Rússia e Brasil: 185 anos de relações diplomáticas

Viktor Voronov

Hoje completam-se 185 anos do estabelecimento de relações diplomáticas entre a Rússia e o Brasil. Solicitamos ao vice-diretor do Instituto da América Latina junto da Academia de Ciências Russa, Boris Martynov, que comentasse este evento e respondesse a várias perguntas.

– Esta data deve ser comemorada como marcante pois o Brasil e a Rússia não são somente dois Estados, são duas potências regionais com forte projeção global, diz Boris Martinov. – Além disso, os dois países pertencem ao grupo emergente de países que integram o BRICS. Aí se pode tecer considerações a respeito de mais diversos assuntos. É hábito destacar a economia, o comércio, a colaboração técnico-científica, e isto é absolutamente justo.

Mas eu gostaria de deter-me num aspeto incomum que tem merecido pouca atenção quando se fala do futuro das relações russo-brasileiras. Acontece que tanto a Rússia, como o Brasil são Estados autossuficientes pois possuem todos os recursos naturais imagináveis e inimagináveis. Por exemplo, 30% da variedade biológica do mundo existe no território do Brasil. A Rússia e o Brasil possuem as maiores reservas de água doce no mundo. É bem provável que a partir das décadas 30 ou 40 deste século, a água seja precisamente o produto mais deficitário do nosso planeta.

Tudo isso faz-nos dedicar uma atenção especial à questão de garantia da segurança. Note-se que nas doutrinas de segurança, tanto russas, como brasileiras, diz-se que a atual década se caracteriza pelo agravamento da luta pela redistribuição de recursos naturais na Terra. Em vista disso, é absolutamente natural o aumento de despesas com a defesa no Brasil e os contatos anuais, – uma novidade nas relações entre os dois países, – entre o nosso Conselho de Segurança da Federação Russa e a Secretaria de Assuntos Estratégicos do Brasil. Além disso, entre a Rússia e o Brasil existem acordos sobre a colaboração na esfera militar, etc.

Quais são, na sua opinião, as razões que tornam necessária a ampliação de contatos na esfera da segurança?

– Isto se caracteriza pelo estado das relações no nosso planeta, consideradas por muitas pessoas no Brasil e no nosso país como relativamente mal ordenadas, bastante arcaicas, capazes de degenerar em certas situações imprevistas. Constatam-se problemas globais que se agravam cada vez mais. E isso impele-nos para a cooperação mais intensa com vista a manter as normas do direito internacional. É que tanto a Rússia, como o Brasil tratam com o mesmo respeito o direito internacional, resistindo permanentemente a quaisquer tentativas de contorná-lo ou de subestimar a sua importância. Por isso, na minha opinião, devemos colaborar futuramente em dois setores: garantia da segurança e da defesa nacional e a confirmação dos princípios e das normas do direito internacional.

Quais são os seus votos por motivo de 185 anos de estabelecimento de relações diplomáticas entre a Rússia e o Brasil?

– Faço votos para que a nossa colaboração se desenvolva. Faço votos para que os nossos países e os seus dirigentes, – embora não saiba se é conveniente fazer votos aos dirigentes, – consigam elaborar uma conceção inovadora dos problemas mundiais. O que nos falta um pouco é o enfoque criador e abandonar os chavões na avaliação das situações. Devemos renunciar aos estereótipos, como, por exemplo, de que o Brasil é um país de terceiro mundo.

É sabido que, no tocante a muitos índices de desenvolvimento técnico-científico, o Brasil ultrapassa a Rússia. É preciso renunciar à ideia de que a América Latina é uma esfera de influência dos EUA. Mas a política externa do Brasil é muito mais independente do que, por exemplo, da Grã-Bretanha ou da França. Portanto, devemos começar por abandonar os estereótipos, devemos fazer isso de acordo com aquilo que acontece no mundo, no nosso país, no Brasil e em qualquer outro lugar.

Fonte: Voz da Rússia