Defesa & Geopolítica

FX-2: “Le Brésil n´est pas un pays sérieux!”

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F2000C_FAB-CópiaPreâmbulo, por Gérsio Mutti

Caros Editores e Comentaristas do Blog Plano Brasil, segue reportagem de Humberto Leite para a Revista Aerovisão Nº 238, outubro a dezembro de 2013, via Poder Aéreo.

Acrescentei logo no início da matéria, comentário de Roberto F. Santana pertinente ao assunto.

O motivo de começar o artigo com o comentário me vem à mente devido a um documentário que assisti em 2006, portanto antes da crise econômica mundial de 2008, num canal de assinatura da TV portuguesa. Esse documentário tratava da formação dos futuros Oficiais da Polícia de Portugal. Em certo momento, o entrevistador entrevistava um aluno sobre aulas teóricas e práticas de tiro no período letivo de um ano. O aluno respondeu que na programação oficial constava que cada aluno deveria atirar 100 vezes, mas que na prática cada aluno só atirava 25 vezes por ano; e que era pouco, “mas que dentro desse pouco estava bom.”

Aqui vemos a mentalidade ibérica que norteia o Brasil e, por extensão, toda a América Latina.

A falta de seriedade com a coisa pública vem de berço e não tem solução à vista! A coisa chega a ser epidêmica!

Em se tratando de Brasil, resumo da eterna opereta bufa : 

“Le Brésil n´est pas un pays sérieux!” 

“O autor coloca o cerne do problema em Anápolis, como se o GDA fosse Roma (Itália) e Manaus e Canoas fossem Avinhão (França), e no final do ano se iniciaria um Cisma do Ocidente , no caso, um Cisma dos Caças. Seria por acaso Anápolis um trono imperial muito vulnerável às fronteiras que estão milhares de milhas além horizonte? Creio que não. Brasília só é vulnerável à seca anual e às hordas de ‘black blocs’, nada mais.

É o Brasil que fica sem caças.

Existem unidades americanas que já foram equipadas com Phantom F-4, passaram por C-130, foram para o F-15, e voltaram para um humilde transporte bimotor, num espaço de quarenta anos e sem sair do mesmo lugar. Isso é normal, não compromete o profissionalismo, a proficiência e a tradição de ninguém.

Sentar à mesa do Presidente da República e argumentar dizendo que o centro de um país de oito milhões de quilômetros quadrados está desprotegido por que não temos caças que voam na velocidade de um Concorde ou que a população de Anápolis vai melhorar sua qualidade de vida com os novos caças, bem, é melhor nos prepararmos para uma longa vacância de caças. ” Roberto F. Santana (comentário  feito em 30/10/2013 às 21:13 horas)

 

“O GDA não terá avião até a chegada do FX-2”

Por Humberto Leite

Revista Aerovisão Nº 238 – out/nov/dez 2013

O “Covil dos Jaguares”, como é chamada a Base Aérea de Anápolis, passará a ser guarnecida por caças F-5EM de outros esquadrões da Força Aérea Brasileira, que vão cumprir o alerta de defesa aérea mantido nas 24 horas de cada um dos 365 dias do ano. Enquanto isso, o 1º Grupo de Defesa Aérea ficará sem aviões. Com um efetivo menor, serão mantidos apenas seis aviadores, que terão a missão de se manterem preparados para futuramente estarem no grupo que irá receber a nova aeronave de combate. Para “manter a mão”, eles também vão cumprir horas de voo em caças F-5EM, que passarão a ser os únicos supersônicos em operação no Brasil.

Em questão de idade, os Mirage 2000, fabricados no início da década de 80, são um pouco mais modernos que os F-5, recebidos pela FAB a partir de 1975. Mas após a modernização realizada na Embraer, os F-5E foram elevados ao padrão F-5EM (M de Modernizado) e se tornaram tecnologicamente superiores. Eles têm agora sistemas que permitem combate além do alcance visual, comunicação de dados (datalink) e até um sistema de mira montado no capacete. Por outro lado, os F-2000 têm características superiores em áreas essenciais para a defesa aérea: têm um alcance maior, voam mais alto e são mais rápidos. Enquanto um F-5EM não passa de 1.700 km/h, ou aproximadamente 1,64 vezes a velocidade do som, um Mirage pode acelerar até 2.300 km/h, o chamado Mach 2,2.

Quando se analisa só o critério velocidade, a partir do dia 31 de dezembro o Brasil perderá uma capacidade que, no cenário da América do Sul, está presente nas Forças Aéreas da Argentina, Chile, Colômbia, Equador, Peru e Venezuela. Todos estes países possuem aviões que alcançam Mach 2. A FAB reconheceu essa capacidade com a prorrogação da vida útil dos Mirage. O contrato com os franceses previa mil horas de voo para cada um dos 12 F-2000 recebidos a partir de 2006, sendo 10 monoplaces, para um piloto, e dois biplaces, para dois pilotos, utilizados em missões de treinamento. Pelo plano inicial, os jatos iriam parar no final de 2011. Com alguns ajustes, seis Mirage foram poupados para conseguirem permanecer em voo e com os seus equipamentos – radar, armamentos, sistemas eletrônicos – em pleno funcionamento até o final deste ano. Mas agora o tempo chegou ao seu limite e os caças vão sair de operação ainda sem um substituto com as características necessárias.

‘Não é o ideal. Vamos fazer o melhor possível’

O assunto acabou chegando ao Congresso Nacional. Em agosto, as Comissões de Relações Exteriores e de Defesa Nacional do Senado e da Câmara convocaram o Comandante da Aeronáutica, Tenente-Brigadeiro Juniti Saito, para uma audiência pública. Apesar de mostrar tranquilidade no cumprimento da missão, o Comandante – que nas décadas de 70 e 80 foi piloto de F-5 – não escondeu a necessidade de o Brasil adquirir um novo caça. O Brigadeiro foi enfático ao ser questionado como ficará a defesa dos céus do Brasil.”Não é o ideal. Vamos fazer o melhor possível”, declarou.

A FAB possui 46 F-5 modernizados que operam a partir do Rio de Janeiro, Manaus e Canoas (RS). A frota da aviação de caça é completada por três esquadrões de turbohélices A-29 Super Tucano e mais três esquadrões com jatos subsônicos A-1, também em processo de modernização e voltados para missões de ataque ao solo. O projeto F-X2 prevê que a futura aeronave substitua inicialmente os F-2000 e posteriormente novas encomendas sejam feitas para aposentar os F-5 e A-1, jatos que já voam na Força Aérea Brasileira desde as décadas de 70 e 80, respectivamente.

A chegada de novos caças depende agora da Presidência da República. Como assessoramento, em 2011 a Comissão Coordenadora do Programa Aeronave de Combate (COPAC), órgão do Comando da Aeronáutica, concluiu um relatório que aponta três aeronaves como satisfatórias para requisitos estabelecidos pela FAB: o Boeing F-18 Super Hornet, o Dassault Rafale e o SAAB Gripen NG (por ordem alfabética dos seus fabricantes). Com mais de 28 mil páginas distribuídas em 121 volumes, o relatório é a finalização de um processo iniciado há 18 anos, quando foram elaborados os primeiros requisitos para a compra de novas aeronaves de combate. Além de desempenho, também há considerações de aspectos como compensações comerciais, transferência de tecnologia, logística e participação do parque industrial brasileiro. “O foco principal desse projeto não é só comprar um avião de prateleira, e sim desenvolver junto com o parceiro escolhido uma tecnologia nacional”, explicou o Brigadeiro Saito.

A expectativa é que o contrato proporcione um salto tecnológico à indústria nacional. Foi o caso do próprio jato de ataque A-1, desenvolvido no início da década de 80 com uma participação minoritária da Embraer em um projeto de empresas italianas. Os conhecimentos adquiridos permitiram que a Embraer desenvolvesse a família de jatos de transporte regional que são atualmente exportados para todo o mundo. Para o F-X2, o plano é absorver tecnologias ainda inéditas por aqui, tanto em termos de estruturas quanto de tecnologia de bordo.

Mas o tempo não corre de maneira favorável aos planos de pilotos, engenheiros e economistas. O processo de aquisição de um novo caça é lento. A Tailândia, por exemplo, só recebeu em 2011 os seus primeiros caças Gripens de um contrato assinado em 2008. O mesmo ano da chegada dos F-18 Super Hornet australianos, encomendados em 2007. Antes do primeiro caça tocar o solo do país comprador, há ainda o envio de militares para treinamento no exterior, pois é necessária a formação nas novas tecnologias que uma aeronave mais moderna irá trazer.

Três esquadrões para quatro bases

“Nós vamos ter um hiato. Espero que não seja tão profundo”. A frase é do Brigadeiro Luiz Fernando de Aguiar, responsável pelo comando de toda a aviação de caça no Brasil. Ele engrossa o coro dos que acreditam que a modernização do F-5 o tornou apto para a missão neste momento. “Hoje em dia, o avião de combate é muito mais sistema, ele é muito mais armamento inteligente do que propriamente dito a plataforma”, diz.

Por outro lado, o Brigadeiro não esconde que o pior aspecto da aposentadoria dos Mirage é a realocação de forças. Os três esquadrões com F-5, do Rio de Janeiro, Manaus e Canoas (RS) vão assumir o alerta de defesa aérea a partir de Anápolis (GO) com suas próprias aeronaves. Vão ser três esquadrões para cobrir o espaço de quatro.

Todos os dias, pelo menos dois desses caças deverão estar em Anápolis, de qualquer uma das três unidades. “Pode acontecer de um dia estarmos com um F-5 de Canoas e outro de Manaus em alerta em Anápolis. Não importa”. A preocupação maior, no en tanto, é com o futuro. “Tem muita gente que pensa que se modernizou o F-5 e por isso não mais necessitamos de outro caça. Não! O F-5 chegou ao Brasil na década de 70. Continua sendo uma célula antiga, com restrições”, garante o Brigadeiro. Para ele, o importante agora é estar em condições de receber a nova aeronave. “Qualquer um dos três concorrentes a ‘F-X2’ supera em muito os Mirage e os F-5”.

Com a aposentadoria dos Mirage, o 1° Grupo de Defesa Aérea ficará sem aeronaves. “O F-5 não vai substituir o Mirage. O GDA não terá avião até a chegada do F-X2. É uma Unidade Aérea sem aeronave até a chegada do F-X2”. Boa parte do efetivo foi transferida para outras unidades. Permanecerá um grupo de seis pilotos, um Major e cinco Capitães, que vão manter a vida administrativa da unidade, cumprir horas de voos em jatos F-5 e participar de treinamentos e, no futuro, irão compor o primeiro grupo de militares a voar o novo caça a ser adquirido para a FAB. “Nós não podemos desperdiçar essa experiência que eles já têm como pilotos de Mirage”, finaliza o Brigadeiro Aguiar.

Para ler toda a matéria, acesse a fonte.

Fonte: Revista Aerovisão Nº 238 (out/Nov/dez 2013)  via Poder Aéreo 

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