“Obama deixou EUA encurralados e foi enganado pela Rússia”, diz ex-assessor

 

Obama explicou aos americanos sua posição quanto à Síria

Barry Pavel, ex-conselheiro de segurança da Casa Branca, aponta sucessão de erros do presidente na questão síria. O principal deles, afirma, foi ter ido ao Congresso para resolver um problema que cabe ao chefe de Estado.

No aguardado discurso da madrugada desta quarta-feira (11/09), o presidente Barack Obama deu a entender que, diante da pouca margem de manobra no Congresso e da pressão internacional, atacar a Síria já não é mais sua prioridade. Ele reconheceu a chance à diplomacia oferecida pela Rússia e, ao mesmo tempo, lembrou que os Estados Unidos não podem mais ser a polícia do mundo.

Para Barry Pavel, ex-diretor de defesa e estratégia no Conselho de Segurança Nacional do governo Obama, o discurso foi apenas mais um dentro de um série de erros estratégicos do presidente. Obama, segundo o especialista, criou um problema para os EUA e deixou-se levar pela manobra diplomática empreendida pelos russos.

Em entrevista à DW, Pavel afirma que Obama não deveria ter pedido a autorização do Congresso para empreender uma intervenção militar e, agora, os sírios tentarão esconder seu arsenal de armas químicas dos controladores da ONU.

Deutsche Welle: Qual foi sua reação inicial ao discurso de Obama à nação?

Barry Pavel: Eu não vi nada de novo em termos de decisões políticas importantes. Acho que existem três resultados principais que são bastante prováveis: um é que os russos e sírios enganaram os Estados Unidos. Até uma semana atrás, Assad temia por sua própria sobrevivência. Agora ele recebe um novo sopro de vida e vai continuar no poder com toda a probabilidade.

Em segundo lugar, ele estava sofrendo a ameaça de deterioração de sua capacidade militar, e isso levaria a uma mudança de equilíbrio de poder no conflito – mas agora as suas forças militares não serão tocadas. Além disso, nós provavelmente havíamos aumentado as expectativas dos grupos rebeldes, e agora o moral desses grupos será afetado.

Eles iriam usar os ataques militares [por parte dos EUA] como uma forma de lançar uma ofensiva – recentemente, havia alguns soldados sírios dizendo: “Nós não nos importamos com os mísseis de cruzeiro, é o posterior avanço dos rebeldes que realmente nos preocupa.” E, finalmente, não tenho dúvida de que, enquanto estamos conversando, o Exército sírio está planejando como vai esconder suas armas químicas. É bastante lógico – eles estão planejando transferir alguma parte de seus estoques de armas químicas para algum lugar que não tenha que mostrar às autoridades da ONU.

Para mim, é incrível como o presidente deixou os Estados Unidos encurralados e foi enganado pelos russos, que já sabíamos que iriam fazer alguma manobra diplomática.

Então o que Obama esperava conseguir com seu discurso?

Ele ainda espera alcançar um voto do Congresso para autorizar eventuais ataques, mas escutou-se ele dizendo essa noite que ele não vai fazer mais isso. Bem, acho que a razão pela qual ele não vai fazer isso é porque ele sabia que não iria conseguir os votos. Minha compreensão de contabilidade política é que os prováveis votos a favor realmente diminuíram nos últimos dias de lobby. Em alguns aspectos, a Rússia ajudou bastante Obama a sair do imbróglio político em que se meteu – ele não iria obter esses votos, e então ele teria que decidir se ele iria agir contra a vontade dos representantes eleitos do povo americano. Acho que essa foi a única novidade – que ele iria adiar a obtenção do voto do Congresso.

Quanto tempo vai levar essa nova manobra diplomática?

Essa é a grande questão – meu palpite é que vai levar semanas. Se eu fosse os russos e os sírios, eu iria arrastar isso tanto quanto possível, não acha? E eles são muito bons nisso. Haverá uma série de discussões diplomáticas sobre a natureza das resoluções da ONU e haverá negociações para saber se os russos poderão diluir tais resoluções de forma que não autorizem “todas as medidas necessárias” – que no jargão da ONU significa intervenção militar.

O que você teria aconselhado Obama a fazer se ainda estivesse trabalhando para ele?

Duas semanas atrás eu teria dito: “Inicie a operação, não consulte o Congresso, e isso já teria sido terminado rapidamente.” Estrategicamente, foi uma tolice ter procurado a autorização do Congresso para um ataque aéreo limitado. Isso nunca foi realizado na história dos Estados Unidos por um presidente atual. A operação teria terminado mesmo antes do fim de semana, e se encaixa perfeitamente dentro da prerrogativa presidencial. Eu vinha chamando essa operação de “alfinetada em slow motion”.

O que você achou da declaração de Obama de que os militares americanos “não dão alfinetadas”?

Soou como uma reação a todas as críticas que estavam tão visíveis sobre a natureza limitada da operação. O secretário de Estado John Kerry disse que ela seria “incrivelmente pequena”. Bem, se você está tentando impedir alguém de fazer algo, você tem duas opções – uma retaliação rápida e eficaz uma vez que a linha é cruzada ou uma incerteza quanto à natureza exata dessa retaliação.

É preciso que o líder que está tomando tais decisões seja realmente cuidadoso e que para antes de pensar em fazer isso novamente, e se você enviar a ele um sinal de que isso vai ser realmente limitado, qual o efeito que espera ter sobre tal líder? Ele vai pensar: “Vai ficar tudo bem. Vai ser como uma forte tempestade.”

Mas o fato de Obama ter de prometer um ataque limitado é porque o clima nos Estados Unidos está tão antibélico que ele sente que tem que manter as pessoas do lado dele?

Bem, é aí que eu remeto ao problema A: ele não deveria ter ido ao Congresso para um ataque militar limitado. Clinton não o fez quando lançou mísseis contra o Sudão e Afeganistão em 1998, Reagan não o fez quando iniciou um ataque aéreo contra a Líbia em retaliação a um ataque terrorista. O precedente que Obama está definindo em termos de restringir futuros presidentes é impressionante.

Que lições o líder supremo do Irã pode estar tirando de tudo isso? Que os Estados Unidos cumprem os compromissos assumidos, e que têm a determinação e a vontade política de fazer algo sobre eles? Espero que os futuros presidente venham a tirar lições de como tudo isso foi mal feito.

Fonte: DW.DE

20 Comentários

  1. Maluquinho, concordo

    E o Obama sabe que nós não estamos mais nos anos 90, o auge da dominação norte americana

    Os EUA estão para perder o posto de maior economia do mundo para a China…

    Como se não bastasse isso, seu inimigo histórico (A Russia) está em franca ascensão em todos os sentidos (Econônomica e Militar)

    A Russia não esta mais nos anos 90, embora boa parte das AMERICANETES não quererem enxergar isso……

    A Crise dos anos 90 foi superada há muito tempo….. hoje, a Russia vive estabilidade politica com Putin e recuperação financeira, além de modernização militar e estrutural (Glosnass,

    O unico empecilho para a Russia é que eles PRECISAM aumentar a taxa de natalidade e formar mercado interno forte, como tem a China

    Mas isso é questão de tempo

    • Ok Rafa.
      Dentre os BRICS a Russia tem a economia mais instável.
      Já a muito tempo o problema Russo é verba para investimento já que ideias e capacidade eles tem.
      O Brasil sempre perdeu oportunidades inclusive a de ser sócio com eles no Glonass pois nos ofereceram parceria nós entrando com o investimento.
      Mesmo depois dos caras terem queimado a mufa e investido ate o que não poderiam eles sempre estão aberto a permitir a entrada do Brasil como sócio mesmo no Glonass como no PAK-FA.
      Tento entender porque de tanto carinho conosco e não é motivado por interesses ideológicos mas sim por interesses complementares mútuos já que eles também são reservas de matérias e possuem agronomia vasta.
      Os BRICS deveriam mobilizarem-se de modo a comercializarem entre si se complementando e atraindo aos demais assim não nos prejudicarmos com a crise Ocidental e parece-me que nos encaminhamos para isso com um banco de fundos para desenvolvimento de infraestruturas comum resta aprofundar o intercambio de matérias e produtos.
      O Brasil não pode mais ser manipulado por uma minoria privada elitizada onde tudo o que se firma é para beneficia-los.So querem abrir e receberem por isso.
      SEMPRE DEFENDI QUE DEVEMOS COMERCIALIZARMOS DIRETAMENTE COM NOSSOS OBJETIVOS SEM ATRELAMENTOS NENHUM,REGIONAL,POLITICO OU IDEOLOGICO.
      nEGOCIOS SÃO NEGOCIOS E NÃO POLITICA.
      ontem SUBORNAVAMOS PARA TERMOS ACESSO NO QUE PRETENDIAMOS..Hoje esperam serem corrompidos para abrirem as pernas a quem der mais.
      E ninguém pensa no Brasil e nos Brasileiros..

    • “O unico empecilho para a Russia é que eles PRECISAM aumentar a taxa de natalidade e formar mercado interno forte, como tem a China”

      Acho que ainda falta a rússia criarr uma base indusrial civil como a china. Quero dizer, desenvolver bens de consumo nacionais (como a China, a UE e os EUA fazem), como densenvolver fábricas de carros nacionais, aviões civis, produtos eletrñicos, maquinários competivos, brinquedos, roupas, turismo e etc.

      Sei que já devem estar fazendo isso, mas ainda estão muito dependetes da exportação de recursos naturais principalmente para a Europa e China. Uma queda nos preços do petróleo e do gás natural prejudicaria muio a economia russa.

      Isso é só minha opinião pessoal. Sem ofensa a ninguém.

    • A Rússia vive uma recessão econômica, tem interesses em Tartus desde 71, e o Brasil mesmo deixando de lucrar 190 milhões , continua negociando com a Síria, via Líbano. A China aproveitou para praticar quebra de braço com os EUA, mas teme os reflexos econômicos negativos em escala mundial que um ataque americano pode desencadear. Em seu discurso, Obama transparece nitidamente ter tomado conhecimento do conselho de Lula à Dilma, o ”güenta democrático”, quando diz que não podem ser polícia do mundo. Nosso ex pegou pesado e quebrou o corincho dos gringos. Mas eles são os melhores parceiros comerciais de nosso país. Obama, agora, precisa de um afago brasileiro. Sejamos doces, mas firmes! Brasil acima de tudo!

  2. A questão é mais simples do que parece…

    Primeiro: os americanos provavelmente contavam com um grande apoio da comunidade internacional. Não houve… Apesar do fato do ataque químico ser gravíssimo, não foi possível comprovar de fato a sua autoria. Isso deixou os aliados da OTAN com um pé atrás; e por tabela os demais países também…

    Segundo: o apoio interno, do povo americano, dessa vez não se materializou como o esperado. Sem apoio interno, não houve fôlego para lançar uma nova campanha; ainda mais após as recentes e caríssimas campanhas militares lançadas pelo ocidente ( fenômeno esse que também ocorreu nos demais membros da OTAN )… Aliás, é quase certo que o próprio Obama tenha percebido isso, ao consultar o congresso. E nenhum político que se preze vai arriscar sua reputação e ( por tabela ) a de seus partidários em uma ação cujos resultados são incertos…

    Terceiro: A Russia soube manobrar bem diplomaticamente, sem tom ofensivo e buscando dialogo. Também é fato que interesses maiores dos russos naquela região também estão em jogo, tais como a base em Tartus e o seu último grande aliado naquelas bandas do Mediterrâneo, o que motivou os russos a se engajarem com afinco na questão.

    Enfim, seja como for, o fato é que Obama se livrou de uma saia justíssima… Esse acordo proposto pelos russos, no final das contas, veio bem a calhar. No final, ele ( o acordo ) desobriga “moralmente” os americanos a tomarem uma atitude. E por ter consultado o congresso, o Obama pode ter ganhado uns pontinhos internamente…

  3. HA to cheio de amor novamente pelo PB , vou ajudar no que for preciso. inclusive financeiramente, agora perante a matéria, velho ditado chines ; cavalo ganha 1 vez sorte, cavalo ganha 2 vez foi parecido , russia or digo cavalo ganha 3 vez APOSTO NELE.

  4. Esse tal assessor pensa com a bunda?
    Como ele pode falar tanta asneira?

    Obama consultou sim o congresso pós a pressão interna da população fez isso ocorrer, agora vem esse palhaço e fantoche das industrias de armas dos EUA falar que deveria ter bombardeado os Sírios de uma vez.

    Deve ser por esse tipo de opinião que foi demitido ou forçado a tal.
    Só um video tentando mostrar a real situação Syria feito por Americanos:

    http://www.apacheclips.com/boards/vbtube_show.php?tubeid=4272

  5. Obamis esta se mostrando cada vez mais um fantoche, mau assessorado, e conduzido pelos globalistas.

    Mas o que esperar de uma figura criada ´para ser um personagem de Sitcon enlatado da Fox, e não um presidente norte americano.

    • Claro que substituir uma besta quadrada, caricatura de “caipira texano” ajudou o trampo dos marqueteiros do Obamis, mas a mascara ta caindo.

  6. Olha, os colegas acima já falaram mais ou menos o que eu entendi após ler a matéria. Primeiro, isto é a visão deste senhor (Barry Pavel)…. existe um grande número de outras visões até dentro dos Estados Unidos que estão mais ligadas ao que Obama tem feito… esse cara tá falando besteira… os americanos sabem que estão lutando pra manter as coisas e talvez torná-las como ja foi no passado (financeiramente falando)…. esta guerra poderia até trazer algum benefício financeiro, mas isto não é poker, o momento é para ter cautela ou eles podem ter que amargar um prejuízo se a operação se estender por mais tempo do que imaginam. E outra, eu vi um vídeo onde claramente muitas pessoas do povo rechaçam a ideia de que os americanos se envolvam em outra guerra agora… eles já se ligaram e se lembram que o 11 de setembro foi usado como pretexto para “nada”, nada para o povo, e muito para alguns.

    Lembrem-se, é sobre o presidente dos Estados Unidos que este cara esta falando. Ele não é bobo e a assessoria dele não é boba, os caras são ligeiros. Este deve ter sido o melhor caminho encontrado por ele e pelos assessores dele frente à atual realidade americana.

    Fico feliz porque sei que no fim da história quem ia ‘pagar a conta’ seria o povo americano e o povo sírio. Que eles sejam preservados e possam viver em paz.

  7. Esse cara é louco?
    Vai saber o que aconteceria se os EUA atacassem a Síria.
    Agravamento econômico mundial, aumento do preço do petroleio, retalhação por parte do Irã e Síria, ações mais duras por parte do governo encurralados da síria.
    Assim é fácil ser conselheiro, simplesmente diz ataca e pronto?
    E é mesmo por causa de gente como esse fulano que os EUA estão cada dia mais fracos.

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