a manutenção do status quo (?).

    Não sei, mas penso que os Russos são para os Europeus, o que os Americanos são para os Latino Americanos (ou seria o contrário?)

    A guerra pela ‘derrocada do comunismo’ ainda persiste por aquelas bandas. E a UE precisa de mercado pra sair da fossa.

    Espero que a Ucrânia seja inteligente o suficiente para decidir o que é melhor para o seu desenvolvimento (sem subversão ou entreguismo para nenhum lados).

  5. Muito jovens fazem pressao para Ucrania se aproximar da Uniao Eropeia porque querem escapar de seu pais e vir buscar emprego na Alemanha ou Inglaterra. Pobres coitados, vivem do passado, ilusao baseado numa situacao que nao mais existe. Quando vem para Inglaterra, nao encontram empregos. Muito sao forcados dormirem nas calcadas sob constante pressao da policia para se moverem. Apesar de ser inrteresse dos EUA a existencia da Uniao Europeia nas condicoes atuais, quando o Euro deixou de ser moeda alternativa, pessoalmente nao creio que a UE tem futuro. Nao creio que Alemanha vai ter condicoes de carregar o resto dos paises falidos da Uniao Europeias do Sul, Leste e Oeste. Alemanha sera forcada buscar alternativa fora da Uniao Europeia e portanto sse aproximar mais da Russia e China.

    • JOJO

      Não acredito que a Alemanha, nesse momento, possa se aproximar da Rússia mais do que já fez. Essa cúpula P5+1, um discretíssimo chamego para ocupar uma vaga no CS da ONU mais o “convite” para atuar mais próximo dos EUA no mundo virtual devem manter as coisas como estão agora. Não estranharia se a legislação que restringe as ações exteriores do país passassem por um momento de aceleração quanto a sua abrangência, ou até total eliminação.

      “Muito jovens fazem pressao para Ucrania se aproximar da Uniao Eropeia porque querem escapar de seu pais e vir buscar emprego na Alemanha ou Inglaterra… Quando vem para Inglaterra, nao encontram empregos. Muito sao forcados dormirem nas calcadas sob constante pressao da policia para se moverem.”
      Adicione-se o problema com as drogas que permeia estes grupos errantes e temos o quadro de um possível futuro desastre social a caminho da UE. Que talvez já esteja ocorrendo.
      Conheço um sérvio que passou por vários destes subempregos colhendo batatas nos campos ingleses e detestava o Brasil. Veio morar aqui a cerca de dois anos, ainda arranha o português, tem emprego muito melhor do que conseguia na Inglaterra, porem mudou radicalmente sua opinião sobre com é o Brasil.
      E o mundo gira…

      • Com o problema de droga nao tenho muito para discutir. Eu creio que 90% da populacao europeia usam droga de uma forma ou outra. Conheco varios amigos europeus classe media, todos usam drogas, maconha, coca, crack, e os varios tipos de acidos, cujo nomes desconheco. Ja escrevi no passado, que foi o proprio governo desses paises europeus e nos Estados Unidos, que distribuiram drogas a populacao jovem no final da decada 1970 e decada 1980, como uma forma de pacificar a juventude rebelde da epoca. Eu creio que isso continua. Obviamente isto nao ocorre atraves de hospitais, centro de saudes etc, mas atraves de mafias, claro. Mas essas mafias trabalham com os servicos secretos dos paises europeus e norte americanos. E assunto serio, jornalistas morreram em circunstancias que levam crerr que foram assassinados, por que estavam investigando esse assuntos. Mas, ainda existe uma boa literatura, escritas por antigos policiais que participaram do programa.Nao digo que Merkor vai afastar Alemanha da Europa e dos Estados Unidos. Digo que fortes correntes de opiniao dentro da Alemanha que julga que a Uniao Europeia nao mais serve aos interesses alemao. E gentes alemas que propoem que a Alemanha deveria se integrar mais com os paises do BRICS e sair da Uniao Europeia.. Bem Russia e o R do BRICS.Quanto a gente europeia que quer ir para o Brasil, o servio que voce conhece nao e o unico. Estou aqui na Europa e ja conversei com muita gente jovem que me diz que ou quer ir para o Brasil em busca de trabalho ou conhece um parente, amigo que ja esta la. E gente felipina, bangladeshe, espanhol, italiano, lituanio e ingles, sem falar nos portugas. sds

  6. Sinceramente?

    Eu nao sei qual interesse motiva esse assedio em relação a Ucrânia…

    A Ucrânia nao passa de uma Argentina perdida na Europa….

Comentários não permitidos.