Dilma impõe alto custo político aos EUA

O adiamento da visita que a presidente Dilma Rousseff faria a Washington é possivelmente o mais alto custo político que os Estados Unidos tiveram de pagar até agora pelas revelações de espionagem contra a Agência Nacional de Segurança (NSA, na sigla em inglês).

Se por um lado a presidente corre o risco de despertar em Washington ecos do estereótipo do líder latino-americano populista e nacionalista, por outro é o governo do presidente Barack Obama que terá de lidar com a incômoda realidade de que as acusações ameaçam, sim, relações com aliados que considera estratégicos.

Da mesma forma, indica-se que a visita de Estado poderia ser retomada, em tom cordial e positivo, tão logo o assunto seja considerado superado.

Ainda assim, “é difícil retratar esse episódio de outra maneira que não seja um retrocesso nas relações”, define Michael Shifter, presidente do Interamerican Dialogue, um dos principais centros de estudos sobre América Latina baseados em Washington.

Sinal das mudanças na relação de forças entre países emergentes e industrializados, estava nas mãos da presidente brasileira a decisão capaz de afetar uma relação que gira US$ 100 bilhões por ano em comércio e serviços, engaja governos e setores privados e abarca áreas estratégicas como educação, ciência e tecnologia e energia.

Dilma se encontrava sob pressão política em direções opostas. A possibilidade mais arriscada para a presidente, acreditam analistas, era que novas revelações de espionagem americanas fossem divulgadas justamente quando ela estivesse em visita a Washington, propagandeando as “relações estratégicas” de Brasil e EUA.

Para a líder que vem se recuperando de uma queda circunstancial nas pesquisas de opinião, o risco de ficar “mal na fita” com os norte-americanos pode ter-lhe parecido um mal menor.

Custos políticos

Os custos políticos para a presidente ainda não estão claros. O vice-presidente do Conselho das Américas (COA), Eric Farnsworth, que já passou pelo escritório da Casa Branca para as Américas, disse que “Washington tem uma memória comprida para essas coisas”.

O ex-deputado, ex-conselheiro para Comércio nos governos de Obama e Bush e diretor da Escola de Política Aplicada da Universidade George Washington, Mark Kennedy, acredita que Dilma respondeu a um “apelo populista” para tomar sua decisão.

Kennedy considera que a decisão de Dilma foi ao mesmo tempo uma “demonstração de força” e “uma tentativa de influenciar o comportamento dos EUA no futuro”.

Por outro lado, ele considera que o maior ônus do incidente recairá sobre a Casa Branca. “Isto aumenta uma longa lista de decepções que resultaram das revelações sobre a NSA”, disse o especialista.

“As repercussões por causa da NSA têm sido extremamente negativas para a posição global americana e merecem uma resposta firme. Um parceiro regional forte com o Brasil seria um bom início para começar a reconstruir as relações internacionais.”

Michael Shifter, do Interamerican Dialogue, é mais incisivo. “Há algumas pessoas no governo americano que acreditam que o Brasil está tentando fazer uma encenação política. Para mim, essa atitude é um erro”, diz.

“Acho que será bom para Washington entender que há certas práticas que vão longe demais. (O adiamento da visita) é uma mensagem forte de que se Washington não tomar cuidado com essas práticas, vai pagar um alto custo político.”

Para Shifter, o adiamento da visita de Dilma ilustra “claramente” um desses casos.

Mitigando os efeitos

Sinal do esforço dos dois governos em tentar mitigar os efeitos colaterais negativos do episódio, o porta-voz da Casa Branca, Jay Carney, reforçou nesta terça-feira que o adiamento foi uma decisão comum de Brasil e EUA para que a visita de Estado não fosse “ofuscada” por um assunto só.

Em seu briefing à imprensa, o porta-voz indicou que a decisão foi acertada no telefonema de 20 minutos entre Obama e Dilma, na véspera.

“Justamente porque o relacionamento é tão importante e tem tantas facetas, o presidente concorda com esta decisão, tomada em conjunto, de adiar a visita”, declarou Carney.

A decisão, disse o porta-voz, foi “discutida no telefonema da noite de ontem (segunda-feira) e finalizada”.

BBC Brasil

Fonte: Terra

11 Comentários

  1. Os americanos aceitam o risco … isso é fato … se alguém não gostou … cai pra dentro.

    Personalidade e doutrina de uma Segurança Nacional de gente grande … aprende BRASIL .

  2. Primeiro de tudo: a economia brasileira está intimamente ligada a economia americana. As relações são recíprocas e todos os sentidos. Os americanos não podem simplesmente deixar de depender do Brasil ( que é um escoamento para sua produção de manufaturados e grande provedor de matérias primas ) e os brasileiros não poderiam deixar de depender dos americanos ( que ainda constituem o maior mercado consumidor do planeta e provedor do grosso da tecnologia mundial )… Ou seja, os dois perdem, cortando relações. E ambos os governos sabem disso…

    Obama está com um abacaxi nas mãos? Sim… Pode se dizer que sim. Mas ele também tem a consciência de que o Brasil, para sua sobrevivência, necessita exportar para os EUA ( tanto quanto para China e Europa ). Ou seja, ele tem uma vantagem técnica para negociar com o Brasil na hora que bem quiser…

    A presidente brasileira está com alguma vantagem? Sim… Está com uma “vantagem moral” da história, mas que pode lhe custar tecnicamente caro… Se os americanos fecham suas portas de uma vez, isso automaticamente levaria a uma hecatombe na industria brasileira. Vale lembrar que parque industrial brasileiro depende de muitas empresas com sede nos EUA, e que perde-las traria um imenso custo em empregos de alta tecnologia ( sem falar no custo político interno )… O Brasil não pode se permitir correr o risco de perder mercados dentro dos EUA, haja visto que chineses, russos e indianos não estão em condições de substituir os americanos como mercado consumidor; é uma lacuna que não poderia ser preenchida rapidamente…

    Agora… Essa situação, se bem manobrada, pode servir bem ao Brasil… Obama já provou muitas vezes que é um cidadão bastante maleável. Assim sendo, o Brasil pode muito bem negociar compensações ( em qualquer área ) para resolver problemas de longa data, principalmente no que diz respeito a cooperação em áreas de alta tecnologia agregada e comercial, o que criaria um curioso precedente… Os americanos, também dependentes do mundo para manter o “american way of life”, poderiam muito bem considerar rever suas posições ( principalmente com relação a sua síndrome de “polícia do mundo” ) e constituir esforços para harmonizar suas relações externas… Mas não creio que devam haver ilusões… Pressionar os americanos em excesso sempre foi um erro. Para os EUA, perder o Brasil seria gravíssimo ( ainda mais agora, enquanto estão se recuperando da crise recente ), mas não seria impossível sobreviver ( mesmo que a um elevado custo ). Para o Brasil, perder os EUA seria uma catástrofe cujas consequências seriam funestas, criando uma situação extremamente difícil de remediar…

    Enfim, meu palpite é de que os americanos se encontrarão dispostos a negociar uma saída honrosa para essa questão, ainda mais levando em consideração o enorme prejuízo que seria perder relações com o Brasil, e que o país pode ganhar muito com isso…

    Moral da história: “back to business”… 😉

    • Hoje meu caro a economia deles é que esta intimamente não so ligada mas dependente da nossa.
      O tempo que especulações e papeis ditavam as regras acabou.
      O maior parceiro economico e maior investidor e aplicador no Brasil é a China meu caro e vem fazendo tudo isso integralmente integrada as novas exigencias nacionais de detenção maxima de 30%..
      Ate 2012 a China construiu 12 mil quilometros de ferrovias no Brasil isso não sai no Fantastico.
      Nossas criaçoesminovações e ate invenções de novas tecnologias e novo ferramental adequado,infraestruturas e inicio de produção de tudo imaginavel a tornar possivel a exploração do pré-sal e tudo o mais que a envolve so esta sendo possivel graças aos investimentos,aplicações e parcerias com os Chineses,isso tambem não sai no Fantastico.

      • 1maluquinho,

        Os chineses são uma parcela dos que investem no Brasil… Se formos colocar tudo na balança, verificar-se-á que os americanos respondem por uma parte insubstituível dos que negociam conosco. Não se pode considerar virar as costas para eles…

    • é isso mesmo _RR_, se a dilma for um pouquinho esperta saberá tirar proveito disso, os EUA podem aceitar tal “proveito”(depende) .
      e torno a dizer que na condição dos EUA eles estão mais que certos de fazer a sua “espionagem”, o brasil que tome vergonha e aprenda a fazer a lição de casa e faça o mesmo com eles(EUA).

  3. A BBC… quem te viu quem te vê. Até a velha desculpa da relação América Latina/Populismo ela foi buscar. Triste.

    Mas falando de coisa séria, concordo com os termos do _RR_. Nenhum país hoje em dia pode se dar ao luxo de azedar completamente as relações com qualquer outro. O governo brasileiro precisava sim dar uma resposta o mais dura possível ao caso. E a declaração “quase” conjunta mostra que os EUA vão ter de assimilar e achar uma saída. Conjunta. O Brasil tem déficit considerável na balança comercial com os EUA. Por outro lado somos o terceiro maior credor dos EUA, fora a grana que deixamos lá todo ano no turismo. É um jogo em que todos perdem se não houver entendimento. Estrategicamente, talvez tenhamos sido definitivamente empurrados para o outro lado do espectro político internacional, deixando um pouco a tendência conciliatória e agindo bem mais profundamente através do BRICS.

    Agora, que estes analistas internacionais estão falando bobagem, estão. Ao menos os citados no artigo que insinuam que tudo é jogo de cena para resolver um problema interno. Bobagem. Os índices de aprovação estavam crescendo bem antes dos casos de espionagem aparecerem. Ainda falta muito pra essa turma entender o que é o mundo além de Florida Keys.

  4. O cancelamento ja era esperado, nao ha clima para um jantar formal regrado com assinaturas de acordos comerciais e politicos , o erro dos EUA foram confiar tais tarefas de espionagem a terceirizados ,qualquer pais serio teria tomado a mesma decisao do brasil(apesar deste ser governado por maluquinhos associados a traficantes), a demora em comunicar a decisao foi para gerar espectativa e depois a rasgaçao de calcinha da esquerda estelionataria,tudo dentro da normalidade,agora e´esperar os EUA correrem atras do preju, so espero que a sapatona tire coisas positivas destes acontecimentos , que pena ,PERDEU obama,quem mandou se concentrar na diarreia siria,quem mandou se distrair ajudando terroristas matar cristaos na siria ,agora chuuupa ,engole o orgulho e corre atras ,petroleo aqui tambem tem !!!!!!!

    • Meu caro tudo o que produzimos aqui é essencial a sobrevivencia humana então clientes e parceiros jamais nos faltarão.
      Ja o Irmão Caim do Norte tem de chantagear,impor,induzir que seus capaxos comprem seus projetos para simplesmente terem como desenvolve-los.
      Quanto maior o palacio,o territorio do imperio e o numero de servidores do mesmo maior a logistica e as despesas e a manutenção disso tudo pode levar a queda.
      Em toda a historia da humanidade as civilizações dominantes cairam justamente por isso.
      Eles ja vem a 2 anos diminuindo o maximo que podem de tudo e assoberbados com nariz empinados dizem estarem apenas se ajustando e se tornando mais operacionais quando a verdade é que vão mal das pernas ja a um bom tempo e so cego não enxerga isso.
      Se tomarem agora uma ataque surpresa massiço de misseis da China não terão nem mesmo como defenderem-se pois todas as redes deles ja esta jameada a tempos e eles apenas em 2012 adimitiram isso.
      Desde o final da decada de 90 eles vem sistematicamente sendo invadidos e ate ja ficaram por horas sem controle das coisas como estivessem apenas se exercitando,brincando.
      Eu ja disse a tempos se sair no youtube o negão Obama de ciroula e a Michele de camisolinha correndo nos jardins da Casa Branca de madrugada sendo perseguidos pelo mais sofisticado drone Americano jameado acredite porque isso é real.
      – ” Eu temo que haja um novo Pearl Harbor (Panetta)

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