Wikileaks: EUA têm planos para derrubar Assad desde 2006

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Documento da diplomacia norte-americana aponta quais as fragilidades a serem aproveitadas para tirar presidente sírio do poder

Ao anunciar, na tarde deste sábado (31/08), que autorizava a realização da intervenção militar na Síria, o presidente norte-americano, Barack Obama, colocou em prática um plano antigo de seu país. A ideia de uma ação do gênero contra o governo do presidente Bashar Al Assad já tinha sido planejada durante o mandato de George W. Bush, ainda em 2006, conforme mostram documentos vazados pelo site Wikileaks.

Segundo o telegrama datado de 13 de dezembro de 2006, redigido pelo diplomata William Roebuck, “o regime sírio terminava 2006 mais forte domesticamente do que em dezembro de 2005”. Para o diplomata, o governo Assad era sustentado por uma pequena “claque”, imune às pressões externas e internas sofridas pelo líder sírio.

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Porém, “a crescente confiança de Assad e o apoio desse pequeno grupo de poder poderiam levar o mandatário sírio a fazer más avaliações e cometer erros por conta das reações emocionais diante de desafios”. O diplomata cita o assassinato do ex-premiê libanês Hariri e a criação da Frente de Salvação Nacional como exemplos da reação irracional de Assad diante das crises. Segundo Roebuck, essa instabilidade emocional de Assad deveria ser explorada pelos EUA.

Assad demonstrava preocupação em como era percebido no exterior e se havia confiança no seu processo de tomada de decisões. Para os diplomatas norte-americanos sediados em Damasco, as fraquezas de Assad residiam em como o líder sírio lidava com ameaças iminentes – fossem elas hipotéticas ou reais. Entre essas ameaças, estavam o conflito entre as reformas econômicas e a corrupção, a questão curda e o relacionamento com os radicais islâmicos no país.

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De acordo com os diplomatas, havia uma oportunidade para explorar essas fragilidades de Assad e, assim, conseguir influenciar o círculo ao redor do mandatário sírio. A ideia era reverter o cenário da época: economia relativamente estável, oposição fraca e intimidada, e um cenário regional do Oriente Médio condizente com os interesses da Síria. O principal foco das ações para desestabilizar a presidência de Assad envolviam as tensões entre a Síria e o Líbano, “a inexperiência de Assad e o fato de que o círculo de pessoas de confiança do ditador sírio era muito pequeno”.

O envolvimento da Síria no assassinato de Hariri e o constrangimento internacional causado pelo caso colocavam a reputação do país em questão. A divergência dentro do governo Assad sobre qual a melhor forma de influenciar o Líbano e o caso Hariri deveriam ser a principal instabilidade a ser explorada seja pela diplomacia ou por  “outros meios indiretos” O relatório Mehlis, conduzido pela ONU e que acusava a Síria de ter atrapalhado as investigações do caso Hariri, “causava angústia em Assad”.

Irã

Roebuck também menciona a aproximação de Assad com o Irã e como isso seria percebido dentro do mundo árabe como uma vulnerabilidade a ser explorada. “Assad caminha numa linha fina ao se aproximar do Irã sem que isso feche as portas para o relacionamento com outros vizinhos sunitas”, explica Roebuck. Os EUA deveriam explorar o medo sunita da crescente influência iraniana e xiita na Síria. O diplomata recomenda um “esforço coordenado com os governos de Arábia Saudita e Egito” para enfraquecer os xiitas e Assad.

O sectarismo e a corrupção são outras das brechas enxergadas por Roebuck para derrubar Assad do poder. Segundo a avaliação norte-americana, o poder é dominado pela família Assad e, em menor grau, pelos Makhluf, clã materno do presidente. As discussões sobre corrupção e suborno fazem com que a família Assad não seja imune a conspirações contra o governo. “Várias pessoas íntimas do regime cogitam como seria a Síria pós-Bashar Assad”, afirma o diplomata norte-americano”.

Agência Efe

Reunião entre Assad e outros dirigentes sírios com líderes iranianos, neste domingo (01/09)

Ou seja, a ideia da diplomacia norte-americana era impor sanções e assim explorar a “lavagem de roupa suja dentro do regime Assad”. Segundo Roebuck, a Frente Nacional de Salvação da Síria sabia onde estavam os “esqueletos do armário” de Assad. Apoiar a FNS ajudaria a divulgar a corrupção e causar fissuras no governo sírio.

Também seria explorada a ideia de que a Síria estaria sendo usada como base para ação de grupos terroristas como a Al Qaeda. No entanto, até mesmo o governo sírio se considera vítima desses grupos. Esse argumento deveria ser usado para demonstrar a instabilidade dentro da Síria. Assad sobreviveu quase 7 anos a essas “instabilidades”. Barack Obama parece empenhado em ajudar na sua queda a partir de agora.

Fonte: Operamundi

5 Comentários

  1. Na verdade a ideia em si é mais antiga. Vem desde os atentados de 2001. Desde então, os militares colocaram na mesa as opções de intervenções, naquilo que ficaria conhecido como guerra ao terror e o eixo do mal. Ainda naquela época, foi cogitado intervir na Líbia e na Síria, além do Iraque e Afeganistão. Porém a ideia foi por hora rejeitado pelo Bush, seria custoso demais um conflito de tantos frontes, e nem havia movimentos internos para derrubar Gaddafi e Assad. Porém a “Primavera Árabe” forneceu exatamente os ingredientes que faltavam na equação para justificarem uma intervenção pela região. Esse já é um velho sonho dos americanos, que eles veem nutrindo a mais de uma década, e não parecem muito dispostos em deixar escapulir pelos dedos. Porque se a intervenção não ocorrer agora, a janela vai se fechar, porque a vitória do al-Assad já é iminente, e os rebeldes estão fracos demais para continuar mantendo a luta por muito tempo. Eles não contavam com uma intervenção tão decisiva do Irã e da Rússia em prol do regime. Porém se o Obama realmente decidir intervir poderá estar colocando sua cabeça e de seu partido em risco. Já fizeram pesquisas e mesmo caso fosse confirmado um uso de armas químicas pelo regime, apenas 25% dos entrevistados concordariam com uma intervenção. Na França e na Inglaterra as coisas eram ainda pior. E relatórios obtidos pela OTAN e revelados na Europa mostram que apenas 10% da população Síria apoia os rebeldes atualmente. Seria muito difícil tentar manter um governo nessa situação. Me parece uma conjectura muito pior do que a Iraquiana, e ela nunca foi lá promissora. E certamente que os Democratas vão cair de cima do Obama se ele decidir intervir, pra se aproveitarem da situação e fazer um proselitismo político básico. Eu pessoalmente to achando muito improvável uma intervenção americana, isso além de ajudar pouco ou nada no conflito, a menos que fosse uma invasão frontal e convencional, teria um custo exorbitante e e pode espalhar o conflito por toda região, terminando por apenas “jogar merda no ventilador”. Me parece mais plausível uma intervenção da Arábia Saudita do que uma americana, o que seria visto como algo bem menos agressivo pelos árabes. Sem contar o fato de que os russos não vão ficar sentados olhando, e se decidirem empanturrar de armas a região, a coisa pode tomar proporções que ninguém tá disposto a bancar no momento.

  2. Os EUA acreditava que fornecendo aramas para os rebeldes Sírio eles seriam capaz de derrotar Assad. Os EUA estão vendo agora o plano deles não está dando certo. Para virar a jogada a favor deles, inventaram e planejaram o uso de arma químico para incriminar os Assad.

    Desde 2006, Obama vem pedindo para que o Assade deixe o poder…..

    • Quem está ” nadando de braçada ” nesta história tôda é Israel. Vejamos quantos países árabes já foram destruídos e/ou enfraquecidos : Líbia, Líbano Iraque, Egito, Síria. Se a Arábia Saudita atacar a Síria, ela também sofrerá conseqüências, sairá, no mínimo muito enfraquecida. E assim Israel, acabará dominando o Oriente Médio, sem participar diretamente.

      • Como assim, não participar diretamente ???… participa diretamente e ativamente… mas é necessário a sua sobrevivência… em Gênesis podemos entender isso…

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