China ‘esfria’ e contempla mudanças em modelo econômico

Estaleiro Rongsheng vem sofrendo com as intempéries da economia chinesa
Estaleiro Rongsheng vem sofrendo com as intempéries da economia chinesa

John Sudworth

Da BBC News em Xangai

Desde que abriu as portas, em 2006, o estaleiro Rongsheng, na costa leste da China, sempre foi considerado um símbolo da economia pujante do país.

O local refletia o crescente poder industrial chinês, alimentado por um gigantesco boom de investimentos.

Trata-se de um dos maiores estaleiros da China: suas gruas e guindastes são capazes de construir alguns dos maiores navios do mundo.

O estaleiro foi inaugurado como parte do plano anunciado pelo país asiático de ser o maior fabricante de navios do mundo em 2015.

Mas hoje Rongsheng passou a ser visto como um símbolo do pessimismo que paira sobre a economia chinesa.

A maior parte do pátio está ociosa, e 20 mil funcionários foram demitidos nos últimos dois anos.

Cidade fantasma

Por trás da derrocada de Rongsheng está um fato comum a outros setores industriais chineses: o excesso de investimento, que criou um imenso excedente de capacidade instalada de produção. Na China, por exemplo, há um total de 1.647 estaleiros.

A cidade de Changqingsha, que foi construída ao redor de Rongsheng, também sofreu com o ocaso do estaleiro. Ela agora é uma cidade fantasma, à sombra do crescimento econômico chinês acompanhado pelo mundo nos últimos anos.

Uma das principais ruas comerciais da cidade, a uma curta caminhada dos portões do estaleiro, é uma imagem desse declínio.

Loja e mais lojas, dos dois lados da rua, estão trancadas a cadeado com cartazes colados nas vitrines em que se leem ofertas de aluguel.

Os poucos comerciantes que permaneceram vêm dando duro para pagar pelo menos os custos do aluguel até o vencimento dos contratos.

Situação semelhante acontece com os donos dos restaurantes, que tentam atrair alguns dos 7 mil homens e mulheres que ainda mantêm seus empregos, de um total de 28 mil há dois anos.

Ajuda governamental

“Nós todos sabemos que falta dinheiro a Rongsheng”, diz um dos trabalhadores. “Se o governo puder ajudar, será uma boa coisa”.

O estaleiro pediu mais ajuda do governo, embora já tenha recebido centenas de milhões de dólares de financiamento público.

Apesar de ser uma empresa privada, Rongsheng segue a lógica da relação entre burocratas e empresários na China.

Quando a reportagem da BBC pediu permissão para fazer entrevistas e gravar imagens no local, a resposta ─ negativa ─ veio do escritório de propaganda do Partido Comunista.

O cenário desolador, entretanto, contrasta com as taxas ainda elevadas do crescimento chinês, em um patamar superior ao de muitos países desenvolvidos e emergentes. Em 2012, por exemplo, a alta do PIB foi de 7,8%.

Nesta segunda-feira, o Escritório Nacional de Estatísticas (o IBGE chinês) divulgou que o país cresceu 7,5% no segundo trimestre deste ano em comparação com o mesmo período de 2012.

A taxa, apesar de elevada, confirmou as expectativas de desaceleração, já que no trimestre anterior, de janeiro a março, o PIB da China havia crescido 7,7%.

Com uma economia fortemente baseada em exportações, o país vem sofrendo com a menor demanda mundial, em especial de seus principais parceiros, os Estados Unidos e a Europa.

Esfriamento

Para muitos especialistas, o futuro crescimento da China dependerá de uma fonte muito mais sustentável: o consumo interno.

Eles afirmam que os anos de expansão econômica de dois dígitos já ficaram para trás, e o esfriamento da economia já teria começado.

A dúvida é sobre como esse esfriamento vai prosseguir.

A meta oficial de crescimento para este ano é de 7,5%, mas alguns já se perguntam se a taxa deverá ser revisada para baixo de novo, após um comentário feito pelo ministro das Finanças, Lou Jiwei, na semana passada.

Na ocasião, Jiwei deu sinais de que estaria satisfeito com uma alta de 7%.

Se seu redirecionamento for feito da forma correta, então a economia chinesa poderá ser salva de seus próprios problemas estruturais, e o governo poderá se concentrar em tornar realidade o chamado “sonho chinês” – o slogan usado pelo presidente chinês Xi Jinping para se referir a sua visão de futuro do país, evocando paralelos com o “sonho americano”.

Mas há enormes riscos, e eles já estão aparentes, talvez pela primeira vez, em locais como Changqingsha.

“Não há esperança”, afirma um dos comerciantes que sobreviveram à decadência da cidade. “Não há sonho nenhum aqui.”

Até agora, a China dependeu do forte crescimento econômico para assegurar a estabilidade social. Mas o país estará pronto para frear seus gastos?

Nesse sentido, Rongsheng pode vir a se tornar um teste para as verdadeiras intenções do governo, um indicador de quão rápida e tranquila será a transição da economia.

Alguns analistas sugerem que é inevitável que, no caso de um estaleiro desse tamanho, o governo seja obrigado a mostrar clemência e injetar mais dinheiro em algum tipo de pacote de resgate – algo que vem tentando deixar de fazer.

Mas existe também a possibilidade de que as autoridades em Pequim prefiram usar Rongsheng para enviar um sinal de que a muito antecipada, grande e dolorosa mudança no modelo de PIB chinês esteja verdadeiramente em andamento.

Fonte: BBC Brasil

6 Comentários

  1. Entendo mais nada. Li nos jornais que China iria salvar o sistema capitalista dessa crise economica. Agora estao dizendo que essa locomotiva estancou. Quem vai importar os produtos agricolas e minerais do Brasil. Divirto-me com essas noticias.

    • Estancou entre aspas, deve crescer esse ano 7,5%, o que não é nada mau. Quem vai sofrer mais do que já vinha é o Brasil, que não faz o dever de casa e tem sofrido com a intransigência desse governo e de sua equipe econômica.

  2. Vira e mexe vem essas notícias sobre a suposta crise chinesa, coisa que nunca se confirma. Também me divirto com isso.

  3. A única crise que existe é dos antigos ricos, que terão que viver com menos. A Africa, os latinos, os russos e os asiáticos estão indo muito bem. Vai levar algum tempo para que as cadeias de distribuição e as empresas de serviços se direcionem para esses novos mercados.

  4. Amigos,

    O que ocorre é que a atual crise mundial simplesmente eliminou muitos mercados para os quais os chineses exportavam. E o óbvio resultado disso: aquilo que não é vendido, perde a necessidade de ser produzido… Simples assim… Como o parque industrial chinês projetou-se para exportações e não ha condições reais para consumo interno na proporção necessária para absorver a produção, ocorre uma situação de estagnação econômica, com o encolhimento/retirada do excesso de capacidade produtiva. Óbvio que não se esperam índices de crescimento inferiores aos do ocidente, mas também não se projeta os grandes índices do final da década passada…

    Essa atual crise, evidentemente, é passageira. Contudo, o estrago feito na economia mundial afetou profundamente os chineses e enquanto não houver uma recuperação dos países que abrangem os mercados consumidores dos chineses, é improvável que haja um crescimento muito maior que o atual, haja visto que não há um mercado interno capaz de absorver por completo a atual produção.

  5. Walfredo
    16 de julho de 2013 at 15:27

    A única crise que existe é dos antigos ricos, que terão que viver com menos. A Africa, os latinos, os russos e os asiáticos estão indo muito bem. Vai levar algum tempo para que as cadeias de distribuição e as empresas de serviços se direcionem para esses novos mercados.==== Se locomotiva do capitalismo, a china, parar …nem pensar, preciso do meu salário mínimo.Aí vai ser o triplo de dias no meu pouco dinheiro..triste assim.SOS BRASIL.sds.

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