Embaixador da Itália em Moscou: Futuro italiano e europeu depende da Rússia

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O Embaixador italiano, Antonio Zanardi Landi, está deixando seu posto em Moscou

O Embaixador da Itália em Moscou, Antonio Zanardi Landi, está concluindo a sua missão diplomática na Rússia. Antes de deixar o posto, ele concedeu uma entrevista coletiva na qual destacou que o futuro do seu país e de todos da União Europeia está diretamente ligado à Rússia.

Além do relacionamento político que um diplomata deve preservar, que outro aspecto o senhor destaca da sua missão cumprida na Rússia, Embaixador Zanardi?

Antonio Zanardi Landi – Desde os primeiros dias da minha missão tentei promover uma série de iniciativas culturais que pudessem fortalecer as relações entre Rússia e Itália. Com este objetivo, procurei sempre buscar inspiração nos êxitos das iniciativas dos meus antecessores e no entusiasmo revelado pelos círculos sociais e pela mídia da Rússia.

Como o senhor avalia o estágio atual das relações entre Rússia e Itália?

AZL – Já fazem muitos anos que as relações bilaterais entre Rússia e Itália encontram-se num nível muito elevado. Nos últimos dois anos e meio, os contatos se tornaram menos intensos, mas isto não se deve à vontade política, e sim à uma série de dificuldades no meu país e ao período eleitoral na Rússia. Agora, terá início a etapa de retomada de consultas. Para os primeiros dias de agosto, estão agendadas conversações no formato Dois Mais Dois, entendimentos estes que terão as participações dos Ministros da Defesa e das Relações Exteriores dos dois países. Recentemente, a Ministra do Exterior da Itália, Emma Bonino, esteve em visita a Moscou. Posso dizer que estamos restabelecendo a nossa interação com a intensidade que acontecia há cinco ou seis anos.

Na arena política mundial e especificamente em relação à Síria, a posição da Rússia parece confrontar com a dos demais países, especialmente os do Ocidente. O senhor acredita que a Itália poderá assumir o papel de país intermediário na questão síria?

AZL – Não sei se a Itália gostaria de desempenhar este papel. O que posso lhe dizer é que o meu país acompanha com muita atenção a posição da Federação Russa. Em meados de junho, na reunião da Ministra Emma Bonino com o Ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Sergei Lavrov, atenção especial foi dedicada à Síria. Temos partilhado a preocupação da parte russa no que tange ao elevado prejuízo causado à região e pensamos que a crise na Síria poderá ser solucionada somente pela via política e por meio de esforços diplomáticos.

O senhor vê perspectivas para a realização da Conferência Genebra 2 que tem o objetivo de discutir a possibilidade de paz na Síria?

AZL – A Itália apoia a iniciativa da Federação Russa e dos Estados Unidos de realizar a conferência internacional Genebra 2. Tal como a Rússia, consideramos indispensável a participação do Irã nesse encontro. Há muitas divergências sobre esta temática, mas os governos da Itália e da Rússia entendem a necessidade da participação do Irã, país que desempenha um determinado papel de importância nesta crise. Insistimos em que os participantes da conferência demonstrem grande cautela no fornecimento de armas aos dois lados em conflito.

O senhor fez referência às conversações no formato Dois Mais Dois marcadas para agosto. Já foram definidas a data e a agenda destes entendimentos entre Rússia e Itália?

AZL – Sim. As conversações entre Rússia e Itália estão marcadas para o dia 6 de agosto, em Roma, na localidade de Vila Madama. A agenda será comum: a cooperação militar, especialmente na área da indústria bélica, as relações entre a OTAN e a Rússia e o papel que a Itália poderá desempenhar para melhorar estas relações. A colaboração militar tem sido muito intensa e abrangente, pois integra várias iniciativas, como, por exemplo, o aprimoramento dos quadros militares e a realização de manobras conjuntas. Em princípio, optamos por exercícios marítimos, mas há dois anos efetuamos manobras terrestres. Creio que a Itália é único país da Organização do Tratado do Atlântico Norte a realizar um programa de preparação militar e manobras conjuntas com a Rússia.

Nestes dois anos e meio, Moscou foi cenário de exposições de obras-primas italianas únicas em seus gêneros. Quais são perspectivas de cooperação russo-italiana na esfera cultural?

AZL – Em nenhuma capital do mundo foram expostas tantas obras de arte clássica italiana. O programa do Ano da Itália na Rússia tem sido muito intenso e diversificado. Acho que o Ano Russo-Italiano do Turismo, que começará em setembro próximo, dará impulso à realização de exposições temáticas, à popularização de produtos italianos, o que certamente suscitará um elevado interesse de turistas russos e italianos. Tudo isso será uma continuação lógica das iniciativas culturais aliadas às exposições de arte. O Ano da Cultura Russo-Italiano reforçou os laços entre os diretores dos museus de Moscou e de São Petersburgo e os diretores de museus italianos. Isto teve um efeito prático: o fluxo turístico aumentou e foi criado um ambiente político positivo. A nossa Embaixada em Moscou está sentindo o interesse e o apoio dos habitantes locais, razão pela qual estamos muito gratos. Daí, a nossa intenção de prosseguir a nossa colaboração.

As obras de Caravaggio e Tiziano, exibidas no Museu Estatal de Belas Artes Pushkin, em Moscou, estiveram expostas na Scuderie del Quirinale. As ações culturais de tal escala são, por tradição, abertas pelo chefe de Estado, tendo uma grande importância simbólica. Será ótimo se esta iniciativa pudesse prosseguir. Não é fácil trazer quadros de museus italianos. Todavia, a exposição das obras de Caravaggio em Moscou veio inspirar diretores de museus italianos, que desejam continuar a colaboração com seus colegas russos.

Com que impressão o senhor está deixando a Rússia?

AZL – Estou abandonando a Rússia e Moscou com impressões bem diferentes daquelas que senti no momento da minha chegada a esta cidade e a este país. Quando você tem a possibilidade de morar em uma cidade dinâmica e bonita como Moscou, as sensações começam a mudar. Vou partir com a convicção de que a Rússia não é somente um parceiro importante, mas também extremamente indispensável. Não se trata de cooperação no ramo energético e do fornecimento de gás russo. A Rússia também tem aumentado as importações dos produtos italianos. No plano cultural, nunca tinha visto tanto interesse como o do povo russo em relação à cultura italiana. No plano político, acredito que o futuro da Europa e da Itália está indissoluvelmente ligado à Rússia. Se não conseguirmos cooperar, teremos em breve problemas muito sérios. Isto diz respeito não só à área energética, mas sobretudo à sobrevivência desta parte do mundo que se chama Europa.

 

Fonte: Diário da Rússia

6 Comentários

  1. Energeticamente já são dependentes, e daqui uns belos anos podem se tornar economicamente, enquanto a economia russa cresce à passos largos e Europa vai demorar para retomar os niveis de atividade economica pré-2008. A única ressalva é a extrema dependencia da economia russa da exportação de hidrocarbonetos.

  2. Ótima entrevista, bem assim….digamos …. gentleman .
    O que chama atenção a bem da verdade que eles usam diplomatas para a função de diplomacia, de embaixadores , min. relações exteriores.

    O duro é ver diplomata fazendo função min. defesa…

    militar na função de diplomata…

    político como engenheiro de bordo da FAB… e

    os USA usam espiões disfarçados de embaixadores rs rs rs.

  3. A Alemanha já tem a mesma visão da Itália … o futuro realmente esta na Russia, pois eles tem tudo para se tornar um país dominante na EUROPA…
    digo mais, os países europeus deveria criar um espaço de livre comercio com a RUSSIA… pois os EUA esta falido, e a Europa também. e a Russia ñ!!!

  4. Lima, economia russa crescer? Russia acabou quando terminou a Uniao Sovietica. O futuro e critico e nao e dos melhores. Se o gaz shale nao for conto do vigario como muita gente diz, o preco do petroleo vai cair, europa podera resolver seu poblema de carencia de energia dentro do seu proprio territorio. O russo se acostumou viver como parasita. Gosta de dinheiro para consumir o de melhor. Mas nao gosta de trabalhar por pouco dinheiro. Dai a mafia russa e a prostituicao. O problema europeu, e da Italia em particular e que o italiano moderno tampouco gosta de trabalhar. Gosta de fazer dinheiro. Mafia. Mas Italia, tal qual Espanha, Franca, Portugal foram contagiado pela chamada doenca britanica. Nao gosta de trabalhar. Tem vividos parasiticamente do chamado Estado Bem Estar Social, que so foi possivel graca a exploracao imperialista do continente africano e devido ao fato que o FED dos EUA imprime/digita trilhoes de dollares e enviam para os bancos europeus praticamente com juros de 0.001% Os europeus con esse dollar importam o que necessitam do chamado paises da periferia. Europa se beneficiou da hegemonia norte americana. Mas com a crise do capitalismo mundial os EUA nao estao mais em condicoes de manter essa politica de ajudar Europa. Agora o europeu esta sendo forcado e voltar as condicoes de trabalho que vigoravam antes da Segunda guerra mundial. Antes em face da miseria o europeu se emigrava agora vao emigrar para onde? Posso ser afetado pessoalmente por essa crise que passa Europa, mas estou me divertindo.

  5. é natural essa aproximação da UE(principalmente alemanha, frança e italia) com a Russia, estão mais que certos.

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