O dilema iraniano de Israel

Os EUA estão preparados para conceber uma República Islâmica totalmente reintegrada na comunidade de nações, com igualdade de direitos
LOVEIRAN

ROGER COHEN(*)

 A era da alienação traumatizada ficou para trás. Os Estados Unidos e o Irã embarcaram em uma nova fase de sua relação. Ela é marcada por negociações bilaterais, apertos de mão, sorrisos, bandeiras lado a lado e compromissos significativos, incluindo a aquiescência dos EUA a um “programa de enriquecimento mutuamente definido” para o Irã em qualquer acordo de longo prazo e o comprometimento iraniano de que, “sob circunstância alguma”, o país “jamais buscará o desenvolvimento de qualquer arma nuclear”.

O acordo provisório de seis meses entre as maiores potências e o Irã, renovável por mais seis meses até que se obtenha um acordo definitivo (por um período a ser definido), congela o programa nuclear iraniano onde ele está — um ponto tecnologicamente avançado à beira da militarização. Mas ele recoloca em marcha a relação entre Washington e Teerã e pode, desta forma, redesenhar o mapa estratégico do Oriente Médio.

Isto explica a rejeição de Israel, sua insistência em que um acordo que detenha a escalada torna a região mais perigosa. Israel é a potência por excelência do Oriente Médio, porque o status quo cimenta seu domínio nuclear armado. Qualquer mudança é suspeita, incluindo rebeliões populares árabes contra o despotismo. O avanço americano-iraniano é grande, quase tão grande quanto seria a paz entre Israel e os palestinos.

Assim como os EUA tiveram que se adaptar a um mundo em que seu poder é sem igual, mas não mais determinante, Israel terá de fazer o mesmo. Com uma liderança esclarecida, isto poderá fortalecer o Estado judeu, trazendo segurança à nação via integração na região, em vez de fazê-lo pela dominação. Por enquanto, Israel ainda tem caminho a percorrer para chegar a essa forma de pensar. Seu prisma dominante é o militar. É importante que o presidente Obama tenha estabelecido um indicador, como fez com esse acordo, que possa impulsionar nova reflexão estratégica em Israel. (Um Israel já alarmado pelo isolamento não está a ponto de embarcar num ataque militar tipo Sansão ao Irã).

Vamos ser claros. Este é o melhor acordo que se poderia conseguir. Nada, nem mesmo o bombardeio contínuo por Israel, pode reverter o know-how nuclear que o Irã possui. O objetivo deve ser cercar a capacidade adquirida para que seu uso seja apenas pacífico.

Essa meta deverá ser alcançada com a limitação no atual nível da capacidade iraniana de enriquecimento de urânio de baixa qualidade, a eliminação ou diluição dos estoques de urânio enriquecido a 20%, pela interrupção da instalação de novas centrífugas, pelo interrompimento da construção do reator de água pesada de Arak e pela intensificação das inspeções internacionais. Em troca, o Irã recebe alívio de sanções avaliadas em em US$ 6/7 bilhões. O país começa a retornar ao mundo, que é onde a vasta maioria de sua jovem população deseja que ele esteja e onde o Ocidente tem interesse em vê-lo, porque o contato produz moderação e o isolamento impulsiona o extremismo. Como disse Obama, “em última análise, só a diplomacia pode tornar possível uma solução duradoura para o desafio proposto pelo programa nuclear do Irã”.

A divergência estratégica entre os EUA e Israel não é meramente tática. O admirável John Kerry, cujo compromisso com essa empreitada diplomática tem sido exemplar, não foi totalmente franco sobre esse ponto.

Os EUA reconheceram que qualquer acordo durável precisa conceder ao Irã um programa de enriquecimento limitado de urânio. O entendimento diz que, sob um eventual acordo de longo prazo, um programa nuclear iraniano “será tratado da mesma forma que o de qualquer outro país sem ambições militares e signatário do Tratado de Não Proliferação” — pondo presumivelmente o Irã na mesma categoria de Japão ou Alemanha, outros signatários do TNP com programas de enriquecimento. Israel, ao contrário, deseja um Irã com enriquecimento zero e desmantelamento do programa nuclear ao estilo do que ocorreu na Líbia.

Os EUA estão preparados para conceber uma República Islâmica totalmente reintegrada na comunidade de nações, com igualdade de direitos. Mas isto ainda está muito longe. O Irã não poderá se livrar rapidamente das suspeitas que suas ações e palavras levantaram. Nem se deveria permiti-lo. Mas Obama e Kerry estão prontos para acolher a reabilitação iraniana.

Não é o caso de Israel sob Benjamin Netanyahu, que quer manter o Irã para baixo. “Empurrem-no para baixo, é tudo o que ouço quando escuto Netanyahu falar”, um empresário iraniano educado em Stanford e Harvard disse-me. Ele tem uma forte crença de que trazer o Irã para mais perto do mundo é essencial, detesta o atual regime e se sente afrontado pelo desprezo israelense em relação às aspirações nacionais iranianas.

A diplomacia envolve compromisso; o risco é inerente a ela. O Irã será testado. Ninguém sabe o resultado. As coisas podem desandar, mas pelo menos há esperança. Talvez seja essa a maior ameaça para Netanyahu. Ele nunca desejou testar os palestinos de forma séria — sua boa-fé, o fim das humilhações da ocupação, o poder da justiça e a paz. Ele tem preferido dominar, prefere os palestinos para baixo e sob pressão.

Obama e Kerry convidaram Netanyahu a pensar de novo — e não só sobre o Irã. Nada, a julgar pela retórica israelense, poderia ser mais desconcertante. Nada é mais necessário. Alusões baratas a 1938 são um modelo pobre para Israel no século XXI.

 (*) ROGER COHENé colunista do “The New York Times”

Fonte: O Globo, Opinião, Página 20, Terça-Feira, 26/11/2013  

16 Comentários

  1. Não é o caso de Israel sob Benjamin Netanyahu, que quer manter o Irã para baixo. “Empurrem-no para baixo, é tudo o que ouço quando escuto Netanyahu falar”, um empresário iraniano educado em Stanford e Harvard disse-me. Ele tem uma forte crença de que trazer o Irã para mais perto do mundo é essencial, detesta o atual regime e se sente afrontado pelo desprezo israelense em relação às aspirações nacionais iranianas.

    A diplomacia envolve compromisso; o risco é inerente a ela. O Irã será testado. Ninguém sabe o resultado. As coisas podem desandar, mas pelo menos há esperança. Talvez seja essa a maior ameaça para Netanyahu. Ele nunca desejou testar os palestinos de forma séria — sua boa-fé, o fim das humilhações da ocupação, o poder da justiça e a paz. Ele tem preferido dominar, prefere os palestinos para baixo e sob pressão.

    Obama e Kerry convidaram Netanyahu a pensar de novo — e não só sobre o Irã. Nada, a julgar pela retórica israelense, poderia ser mais desconcertante. Nada é mais necessário. Alusões baratas a 1938 são um modelo pobre para Israel no século XXI. === Então, vamos defender o indefensável?será q o sr.besstaniahu vai abaixar sua aguerrida mão?O Irão ñ são os Palestinos.Quem viver verá.Sds.

    • Huahuahuahauauhauahuhuahuaha

      Israel fazendo diplomacia dos atabaques contra o mais novo aliado dos Yankees ?

      ISRAEL PUTENFIA !!!!!!

      .
      Todo mundo gritando, vai:

      .

      “I S R A E L …… P U T E N F I A “. !!!!!!!!!!!!!!!!

      .
      Como este mundo gira…. Gira, mundo!

      .

  2. Alguns podem até torce o nariz,mas o Presidente Lula,já havia cantado a pedra que o isolamento do Irã só o levaria para a bomba,bomba essa que Lula também lembrou não haver prova alguma de sua construção !

    Esta muito recente para saber se isso é um ” acordo mesmo” pois houveram trocas de farpas por décadas para der repente todo mundo ficar na boa ! isso também faz crer que quem emperrava o acordo era a turma dos EUA e os seus agregados,pois o Irã já havia aceito um acordo redigido por eles, mas parece que quem deve estar bem na foto deve ser o ” admirável John Kerry” e não Lula e Erdogan !

    • “Provavelmente”, pelo fato do articulista do NYT ser judeu, aparentemente, de uma corrente mais moderada que a de Benjamin Netanyahu.

      E a foto, se não estou enganado, é de uma ativista anti-guerra israelense.

  3. “Mas Obama e Kerry estão prontos para acolher a reabilitação iraniana.”

    É pra levar a frase a sério?

    Reabilitação de que?

    Talvez a loira lá em cima, com aquele cartaz que cheira a piada de mau gosto, seja a única que acreditar nisso.

    Assinaram o acordo ontem e hoje querem agir como se nunca fossem corresponsáveis pelo que ocorreu no Irã nos últimos 60 anos.

    Só podia vir do The New York Times.

  4. Ninguém tá observando que os internacionalistas conseguiram fazer pender os islâmicos para o projeto de governo mundial ocidental… não saberia dizer como se deu essa “compra”, mas uma coisa posso afirmar: a guerra contra a China e o restante do planeta não tardará… resta agora a ultima fronteira: a Rússia… e arrisco um palpite: vai pender para o lado ocidental… os chinas tão no sal… e por tabela, tchal, tchal brinc’s… e mais uma, ao contrário do que muitos pensam, isso é por demais ruim para Israel que se verá sozinho acuado por lobos de todos os lados… final dos tempos… e temo que os EUA sejam destruídos por dentro, logo após a China… vamos ver…

    • coitado do zoinho azul delirou de vez rsrsrsrs,chega ser comico o raciocínio se é que posso dizer que ele raciocina
      zoinho munrar você é uma ameba !!!! seu mundo bipolar no existe rssrsrs

  5. Há outros dois fatores serem considerados nessa questão…

    Primeiro:

    Os americanos, lentamente ( mas em ritmo crescente ) estão se desinteressando pela região… O desinteresse de fato é nítido e certamente está relacionado a diminuição crescente da dependência das fontes energéticas do Oriente Médio…

    A exploração americana de outras fontes de energia ( xisto, em particular ) fazem crescer a altonomia americana no setor energético, de modo que o Oriente Médio naturalmente deixa de ser foco das atenções americanas.

    No Oriente Médio, portanto, se busca articular a política regional de uma tal forma a que se possa obter uma situação em que todos se mantenham equivalentes; uma tentativa de garantir uma espécie de, por assim dizer, “equalização” daquela região, de modo que nenhum país possa elevar seu poderio em demasia…

    Assim sendo, por tabela os americanos perdem o interesse em manter os anseios de Israel. Contribuirão para a sua defesa ( como sempre fizeram ), mas também não se sentirão mais impelidos a apoiar todas as atitudes daquela país…

    Segundo:

    O crescimento do poderio chinês faz mobilizar as atenções americanas. Em outras palavras, isso significa um comprometimento maior dos EUA com seus aliados no Pacífico, o que implica em investimentos massivos em uma região que vai desde a Coréia até o sudeste da Ásia.

    Em suma, nada mais lógico que apressar o fim das tensões no Oriente Médio…

  6. O corrupto congresso estadunidende está nas mãos dos corruptores lóbis pró-guerra.

    Más a maioria da população do EUA, em que pese a constante campanha pró-guerras e carnificinas, que as grandes empresas de mídia e entretenimento, pagas para isto… promovem constantemente, esta farta de guerras , de ver seus jovens sendo mortos e massacrando outros povos que nada lhes fizeram e servindo de bucha de canhão para os interesses escusos que dominam o congresso e o governo do EUA.

    • Morrem de inveja do primeiro mundo… rsrsrsrsrss… são uns INCOMPETENTES invejosos e dissimulados… sub-gente… rsrsrsrsrsrsrs… vão pegar um livro para ler e sair desse atoleiro intelectual que vcs estão, ANALFABETOS… deixem de achar que a grama do outro lado é sempre mais verde… façam algum esforço para melhorar a condição de indigentes morais e intelectuais e pode ser que alguma coisa mude em suas vidas deploráveis…

  7. por LUCENA
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    Nessa história toda quem está fazendo papel de ingênuo ou melhor,pagando o mico é o estado sionista de Israel e os sionífilos,estes sim estão todos de boca aberta de abestalhados com tudo isso….. srrsrsr
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    É a velha politicagem internacional onde a vaca-sagrada é mestre neste assunto,como se pode vê;nuca se pode subestimar o poder da safadeza na política.
    .
    Só Deus sabe oquê de safadeza aconteceu nos bastidores desse circo armado desde o inicio pelas potências mundial,circo esse que o sionista Benjamin Netanyahu,o pato manco;esta fazendo o papel de palhaço…Rsrssrr

    • Não precisa ser sionífilo para ficar boquiaberto não senhor Lucena. Pessoas que não tomam partido de nenhum lado (como é meu caso) também ficam surpresos ao ver uma notícia dessas (considerando inclusive que a um ano atrás, era constante ler notícias em que Israel declarava estar pronto para bombardear (a qualquer momento) o Irã, com ou sem a ajuda americana).

  8. Huahuahuahauauhauahuhuahuaha

    Israel fazendo diplomacia dos atabaques contra o mais novo aliado dos Yankees ?

    ISRAEL PUTENFIA !!!!!!

    .
    Todo mundo gritando, vai:

    .

    “I S R A E L P U T E N F I A “. !!!!!!!!!!!!!!!!

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  9. Esse acordo nao vale o papel que esta escrito. Os Estados Unidos nao abandonou seu plano de quebrar o Irao. Assim como quebrar Siria, Arabia Saudista, Pakistao, Turquia e outros. O Plano ianque-sionista de remapear a Asia. E o Irao nao vai abandonar seu plano de conseguir bomba atomica. O programa nuclear iraniano, nao e coisa peculiar dos mullahs fundamentalista. Ja o regime do Shah estava desenvolvendo um programa nuclear, fins pacifico claro, ninguem vai revelar suas intencoes verdadeira nesse assunto. Mas foi uma das razoes que o governo dos EUA, na epoca, do presidenter Carter, decidiu abandonar o Shah e dar apoio aos mullahas em 1978/79. A outra razao sendo o anticomunismo dos mullahs. O Irao e uma civilizacao de 4 a 5 mil anos. Persia Antigsa, Meda, A civilizacao que produziu o Avesta, estao movimentando naquela area por milhares de ano. A mais conhecida foi a conquista do Oriente Medio e Egito, apos o reinado de Ciro, 600 anos antes Cristo. Ciro nao so conquistou Palestina, como aquele territorio no Oriente Medio era conhecido nos tempos de Herodotos. Mas transferiu para la um grupo de estrangeiros que vivia na Babilonia para controlaa a area como seu satrapia. Esse grupo mais tarde criou uma historia e mitologia propria, e passou ser chamado judeu. Na idade media o Irao conquistou vizinhos e foram por estesa e foi conquistados. Mas tal qual China e India, o Irao sempre manteve uma un idade territorial. Portanto eu creio que a nao ser que os EUA usam bombas termonucleares para pulverizaer o territorio iraniano, o governo iraniano, seja dos mullahs ou qualquer outro regime vao sempre tentar adquirir os meios necessarios. para defender-se militarmente e se necessario conquistar paises vizinhos.Dai eu creio que o Irao nao vai por em pratica o que prometeu fazer no acordo firmado com os paises imperialistas, Russia e China incluidos Todo mundo que assinaram aquele acordo estao tentando ganhar tempo, para se preparar melhor para a guerra que e inevitavel.Os Estados Unidos esta tentando evitar um conflito no momento no Oriente Medio, porque este ve China como o inimigo principal que deve ser combatido agora. Tampouco, podemos acreditar na sinceridade russa nesse acordo. E outro pais que julga nao ser conveniente uma guerra agora. Mas dai, acreditar que Russia sinceramente deseja paz na area e estupidez. Ainda que Russia, atravez de sua compania Gazpron vai controlar o Gaz iraniano que eles querem exportar para Europa, nao se pode negar que trazer esse gaz no mercado, ao mesmo tempo que Israel, Siria, Quatar e provavelmente o Iraque estao descobrindo enormes reserva de gaz na area, vao ocasionar uma queda nos precos desse gaz no mercado mundial;. E se o preco do gaz cae muito, como podera ocorrer, onde vai Russia encontrar outros recursos para compensar a reducao no seu orcamento publico. Manter alto preco do gaz no mercdo mundial e essencial para a Russia. Ela nao tem outros meios para adquirir recursos financeiros, que sua industria militar necessita. China e o unico pais que nao quer guerra. Nao a necessita nesse momento. Guerra nao e bom para business. No futuro, a situacao sera outra e guerra sera necessario para China tambem. China e um pais capitalista e guerra e parte essencial desse sistema.Guerra e a continuacao da politica por outros meios, ja dizia um velho alemao muito admirado por Lenin. Somente tontos se excitam com esse acordo. Nao tem nada la, que nao seja falsidades, promessas que ninguem tem intencao de cumprir

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