Esqueceram o Brasil

E o Brasil? Ficou esquecido. As eternas declarações de presidentes e diplomatas americanos de priorizar as relações com o gigante da América Latina não resistiram à nenhuma dose de realidade. Mais uma vez.

Está na hora de a presidente Dilma Rousseff rodar a baiana de novo. Destemida na ONU ao pedir a união da comunidade internacional contra a espionagem dos EUA, ela chamou a atenção do mundo pela justa indignação. Mas a fila andou e Dilma ficou completamente esquecida desde que o escandaloso grampo no telefone da chanceler Angela Merkel deixou enraivecidos os alemães e até um pouquinho constrangidos os americanos. No jogo para a plateia, o Brasil ganhou um aliado para impulsionar nas Nações Unidas a resolução tornando ilegais os cibergrampos. Mas nas conversas de bastidores e nas reuniões fechadas é que mora o perigo: a Alemanha está negociando publicamente sua participação no bloco dos cinco olhos – EUA, Reino Unido, Canadá, Austrália e Nova Zelândia -, mas será secreta a sua entrada neste novo grupo de poder em que as superpotências trocarão informações estratégicas. Para este espaço VIP, o Brasil não foi convidado.

“Não fomos nem acho que seremos convidados. E, se formos, não sei se devemos aceitar”, diz um diplomata.

Nesta discussão do aumento do bloco dos espiões unidos, até agora não há espaço para nações emergentes nem para defesa das liberdades individuais, desrespeitadas em massa pelo clube dos cinco olhos. Em debates nos think tanks, em artigos de jornais e, mais reservadamente, nos meios diplomáticos defende-se abertamente o compartilhamento dos segredos entre Alemanha e EUA como uma maneira de acabar com o mal-estar entre os dois velhos aliados. No popular, a conversa ficaria desse jeito: vamos parar com as reclamações e nós, poderosos, nos unimos e espionamos juntos. Pragmático assim.

“Sempre defendi uma aliança muito mais forte no compartilhamento das informações dos serviços de Inteligência entre Berlim e Washington. Apesar de apoiarem empresas rivais, os dois governos raramente têm propostas cruzadas”, defendeu Philip Zelikow, professor da Universidade de Virgínia e ex-diretor executivo da Comissão de investigação do 11 de Setembro, num artigo na edição de fim de semana do “Financial Times” Segunda-feira, os chefes dos serviços de Inteligência da Alemanha viajaram até a Virgínia e Maryland para conversar com os diretores da CIA, John Brennan, e da NSA, Keith Alexander, aqueles dois que fizeram Obama pensar melhor antes de prometer o impossível a aliados irritados.

Espiões são treinados para manter o sangue frio, e os chefes da segurança dos dois países foram fotografados rindo. Mas os alemães receberam a mesma resposta dada pelo secretário John Kerry ao então ministro Antonio Patriota: nenhuma chance de criar uma zona livre de espiões na Europa. Saíram apenas com a promessa de presentinho valioso, um “pacote” com todas as informações sobre a Alemanha filtradas nas dezenas de milhares de documentos baixados pelo vazador-mor Edward Snowden. Não é nada, não é nada, mas dá a Merkel a chance de não ser surpreendida.

“Não há regras nesse mundo, é assim em todos os países. A conta a fazer é se vale a pena irritar os aliados”, diz um ex-diretor do serviço secreto inglês, o MI6.

Todos estão fazendo este balanço. A reputação de Obama pode estar arruinada para sempre entre a opinião pública europeia. O estrago é pior na Alemanha, onde decepcionou os 200 mil que foram ouvi-lo quando ainda era um candidato prometendo mudar a imagem dos EUA no mundo, devastada após anos de Bush. A quebra de confiança entre os dois aliados é também particularmente dolorosa para os alemães, por reavivar os tempos da Guerra Fria quando os cidadãos do Leste – como Angela Merkel – eram monitorados pela Stasi, a polícia secreta da época comunista.

Aliados contam na paz, na guerra e nos negócios. De novo sob o impacto da espionagem, esta semana recomeçam as negociações para o mega acordo comercial entre Europa e EUA, um tratado com possibilidades de aumentar em 0,5% por ano o PIB da combalida economia europeia. É do interesse dos dois lados do Atlântico e acolher a Alemanha – em segredo – no bloco dos cinco olhos pode melhorar a posição do Reino Unido, olhado com desconfiança por ser o principal parceiro dos EUA na espionagem.

Claro que os detalhes de um acordo de inteligência com a Alemanha – mais entusiasticamente defendido por suas próprias autoridades do que por americanos – dificilmente serão revelados em público, mas um documento sobre “nova colaboração” entre os dois países deve ser assinado até o fim do ano.

E o Brasil? Ficou esquecido. As eternas declarações de presidentes e diplomatas americanos de priorizar as relações com o gigante da América Latina não resistiram à nenhuma dose de realidade. Mais uma vez.

 

Fonte: O Globo

8 Comentários

  1. Mais uma ótima notícia… para que nosso governo abra os olhos de vez para as relações internacionais limitadoras que cultivamos.

    Pois não adianta pensar em desenvolvimento real enquanto estivermos iludidamente atrelados ao lobo alfa do norte. São décadas de contenção, espionagem, suborno, e toda sorte de sabotagem dissimulada para cima do nosso progresso. Está aí a prova de suas eternas manipulações.

    Enquanto nosso país não se voltar para o mundo todo e, ao contrário, continuar interagindo apenas com antigos parceiros trairas – continuaremos não chegando a lugar algum.

    Nosso país é grande demais, e nossa produção em geral dos anos 90 para cá aumentou muito, para ficarmos restritos a acordos decadentes de parcerias americanas e européias escravizadoras. Precisamos urgentemente parar de dar crédito para quem sempre vem nos enrolando.



    Quanto aos americanos, e essa sua espionagem geral via internet e telecomunicações, estão parecendo crianças se divertindo com um novo brinquedo… O mundo ao seu redor parece que foi esquecido.
    Eles estão acumulando tanto informação que até acham que dá para a compartilharem em doses controladas com certos aliados. Porém, há limites para tudo, fofoca demais acaba causando uma série de inimizades e estragos permanentes.
    Isso que eles (milhares e milhares de novos funcionários babacas com crachá importante da NSA) estão fazendo em nome de “espionagem de segurança nacional” vai acabar é levando seu país para natural isolamento, com perda significativa de poder e influência. Quem viver verá… já que é aquela velha história se repetindo… vc pode mentir e sacanear uma ou duas vezes, mas na terceira nem seus amigos ou irmãos mais chegados lhe estenderão a mão.

  2. Que bom… assim vai logo por água abaixo essa PALHAÇADA de “Presidente do Brasil é a mulher mais poderosa do mundo!” que andou circulando por aí!

    Quando não se tem “SEMANCOL” uma boa ducha fria é recomendado… caso contrário vai de tapa na cara mesmo!

    O porque dessa “atitude internacional” é relativamente simples… o Brasil necessita bem menos recursos poítico/financeiro/comerciais para ser manipulado… logo, vamos (Eles) prestar atenção em quem realmente importa.

    Simples assim!

  3. Talves os seguidores do Blog Não se lembrem mas vou recordalos quando divulguei que era a favor do BRASIL ter armas de destruição em massa muitos me creticaram apoiando-se de que o BRASIL seria protegido pois se o nosso pais foce invadido por alguma nação poderosa a outra se oporia a tal invazam AI EU PERGUNTEI O QUE O BRASIL FARIA CASO O BRASIL FOCE ATACADO PELO FATOR AZAR DO MAIS FRACO que conciste em os mais poderosos se unirem contra o mais fraco quem nos defenderia ME RESPONDERAM QUE ERA ALGO IMPOSSIVEL DE ACONTECER BEM O BRASIL NÃO FOI ATACADO MILITARMENTE MAS FOI ATACADO E OLHA O QUE ACONTECEU OS PODEROSOS SE UNIRAM E O BRASIL COMO MAIS FRACO A ONDE ESTA não levou nem um ano para os que me criticaram levacem a resposta da VIDA.o que me diram agora.AINDA PENSSO DO MESMO MODO NINGUEM RESPEITA FRACO PODE ATE TER PENA OU COMPAICHAM MAS ESTES CENTIMENTOS NÃO OS EMPEDIRAM DE SE VOLTAREM CONTRA NÓS CASO ELES NESCECITEM MAS SE ACASO O BRASIL TENHA COMO DAR RESPOSTA A CONVERSA E TOTALMENTE DIFERENTE POIS A FORÇA IMPÕE RESPEITO PARA ALGUNS E MEDO PARA OUTROS SE O OBJETIVO FOR DE NOS DEIXAR EM PAZ FOR ALCANSADO NÃO ME IMPORTO SE CONFUNDIREM MEDO COM RESPEITO OU RESPEITO COM MEDO.

  4. Mas alguém ainda acha que devemos esperar alguma ação respeitosa de parte dos EUA para com o Brasil?
    Eles nunca nos viram como nação soberana.
    Não nos esqueceram porque nunca se lembraram de nos, a não ser nos momentos em que precisam vender seus produtos.
    A Alemanha também esta fazendo cena, recentemente foi divulgado que os EUA usam aquele pais como base para ações de suas forças especiais. Inclusive usaram território Alemão para comandar ataques de drones.
    Eu não sei para que tanto barulho. Os Americanos mijaram fora do pinico. Desrespeitaram acintosamente seus aliados, desrespeitaram o Brasil (que não era seu aliado), e continuam sustentando que não vão parar de espionar.
    E o pior é que não cabe aí a desculpa de que espionaram para se proteger de terrorismo. As informações vazadas deixaram claro que eles fizeram espionagem industrial. Certamente algumas empresas Americanas receberam informações coletadas com estas espionagens, e isto pode ter dado a elas grandes vantagens em negociações com empresas ou com o governo Brasileiro.
    Esta constatação de que nos esqueceram, é mais um capitulo nesta trama, e mostra mais uma vez que o Brasil precisa repensar suas relações. Isto não significa que devemos abandonar os EUA, mas devemos olhar com mais atenção para outros países que podem se tornar grandes parceiros do Brasil.
    Já que até agora a relação com o Tio Sam não nos tem dado muitos ganhos, devemos procurar parceiros com os quais possamos conseguir tecnologias e equipamentos que até agora nos tem sido negados pelos EUA.
    Devemos olhar com mais atenção para a China, Rússia, África do Sul, entre outros, e analisar com cuidado o que eles podem nos oferecer.
    Ganhamos quando engenheiros Franceses ajudaram a desenvolver o Bandeirantes, ganhamos quando a Itália nos ajudou a desenvolver o AMX, ganhamos com a África do Sul quando trabalhamos juntos no desenvolvimento do míssil A-darter.
    Enquanto que os EUA, negaram a venda de componentes para o VLS ( http://www.aeb.gov.br/2009/12/brasil-desenvolve-sistema-de-navegacao-de-satelites-e-foguetes/), entregaram componente com especificação errada para o míssil piranha entre outros. Foram muitos os caos de embargos de equipamentos eletrônicos por parte dos Americanos.
    É direito deles embargarem o que quiserem, mas chega desta hipocrisia de que são nossos amiguinhos.
    Chega de dependência.
    A relação com eles tem que ser muito cuidadosa e focada em interesses econômicos, pois na área militar, eles não confiam em nós o suficiente para nos repassar qualquer coisa que preste.
    Afinal, nós só podemos ser amigos dos amiguinhos deles.

    • GilmarJose concordo mas espero que voce tambem concorde comigo de que não podemos ficar sem dar resposta a altura eles só nos daram o devido respeito se dermos neles a devida resposta pois só se da valor a algo quando se nescecita dele e ele já não mais se intereça por nós TU ME EMTENDEU.

  5. Caro amigo Luiz Anselmo Pias Perlin.

    Concordo plenamente com você de que o Brasil precisa ter forças armadas fortes para poder prover ao pais um mínimo de poder de dissuasão. Isso é um fato incontestável.
    Um pais com as forças armadas como as nossas, fracas e abandonadas por nossos sucessivos governo, e com as riquezas que temos, como o pré-sal e outras riquezas minerais, acaba se tornando um convite para países aventureiros que estão por ai levando vantagens às custas da desestabilização de outras nações.
    Infelizmente com os governos que temos tido, as perspectivas para as forças armadas não são nada boas.
    Veja um dos exemplos de descaso do nosso governo: http://www1.folha.uol.com.br/poder/2013/11/1368081-forcas-armadas-querem-r-58-bilhoes-adicionais-no-orcamento-de-2014.shtml
    Na força aérea por exemplo, a média de aviões mais novos estão no GTE, para transportar os incompetentes que estão sucateando a própria FAB.
    Enquanto isso metade dos aviões da Força Aérea estão no chão.
    Veja a vergonhosa novela da aquisição dos caças da FAB, que se arrasta por décadas. Enquanto que nossa aviação de caça continua voando o F-5, que mesmo com as modernizações feitas, não sobreviveriam em cenário de guerra moderna.
    Infelizmente, nossa FAB é incapaz de defender o Brasil. Nossos sucessivos governos, não lhe tem dado meios para desempenhar sua função.
    A questão é de politica irresponsável mesmo. Dinheiro tem. É tanto que sobrou até para carregar em malas e na cueca.
    Para sermos respeitados, precisamos de Forças Armadas fortes, e para isso precisamos mudar os políticos que nos comandam.
    Nas ultimas décadas, todos que estiveram no comando do pais, de um modo ou de outro, não deram às forças armadas as condições certas para desempenharem seu papel.

  6. E por que os grandes lá fora vão se lembra do Brasil?

    Nossos dirigentes lembram diariamente das imensas favelas que infestam o país? Das leis falidas que só servem para engordar o caixa judicial com possibilidades de recursos ‘ad eternum’. Da educação qualidade nível Lixo das ‘escolas’ públicas?

    Lembrar do Brasil? Deixe isso pras emissoras com seus ‘pogramas’ podres. Elas lembram diariamente de alienar a ‘povo mais feliz e bonito do mundo’.

    Ah, e quem puder avisar o governo de que existe uma concorrência para compra de caças para a FAB ainda pendente de definição… Acho também esqueceram disso…

    Sds.

  7. Esta foto da matéria é bastante sugestiva.
    Obama e Merkel dando as costas para quem? Para o Brasil? Ou para o resto do mundo.
    Acredito mais na ultima hipótese, pois com relação à espionagem, Obama só começou a dar explicações depois que a Merkel cobrou dele.

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