“No Brasil, ainda se separa fazer o bem e ganhar dinheiro”, diz Pamela Hartigan

PlanoBrazilÉRICA FRAGA
PATRÍCIA TRUDES DA VEIGA
DE SÃO PAULO

 A visão do empreendedor social como “o virtuoso” e do empreendedor comercial como o oposto disso –ideia ainda muito presente no Brasil é equivocada.

A avaliação é de Pamela Hartigan, uma das maiores especialistas no assunto, diretora do Skoll Centre for Social Entrepreneurship, centro de estudos de empreendedorismo social da Universidade de Oxford. Ela também foi diretora-executiva da Fundação Schwab.

Leia editorial sobre o tema:

  http://www1.folha.uol.com.br/opiniao/2013/11/1375574-editorial-lucro-social.shtml

Ganhar dinheiro, afirma ela, “é formidável”, inclusive quando se trata de empreendimentos sociais.

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Folha – O que empreendedorismo social significa hoje?
Pamela Hartigan – Como uma das pioneiras na difusão da noção de empreendedorismo social, talvez soe como uma surpresa eu estar começando a me sentir muito desconfortável com o termo e a descrição usada para se referir ao seu ator principal como “empreendedor social”.

Esse termo era importante nos estágios iniciais do movimento. Mas, agora, continuam a promover a noção de empreendedorismo social como sinônimo de engajamento em atitudes paliativas.

Muitos de nós ficamos seduzidos a pensar que os empreendedores sociais eram grandes heróis. Não estou negando que esses indivíduos sejam excepcionais.
Eles identificaram oportunidades em áreas em que outros viam só problemas e persistiram em seus objetivos, que, para a maioria de nós, seriam distantes ou arriscados. Mas eles serão os primeiros a dizer que não atingiriam suas metas sozinhos.

Precisamos evoluir para uma apreciação mais realista do papel do empreendedor e da importância de um time de apoio e de um ecossistema de organizações que permitam o desenvolvimento da estratégia empreendedora.

Quais são as tendências do empreendedorismo social?
Uma tendência estimulante é o que tem acontecido dentro de empresas que tornaram como meta solucionar os maiores desafios do mundo de forma rentável.

Não quero passar a impressão de que isso esteja se tornando norma e de que estamos num momento de virada. Mas estamos definitivamente nos movendo na direção certa, embora, talvez, não rápido o suficiente.

Outra tendência excitante é o reconhecimento de que a definição atual de empreendedorismo -social ou comercial- é muito focada na criação de valor por meio de novas iniciativas. Ela foca muito o nome e o empreendedor, e não o suficiente a atividade de “estar empreendendo”.

Esse conceito reconhece que poucos de nós somos empreendedores, mas que todos podemos “estar empreendendo”, independentemente se trabalhamos em uma universidade de 800 anos, como eu, numa grande empresa ou numa instituição pública.

A senhora nota diferenças entre as tendências de empreendedorismo no Brasil e no restante do mundo?
No Brasil, continuamos separando o mundo no qual ganhamos dinheiro daquele em que fazemos o bem. Isso significa que, de alguma forma, aqueles de nós que nos consideramos “empreendedores sociais” somos os virtuosos e grandes e aqueles que são os “empreendedores comerciais” são o oposto.

Significa que ganhar dinheiro é algo do qual não nos devemos orgulhar, quando, na verdade, ganhar dinheiro é formidável. O tema, de fato, é como priorizamos isso e como fazemos isso.

Nossos cinco finalistas na faixa de 18 a 35 anos nunca consideraram trabalhar para grandes corporações. Isso é uma tendência?
Não há nada de errado em trabalhar para grandes corporações. Há muito a ser aprendido nelas. Se há essa tendência, os jovens não desejam esperar até os 50 anos para “retribuir”. Eles querem contribuir com seus talentos mais cedo para criar mudanças sistêmicas no mundo.

Nossas quatro finalistas neste ano são mulheres. Elas têm ganhado espaço nas iniciativas socioambientais?
A dificuldade para as mulheres é a desigualdade de gênero, que continua a existir em nossas sociedades em todos os lugares. Isso faz com que seja muito difícil para as mulheres fazer com que suas iniciativas empreendedoras ganhem escala.

Foto: Pamela Hartigan, da Skoll Centre for Social Entrepreneurship, especialista em empreendedorismo social

Fonte: Folha

 

9 Comentários

  1. Infelizmente, empreendedorismo no Brasil é visto como a manifestação do Diabo.
    Tudo isso devido a visão podre da escória ideológica petista que tem horror ao lucro e ao capitalismo

  2. ““No Brasil, ainda se separa fazer o bem e ganhar dinheiro”, diz Pamela Hartigan”

    Ainda bem.

    E antes que um “empreendedor” (palavrinha horrorosa) venha falar alguma coisa, o que está implícito na afirmação, e que não foi captado pela entrevistada, é a característica do limite ético/moral que nossa sociedade ainda se impõe.

    Como em nosso cotidiano o dinheiro (e seu acúmulo) raramente vem acompanhado de alguma mudança favorável ao bem do indivíduo/sociedade, a percepção é essa mesmo: riqueza se cria sobre a desgraça dos outros.

    • Realmente, para coletivistas fanáticos, empreender, prosperar,inovar,alavancar o progresso, gerar empregos e riquezas para a sociedade e um crime contra os seus sonhos de nos transformar em uma colonia de formigas socialistas.

      Quem não vence, detesta ver você vencer, quem não faz, detesta ver você vencer, este e o mantra do socialista coitadista toddynho.
      Esta frase resume bem o que e preciso para o progresso de uma sociedade:

      “O mundo não será salvo pelos caridosos, mas pelos eficientes.”
      Roberto Campos, .

      • Eu ia chamar o coitado a realidade, amigo Fábio, mas vc foi de uma categoria sem par… se esses cabeças de piaba vencerem o país vai pras cucuias… torço que, se for para isso acontecer, seja o mais breve possível para que todos vejam a MERDA que é viver sob os auspícios dessa corja idiota… esse arremedo de ideologia só é bom para os caudilhos vermelhuxos e esses capachos que não sabem fazer outra coisa senão escorar nas tetas do estado… bando de sanguessugas… INCOMPETENTES… se não tiverem uma teta para mamar morrem de fome… IMPRESTÁVEIS… ainda bem que essa “moral” transviada que apregoam não dura depois que acaba o dinheiro dos empreendedores… depois, até eles irão ter que pegar na massa para terem o que comer ou acabarão na sarjeta de onde, aliás, não mereciam ter saído…

      • Nada a ver com fanatismo CAPA PRETA. E menos ainda com qualquer proposta político-coletivista.

        Quando qualquer idéia sofre resistência por parte da população é porque esta não consegue se identificar com suas propostas, ou as considera de alguma maneira perigosas a ponto de afetar a normalidade ética/moral estabelecida no cotidiano.

        E no caso de paises como o Brasil deve-se adicionar o fator religioso (de qualquer matiz), que ainda exerce influência determinante no comportamento da maior parte da população.

        Se a população entende que gerar riquezas não é algo que beneficie tanto a coletividade quanto o indivíduo que a cria, então a resistência surgirá.

        Aliás, é interessante notar que, a mais de vinte anos, tentam de todas as formas empurrar em nossas cabeças esse conto de fadas de que basta ser “empreendedor” para constituir uma empresa. Nada mais distante da realidade. E as estatísticas estão aí para confirmar: mais de 70% das empresas não se sustentam além de três anos depois de criadas. Mas esse dado nunca tem o destaque que merece. Mesmo que o SEBRAE tente alguma coisa, o que nos falta não é visão empresarial, mas empresário capazes de existirem sem ajuda governamental, uma realidade brasileira a mais de 100 anos.

        A safra quebra? Dá-lhe ajuda do governo.

        Usamos tecnologia de produção ineficiente? Dá-lhe isenção fiscal.

        Nossos trabalhadores são pouco produtivos? Culpa do governo que não dá educação.

        Os EUA não são a maior potência industrial a toa. Há uma relação muito próxima entre empresários e o sistema educacional. Por aqui isto não existe. E não existe porque o empresário brasileiro não tem, historicamente, a ousadia de investir por seus próprios meios em educação e tecnologia. Simples assim.

  3. INDIVIDUALISMO e MERITOCRACIA, eis a solução para o Brasil potencia… o resto é retórica coletivista que não dá em nada, somente em atraso e dependência… e claro, MENOS IMPOSTOS e ESTADO MÍNIMO…

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