Manobras russas no Pacífico

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Ilia Kramnik

A Frota do Pacífico russa continua efetuando treinamentos: nas manobras iniciadas há pouco estão envolvidos mais de 50 navios de guerra, submarinos, lanchas e navios de apoio e mais de 20 aeronaves, entre aviões e helicópteros. O aumento da atividade militar da Rússia no Extremo Oriente apenas sublinha a importância dessa região em que todos os protagonistas estão aumentando o seu poderio.

Da defesa das Curilhas à luta contra a pesca ilegal

A preparação da defesa das ilhas Curilhas de um potencial ataque por parte do Japão é um dos “temas de estudo” tradicionais da Frota do Pacífico. Contudo, essas ilhas não são só importantes para a Rússia como parte do seu território, mas também por albergarem numerosos recursos controlados pela Rússia dentro da sua zona econômica exclusiva. As águas que banham o arquipélago das Curilhas formam uma parte importante desse território.

A pesca ilegal, as capturas depredatórias de pescado, sobretudo das espécies mais valiosas, do caranguejo e de outros seres marinhos formam uma das ameaças mais pesadas e permanentes à segurança nacional russa. O agrupamento de aviação de fronteira das unidades navais do FSB (Serviço de Segurança Federal) do Extremo Oriente, já de si o maior da Rússia, é um fator importante na luta contra a pesca ilegal. Porém, devido à grande escala dessa ameaça, por vezes também é necessário recorrer a forças do Ministério da Defesa, por isso nestas manobras também se treina a interação entre as duas forças.

A dimensão das capturas ilegais de pescado e marisco, que atingem no Extremo Oriente russo os 600-700 milhões de dólares anuais, conjugados com as violações grosseiras da regulamentação das pescas, obrigam-nos a falar não só de um prejuízo econômico, mas também de uma ameaça potencial ao equilíbrio dos ecossistemas e de uma brusca redução dos recursos biológicos das águas locais num futuro previsível. Nessa situação, o aperfeiçoamento da interação entre as diferentes forças de segurança no combate a essa ameaça é extremamente benéfico.

Na sua essência, a atual situação que se vive no Extremo Oriente faz lembrar em parte a que existia nos anos 20 e 30 do século passado quando, se aproveitando da fragilidade das forças soviéticas de defesa da fronteira marítima, os vizinhos da URSS na região se dedicavam à pesca depredatória descontrolada junto à costa soviética. Depois do desmembramento da URSS, as capacidades da Rússia em controlar a extensa área marítima que se estende desde a ilha de Sacalina e até à península de Kamchatka também ficaram reduzidas, o que teve consequências previsíveis.

A situação está evoluindo gradualmente. O desenvolvimento dos sistemas de controle e um melhor equipamento das forças navais fronteiriças permitiu reduzir as dimensões da pesca ilegal que, em meados dos anos 2000, ultrapassava por ano os 2 bilhões de dólares de prejuízo. Mas ainda falta muito para normalizar a situação.

Entre a Kamchatka e a Nicarágua

As atividades da Rússia no oceano Pacífico não se limitam às águas nacionais. No dia 16 de agosto, terminou a visita à Nicarágua do cruzador porta-mísseis Moskva da Frota do Mar Negro. O cruzador visitou o porto de Corinto, na costa do Pacífico da Nicarágua, onde a sua guarnição participou na parada comemorativa dos 33 anos da fundação da Marinha da Nicarágua. A visita a Corinto ilustra de forma convincente o aumento da atividade oceânica russa. O leste do oceano Pacífico já não era visitado há muito tempo por navios da Frota do Mar Negro.

A capacidade de manobrar atempadamente e a prontidão permanente para a transferência de esquadras ou de unidades isoladas para as regiões que o exijam é de extrema importância para a Rússia, cujas forças navais estão distribuídas por quatro teatros de operações isolados uns dos outros, não contando com o mar Cáspio, que é um mar fechado. A rápida viagem do Moskva do mar Negro para o golfo do México, com escala em Cuba, e o seu posterior aparecimento na Nicarágua refletem a possibilidade de reforçar, se necessário, a Frota do Pacífico com unidades das frotas europeias da Federação Russa: do mar Negro, do Báltico ou do Norte. A passagem é possível usando diferentes percursos: o Caminho Marítimo do Norte ou pelo sul, atravessando o Mediterrâneo e o oceano Índico, ou ainda através do Atlântico e do canal do Panamá.

Conjugada com o reforço da força naval já existente no Extremo Oriente, a prática deste tipo de viagens demonstra a prontidão da Rússia em utilizar, em caso de necessidade, todas as forças disponíveis para defender os seus interesses políticos e econômicos no Extremo Oriente. Essa prontidão é precisamente a melhor garantia de segurança.

 

 

Fonte: Voz da Rússia

 

4 Comentários

  1. Em complemento a matéria:
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    15 de agosto

    Quem ficará com o mar de Okhotsk?

    Vlad Grinkevich

    A Rússia apresentará na sexta-feira, 16 de agosto, à ONU um requerimento oficial sobre o alargamento da plataforma continental do mar de Okhotsk além dos limites da zona econômica de 200 quilômetros, informam os mídia russos. Trata-se de um trecho marítimo com uma área de 56 mil quilômetros quadrados. Agora ele é considerado “mar aberto” e isto significa que qualquer país pode manter atividade econômica nesta zona.

    O mar de Okhotsk é cercado de quase todos os lados por território russo – o continente, a península da Kamchatka, a ilha Sacalina e ilhas Curilhas. Ele poderia ser considerado mar interno russo se não fosse um senão – este mar banha também a ilha japonesa de Hokkaido.

    https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/2/29/Sea_of_Okhotsk_map.png

    É justamente por isso que o trecho em disputa (na literatura inglesa ele é chamado de Peanut Hole) é considerado acessível a todos. Segundo o jurista Piotr Kaznacheev:

    “O mar de Okhotsk banha mais de um país. Se em torno dele estivesse apenas a Rússia, provavelmente seria considerado um mar interno. Mas como existe a costa do Japão, é necessário provar que o território interno do mar é continuação da plataforma continental. Caso contrário, ele não poderá se tornar território econômico exclusivo da Rússia”.

    Em 2001, a Rússia já tentou provar que o centro do Mar de Okhotsk pertence à sua jurisdição e é exclusivamente sua zona econômica. Entretanto, especialistas da ONU consideraram os argumentos de Moscou insuficientemente e convincentes. Além disso, o Japão se opôs à iniciativa russa. O destino de semelhantes requerimentos depende de dois fatores, diz Piotr Kaznacheev:

    “De fato, nós falamos que a Rússia encara esta parte do mar como continuação da sua plataforma continental. Mas isto deve ser provado. o destino do requerimento depende do grau de prova e de fundamentação científica. O segundo aspeto é político, aqui funciona a diplomacia. É sempre um regateio.”

    A julgar pelos comentários de representantes do Ministério do Exterior nos mídia, as chances de êxito são grandes. Cientistas russos pesquisaram durante anos e coletaram as provas necessárias, e os diplomatas conseguiram convencer Tóquio a não se opor. Entretanto, lembra Kaznacheev, as previsões relativas às cordilheiras submarinas de Lomonosov e Mendeleev no Ártico também eram otimistas mas, até agora, não está claro se estes espaços aquáticos serão ou não considerados como parte da plataforma continental russa.

    No entanto, o trecho em disputa no mar de Okhotsk tem grande significado. Tem recursos biológicos e minérios. Para todos os países, com exceção da Rússia e Japão, a atividade econômica no centro do mar de Okhotsk é dificultada pela posição geográfica. Isto, na opinião dos peritos, é mais um argumento a favor da exigência da Rússia.
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    Fonte: http://portuguese.ruvr.ru/2013_08_15/Quem-ficar-com-o-mar-de-Okhotsk-7255/
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    • Deus do SOL só desistiu da Guerra , por causa do Genocidio das Bombas A.
      Tah certo que eles não eram santos , por tudo que fizeram na korea e na china .

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