Acordo sobre arsenal químico sírio é bom para todos

Analista de risco político afirma que todas as partes ganhariam se Assad entregasse armas químicas, mas aponta obstáculos para pôr acordo em prática. Para ele, impasse mostra também EUA cansados de ser polícia do mundo.

Um recente deslize do secretário americano de Estado, John Kerry, durante entrevista coletiva, foi transformado em proposta oficial por Moscou e abriu campo para uma virada positiva no impasse internacional diante do suposto emprego de armamento químico pelas forças do ditador sírio, Bashar al-Assad.

Em entrevista à DW, John Hulsman, ex-especialista em assuntos europeus da conservadora Heritage Foundation, e presidente e cofundador da firma de consultoria de risco político John C. Hulsman Enterprises, diz que um acordo para a entrega de armas químicas por Assad seria bom para todos.

DW: A Rússia tomou como deixa um comentário de John Kerry, no sentido de a Síria colocar seus arsenais de armas químicas sob controle internacional, para que sejam destruídos. Aparentemente a Síria concordou com esse passo. Esta poderia ser uma abertura, tanto para o país como para os EUA, de modo a, ao mesmo tempo, manter a compostura e evitar uma ofensiva militar?

John C. Hulsman trabalhou como especialista em Europa para fundação conservadora.

John Hulsman: Acho que pode ser. A vantagem do que Kerry propôs – ou, para ser mais preciso, deixou escapar – é que é uma sugestão mensurável. O governo teria certamente perdido a votação da Câmara dos Representantes em Capitol Hill. O problema que eles estavam tendo é que, quando foram indagados “Qual é o seu objetivo, o que podemos ganhar com um ataque militar, palpavelmente?”, o presidente do Estado-Maior Conjunto, general [Martin] Dempsey, respondeu honestamente: “Não sei”. Mas agora, destruir arsenais, isso é algo claro, é palpável: ou eles entregam suas armas químicas, ou não. Portanto, tem-se algo mensurável na mão.

Por que a Rússia faria uma coisa dessas? Ora, a Rússia tem tremenda influência sobre a Síria e não quer que os Estados Unidos estraguem isso. E, com [o presidente sírio Bashar al-] Assad vencendo a guerra em solo – uma realidade indigesta –, a Rússia está bem contente com a forma como as coisas estão. Ela não quer que as coisas mudem, que os EUA sejam tragados para dentro de um conflito mais amplo.

Assim, a Síria mantém a compostura e não é bombardeada, e os EUA mantêm a compostura, pois o presidente Obama não vai amargar uma derrota esmagadora na Câmara e não tem que ignorar o Congresso, se optar por um ataque militar, precipitando algum tipo de crise constitucional. Então, todo mundo sai ganhando, porque o secretário de Estado não consegue controlar o que diz. Este é o estranho mundo bismarckiano em que vivemos.

Todo mundo, inclusive Irã e China, parece ter se animado com essa oportunidade. Mas o quão verificável seria um acordo desses?

O contorno geral do acordo faz sentido; mas o diabo, é claro, está nos detalhes. Vai ser muito difícil deslocar armas químicas: há 40 locações confirmadas na Síria, e são provavelmente muitas, muitas mais. Aí, como é que você introduz o pessoal para retirar essas armas ou destruí-las no local? Vamos enviar inspetores da ONU a cada campo de batalha, para serem possivelmente alvejados? Não soa tão fácil assim. Como é que vamos saber que estamos com todas as armas? Os sírios vão nos mostrar todas as suas cartas no jogo, como [ditador líbio Muammar] Kadafi fez com as instalações nucleares dele? Como se verifica isso? Como se faz isso tudo em uma semana? Não há muito tempo.

A primeira coisa que os sírios podiam fazer seria assinar o acordo das Nações Unidas sobre armas químicas – o que nunca fizeram. Isso demonstraria boa fé. Obama certamente não vai bombardeá-los enquanto tudo isso estiver acontecendo, mas essa é mais uma “linha vermelha”. Na verdade, vai ser muito difícil fazer isso sem as pessoas serem arrastadas para dentro do conflito.

Um acordo para a destruição de armas químicas parece uma coisa excelente, mas não dá fim à horrível guerra civil no país. Então, o que acontece a seguir?

Bem, essa é a coisa, é nisso que os russos e os sírios estão apostando. Do ponto de vista deles, eles não querem que os EUA se envolvam no conflito e atrapalhem os cálculos em solo, os quais são: ou empate, ou Assad ganha, ou o país é dividido num certo número de regiões – como acontece atualmente, com Assad no controle da costa e do leste, os rebeldes se dando melhor no oeste e no enclave curdo, perto da fronteira com o Iraque. Isso convém tanto aos russos quanto a Assad.

Nós decidimos traçar uma “linha vermelha” num ponto muito estranho para se traçar uma linha. Armas químicas são horríveis, mas se você estiver morto, faz realmente diferença o que matou você? O quadro maior é a indigesta realidade, ou seja, uma terrível, horrenda guerra civil, com vasto sofrimento humanitário, arrastando consigo países indiretamente implicados. E – a meu ver, com razão – os Estados Unidos estão se mantendo fora desse conflito porque não há um sentido claro em intervir. Cada vez mais se tem a Al Qaeda e os jihadistas combatendo Assad, e isso não é uma guerra que tenha “mocinhos”. Consequentemente, os EUA e o Ocidente deveriam permanecer de fora.

A situação como um todo suscita que se questione se está ocorrendo uma mudança de jogo na política externa. Os EUA estão se afastando do papel de polícia do mundo?

Acho que sim. Num mundo multipolar, os EUA ainda são, de longe, o país dominante, mas não a única potência. Os Estados Unidos ainda são a presidência da firma, mas o número de novos membros na diretoria é de cair o queixo. O outro fator – até então não comentado, em absoluto – é a opinião pública. A “conta do açougue” [pela guerra no] Iraque finalmente chegou, e ela é que agora o povo americano quer provas de que uma intervenção vale a pena.

“Confiem em mim” não funciona mais para os britânicos nem para os europeus, mas de forma ainda mais crítica para os americanos – e isso é por causa do Iraque. Três em cada quatro americanos são contra a intervenção na Síria, por que as pessoas não querem ser envolvidas num guerra civil que não sirva aos interesses americanos. Não creio que isso faz dos americanos isolacionistas, acho que mostra que são sensatos. Eles não querem mais ser a polícia do mundo, nem a assistente social do mundo. Eles já têm bastantes problemas próprios.

Fonte: DW.DE

8 Comentários

      • rsrsrsrsrsrsrs… os antiamericanos infantis não se endireitam, amigo Fábio… como já disse: “se os EUA vendem armas aos aligados é “capitalismo selvagem”, mas se a Rússia vende aos seus é camaradagem entre aliados…” rsrsrsrsrs…

  1. “A conta do açougue” é um trocadilho, mas de fato os EUA são açougueiros, algo que a história comprova sem margem para dúvidas.
    São no mínimo 169 guerras/ataques ao longo de sua história, algo sem paralelo na humanidade.

  2. RACIONALIDADE OCIDENTAL. Se voces gostaram do incidente do Golfo de Tonquim e da Guerra do Vietnan, das incubadoras kuwaitiana e da primeira guerra do Golfo, do massacre de Racak e da guerra do Kosovo, das armas de destruicao em massa iraquianas e da segunda guerra do Golfo, das ameacas sobre Bengazi e da guerra da Libia, irao adorar o gaseamento de civis em Ghouta de o bombardeamento da Siria. Numa nota difundida pela Casa Branca, o diretor dos servicos de inteligencia dos EU afirma que 1429 pessoas foram mortas quando de um ataque quimico massivo sobre uma dezena de localidades, em 21 de Agosto. Os servicos secretos franceses nao puderam proceder, no local, a um balanco das vitimas, assegura uma nota difundida pelo ministerio frances da Defesa. Entretanto eles viram 281 em videos, enquanto que a organizacao “nao governamental” francesa, Medicos sem fronteiras, contou, no caso, e a sua conta 355 em hospitais. Os servicos de informacao aliados referem-se todos aos videos. Assim o chefe dos servicos de espionagem dos EUA coletou uma centena no YouTube, enquanto o ministerio frances da Defesa nao encontrou la mais que 47. Washington e Paris consideram-no todos como autenticos. Ora, acontece que alguns de entre eles foram postados as 07h00 da manha, hora de Damasco (o que explica que fossem datados de 20 de Agosto pelo YouTube, que esta situado na California), mas com um sol quase no zenite, o que implica que eles foram gravados de vespera. Todos os observadores notaram forte proporcao de criancas entre as vitimas. Os Estados Unidos contaram 426, ou seja mais de um terco. Certo, mas nem os servicos secretos americanos, nem os homologos franceses, se preocuparam em verificar porque tinham quase todos a mesma idade, e porque estavam sos sem familia para os chorar. Mais estranho ainda o gas teria matado as criancas e homens adultos, mas teria poupado as mulheres. A ampla difusao, atraves dos canais de satelite, das imagens das vitimas permitiu as familias alauitas dos arredores de Lattaquie reconhecer as suas criancas, raptadas duas semanas antes pelos “rebeldes”. Elas apresentaram de imediato queixa por assassinio junto da Justica siria, mas os servicos de informacao americanos, britanicos e franceses nao conseguem saber nada disto, porque os seus satelites nao conseguem ler a imprensa siria. Americanos, Britanicos e Franceses concordam em dizer que as vitimas foram mortas por um gaz neurotoxico, que poderia ser sarin ou conteria sarin. Eles afirmaram basear-se nas suas proprias analises realizadas nos seus laboratorios, em amostras recolhidas por cada um dos seus servicos secretos. No entanto, os inspetores da ONU, vindo ao local recolher outras amostras, so poderao dar o seu veredito dentro de uma dezena de dias. Com efeito, as analises feitas pelos Americanos, Britanicos e Franceses sao estranhas para o mundo da comunidade cientifica, para QUEM A AVALIACAO DAS AMOSTRAS NECESSITA DE UM PRAZO MAIS LONGO. Se esta claro que as criancas morreram por intoxicacao quimica, nao e de todo certo que elas tenham sido gazeadas. Os videos que as mostram agonizantes permitem ver uma baba branca, enquanto o sarin provoca uma de cor amarela. As tres grandes potencias ocidentais concordaram igualmente em atribuir a responsabilidade deste acontecimento, de importancia variavel, ao exercito sirio. O diretor do servico de espionagem dos EUA afirma que os seus servicos observaram militares sirios, durante os quatro dias precedentes, a misturar os componentes quimicos. Os Britanicos asseguram que nao foi aqui que o exercito realizou o seu primeiro ensaio, uma vez que ja havia utilizado gaz em 14 ocasioeas desde 2012. As revelacoes dos servicos secretos norte-americano, britanicos e franceses sao corroboradas por uma intercepcao telefonica. Um alto funcionario da defesa siria teria telefonado, em panico, ao chefe da unidade de gaz quimico a proposito do massacre.Todavia esta intercepcao nao foi realizada pelos Americanos, Britanicos ou Franceses, mas ter-lhes-a sido fornecida pela unidade 8200 da Mossad israelita. Em resumo, os servicos secretos americanos, britanicos e franceses estao 100% seguros que o exercito sirio gazeou um numero indeterminado de civis: para isso tera utilizado uma nova especie de velho gaz sarin que nao atinge as mulheres. Os Estados Unidosvigiaram durante quatro dias a preparacao do crime sem intervir. A sinfonia da utilizacao e que este gaz magico matou criancas, que haviam sido raptadas pelos juhadistas duas semanas antes, a mais de 200 quilometros de la. Os acontecimentos tornaram-se conhecidos gracas a filmes autenticos rodados, e por vezes postados, de avanco no YouTube. E, sao confirmados por uma intercepcao telefonica realizada pelo inimigo israelita. Como se trataria da decima-quinta operacao deste tipo, o “regime” teria ultrapassado uma “linha vermelha” e devera ser “punido” por bombardeamento que o privem dos seus meios de defesa. Em direito internacional a propaganda de guerra e o crime mais grave, porque torna todos os outros crimes possiveis. Arrtigo de Thierry Meyssan, publicado no http://www.voltairenet.org 7 setembro 2013, traducao de Alva.

  3. O contorno geral do acordo faz sentido; mas o diabo, é claro, está nos detalhes. Vai ser muito difícil deslocar armas químicas: há 40 locações confirmadas na Síria, e são provavelmente muitas, muitas mais. Aí, como é que você introduz o pessoal para retirar essas armas ou destruí-las no local? Vamos enviar inspetores da ONU a cada campo de batalha, para serem possivelmente alvejados? Não soa tão fácil assim. Como é que vamos saber que estamos com todas as armas? Os sírios vão nos mostrar todas as suas cartas no jogo, como [ditador líbio Muammar] Kadafi fez com as instalações nucleares dele? Como se verifica isso? Como se faz isso tudo em uma semana? Não há muito tempo. ==== E ainda assim foi morto pelo ocidente, q usou às mãos de outros Líbios…olho vivo pq cavalo ñ sobe escada.Sds.

  4. O acordo é mais que bom… É excelente, pois:

    a) Dá um alívio para a ONU, que correria o risco de cair inteiramente no descrédito caso os americanos realmente atacassem…

    b) Permite que os russos assegurem seus interesses naquela parte de mundo. Se os americanos atacam e os rebeldes aproveitam, Tartus ficaria comprometida.

    c) Livra, em teoria, o governo americano da “obrigação” de atacar os sírios. E para o governante americano é uma dádiva, pois ganha força para manobrar com a oposição em seu país, além de poder ganhar alguma popularidade interna.

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