Guerra síria vive estagnação no campo de batalha e na diplomacia

Apesar de Assad clamar vitória, nenhuma das partes envolvidas no conflito conseguiu avanços territoriais significativos nos últimos meses. Ao mesmo tempo, crescente divisão entre rebeldes torna saída política improvável.

Desde que, em junho passado, as tropas do regime de Bashar al-Assad tomaram, com ajuda da milícia Hisbolá, a cidade de Al-Kusair, nenhuma das partes envolvidas no conflito clamou uma grande conquista territorial. Os frontes da guerra civil síria são, hoje, amplamente solidificados.

Em Deraa, no sul do país, os rebeldes dominaram o centro histórico, mas não conseguiram expulsar as forças de Assad da cidade. Situação similar vive a província de Deir al-Sor, rica em petróleo. Ali, só os radicais islamistas ampliaram sua zona de influência, ainda que às custas dos rebeldes.

Segundo Joshi Shashank, especialista em síria do Royal United Services Institute (Rusi), chegou-se a um impasse no campo de batalha. Todas as partes, afirma, reforçaram os postos já conquistados. O regime controla agora um corredor de Deraa, passando por algumas áreas de Homs e a oeste em zonas na costa do Mediterrâneo. Ao mesmo tempo, rebeldes estão cada vez mais fortes no noroeste, ao longo do rio Eufrates e da fronteira com o Iraque.

“A diferença no lado rebelde é que não há uma aliança uniforme que controle o território conquistado”, diz Shashank. Curdos contra jihadistas ligados à Al-Qaeda são responsáveis, por exemplo, pelas maiores rixas interna entre a oposição.

Ceticismo sobre negociações

Apesar dos mais de dois anos e meio de guerra e das mais de 100 mil mortes, nenhum lado dá sinais de que vai se entregar. O regime de Assad, a propósito, parece se ver numa posição mais forte do que antes.

“O regime conta que os rebeldes vão acabar se cansando”, diz Eyal Zisser, especialista em Síria da Universidade de Tel Aviv. “Quando se batalha pela vida, a questão da sobrevivência é um tipo de vitória.”

Shashank diz que Assad de fato acredita ter uma posição mais favorável e faz uma comparação do panorama atual com meados de 2012, quando as tropas do regime pareciam estar perdendo terreno. “Fazendo essa comparação, o regime está indo muito bem”, afirma o pesquisador do instituto Rusi.

Apesar das poucas mudanças no campo de batalha, o governo sírio pode comemorar avanços no campo diplomático. Ao aceitar a destruição de suas armas químicas, Damasco abriu um novo canal com a comunidade internacional – e afastou o risco de uma intervenção militar americana.

Shashank explica que o Ocidente está cada vez mais hesitante em apoiar uma oposição cada vez mais dividida e influenciada pelo crescimento dos islamistas. Por isso, afirma, Assad deveria considerar participar das negociações de paz marcadas para o próximo dia 23, em Genebra.

Albert Stahel, especialista em estudos estratégicos, ressalta que as conversas na Suíça podem levar a uma pressão para a renúncia de Assad, mas sem implicar uma transição fundamental de poder na Síria. “O regime não pode colapsar. Ninguém quer que isso aconteça”, opina.

Um país dividido

Turquia e Arábia Saudita, explica o especialista, gostariam de ver o poder passado aos rebeldes. Todos os demais parecem concordar, apesar dos repetidos apelos para Assad renunciar, que o regime em Damasco deve ser mantido, em prol da estabilidade. E é nesse ponto que os interesses de EUA, Rússia e Irã convergem.

Por sua parte, os rebeldes dizem só parar de lutar após a renúncia de Assad, que rejeita categoricamente a ideia. Uma solução política parece distante – mesmo alas da própria oposição já disseram que não irão a Genebra. A Coalizão Nacional Síria, que agrupa várias facções anti-Assad, ainda não confirmou presença.

Na prática, a Síria é um país dividido – uma colcha de retalhos repartida entre grupos pró-regime, curdos, salafistas, islamistas e outros vários. Se nem a diplomacia, nem o combate podem levar a guerra a um fim, a comunidade internacional pode se ver forçada, eventualmente, a aceitar um país dividido. Albert Stahel, porém, duvida que a situação chegue a tal extremo.

Shashank, por sua vez, diz que há preocupação em alguns países de que a Síria venha a repetir alguns elementos da história recente iraquiana. Em 1991, parecia que Saddam Hussein estava prestes a sair do poder. O Iraque enfrentava, após a Primeira Guerra do Golfo, zonas de exclusão aérea, embargo ao petróleo e revoltas ao então cada vez mais fragilizado ditador. “Parecia que era o fim da linha, mas depois ele acabou aguentando por mais 12 anos”, lembra.

 

Fonte: DW.DE

4 Comentários

  1. Quando o barco está afundando, os ratos são os primeiros a perceber, e procuram sempre cair fora… por isso as lutas intestinas entre os rebeldes… simples né??

    Pois é… continue matando esses ratos dos rebeldes fundamentalistas islâmicos… mande todos eles pro colo do Allah Akbar…

  2. Creio que não há estagnação, mas preparação para novas etapas a partir das prováveis reuniões que ocorrerão em Genebra. Após o ponto de extrema tensão que colocou a marinha russa como escudo da Síria, é hora dos movimentos políticos que deverão estabelecer novos objetivos no conflito.

    O conflito na Síria iniciou a partir de claros descontentamentos da população com o governo local para, em seguida, ser apropriado pela agenda internacional que envolve controle sobre fontes de energia, terrorismo, agenda americana para o Oriente Médio, a chamada Primavera Árabe, controle sobre o mundo muçulmano, influência russa na região, etc.

    Sob meu ponto de vista a internacionalização do conflito se deu com a construção da imagem de “libertadores” atribuída aos combatentes rebeldes, e que funcionou bem dentro da guerra midiática até certo ponto. A todo momento eram apresentadas com grande destaque as deserções do exército sírio, aviões e helicópteros sendo abatidos, as tomadas de cidades como Homs. Este momento serviu principalmente para arregimentar voluntários vindo do leste europeu e da Ásia para que atuassem junto aos rebeldes. Criou simpatia a ação dos revoltados contra uma das maiores ditaduras do mundo atual. Ao mesmo tempo divulgava-se a oposição síria como instituição organizada e coesa. De quebra, deu força ao CCG, que acreditava possível a deposição de Assad e a instauração de novo governo tutelado pela Arábia Saudita.

    Porém, e surpreendentemente, esta fase midiática teve boa resposta através da ação de agências de notícias também do leste europeu, que se engajaram em coberturas das ações do exército sírio. Aqui cabe até o destaque da Agência Anna com seus vídeos fazendo contraponto principalmente na internet (o YouTube tem centenas deles). Obviamente que imagens de rebeldes praticando canibalismo e fuzilando prisioneiros facilitou muito o trabalho dos sistemas de mídia favoráveis ao atual governo sírio e, de quebra, tirou quase todo o apoio da população local a ação dos rebeldes. Paralelamente a ação midiática, o exército sírio se reorganiza e começa a colher frutos positivos adotando novas estratégias de combate que levam ao recuo dos grupos rebeldes e a tomada de posições estratégicas dentro do país. Isto, associado ao profundo suporte russo, iniciou o processo de cisão entre os chamados rebeldes e a oposição “moderada”, que começaram a se mostrar não tão unificados como a campanha midiática inicialmente sugeria. E também mostrou que seus apoiadores externos não possuíam os mesmos objetivos. Exemplo claro disso foi o “piti” dado pelo governo saudita nas últimas semanas, onde ameaçou tanto Putin quanto Obama de endurecer a jihad.

    O momento atual favorece totalmente o exército sírio, esgotado depois de mais de dois anos de conflito. Esgotado mas não derrotado e desarticulado, idéia vendida pelas estruturas midiáticas ocidentais no início do conflito. É o momento do fôlego e da reestruturação do conflito por parte do exército sírio. Pessoalmente creio que o exército sírio é o único beneficiário desse momento pois os rebeldes, sem sua rede de suporte externo (que, diga-se de passagem, está muito fragmentada e não fornece os meios necessários para uma vitória – armamento pesado), não conseguirão fazer frente a novos ataques das forças regulares. E lembrando que o avanço sírio só ocorreu quando os experimentados combatentes do Hezbolah entraram em cena, fornecendo preciosa força experimentada em combate urbano. Estes pescoços duros fizeram muita diferença em vários conflitos no local.

    Talvez o grande problema nesse momento esteja ligado a questões religiosas. Eu acredito que os rebeldes perderão o conflito, mas é a forma como o governo sírio irá administrar essa vitória sobre um grupo genericamente identificado com o islamismo é que definirá como a oposição e a situação organizarão o país. No momento, a ação dos rebeldes conseguiu fazer com que todas as minorias religiosas não os apoiassem, e criou desconfiança mesmo entre aqueles com os quais dividem os mesmos princípios religiosos. Se por acaso Assada permanecer no poder (o que é bem provável), evitar a caça as bruxas não poderá ter vez em nome da estabilização de uma população cansada, com refugiados que deverão estar voltando para suas casas ou o que sobrou delas e, principalmente, com aqueles que não tomaram parte ativa no conflito mas que comungam com muitas idéias rebeldes.

    O artigo acima afirma que Turquia e Arábia Saudita querem o poder na mão dos rebeldes. Nada mais longe da realidade. Os rebeldes são apenas meio para outros fins. A Turquia não tem influência política suficiente para enquadrar a Rússia dentro da Síria. E o que a Arábia Saudita quer é um novo califado sob seu controle e que ajudaria no fortalecimento político sobre os avanços iranianos, ao mesmo tempo em que tenta se mostrar o único poder político viável da região. Mas para isso teria que combinar com os Curdos que, como se sabe, não são os melhores amigos da Turquia, apesar de estarem inteligentemente atuando neste conflito apenas de maneira a não perderam os espaços que conquistaram desde a deposição de Saddam Hussein.

    Então, sob meu ponto de vista, o que temos agora não é estagnação mas preparação para nova fase que, provavelmente, será definitivo. Se esta fase será exclusivamente política ou militar dependerá de quão dispostos estarão os agentes externos em manter seu apoio, em armas, aos rebeldes.

  3. A esquerda que supostamente sempre defendeu a democracia agora defende um ditador… vai entender… claro, ele está alinhado a Rússia ???… tá explicado… rsrsrsrsrs… o difícil é explicar para essa gente idiota e atrasada que nem a Rússia é esquerdista mais… seu chefe de governo atual é o retrato de Mussolini em pessoa… rsrsrsrsrsrsrs… se bem que comunista e fascista são a mesma coisa…

  4. “crescente divisão entre rebeldes torna saída política improvável.” Espertos estes financiadores malditos… separaram uma facção em 10!… agora o trabalho de inteligencia e todo o resto do exército de assad será muito mais difícil!… é mais tempo para resolução do conflito… a síria se tornará mesmo um reduto de lixo… e ak’s-47…! =/ Se não fizerem alguma coisa!… a Russia é a “santinha” 😉 protetora… só “ajudando”.

    Nunca renuncie a suas armas estratégicas!… Nunca!!… Isto já foi provado por A mais B na história que o fim sempre será danoso!… Não lidamos com justiça… mas com lobos!… Tiram seu sangue, e depois ainda o processam pela a quantidade de sangue não ser o suficiente… é isto!!!

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