Paz da antes dividida Europa causa inveja ao conflituoso Oriente Médio

Por Nahum Sirotsky – colunista em Israel 

Enquanto velho continente não antevê mais guerras entre seus países, caos continua afetando vizinhos de Israel

oriente medioPresidente de Israel, Shimon Peres (C), é visto com o ex-líder dos EUA Bill Clinton (E) e o premiê israelense, Benjamin Netanyahu em celebração de aniversário (19/06)

Quando se observa a Europa, uma união de países, línguas e etnias diferentes, fica-se com inveja. Em uma das homenagens feitas por seu aniversário de 90 anos, o presidente de Israel, Shimon Peres (eleito por voto do Congresso, com poderes muito semelhantes aos da rainha da Inglaterra), disse aos visitantes: “Ouvi de todas as lideranças europeias que não esperam mais guerras no velho continente.” Os membros da União Europeia (UE) vão se acertando lentamente, empenhando-se em igualdade política e, num certo sentido, econômico.

França será sempre a França. Holanda também, e assim por diante. Mas surgiu nos últimos anos em Israel uma forte colônia de franceses, imigrantes. Há regiões, como a cidade de Natanya, onde a língua francesa é mais ouvida em certos bairros do que o hebraico. Até muitos dos judeus franceses que ficaram em Paris adquiriram habitações em cidades israelenses, onde é crescente o número de edifícios vazios. O judeu que se transformou em cidadão franco graças a Napoleão Bonaparte sofreu barbaridades na ocupação alemã, durante a Segunda Guerra (1939-1945).

A imigração de dezenas de milhares a Israel reflete o receio da agressividade de grupos extremistas muçulmanos, de número crescente no país, e o medo de eles chegarem a posições de poder. Os judeus franceses, exilados, não querem o risco de mais um holocausto. A presença cada vez mais numerosa de islâmicos na Europa, vindos da África, Ásia e Oriente Médio, sempre deixa uma dúvida sobre a permanência da tranquilidade.

Veja-se o que acontece no Oriente Médio. Há alguns anos, o presidente americano, George W. Bush (2001-2009), decidiu exportar o modelo democrático à região, o que tem sacudido as bases islâmicas de muitos países até hoje. A chamadaPrimavera Árabe , iniciada na norte-africana Tunísia , chegou a vários países, inclusive o Egito .

A primavera anunciada quebrou a estabilidade do país. Os egípcios são, de forma geral, sunitas. A Irmandade Muçulmana prega, desde 1928, quando foi criada, a aplicação da lei islâmica ( sharia ) como lei do Estado, eliminando tudo o que é ocidental. Ela se espalhou por todo Egito e mundo árabe, sempre perseguida pelos governos.

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Desde a deposição do presidente Mohammed Morsi , membro da Irmandade, milhões saíram às ruas, defendendo o seu retorno e a implantação de um país islamita. Há também número equivalente de egípcios seculares, que são muçulmanos, mas querem uma vida secular. Os simpatizantes da Irmandade têm enfrentado as forças policiais do Ministério do Interior.

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Na quarta-feira (14), centenas foram mortos em meio a batalhas violentas no Cairo e em outras cidades do país depois que as forças de segurança lançaram uma ação para desmontar dois acampamentos pró-Morsi . O país está praticamente em estado de sítio. O governo interino apoiado pelo Exército quer acabar com as manifestações a ferro e fogo.

Até o significado da Primavera Árabe foi esquecido. O turismo, grande fonte de renda árabe depois da ajuda financeira militar americana, praticamente desapareceu. A histórica Península do Sinai está tomada por beduínos, a serviço da Al-Qaeda e de outros grupos extremistas, que as Forças Armadas egípcias tentam eliminar, até agora, sem sucesso. Só poucos turistas irresponsáveis arriscam-se no deserto.

*Com colaboração de Nelson Burd

Fonte: Último Segundo