O raid de 5 de outubro de um destacamento de operações especiais norte-americano contra a sede do movimento Al-Shabaab na cidade portuária de Barawe, na Somália, foi considerado pelos peritos como “a manifestação de uma nova abordagem na realização de operações especiais”.
Na noite de 5 de outubro um destacamento de operações especiais da Marinha dos EUA, o SEAL Team Six, desembarcou das lanchas na costa perto dessa cidade e ocupou dissimuladamente as suas posições para o assalto no pátio de um edifício de dois andares a 200 metros da costa. O objetivo era a captura ou liquidação do comandante operacional Ikrima, o organizador do ataque terrorista a um centro comercial de Nairóbi. Contudo, um guarda que saiu para fumar notou algo de suspeito. Ele voltou calmamente a entrar no edifício, mas poucos minutos depois saltou para fora disparando sua metralhadora. O destacamento, porém, apesar de ter perdido o fator surpresa, iniciou o assalto. Ele se separou em dois grupos, um dos quais entrou no edifício e, apesar do fogo de resposta intenso e em crescendo por parte dos militantes, começou as buscas do “alvo” percorrendo as divisões da casa. De acordo com um dos participantes do raide, Ikrima já estava debaixo de mira quando foi repentinamente rodeado por um grupo compacto de mulheres e crianças. Menos de uma hora depois chegou a ordem de retirada devido “à elevada probabilidade de baixas entre civis”. Com a cobertura de helicópteros de combate, o grupo retirou para o mar sem ter sofrido baixas.
Apesar de o combate ter resultado na morte de sete militantes, ainda há poucos anos este resultado teria sido considerado um fracasso. Ainda em finais dos anos 90 os norte-americanos tentaram impor a ordem com bombardeamentos e tiroteio contra povoações. Mas, tal como sempre ocorre, as vítimas entre a população só reforçavam as posições dos extremistas. A necessidade de uma mudança teve o seu argumento final com a triste experiência da incursão da Division Action, a divisão de operações especiais dos serviços secretos externos franceses DGSE, em janeiro deste ano para libertar na Somália o seu agente Denis Allex. Depois da morte de civis inocentes o Al-Shabaab, que já se estava a desagregar, obteve novos argumentos.
Os EUA perceberam a necessidade de “novas abordagens” muito antes dos seus colegas franceses. A incursão de outubro não foi o primeiro exemplo disso. Já durante a bem-sucedida operação do SEAL na Somália em dezembro de 2011, ao libertar reféns em condições semelhantes, o tradutor avisava os habitantes locais para não entrarem no pátio onde decorria o combate, enquanto os elementos do SEAL retiravam as mulheres e crianças de debaixo de fogo. Em Barawe eles atuaram da mesma forma. Todavia neste caso, quando os militantes começaram a colocar abertamente à sua frente “escudos humanos”, não houve uma escolha possível. De acordo com Daniel Goure, do Lexington Institute, “a presença de mulheres e crianças no aglomerado foi um fator determinante” que decidiu o cancelamento da operação.
Segundo as declarações do representante do Al-Shabaab, a operação foi bem-sucedida: os milicianos perderam o sossego e a paz no “seu próprio terreno”. De resto, Barawe dificilmente irá permanecer na sua posse. O Al-Shabaab já há muito que aumenta a animosidade da população contra si. Além das extorsões incomportáveis e das execuções, os terroristas estrangeiros do vizinho campo deAmbaresa dessa milícia, por exemplo, “tomam como esposas” à força mesmo meninas menores de uma forma generalizada. Já perspectiva de se tornarem “escudos humanos” durante a inevitável libertação da cidade do domínio do Al-Shabaab irá certamente determinar o comportamento da população.
Já Sun Tzu escrevia: “O verdadeiro estratego vence a guerra ainda antes de a começar, porque ele sabe quando se deve combater e quando não se deve.” Parece que finalmente começaram a prestar atenção à sabedoria do grande chinês.
E qdo alguns deles serem mortos numa violência destas, violar a soberania de um país, possível/ aprenderam…espero.Quem viver verá.Sds.