“Brasil e o Primeiro Mundo: políticas de bastidores, ontem e hoje”

  reagan-e-figueiredo-granja-do-torto-brasilia-df-dezembro-1982Ontem: “Presidente, essa é uma operação muito delicada, se o senhor não pagar eu vou preso”; eHoje: “No jogo para a plateia, o Brasil ganhou um aliado para impulsionar nas Nações Unidas a resolução tornando ilegais os cibergrampos. Mas nas conversas de bastidores e nas reuniões fechadas é que mora o perigo: a Alemanha está negociando publicamente sua participação no bloco dos cinco olhos – EUA, Reino Unido, Canadá, Austrália e Nova Zelândia -, mas será secreta a sua entrada neste novo grupo de poder em que as superpotências trocarão informações estratégicas. Para este espaço VIP, o Brasil não foi convidado.“Não fomos nem acho que seremos convidados. E, se formos, não sei se devemos aceitar (???)”, diz um diplomata brasileiro.Aliados contam na paz, na guerra e nos negócios. De novo sob o impacto da espionagem, esta semana recomeçam as negociações para o mega acordo comercial entre Europa e EUA, um tratado com possibilidades de aumentar em 0,5% por ano o PIB da combalida economia europeia. É do interesse dos dois lados do Atlântico e acolher a Alemanha – em segredo – no bloco dos cinco olhos pode melhorar a posição do Reino Unido, olhado com desconfiança por ser o principal parceiro dos EUA na espionagem.Claro que os detalhes de um acordo de inteligência com a Alemanha – mais entusiasticamente defendido por suas próprias autoridades do que por americanos – dificilmente serão revelados em público, mas um documento sobre “nova colaboração” entre os dois países deve ser assinado até o fim do ano.“E o Brasil? Ficou esquecido.”  As eternas declarações de presidentes e diplomatas americanos de priorizar as “relações com o gigante da América Latina não resistiram à nenhuma dose de realidade.” Mais uma vez.”

 

 

“Presidente, essa é uma operação muito delicada, se o senhor não pagar eu vou preso”

 

Gérsio Mutti

 

Há a seguinte história verídica, que em certa ocasião no ano de 1982, no início da crise mundial das dívidas externas de vários países, a começar pelo México, o Brasil necessitou de um empréstimo de emergência, pois a crise também já envolvia o Brasil.

 

O então Ministro do Planejamento, Delfim Netto, com a devida autorização do então Presidente, João Figueiredo, expôs a situação ao então Embaixador dos EUA no Brasil, Anthony Motley, e este contactou o então Presidente dos EUA, Ronald Reagan.

 

Ficou acertado que o Presidente João Figueiredo  ligaria para o Presidente dos EUA, Ronald Reagan, da residência presidencial, Granja do Torto,  o que de fato ocorreu.

 

Estavam presentes na Granja do Torto, o ex-Ministro do STF Leitão de Abreu (Chefe da Casa Civil), Ernane Galvêas (Ministro da Fazenda) , Delfim Netto (Ministro do Planejamento) , e  Anthony Motley (Embaixador dos EUA no Brasil.

 

Após a solicitação verbal feita pelo Presidente João Figueiredo sobre um “empréstimo-ponte de Governo a Governo”, o Presidente Reagan exclamou: “Presidente, essa é uma operação muito delicada, se o senhor não pagar eu vou preso”.

 

Em seguida o Presidente Reagan acatou a solicitação verbal e ficou acertado o “empréstimo-ponte de Governo a Governo”, e, consequentemente, o governo brasileiro, na ocasião, atravessou a delicada situação ileso, o que seria o início dos problemas da Dívida Externa Brasileira, ou seja, aumentos constantes em dolares do barril de petróleo, acompanhado de um aumento estratrosférico dos juros dos EUA para debelar a inflação interna crescente.

 

Uma semana depois, o Brasil ressarciu o erário público americano.

 

Acesse “A crise da dívida na visão de Delfim Netto” [(00:05:31) 

 

Foto: Reagan e Figueiredo na Granja do Torto em Brasília (DF), dezembro /1982  

 

 

Leia também:

 

Esqueceram o Brasil

 

 

Dilma ficou completamente esquecida desde o escandaloso grampo no telefone da chanceler Angela Merkel

 

 

Helena Celestino

Está na hora de a presidente Dilma Rousseff rodar a baiana de novo. Destemida na ONU ao pedir a união da comunidade internacional contra a espionagem dos EUA, ela chamou a atenção do mundo pela justa indignação. Mas a fila andou e Dilma ficou completamente esquecida desde que o escandaloso grampo no telefone da chanceler Angela Merkel deixou enraivecidos os alemães e até um pouquinho constrangidos os americanos. No jogo para a plateia, o Brasil ganhou um aliado para impulsionar nas Nações Unidas a resolução tornando ilegais os cibergrampos. Mas nas conversas de bastidores e nas reuniões fechadas é que mora o perigo: a Alemanha está negociando publicamente sua participação no bloco dos cinco olhos – EUA, Reino Unido, Canadá, Austrália e Nova Zelândia -, mas será secreta a sua entrada neste novo grupo de poder em que as superpotências trocarão informações estratégicas. Para este espaço VIP, o Brasil não foi convidado.

“Não fomos nem acho que seremos convidados. E, se formos, não sei se devemos aceitar”, diz um diplomata.

Nesta discussão do aumento do bloco dos espiões unidos, até agora não há espaço para nações emergentes nem para defesa das liberdades individuais, desrespeitadas em massa pelo clube dos cinco olhos. Em debates nos think tanks, em artigos de jornais e, mais reservadamente, nos meios diplomáticos defende-se abertamente o compartilhamento dos segredos entre Alemanha e EUA como uma maneira de acabar com o mal-estar entre os dois velhos aliados. No popular, a conversa ficaria desse jeito: vamos parar com as reclamações e nós, poderosos, nos unimos e espionamos juntos. Pragmático assim.

“Sempre defendi uma aliança muito mais forte no compartilhamento das informações dos serviços de Inteligência entre Berlim e Washington. Apesar de apoiarem empresas rivais, os dois governos raramente têm propostas cruzadas”, defendeu Philip Zelikow, professor da Universidade de Virgínia e ex-diretor executivo da Comissão de investigação do 11 de Setembro, num artigo na edição de fim de semana do “Financial Times” Segunda-feira, os chefes dos serviços de Inteligência da Alemanha viajaram até a Virgínia e Maryland para conversar com os diretores da CIA, John Brennan, e da NSA, Keith Alexander, aqueles dois que fizeram Obama pensar melhor antes de prometer o impossível a aliados irritados.

Espiões são treinados para manter o sangue frio, e os chefes da segurança dos dois países foram fotografados rindo. Mas os alemães receberam a mesma resposta dada pelo secretário John Kerry ao então ministro Antonio Patriota: nenhuma chance de criar uma zona livre de espiões na Europa. Saíram apenas com a promessa de presentinho valioso, um “pacote” com todas as informações sobre a Alemanha filtradas nas dezenas de milhares de documentos baixados pelo vazador-mor Edward Snowden. Não é nada, não é nada, mas dá a Merkel a chance de não ser surpreendida.

“Não há regras nesse mundo, é assim em todos os países. A conta a fazer é se vale a pena irritar os aliados”, diz um ex-diretor do serviço secreto inglês, o MI6.

Todos estão fazendo este balanço. A reputação de Obama pode estar arruinada para sempre entre a opinião pública europeia. O estrago é pior na Alemanha, onde decepcionou os 200 mil que foram ouvi-lo quando ainda era um candidato prometendo mudar a imagem dos EUA no mundo, devastada após anos de Bush. A quebra de confiança entre os dois aliados é também particularmente dolorosa para os alemães, por reavivar os tempos da Guerra Fria quando os cidadãos do Leste – como Angela Merkel – eram monitorados pela Stasi, a polícia secreta da época comunista.

Aliados contam na paz, na guerra e nos negócios. De novo sob o impacto da espionagem, esta semana recomeçam as negociações para o mega acordo comercial entre Europa e EUA, um tratado com possibilidades de aumentar em 0,5% por ano o PIB da combalida economia europeia. É do interesse dos dois lados do Atlântico e acolher a Alemanha – em segredo – no bloco dos cinco olhos pode melhorar a posição do Reino Unido, olhado com desconfiança por ser o principal parceiro dos EUA na espionagem.

Claro que os detalhes de um acordo de inteligência com a Alemanha – mais entusiasticamente defendido por suas próprias autoridades do que por americanos – dificilmente serão revelados em público, mas um documento sobre “nova colaboração” entre os dois países deve ser assinado até o fim do ano.

E o Brasil? Ficou esquecido. As eternas declarações de presidentes e diplomatas americanos de priorizar as relações com o gigante da América Latina não resistiram à nenhuma dose de realidade. Mais uma vez.

Fonte: O Globo 

 

2 Comentários

  1. “Presidente, essa é uma operação muito delicada, se o senhor não pagar eu vou preso”

    É verdade quando dizem que o ”pobre” paga suas dívidas é o rico quem sempre da calote ! kkkkkkk

    ”Em setembro, os EUA suspenderam o pagamento de US$ 12,3 milhões referentes a compensações de subsídios do algodão acordadas em 2010. O valor repassado ao Instituto Brasileiro do Algodão no mês foi de US$ 4,9 milhões. Como resposta, o país prepara retaliações que podem variar entre US$ 500 milhões e US$ 1 bilhão, autorizadas pela OMC.”

    http://www.planobrazil.com/tensao-entre-brasil-e-eua-passa-alem-da-espionagem/

  2. A resposta do Brasil esta sendo preparada. Mas passa por mais criptografia, Nova Lei para a internete. Novos satélites, novo cabo submarino com os BRICS, nova orientação da ABIN.

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